Ao
gosto horaciano, Ricardo Reis usa o plural «nosso» e o vocativo para se dirigir
a uma interlocutora presente em vários dos seus poemas, a sua amada Lídia. O
outono que se aproxima, com tudo o que transporta já de inverno, e esquecido já
do verão, indicia o acentuar da decadência e a proximidade da morte, em
decorrência da passagem inexorável do tempo.
Deste
modo, o amarelecer das folhas tem ainda o tom dourado da vida; já é já o estio,
mas também não é ainda o inverno, a morte. Neste contexto, é preciso aproveitar
cada momento (carpe diem), mesmo que seja o último. O outono simboliza a
decadência, a velhice; o inverno, a morte, e a primavera, o recomeço ou a
renovação. Como esta última já passou, logo não lhe pertence (“… é de outrem” –
v. 4), e o inverno (a morte) se aproxima, o sujeito poético assume que é
necessário que tanto ele como a sua amada reservem “um pensamento (…) para o
que fica do que passa – o amarelo atual”. É visível aqui o autodomínio, a
contenção, o contentamento com o prazer relativo tão característicos da poesia
de Ricardo Reis.
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