Português: Análise dos capítulos XIII a XV de Admirável Mundo Novo

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Análise dos capítulos XIII a XV de Admirável Mundo Novo

            O tumulto dramático incitado por John é o clímax do romance. A crescente repulsa da personagem por tudo no Estado Mundial leva-o finalmente a um confronto direto com ele, e as autoridades são forçadas a intervir. Os eventos que precedem imediatamente a revolta revelam as forças conflituantes que culminam na explosão de John.
            A luta de John com os seus desejos físicos, introduzida pela primeira vez na Reserva, continua quando Lenina tenta seduzi-lo. Ele insiste em a ver como uma mulher pura e virginal, possuidora de completa modéstia sexual. Para John, Lenina é apenas uma representação abstrata de todas as mulheres virtuosas sobre as quais ele leu nas obras de Shakespeare. Ele luta com o lado físico da sexualidade a ponto de querer reprimi-la completamente. Quando a jovem o critica, chama-a de prostituta por violar as regras de um código moral que ela nem conhece. "Prostituta" é a única outra categoria que ele tem para entender Lenina. É significativo que, quando se afasta da rapariga, John escolhe ler Otelo, uma peça sobre a relação condenada entre um homem negro africano e uma mulher branca veneziana. Como John, Otelo oscila entre os extremos de perceber a sua amada como uma estátua casta e como uma prostituta. É essa perceção errónea que leva Otelo a assassinar a sua esposa, não uma incompatibilidade entre as duas culturas.
            A experiência de John no Hospital para os Mortos demonstra a lógica desumanizante que o Estado Mundial aplica à experiência da morte. Qualquer tolerância que possa ter sentido pelas práticas e pessoas do Estado Mundial desaparece. Ele pensa nos gémeos Bokanovsky como larvas que contaminam o seu processo de luto. Infelizmente para John, a sua mãe não ajuda. Drogada com soma, confunde-o com Popé. A fúria e a agonia do filho refletem a crescente angústia que sente quando não é reconhecido no Estado Mundial, nem mesmo pela sua própria mãe. A sociedade do Estado Mundial chama-o "Selvagem", associando-o a um conjunto de características estereotipadas. Quando John visita Eton, observa um grupo de crianças rindo de "selvagens" numa reserva realizando rituais cerimoniais de purificação de autoflagelação. Ele vê-se refletido nas suas risadas como um espetáculo curioso e cómico, não como um ser humano. Por seu turno, Bernard usa-o como um curioso espécime de "selvageria" para atrair pessoas importantes para o seu próprio círculo social. O riso de Helmholtz em Romeu e Julieta faz John reconhecer que a sua luta com a atração física por Lenina é um espetáculo cómico e ofensivo, mesmo para um dos poucos não conformistas do Estado Mundial. Pior ainda é o facto de ele considerar Helmholtz um amigo com quem pode discutir os seus sentimentos por Lenina. O resultado final de todos esses episódios separados é que John reconhece que ele, como indivíduo, não pode existir na sociedade do Estado Mundial. Assim, é forçado a ser um representante estereotipado do "selvagem" ou a sucumbir à moral distorcida do Estado Mundial.
            A tentativa de John de levar os trabalhadores da Delta à rebelião atirando fora a soma simboliza a sua luta contra a felicidade como o objetivo final. Ele prefere ver a verdade e os relacionamentos humanos reais – mesmo os dolorosos – do que a quase escravidão da soma. A morte da sua própria mãe por soma é outro fator que contribui. Linda e os deltas usam soma para escapar a toda a dor e responsabilidade. Isso torna-os infantis, algo que John aponta quando pergunta aos deltas por que eles querem ser “bebés… choramingando e vomitando.”. O clamor de John descreve a lógica essencial que produz a “estabilidade” que o Estado Mundial tanto ama. A grande maioria dos seus cidadãos permanece infantil durante toda a vida através do uso de condicionamento, reforço social e soma.
            Helmholtz lança-se na briga quando ele e Bernard chegam ao hospital, mas o segundo hesita, hesitação essa que é causada pelo conflito entre o seu desejo de se encaixar na máquina social do Estado Mundial e o seu desejo de mudar a maneira como funciona. Ele tem medo de se associar à blasfémia inconformada do grito revolucionário de John e ao apoio de Helmholtz às ações do Selvagem. Bernard sabe que a sua participação o marcará para sempre como um subversivo perigoso.

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