A Mensagem não se presta a uma classificação unívoca; pelo contrário, é possível detectar na obra marcas de diferentes tipologias.
Desde logo, é possível referenciá-la como uma obra lírica (sobretudo na terceira parte):
» é um livro de poemas;
» a forma é fragmentária (ao contrário, por exemplo, de Os Lusíadas);
» o sujeito lírico evidencia uma atitude introspectiva;
» o sujeito lírico exprime os seus sentimentos, sonhos, desejos, crenças
(relativamente ao presente, ou ao futuro da Pátria);
» há uma postura de interiorização e de contemplação da alma humana;
» o simbolismo;
» a inquietação, a ânsia, o constante interrogar-se («'Screvo meu livro à beira-
mágoa»);
» o presente de sofrimento e mágoa;
» o tom menor;
» a visão subjectiva do enunciador.
Contudo, especialmente na segunda parte, a obra é também de carácter épico:
» os poemas, juntos, formam um todo integrado;
» os heróis portugueses do passado possuem um valor simbólico e mitológico;
» há um apelo à glorificação lusíada no século XX e demais;
» o heroísmo:
. os heróis (os marinheiros que percorreram os mares e se imortalizaram)
agem pelo instinto, sem terem a visão do sentido e alcance dos seus actos
na marcha dos tempos;
. o destaque dado aos antepassados que fundaram o Império;
. as Mães que foram «seio vigilante» e «ventre de Império»;
. os profetas da nova era (o Quinto Império);
. os heróis voluntários que cumprem o seu dever contra o Destino e gozam a
recompensa apenas na ideia de o ter cumprido;
. o heroísmo surge intimamente ligado à ideia de sacrifício ("Mar Português");
» o elogio do povo português, desvendador e dominador de mundos, com fome
de Absoluto;
» o tom de exaltação heróica ("O Mostrengo") de um povo, dos seus heróis e feitos;
» a evocação dos perigos e dos desastres marítimos, da dor e do preço necessários
para a arealização dos feitos e a obtenção da glória marítima ("Mar Português");
» a matéria histórica.
Por fim, é possível detectar traços em Mensagem que a levam a considerar uma obra mítica:
» os heróis históricos (Ulisses. Viriato, etc.) são apresentados enquanto mitos;
» Portugal é a nação eleita por Deus para ser o coração e a sede do Quinto Império;
» o Sebastianismo - o mito do Encoberto - ligado ao rosacrucianismo;
» Fernando Pessoa reelaborou mitos seculares portugueses, repensando-os e
readaptando-os;
» o mito do Santo Graal, sendo o nosso Desejado o herói sem mácula do ciclo da
Demanda do Santo Graal - Galaaz -, aquele que encontrará, por ser o mais puro dos
cavaleiros da corte do rei Artur, o cálice sagrado (o Graal) que contém o sangue de
Cristo, sobre o qual se poderá construir a Cidade de Deus (poema "O Desejado);
» o mito das Ilhas Afortunadas, com fortes conotações arturianas, "terras sem ter
lugar, / Onde o Rei mora esperando" - poema "As Ilhas Afortunadas":
. de acordo com a tradição céltico-bretã e arturiana, o rei Artur, desaparecido na
ilha rodeada de nevoeiro, de onde um dia regressará para cingir a sua coroa
usurpada;
. de acordo com a tradição judaico-messiânica, o Redentor / Messias Salvador virá,
de acordo com as profecias, para salvar o seu povo;
. segundo a tradição cristã-cavaleiresca e templária, o paradigma de Cristo
ressuscitando para salvar a humanidade, o Rei-Cavaleiro, ungido de Deus,
voltará para reconduzir a nação transviada ao caminho da grandeza e da glória;
» o mito das Idades, do ciclo, que apresenta a história da pátria como o mito de um
nascimento, vida e morte de um mundo, morte que será seguida de um reanscimento
- estrutura tripartida de Mensagem.
sábado, 27 de fevereiro de 2021
Classificação de Mensagem
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