Neste poema, o sujeito poético
apresenta-se com diversos «eus».
A composição poética abre com duas
metáforas: a da luva e a da mão, que sugerem a ligação entre duas pessoas,
equiparando-se no que diz respeito ao modo de pensar e de agir. No entanto,
neste poema parece sugerir a existência de conflitos e divisões.
A ausência de pontuação –
nomeadamente de vírgulas – permite-nos fazer diferentes leituras do texto. Assim,
o sujeito poético apresenta-se, no início, marcado por dois nomes: a luva e a
mão. Poderá isto significar que há dois «eus»: a Adília e o eu, que o sujeito
poético procura fazer coincidir, formando um único ser. Deste modo, estaremos
perante a união do sujeito poético (eu) com Adília. Convém, neste contexto, ter
presente o facto de Adília Lopes constituir o pseudónimo literário de Maria
José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira. Deste modo, quando afirma que o «eu»
do poema quer coincidir consigo “mesma”, este «eu» parece não ser já Maria
José, visto que é com Adília (a figura que assina os textos) que o «eu» se quer
unir, formando um único ser. Esta ideia parece ser confirmada por entrevistas
dadas pela própria poeta, que afirma que “Adília Lopes e Maria José da Silva
Viana Fidalgo de Oliveira são uma e a mesma pessoa. São eu.”. No entanto, logo
de seguida acrescenta: “E muitos outros nomes que eu não sei”.
Esta nota permite fazer outra
leitura do poema. Se separarmos as conjunções coordenativas copulativas «e»
presentes nos versos 2 e 3, deparamos com uma pulverização de «eus», visto que,
além de Adília Lopes e Maria José, podem existir “muitos outros nomes”. Assim
sendo, o «eu» que encontramos no início do poema não seria nem Adília Lopes
(embora no terceiro verso apareça uma Adília, convém notar que o sobrenome
Lopes não está presente, o que poderá indiciar a existência de outra figura, de
outro nome, diferente da poeta que assina os seus textos como Adília Lopes) nem
Maria José, mas um «eu» que não sabemos quem é. A leitura do segundo verso,
deste modo, estender-se-ia até à segunda conjunção «e», presente no verso 3.
Este dado permite afirmar que a mão é, agora, Adília. A ocorrência do segundo
«eu». No final desse terceiro verso, poderá remeter tanto para o «eu» do
primeiro verso como para outro, distanciando-se do primeiro. É este segundo
«eu» que quer coincidir consigo mesmo. Assim sendo, se, de acordo com a
primeira leitura, estaremos perante o par Adília Lopes / Maria José, de acordo
com a segunda, seremos confrontados com várias «faces», podendo ser ora Adília
Lopes, ora Maria José, ou ainda muitos outros nomes.
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