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D. Dinis e o pinhal de Leiria
Tradicionalmente, o rei D. Dinis
(1261-1325), o sexto de Portugal, foi cognominado de o Lavrador, pois fomentou
o desenvolvimento da agricultura (distribuiu terras, promoveu a agricultura,
mandou plantar o pinhal de Leiria, embora atualmente se pense que a iniciativa
terásido obra de Afonso III ou até de D. Sancho II).
Independentemente de quem tenha
sido, na verdade, o monarca que o mandou plantar, D. Dinis teve um papel
fundamental no reforço da área do pinhal, do qual foram extraídos a madeira e o
pez (alcatrão de origem vegetal) necessários, respetivamente, à construção e
calafetagem das naus dos Descobrimentos.
• 1.ª parte (1.ª estrofe) – O sonho visionário
de D. Dinis.
▪ Nos dois primeiros versos é
apontada a dupla faceta de D. Dinis: o poeta – o trovador
(que compôs cantigas de amigo) e o lavrador, o responsável pela plantação
do pinhal de Leiria, cuja madeira foi fundamental para a construção das
naus dos Descobrimentos (“O plantador de naus a haver” – metáfora – v.
2). Ambas as atividades se referem a atos criadores.
▪ O cantar de amigo é escrito durante
a noite. Por um lado, a noite é um tempo de silêncio, solidão e calma,
ambiente propício à reflexão, à inspiração e à escrita. Por outro lado, a noite
é o tempo da germinação, no qual se prepara o tempo futuro, ou seja, é um
período de preparação para o dia que há de nascer. É por isso que D. Dinis é
apresentado escrevendo de noite: o monarca representou (à luz da conceção
providencialista da História presente em Mensagem) a preparação dos
Descobrimentos e a origem da literatura portuguesa (que está associada ao
Quinto Império, na sua vertente cultural). Além disso, a noite é o momento de fecundação
do sonho, ao qual sucede o dia, o nascimento do império.
▪ A metáfora e a metonímia
“O plantador de naus a haver” remetem para os pinheiros mandados plantar pelo
rei, que são virtualmente as naus das Descobertas, pois foram eles que forneceram
a madeira para construir as naus usadas nas Descobertas. Projeta-se em D. Dinis
o sonho de navegações futuras, realizadas em naus construídas com a madeira
dessas árvores, iniciando-se assim a criação de um mito em torno da
figura do rei, que, involuntariamente, preparou o futuro.
▪ Com efeito, os três versos iniciais
do poema apresentam-nos D. Dinis como um visionário, um homem de
génio que tem a capacidade de antever o futuro.
▪ O oxímoro do verso 3 sugere
que o som que D. Dinis ouve (que, na realidade, não existe) é uma prefiguração
do futuro: é o som produzido por um pinhal que, futuramente, será extenso e de
um mar que será dominado graças à madeira dele extraída. Ou seja, realça a
atitude meditativa do rei, que, ao compor o seu cantar, profetiza já a epopeia
das Descobertas.
▪ A comparação e a metáfora
dos versos 4 e 5 sugerem que dos pinhais sairá a madeira para a construção das naus,
que permitirão a construção de um império, isto é, que possibilitarão a expansão,
que trará riqueza suficiente (trigo) para todos os portugueses. Estes recursos
permitem-nos visionar uma imensa seara cujos frutos constituirão o alimento, o
suporte de um movimento expansionista do qual emergirá um império. O trigo é o
símbolo de alimento, de poder económico, pois as searas de trigo, de cor que
lembra o ouro, são a promessa de riqueza para o país. Note-se a presença, no
verso 4, do eco da cantiga de amigo “Ai flores, ai flores do verde pino”.
▪ Por outro lado, sugere que a
génese, a origem do futuro teve início em terra. Tal como o trigo é a base do
pão que alimenta os povos, também os pinheiros serão a base da construção dos
barcos que alimentarão as Descobertas. O trigo «ondula» ao sabor do vento, as
naus ao sabor das naus Estes recursos aproximam os pinhais semeados por D.
Dinis de uma sementeira de trigo, que germinará e dará o pão que são as naus
que contribuirão para a descoberta e construção do Império futuro.
▪ Tal como o trigo é o ingrediente
principal do pão, também a madeira fornecida pelos pinhais constitui a
matéria-prima que permitiu saciar a «fome de Império» dos portugueses.
▪ Por outro lado, a forma verbal «ondulam»
associa o movimento dos pinhais e do trigo (impulsionados pelo vento) ao das
ondas do mar, ou seja, sugere o movimento das ondas que, no futuro, serão
atravessadas pelas naus portuguesas.
▪ A expressão “sem se poder ver”
(v. 5 – metonímia) associa a D. Dinis um dos traços característicos do
herói: é um ser excecional, singular, dado que consegue percecionar, antecipar
o futuro – a aventura marítima e a construção de um império.
▪ O recurso ao presente do
indicativo contribui para a mitificação do herói, mostrando que, no seu
tempo, foi a sua ação que preparou involuntariamente o futuro dos
Descobrimentos, tornando o seu contributo intemporal.
• 2.ª parte (2.ª estrofe) – A concretização do
sonho.
▪ O sujeito poético associa o cantar
de amigo que D. Dinis está a escrever a um regato, que, como um pequeno fio de
água, corre para o mar. Esta metáfora significa que o rei, além de
precursor dos Descobrimentos (enquanto responsável pela plantação do pinhal de
Leiria), também é um precursor de toda a literatura portuguesa, visto que as
cantigas de amigo que escreveu se contam entre as primeiras composições
poéticas da língua e literatura portuguesas. O «oceano por achar» pode
constituir uma referência à epopeia portuguesa, escrita por Camões, sobre os
Descobrimentos: Os Lusíadas.
▪ Pode igualmente significar uma
visão metafórica de Portugal (uma nação «jovem» – porque recém-formada –
e «pura» – porque ainda não contaminada pela ganância e pelo materialismo
trazidos pelos Descobrimentos) como um «arroio», ou seja, um pequeno curso de
água (uma pequena nação) que corre, mal nasce, em direção ao oceano. O cantar
é, em suma, jovem, inocente e puro, e procura, de forma persistente,
determinada e contínua o «oceano por achar» (vv. 6-7).
▪ A personificação do verso 8
(“a fala dos pinhais, marulho obscuro”) sugere o caráter mítico de D.
Dinis, uma espécie de intérprete de uma vontade superior, que anunciava aos
ouvidos do rei um novo ciclo de conquistas. O som dos pinhais que D. Dinis
imaginava ouvir era um prenúncio secreto (“obscuro”) do ruído da epopeia
marítima dos portugueses.
▪ O mar a cumprir no futuro já pode
ser adivinhado no rumor dos pinhais: “E a fala dos pinhais, marulho obscuro, / É
o som presente desse mar futuro” (paradoxo e personificação – vv.
8-9). A fala dos pinhais manifesta o seu desejo de serem navios e de atingirem
o mar, mas, nos últimos três versos, é a terra que anseia pelo mar. Trata-se da
atração que o oceano sempre exerceu um povo que se distinguiu como uma nação de
navegadores. Por outro lado, o último verso do poema traduz a ideia de união,
isto é, a ideia de que o mar, após a sua conquista no futuro pelos portugueses,
já não separará, antes ligará povos, culturas, civilizações.
▪ Os dois últimos versos da segunda
estrofe indiciam os dois ciclos da História de Portugal: numa primeira
fase, a expansão por terra, mais tarde o domínio do mar. D. Dinis mandou
plantar o pinhal de Leiria para impedir que as terras à beira-mar fossem
destruídas pela ação da areia do mar e do vento, no entanto, anos mais tarde, a
madeira por ele produzida seria utilizada para construir as naus em que
partiram os navegadores portugueses. A terra é, por isso, a voz presente que
chama pelo futuro, o mar.
Poeta:
criador de poesia
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Plantador
do pinhal de Leiria: criador
|
Autor
de cantigas de amigo (e de amor)
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“é
som presente desse mar futuro”
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Prenúncio
dos Descobrimentos: “o oceano por achar”
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Integração do poema na estrutura de Mensagem
“D. Dinis” faz parte de “Brasão”, a
primeira parte de Mensagem, sendo o sexto poema da secção “Os Castelos”.
D. Dinis foi o sexto rei de Portugal
e antecede o ciclo das Descobertas. Trata-se do monarca de preparar o futuro,
criando, no [seu] presente, condições para a construção do Império, que será
cantado na segunda parte da obra.
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Valor simbólico de D. Dinis
D. Dinis é o herói apresentado como
um instrumento de uma vontade transcendente que está ao serviço da missão que
Portugal tem a cumprir: a construção de um império cultural, o Quinto Império.
O rei foi um trovador, porque compôs
poemas (cantigas de amigo e de amor), alguns dos quais tinham como cenário o
mar.
Foi o Lavrador, visto que
desenvolveu a agricultura, dado que muitas terras tinham sido abandonadas e era
necessário fomentar o setor, para alimentar a população.
Foi ainda o plantador, isto porque
mandou plantar o pinhal de Leiria, cuja madeira foi utilizada, posteriormente,
para construir as naus das Descobertas.
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Recursos poético-estilísticos
A
nível
fónico, o poema é constituído por duas quintilhas. Os versos são irregulares quanto à métrica e ao ritmo. O
segundo verso de cada estrofe possui 8 sílabas, enquanto os restantes são
decassílabos.
A
rima é cruzada, emparelhada e
interpolada, segundo o esquema ABAAB; é consoante (“amigo”/”consigo”), pobre
(“haver”/”ver”) e rica (“amigo”/”consigo”), grave (“amigo”/”consigo”) e aguda
(“haver”/”ver”).
O
verso decassílabo, de ritmo largo, é
próprio para a expressão de uma mensagem que traduz o meditar repousado de um
poeta que é rei e vai ao leme de um povo que quer ser grande.
No
poema convivem os sons fechados e
semifechados, que remetem para o sonho e para o impossível, e o som aberto [a],
que remete para a expansão, para a realização do sonho.
O
poema é ainda rico em aliterações
(“na noite”) e em assonâncias e onomatopeias, sugerindo o ruído do rio
ou da água que corre: “E o rumor dos pinhais – marulho obscuro”.
A
nível
morfossintático, são de destacar os seguintes recursos:
. Verbos:
- As formas verbais
evocam o movimento, a flexibilidade sugerida na imagem da espiga de trigo ao
vento, numa união entre o movimento e o sonho, como constatação de um destino
que, numa primeira fase, é dado de uma forma indistinta.
- O “rumor dos
pinhais”, o som, reaparece no último verso do poema, na expressão “a voz da
terra”. A terra, por seu lado, é símbolo de fecundidade – é como se a ação de
D. Dinis, cujas consequências se desconheciam ainda, se anunciasse no som
indistinto.
- O mar funciona como
o elemento fecundador do elemento feminino: a terra.
- Os verbos
encontram-se no presente do indicativo, não apenas o presente histórico
ou narrativo, mas sobretudo o presente de aspeto durativo. As formas verbais (“escreve”,
“ouve”, “busca”) traduzem ações que perduram, que se prolongam no tempo.
Por outro lado, fazem a interseção temporal
passado/presente. De facto, o presente, no modo indicativo, aponta, ao nível
mítico, para o futuro; ou seja, não
só a época dos Descobrimentos surge como um tempo futuro em relação ao momento
em que viveu D. Dinis, mas a própria dimensão do seu ato, que se projetará
ainda num período que está para vir, que a expressão “mar futuro” anuncia. Para
Pessoa, o ato criador do passado é a promessa de um futuro grandioso que se
cumprirá sob a égide de Portugal.
. Nomes:
-
O ato criador de D. Dinis é apresentado de forma analógica, constituindo-se em
unidades duplas:
.
cantar (de amigo) / arroio;
.
plantador / Império;
.
pinhais / trigo;
.
terra / mar: remete para a ideia de união.
- O nome “noite”,
no início do poema, encontra o seu duplo na totalidade do discurso, ou seja, o
dia, cuja luz é o momento da própria fecundação, que dá origem ao nascimento do
Império (quer no período dos Descobrimentos quer na era que, segundo Pessoa,
constituirá o Quinto Império).
. Os adjetivos,
sobretudo presentes na segunda estrofe, unem os princípios passividade/atividade,
assim como dois momentos temporais distintos, que apontam para um tempo
posterior às épocas referidas no poema.
A
nível
semântico, deparamos com:
. Metáforas:
- “O plantador de naus a haver” (v. 2) – também metonímia, pois as naus são construídas
com a madeira do pinhal, isto é, tomou-se o produto pela matéria de que é
feito: sugerem a preparação longínqua da matéria-prima de que se fabricariam as
naus para a epopeia marítima dos portugueses;
- “É o rumor dos pinhais...”: o rumor dos pinhais
(ainda confuso como um marulhar) é já a semente de algo que frutificará, graças
às possibilidades materiais (a madeira com que serão construídas as naus) e às
capacidades psicológicas dos portugueses que sonharam sulcar os oceanos
desconhecidos e conseguiram construir o nosso império ultramarino. A ação
dinâmica do sonho da demanda do oceano reforça-se com a visão e audição do mar
que nos chama para a nossa grande aventura épica e nos sagrará como heróis
míticos. A nossa identidade nacional afirmou-se pela importância concedida ao
sonho, à poesia e ao mar;
- “Arroio, esse cantar, jovem e puro, / Busca o
oceano por achar...”:
. exprime a forma como os portugueses, começando
quase do nada (“arroio”), foram engrossando o caudal das suas forças, até
conquistarem o mar;
. por outro lado, a associação do canto a um rio,
cuja água corre, simboliza que a ação de D. Dinis se perpetuará no tempo,
ecoando no futuro.
O
poema referencia duas fases da nossa história: o ciclo da terra (“plantador de naus”, “pinhais”, “trigo”) e o ciclo do mar (“arroio”, “naus”, “mar”).
A terra e o mar são dois pólos entre os quais se balouçou continuamente o povo
português, sem nunca ter encontrado uma distância equilibrada entre esses dois
pólos, de acordo com o ditado “Nem tanto ao mar, nem tanto à terra”.
. Oxímoro: “... ouve um silêncio murmuro consigo” ® realça a atitude meditativa de D. Dinis que,
como um mago rei-poeta, ao escrever o seu cantar de amigo, estava já a
profetizar a epopeia marítima dos portugueses.
. Personificações:
- “É o rumor dos pinhais como um Trigo / De
Império” (também comparação). porquê
os pinhais, trigo de Império? O trigo (o pão) não é só a base da alimentação, é
também o símbolo dos alimentos (ganhar o pão de cada dia é ganhar todos os
alimentos). Por outro lado, não há império sem poder económico: o trigo é a
promessa da riqueza de um país. Daí a ligação “pinhais” – “Trigo de Império”. Os pinhais contribuíram para a expansão
portuguesa e esta criará a riqueza do nosso império; a palavra trigo pode ter o sentido de abundância,
ausência de fome, riqueza, sobrevivência, alargamento do território, construção
do Império.
- “E a fala dos pinhais...” e
- “É a voz da terra ansiando pelo mar”: os
pinhais parecem falar e inspiram o próprio cantar do rei-poeta, porque anunciam
qualquer coisa de grandioso, ainda envolvida em mistério.
. Conjunto de expressões que se congregam para dar a sugestão de um mistério do
domínio futuro dos mares: “Na noite...”, “... silêncio murmuro...”, “... rumor
dos pinhais...”, “... marulho obscuro...”.
Este
poema, como todos os de Mensagem, está imbuído de sensibilidade épica. A grandeza dos feitos de Portugal é
inseparável da sua grandeza literária: o cantar nascido do marulhar dos
pinheiros prenuncia a grandeza épica de Portugal. Não nos esqueçamos que
Fernando Pessoa concebeu na Mensagem um super-Portugal de que ele seria
o super-Poeta.
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A organização da mensagem no plano espácio-temporal
O
sujeito poético imagina D. Dinis, “O plantador de naus a haver” (seria dos pinhais
semeados por este rei que viria a madeira para os navios das descobertas), a
compor uma cantiga de amigo, inspirado pelo rumor dos pinhais. O poeta recua no
tempo até ao presente de D. Dinis (passado para o poeta) e escuta, com o rei, “a
fala dos pinhais... o som presente desse mar futuro”. Assim, o poeta recorre ao
presente, enquanto no poema “D. Sebastião” utiliza o passado. Neste caso, é
Pessoa quem traz D. Sebastião para o seu tempo, isto porque este rei é uma
figura lendária que está fora do seu tempo, porque é simultaneamente uma figura
do passado, do presente e do futuro (sebastianismo).
Por
outro lado, notemos que a mensagem de "D. Dinis" está basicamente centrada
no futuro, dado que, se a perspetiva temporal do poeta é a de D. Dinis e este
rei preparava as glórias futuras da sua pátria, é óbvio que a mensagem se
centra sobretudo no futuro: "O plantador de naus a haver...", "...É
o som presente desse mar futuro...".
No
que diz respeito à questão espacial, há um conjunto de expressões que remetem
claramente para a época anterior aos Descobrimentos: "O plantador de
naus...", "... o rumor dos pinhais...", "É o som presente
desse mar futuro...". Mas, por outro lado, surgem outras
expressões que projetam Portugal através do mundo: "... como um Trigo / De
Império...", "Busca o oceano por achar...", "... desse mar
futuro...", "... ansiando pelo mar...".
Se
relacionarmos o espaço com o tempo, constatamos que ao futuro corresponde a
projeção de Portugal através dos mares.
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Conclusões
1.ª) D. Dinis aparece caracterizado
pelo cantar de amigo (o poeta) e como o plantador de naus (o lavrador).
Assim, conciliam-se na sua personalidade poética o sonho providencialista de um
império que se estenderá por longes terras e mares desconhecidos.
O primeiro elemento caracterizador
reporta-se ao rei trovador / poeta que compôs cantigas de amigo e de amor, na
época trovadoresca. Ligado ao segundo, mostra como a poesia tem forte
importância na construção do mundo. Como poeta, D. Dinis foi capaz de revelar
estados psicológicos gerados pelo amor ausente, mas o seu poder criador
consumou-se também no feito político de ter mandado plantar o pinhal de Leiria,
lançando assim a semente das navegações e descobertas portuguesas. Portanto, de
noite e no meio do seu próprio silêncio, o rei trovador percepcionou no rumor
dos pinhais a nossa aventura oceânica.
2.ª) De facto, Pessoa aponta D. Dinis
não só como o rei trovador, mas também como o criador “genético” dos
Descobrimentos. Se, por um lado, foi conhecido como o “Lavrador”, seu cognome,
pela plantação do pinhal de Leiria, por outro lado, ele foi o grande
responsável pela abundância de matéria-prima que proporcionou aos portugueses a
expansão e a construção de um vastíssimo império, que se concretizou com o sonho
do Infante D. Henrique.
3.ª) São também evidentes no poema os
elementos que evidenciam o destino mítico de Portugal:
.
os pinhais plantados por D. Dinis;
.
o rumor dos pinhais;
.
esse cantar;
.
o som presente;
.
a voz da terra.
Os
pinhais plantados por D. Dinis, agitados pelo vento, prefiguram o marulho das
ondas que as “naus a haver” hão de sulcar. O destino de Portugal cumpriu-se,
porque este poeta / trovador pressentiu, a seu tempo, a nossa ânsia de
perscrutar o desconhecido e distante, criando as condições favoráveis para o
lançamento dessa aventura.
4.ª) Em suma, D. Dinis é retratado como
o rei capaz de antever futuros, justamente porque poeta visionário, em cujo
cantar de amigo se fundam o rumor – a “fala dos pinhais” – e o mar futuro. Por
isso ele é visto como “plantador de naus a haver”, as naus / cantar de amigo
que desvendarão, no futuro que ele sonha, o “oceano por achar”. No poema, os
pinhais plantados pelo rei-poeta-visionário são “um trigo de império” e “ondulam
sem se poder ver” (porque futuros – só acessíveis aos sonhadores).
Foi
ele quem lançou a semente das navegações e dos Descobrimentos.
5.ª) O poema insere-se na primeira
parte de Mensagem, intitulada «Brasão»,
alusiva à constituição da nação. Remete, assim, para um tempo longínquo, que funciona
como paradigma da construção do reino. Trata-se, porém, agora, de um reino espiritual,
do Quinto Império, uma época de fraternidade universal, sem fronteiras definidas
no espaço, sob a hegemonia dos portugueses.