A ação
decorre no período em que D. João VI e a corte portuguesa viviam no Brasil,
entre 1808 e 1821, depois de aí se terem refugiado, fugidos de Portugal das
Invasões Francesas, por isso o romance começa com a expressão “Era no tempo do
rei”, que recorda o início dos contos tradicionais populares: “Era uma vez…”.
Em 1806,
a Inglaterra e a França estavam em conflito. Napoleão Bonaparte, imperador da França,
decretou o Bloqueio Continental, que estabelecia que todos os países europeus
deveriam encerrar os seus portos aos navios ingleses, com o objetivo de enfraquecer
as exportações inglesas, dando origem a uma crise económica.
Nessa
época, Portugal e Inglaterra eram aliados e mantinham boas relações comerciais,
por isso os portugueses não anuíram às exigências dos franceses. Assim,
Napoleão decidiu invadir Portugal, pelo que, em 1808, a família real lusitana
fugiu para o Brasil, passando a capital do Império a ser o Rio de Janeiro.
Após a
chegada da corte portuguesa ao Brasil, D. João VI põe em prática diversas
medidas económicas, políticas e sociais que favoreceram o florescimento das
atividades culturais no Brasil. Depois de 1822, D. João VI regressou a
Portugal. Dois anos a seguir, em 1824, D. Pedro I outorga a Constituição
brasileira.
Em
1840, dá-se o Golpe da Maioridade de D. Pedro II, que faz com que o Brasil
inicie novo período de crises económicas, políticas e sociais, acentuadas pela
guerra com o Paraguai, a extinção do tráfico negreiro e a abolição da
escravatura.
Já na
década de 1860, o Brasil começa a exportar diversos produtos, como café, açúcar
e algodão, que tornam a balança comercial brasileira positiva. Foi neste
contexto que, entre 1836 e 1881, floresceu, atingiu o apogeu e decaiu o
Romantismo.
A obra
explora personagens características da sociedade do Rio de Janeiro do século
XIX, sempre recorrendo ao humor e à ironia. Nessa época, a literatura
brasileira cultivava uma narrativa que recuperava as raízes e tradições
nacionais. Em simultâneo, surgiu um outro género, o chamado romance urbano, que
tinha como pano de fundo a cidade e a vida social, familiar e amorosa de personagens
que vivem os seus conflitos amorosos, os problemas de convivência, o
materialismo, a corrupção, a procura de ascensão social, etc.
Manuel
António de Almeida não foi alheio ao envolvimento político. Na obra, descreve e
compara a cultura brasileira referente ao período em que o Brasil foi a sede da
monarquia portuguesa com a do tempo em que a obra foi escrita (1852 – 1853),
fazendo uso da ironia para denunciar as mazelas sociais, procurando mostrar que
aqueles que defendiam o “tempo do rei” estavam equivocados ao pensar que o
governo déspota desenvolveria a sociedade brasileira com o passar dos anos.
Pelo contrário, enquanto liberal, considerava que um governo tirano como o que
se praticava no Brasil teria exatamente o efeito contrário, isto é, atrasaria o
desenvolvimento social, criando pessoas ignorantes e rudes. Assim, o livro pode
ser lido como uma alegoria da época da sua escrita, pretendendo o autor sugerir
que o Brasil de 1850 não diferia muito do de 1808, daí a crítica que vai
tecendo ao sistema de Justiça, à Educação, ao clero, à polícia, aos imigrantes
portugueses, etc., etc.
Na sua
ótica, o desenvolvimento brasileiro teria de estar ligado ao investimento na
educação dos seus cidadãos, algo completamente descuidado pelos sucessivos
governos e abordado na obra. De facto, todas as personagens manifestam
comportamentos tidos por inadequados, bem como uma clara falta de formação
intelectual. Elas são espertas e resolvem os seus problemas com base em
esquemas e na malandragem. O próprio Vidigal, o legítimo representante da lei
no Rio, conhecido pela sua eficiência, usa métodos investigativos e punitivos
violentos e ilegais.