A transição do século XIX para o XX constituiu, para Portugal e para o Mundo, uma época conturbada e conflituosa. São diversos os acontecimentos responsáveis por esta situação:
» A repartição do território africano na Conferência de Berlim (1884-1885): na passagem do séc. XIX para o XX, a Europa dominava política, económica e culturalmente o Mundo, tendo as potências industrializadas desenvolvido uma política expansionista, nomeadamente em África, no intuito de obter matérias-primas a baixos preços e chegar a novos mercados. O movimento expansionista acentuou a rivalidade entre as principais potências europeias. Para tentar diminuir estas rivalidades, os países com interesses em África decidiram, na Conferência de Berlim, repartir o território africano entre si, estabelecendo o princípio da ocupação efectiva, que estatuía que os territórios africanos deveriam pertencer aos países que os ocupassem de facto, em detrimento dos direitos históricos.
» O Mapa Cor-de-Rosa: com o intuito de afirmar o seu poder em África, Portugal patrocinou algumas viagens de exploração e elaborou, em 1886, o Mapa Cor-de-Rosa, que ilustrava a reivindicação nacional da posse dos territórios entre Angola e Moçambique.
» O Ultimatum inglês (1890) e a revolta de 31 de Janeiro de 1891: o projecto do Mapa Cor-de-Rosa colidia com os interesses de Inglaterra, por isso este país fez um ultimato ao governo português, exigindo a retirada das tropas do território entre Angola e Moçambique. Perante o grande poder político da Inglaterra, Portugal cedeu, evidenciando assim a fragilidade da sua colonização. O povo considerou o ultimatum inglês uma humilhação nacional e acusou o rei de fraqueza e de incapacidade para dirigir o país.
» O regicídio (1908): o descrédito da Monarquia foi ainda agravado por problemas económicos e financeiros. No sentido de superar as dificuldades, o rei D. Carlos enveredou por uma via repressiva, autorizando o chefe do governo, João Franco, a instaurar uma ditadura. Em 2 de Fevereiro de 1908, o rei D. Carlos e o príncipe Luís Filipe foram assassinados, sucedendo-lhes no trono D. Manuel II, filho mais novo de D. Carlos, que demitiu João Franco.
» A implantação da República: apesar das dificuldades concedidas à oposição, o descontentamento continuou a aumentar. Em 5 de Outubro de 1910, uma revolução derrubou a Monarquia e instaurou a República em Portugal. Na sequências destes acontecimentos, foi constituído um governo provisório, presidido por Teófilo Braga, figura ligada à Geração de 70. Em 1911, foi eleita a Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou e aprovou a Constituição republicana e elegeu o primeiro Presidente da República, Manuel de Arriaga.
» A Primeira Guerra Mundial (1914-1918): na mesma altura, os estados europeus formavam alianças diplomáticas e militares que rapidamente levaram à corrida aos armamentos. A Europa vivia num clima de tensão e, quando o herdeiro do trono austro-húngaro, o arquiduque Francisco Fernandes, foi assassinado por um estudante nacionalista sérvio, a Áustria declarou guerra à Sérvia. Sucederam-se, de imediato, declarações de guerra entre os países pertencentes às alianças político-militares, originando a Primeira Guerra Mundial, na qual Portugal participou como aliado da França e da Inglaterra, tendo-se Fernando Pessoa manifestado contra essa participação. O elevado número de mortos apenas contribuiu para uma visão mais pessimista da existência.
» A revolução russa de 1817.
» A agonia do regime republicano (1910-1926): os governos da Primeira República portuguesa empreenderam uma série de reformas. Na educação e na cultura, foram bem sucedidas, mas os aspectos sociais e económicos foram de difícil resolução. Por outro lado, este período pautou-se por grande instabilidade política: sete parlamentos, oito presidentes da república e quarenta e cinco governos, muitos deles com a duração de dias (por exemplo, o primeiro, chefiado por João Chagas, durou 70; o sexto, liderado por Azevedo, 45; a Junta Constitucional, três; e assim sucessivamente).
» O golpe militar de 28 de Maio (1926): a incapacidade dos sucessivos governos de superarem a crise económico-financeira, o agravamento das condições de vida das populações e a instabilidade política, motivada pelas divisões internas, tornaram propícios os movimentos de revolta contra o regime da Primeira República, que acabaria por ser derrubada no golpe militar de 1926, chefiado pelo general Gomes da Costa. Assim se abria o caminho para a instauração da ditadura militar.
» A ascensão do fascismo e de Salazar: em 1928, foi eleito um novo Presidente da República, o general Óscar Carmona. A fim de resolver as dificuldades económico-financeiras, foi nomeado um novo Ministro das Finanças, António de Oliveira Salazar. As medidas por si romadas trouxeram-lhe grande prestígio e influência, pelo que, em 1932, foi convidado para liderar o governo e, em 1933, apresentou uma nova Constituição política, que marcou o início do Estado Novo, um regime ditatorial caracterizado pelos princípios de autoritarismo, conservadorismo e nacionalismo e pela cessação das liberdades individuais e colectivas.
» Em suma, o início do século XX foi um período de crises e rupturas:
~ o avanço tecnológico e científico promete um mundo novo cheio de máquinas e de progresso;
~ no entanto, as miseráveis condições de vida dos trabalhadores geram o descontentamento e exigem uma mudança radical;
~ os intelectuais e artistas são os primeiros a enunciar o mal-estar e a necessidade de repensar a sociedade e o homem:
. no final do século XIX, Nietzsche, filósofo alemão, questiona os fundamentos da moral e da conduta humana ocidental, herança da cultura grega e da tradição judaico-cristã, por isso completamente desajustados do mundo de então;
. Freud cria a Psicanálise, uma ciência que demonstra a complexidade do homem, revelada no papel do inconsciente, na importância da sexualidade, na significação dos sonhos;
. Em 1905, o físico alemão Einstein apresenta a teoria da relatividade, que põe em causa grande parte do conhecimento científico tido como inquestionável, revolucionando a ciência;
~ estas mudanças e rupturas suscitam um sentimento de expectativa, mas também de insegurança, aumentada com a Primeira Guerra Mundial.