● Assunto: num
ambiente rural e florido, logo convidativo ao amor e à alegria, as donzelas
aprestam-se para bailar e dessa forma atraírem os amigos.
● Tema: o convite
às amigas para dançar = sedução dos amigos.
● Sujeito poético:
a donzela.
● Interlocutor: as
amigas.
● Estrutura narrativa
da cantiga
• Personagens:
▪ três donzelas / amigas
↓
relação de proximidade: «amigas»,
«irmanas»
↓
simbologia do número 3: a perfeição
das donzelas (jovens e belas), a harmonia e a união entre as figuras femininas
▪ os amigos: ausentes,
mas sempre presentes (no coração e pensamento das donzelas)
▪ Relação entre as donzelas e
as amigas:
→ relação muito próxima;
→ grande cumplicidade (a variação de
«amigas» para «irmanas» evidencia essa cumplicidade).
• Ação: o baile debaixo das
avelaneiras – dança = sedução
↓
a donzela incita as amigas a bailar
↓
consequência → as donzelas amigas, belas e
apaixonadas, dançarão como ela.
• Espaço
↓
campestre e natural (o campo) –
ruralismo (característica da cantiga de amigo):
▪ debaixo das avelaneiras
▪ debaixo das avelãs
▪ debaixo do ramo florido
↓
• Tempo: o ambiente
primaveril / a primavera (pois é a época em que florescem as avelanei árvores
em flor ras)
↓
analogia entre o aspeto, a natureza
primaveril e o estado de alma da donzela (alegria de viver)
● Estado de espírito
do sujeito poético
● Caracterização das donzelas
● Papel das amigas:
confidentes – a donzela apela às amigas que bailem, pois será através da dança
que conseguirão atrair os namorados.
● Recursos
poético-estilísticos
• Estrofes/coblas/cobras:
três sextilhas (4 + 2) heterométricas.
• Métrica: versos
decassílabos, alternando com versos tetrassílabos no refrão.
• Rima:
- esquema rimático: aaabab
- emparelhada e cruzada
- rica (“velidas”/”frolidas”)
e pobre (“amar”/”bailar”)
- grave (“velidas”/”frolidas”)
e aguda (“amar”/”bailar”)
- consoante (“velidas”/”frolidas”)
• Refrão: intercalado, monorrimo;
sugere o ritmo do baile a realizar; reitera o convite à dança realizado nas
coblas. Introduzindo a condição «se amigo amar».
• Ritmo: mais rápido no
refrão, coincidente com a alternância entre versos compridos e mais curtos.
• Transporte: vv. 1-2,
5-6, etc.
2. Aspetos morfossintáticos
• Nomes:
- “amigas”: as donzelas
das cantigas de amigo;
- “amigo”: o objeto
visado pela ação (a dança) das donzelas, isto é, a figura para quem pretendem
dançar e, assim, seduzir;
- “avelaneiras”, “ramo”:
indiciam o ambiente (espaço e tempo) em que ocorre o baile.
• Pronome «nós»: indicia
uma ação coletiva.
• Adjetivos (“velida”, “louçana”):
encarecem a beleza física das donzelas, afinal aquilo que, juntamente com a
dança, atrairá os amigos.
• Verbos: encontram-se no
conjuntivo/imperativo, na 1.ª pessoa do plural, e traduzem o apelo, a exortação
à dança coletiva.
• Numeral cardinal três:
especifica o número exato de donzelas; simboliza a harmonia e a perfeição.
• Interjeição «ai»:
indicia a alegria do convite.
• Vocativo “ai amigas”:
identifica as confidentes, o destinatário do convite para bailar.
• Tipos de frases:
imperativas – traduzem o apelo/convite da donzela às amigas para dançarem.
• Anáfora: intensifica o
apelo à dança.
• Paralelismo semântico (“louçanas”/”velidas”),
estrutural e anafórico (“Bailemos”/”Bailemos”):
- salienta o objetivo do
convite, evidente na repetição de “Bailemos nós já todas três” (vv. 1 e 7);
- sublinha a relação de
proximidade afetiva entre as donzelas pela substituição da palavra “amigas” por
“irmanas”;
- evidencia a
consciência, por parte da donzela, de que ela e as suas amigas são belas,
através da sinonímia entre “velidas” (v. 3) e “louçanas” (v. 9);
- exprime a passagem de
uma visão geral do espaço (campo com avelaneiras onde as donzelas bailarão)
para uma visão circunscrita (a árvore e o ramo sob o qual decorrerá a dança),
através da substituição da expressão “avelaneiras frolidas” (v. 2) por “aqueste
ramo destas avelanas” (v. 8);
- contribui para a
cadência melódica da cantiga.
• Apóstrofe “Ai amigas”:
identifica o destinatário do discurso da donzela.
• Comparações: enfatizam
a beleza e a formosura das donzelas; incitam ao encontro, à dança e à
celebração do amor pelas donzelas enamoradas.
• Metonímia: a
alternância entre a árvore e o fruto permite identificar o sujeito poético
feminino e plural com as avelaneiras/aveleiras.
1. Cantiga de amigo: o sujeito poético é feminino.
1.1. Temática: bailia/bailada, pois nela
há referências explícitas ao baile. Esta cantiga pode ler-se como um insistente
incitamento à dança, impulsionado pela juventude, pelo amor, pela primavera.
1.2. Formal: cantiga de refrão e de
estrutura paralelística.
Esta cantiga
reflete a existência de determinados festejos populares que se faziam à base de
música e de dança; bailava-se em roda, cantava-se, batia-se com os pés e as mãos.
Por outro lado, a dança enformava boa parte das cantigas de amigo dos séculos
XIII e XIV. Regra geral, o tema tratado é a alegria de viver e amar.
A descoberta
das carjas, em 1948, veio revelar a
existência, no território espanhol, de uma primitiva poesia feminina de
extração romântica que se insere no lirismo árabe-andaluz. Quer a canção de
mulher moçárabe quer a cantiga de amigo galego-portuguesa radicam num velho
substrato lírico da Europa ocidental, que subentende um núcleo sagrado em que à
mulher cabe uma relevante função sacerdotal. É talvez desses velhos ritos
afrodisíacos, circunscritos ao culto maternal da fertilidade, que derivam as choreas
psallentium mulierum que se destacam de entre as manifestações festivas que
acolhem Afonso VII, aquando da sua entrada em Compostela em 1117. Seja como
for, é no Ocidente peninsular que o tema arcaico da canção feminina, comum a
uma remota tradição da România, subsiste com maior vigor e fidelidade a um esquema
coreográfico que tem como fundamento a dança ritual. É essa a origem das nossas
bailias, nas quais perdura o vestígio da árvore ritual, como exemplifica esta
cantiga.
Por outro
lado, esta cantiga permite adivinhar a presença de motivos sexuais nestes
poemas que depõem contra a moral sexual cristã. De facto, nesta composição não
só temos uma mulher ativa como também uma que incita outras à ação de bailar.
Esta atividade perfaz-se no encontro com outros homens (amigos/namorados) para
a realização do desejo sexual, uma vez que o “ramo destas avelanas” é uma clara
referência ao órgão sexual masculino. Dito de outra forma, a donzela convida as
amigas a irem até campo de avelaneiras para encontrarem amigos e com eles terem
a coita, estendendo essa possibilidade de realização do ato erótico a todas as
jovens belas: “e quem for velida, como nós, velidas, / se amigo amar, / sô
aquestas avelaneiras frolidas / verrá bailar”. Assim sendo, estes aspetos
imprimem à cantiga uma liberdade sexual feminina, referente aos espaços rurais
da Galiza da Idade Média. Isto permite olhar para as cantigas de amigo e as
suas potencialidades simbólicas numa perspetiva nem moralista nem moralizante
que não fecha os olhos à natureza erótica das mesmas. Por outro lado, permite
fugir das generalizações acerca de uma cristianização homogénea e de um domínio
absoluto da moral cristã no período medieval, bem como reconhecer o papel ativo
da mulher durante a Idade Média.
Em suma,
nesta cantiga Aires Nunes recria um espaço medieval da vida coletiva, o baile e
as festas populares, que constituíam os locais privilegiados de encontros
amorosos.
→ a perfeição das donzelas (belas e
jovens);
→ a união e harmonia das donzelas.
→ ritual que celebra a beleza, a juventude
e o amor;
→ forma de exibição da formosura das
donzelas e, portanto, da sedução dos amigos;
→ o amor, a sedução amorosa, fecundidade.
• Primavera e dança: tal
como a Natureza, também as donzelas se encontram em «flor», isto é, são jovens,
belas e estão na idade propícia ao amor.
• “Avelaneiras frolidas”:
→ ambas se caracterizam pela beleza;
→ remetem para a alegria e o vigor
juvenis / primaveris – a alegria da natureza primaveril é associada à alegria
dos jovens, expressa pela dança e pelo amor;
→simbolizam a feminilidade, a beleza e
a delicadeza;
→ simbolizam ainda a juventude e a
fecundidade das donzelas (as flores).
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