Um
“cartoon” é uma espécie de desenho e/ou caricatura que é feita com o objetivo
de criticar (positiva ou negativamente) a sociedade, a vivência e os problemas
vividos pela sociedade.
Na
página 65 do manual encontra-se uma caricatura do “cartoonista” brasileiro
Biratan intitulado Pastores de Nuvens. Esta
obra ganhou o 1.º prémio do V Porto Cartoon World Festival, devido à sua
qualidade, às suas características e à sua mensagem. Mérito também para o maior
autor de “cartoons” brasileiro de todos os tempos, que está entre os cinco
melhores criadores de caricaturas do planeta.
Esta
imagem tem vários elementos muito chamativos que ajudam na transmissão da
mensagem. Esta obra é então constituída por um céu muito branco, sem cor, que
tem apenas algumas nuvens negras que se encontram agrupadas. A cor delas dá-nos
uma ideia de que se aproxima uma tempestade e algumas delas vão largando
pequenas gotas de água. O solo tem um aspecto muito seco, infértil e bastante
duro, com uma ou duas pedras apenas. Este elemento apresenta uma cor branca
também, à excepção das pedras, que têm uma cor castanha. Ficamos assim com uma
ideia de que neste cenário está a ocorrer um extenso período de seca (aspecto
de deserto). Vêem-se ainda alguns indivíduos já com alguma idade e com barba
enorme. Enquanto que um dos homens está em más condições e usa chinelos, o
outro, estando também em condições desfavoráveis, usa um chapéu e está
descalço. Apesar destas diferenças, eles têm um ponto em comum que é o facto de
ambos terem um cajado enorme, capaz até de tocar as nuvens. Estes indivíduos
são parecidos com pastores e com o auxílio dos seus cajados vão aglomerando as
nuvens como se elas fossem um “rebanho” apanhando a água que delas com cai,
colocando bidões por debaixo delas. O pastor que se encontra mais à frente da
imagem está sentado numa pedra e parece estar expectante que algo aconteça,
provavelmente está à espera que comece a chover.
O
título desta obra ajuda-nos muito a compreender o seu significado, pois o nome
é Pastores de Nuvens. Este título
mostra-nos que os indivíduos são como pastores e estão preocupados em manter o
seu “rebanho” de nuvens sempre junto e em ordem. Os dois homens querem extrair o “produto”
das suas nuvens, ou seja, a chuva, assim como um pastor de ovelhas se preocupa
em cuidar dos seus animais e retirar os seus produtos, com o leite por exemplo.
São então representados como se fossem criadores de outros animais quaisquer.
Biratan
criou um desenho excelente, mas não nos podemos esquecer da mensagem que ele
quer transmitir. O autor consegue fazer passar duas mensagens fundamentais, que
são a falta de água e os períodos de seca, vividos principalmente pelos países
em desenvolvimento, e o aumento da desertificação. Ele tenta sensibilizar as
pessoas para a realidade vivida, por exemplo, em África, e tenta avisar-nos
para o desperdício de água, pois devemos optar por medidas que reduzam os
gastos deste recurso para que, em todo o mundo, possa haver esse bem precioso e
para que os períodos de seca terminem ou diminuam. O outro lado da mensagem é a
desertificação dos territórios, pois cada vez mais jovens abandonam a sua terra
natal (zonas menos desenvolvidas) e vão para as áreas metropolitanas mais
desenvolvidas, porque lá encontram mais oportunidades de trabalho podendo
construir uma vida melhor. Este fenómeno acontece em maior quantidade nas
localidades do interior dos países, o que faz com que essas terras fiquem cada
vez com mais idosos e as actividades sejam mais focadas na agricultura e na
pecuária. O autor tenta então alertar-nos para a possibilidade de criarmos
meios mais desenvolvidos nas regiões vítimas deste fenómeno.
O
poema de Alberto Caeiro (um dos principais heterónimos de Fernando Pessoa)
intitulado poema IX de O Guardador de Rebanhos está relacionado
com o quadro. Em primeiro lugar os títulos das duas obras são muito semelhantes
(Pastores de Nuvens e O Guardador de Rebanhos). Em segundo o
lugar a mensagem transmitida tem pontos em comum, pois este poema mostra-nos
que a Natureza deve ser preservada porque ela serve para ser apreciada e é
essencial para todo o ser humano. A Natureza é o que mais perto está da
realidade, é uma das poucas coisas que podemos dizer que é mesmo verdadeiro e
real (“Sinto todo o meu corpo deitado na realidade”). Por isso conclui-se que
as duas obras nos transmitem uma ideia de preservação e protecção desta
realidade, pois sem ela o homem não é nada, torna-se um ser insignificante.
Conclui-se
que esta imagem critica negativamente a sociedade e as suas atitudes e também a
sua incapacidade de ver a verdadeira realidade. Porém, além de criticar faz
também um apelo para que todas as pessoas encarem a actualidade e mudem alguns
aspectos para consequentemente melhorar o mundo.
Luís R.
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