sexta-feira, 5 de setembro de 2025
quinta-feira, 4 de setembro de 2025
Biografia de Camões: as origens dos Camões
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Camos (Nigrán): neste lugar, existia, há cerca de oito séculos (séc. XIII), o
solar dos Camões, residência da família ancestral de Luís de Camões.
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Esse topónimo, por sua vez, teve origem no nome de uma ave chamada camão
(ou caimão), uma ave aquática de plumagem azul e bico vermelho, que
ainda existe no estuário do rio Miñor.
▪ Um nobre galego era dono
de um pássaro camão que morreria se a sua esposa cometesse adultério.
▪ Um pretendente dessa
dama, tendo sido rejeitado por ela e cheio de despeito, resolveu caluniá-la,
insinuando que teria cometido adultério, por isso o marido quis matá-la.
▪ A esposa pediu ao
cônjuge que consultasse a ave. Ao verificar que esta continuava viva, ele
compreendeu que estava enganado, reconheceu o seu erro e uniu o seu nome de
família ao da ave.
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Luís de Camões mencionou esta lenda numa carta em verso que escreveu a uma
dama, mostrando, assim, que conhecia as suas origens galegas.
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Camões cresceu com a ideia de pertencer à nobreza, mesmo que empobrecida, ideia
essa consubstanciada no seguinte:
▪ O solar dos Camões, uma
casa senhorial ou castelo feudal, que, por alturas dos séculos XII ou XIII,
existia em Camos (Nigrán, Galiza), o local onde nasceu o trisavô do poeta (ter
esse passado associado a um castelo fortalecia de linhagem aristocrática).
▪ A lenda do camão, a qual
dava prestígio simbólico à família, visto que a associava à virtude e à honra.
▪ Antepassados ligados à
guerra e à navegação, atividades valorizadas pela nobreza medieval, já que os
feitos de armas e a expansão ultramarina eram sinal de honra.
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D. Fernando, o monarca português, reivindica a coroa de Castela por direito
dinástico, invade a Galiza, mas recua.
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Muitos nobres portugueses partidários de Pedro I refugiam-se em Portugal,
nomeadamente o Conde Andeiro, Aires Pires de Camões (capitão de galés) e o seu
primo Vasco Pires de Camões, provável fundador do ramo português da família.
• Os
motivos da vinda de Vasco Pires de Camões para Portugal são os seguintes: apoio
político a Pedro I, como já foi referido, e desavença pessoal (teria
assassinado um fidalgo).
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D. Fernando recompensa-o com várias propriedades: Gestaçõ, Montemor-o-Novo,
Sardoal, Constância, Marvão, Vila Nova de Anços, Estremoz, Avis, Évora e
Santarém.
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Após a morte de D. Fernando, em 22 de outubro de 1383, D. Leonor Teles, a
regente do reino, mantém Vasco Pires de Camões próximo de si, conde-lhe funções
e um casamento vantajoso com Maria Tenreiro.
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Na batalha de Aljubarrota (1385), Vasco Pires de Camões luta ao lado das forças
de Castela, é feito prisioneiro e posteriormente libertado, mas a sua atitude
fá-lo perder prestígio.
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Em 1391, ainda morava em Portugal, mas após esse ano desaparece dos registos
das cortes.
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Antes de se mudar para Portugal, era um trovador galego, tendo participado, por
exemplo, em contendas poéticas no Cancioneiro de Baena. Este dado liga o
talento literário de Camões a uma possível herança familiar.
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Lei do Morgadio: o filho mais velho herdava os bens e títulos, garantindo a
continuidade da linhagem; os filhos segundos entregavam-se à vida eclesiástica
ou à carreira militar.
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Gonçalo Vaz de Camões:
▪ enquanto primogénito e
de acordo com a Lei do Morgadio, herdou os bens da família;
▪ através de alianças
vantajosas e do casamento com Constança da Fonseca, ligada a uma família
importante, a dos Coutinho, prosperou;
▪ no século XVI, António
Vaz de Camões, um seu descendente, era morgado de Camoeira, rico e influente.
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Constança Pires de Camões:
▪ casou com Pierre
Séverin, um fidalgo francês que participou na conquista de Ceuta, em 1415;
▪ deu origem à família
Severim de Faria, da qual brotou Manuel Severim de Faria, biógrafo de Camões.
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João Vaz de Camões:
▪ segundo filho de Simão,
foi o bisavô do poeta;
▪ entregou-se à carreira
militar e judicial: serviu D. Afonso V em expedições contra Castela e no Norte
de África e mais tarde tornou-se corregedor da comarca da Beira (cargo
judicial);
▪ casou com Inês Gomes da
Silva, filha bastarda da família Silva;
▪ desse casamento nasceram
três filhos: João Vaz, Antão Vaz e Pero Vaz;
▪ construiu um túmulo
sumptuoso na Sé Velha de Coimbra.
▪ Antão Vaz de Camões:
→ é o avô do poeta;
→ casou com D. Guiomar da
Gama, que tinha ascendentes comuns a Vasco da Gama;
→ terá servido na Índia
com Afonso de Albuquerque, em 1507, fazendo parte da esquadra do Mar Vermelho;
→ levou uma vida
atribulada:
.
fugiu para Vilar de Nantes, em Chaves, em 1504, por ter cometido um homicídio;
.
viveu das rendas da abadia local;
.
morreu cerca de 1528;
.
filhos prováveis:
- Isidro Vaz (capelão do rei);
- Simão Vaz de Camões (pai
do poeta);
- Bento de Camões (tio do poeta);
- outros, incluindo
um Luís, possível inspiração para o nome do poeta).
▪ Bento de Camões:
. tio
do poeta;
. teve
uma carreira eclesiástica brilhante:
-foi cônego
regrante de Santo Agostinho no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra;
- em 1539,
foi eleito prior do Mosteiro de Santa Cruz e prior geral da congregação;
- em 1540,
foi nomeado chanceler da Universidade de Coimbra, um cargo semelhante a reitor;
.
manteve alguns conflitos com D. João III.
▪ Simão Vaz de Camões:
. pai
de Camões;
. nascimento:
provavelmente em Coimbra ou Vilar de Nantes, em data incerta;
.
estudou em Braga;
.
trabalhou como tesoureiro na Casa da Índia e na Casa dos reis D. Manuel I e D.
João III;
. foi
agraciado com o título de cavaleiro (não hereditário) em 21 de junho de 1538,
por D. João III, devido à participação numa perseguição em Safim (Marrocos) aos
mouros;
. foi
para a Índia como capitão de uma nau; segundo Pedro de Mariz, naufragou à vista
de Goa e morreu no Oriente, em data incerta;
.
casou, antes de 1524, com Ana de Sá:
- os
primeiros biógrafos falam numa Ana Macedo, uma mulher nobre de Santarém,
enquanto outros genealogistas confirmam essa ligação aos Macedo, uma linhagem
nobre portuguesa com ramificações na cidade referida e possíveis ligações a
figuras notáveis como a família de Damião de Góis (note-se que, na época, os
apelidos variavam muito, daí a oscilação ente «de Sá» e «de Macedo»);
- alguns
autores pensaram que havia duas mulheres (uma mãe, que teria morrido cedo, e
outra madrasta), por causa da Canção X, mas trata-se de uma interpretação
errada;
- nalguns
documentos, Camões chegou a assinar Luís Sá de Camões, mostrando a ligação aos
dois apelidos;
- a
oscilação de apelidos era normal da época, não sendo fixos nem oficiais:
. não
havia um nome de família obrigatório e as pessoas não tinham um apelido legal e
permanente;
. os
apelidos podiam vir do pai ou da mãe (por exemplo, uma filha podia usar o
apelido da mãe ou de uma avó, e os irmãos nem sempre partilhavam o mesmo
apelido);
. os
apelidos mudavam ao longo da vida (com o casamento, serviço militar ou cargos,
a pessoa podia adotar outro apelido, para reforçar status).
quarta-feira, 3 de setembro de 2025
domingo, 31 de agosto de 2025
Resumo de Contagem até Zero, de Agatha Christie
Nevile procura Kay e encontra-a em lágrimas e furiosa por ele ter dado a revista a Audrey em vez de a ela. A discussão sobe de tom: a esposa acusa-o de preferir a ex-mulher e de estar contra ela, enquanto o marido, com calma fria, reprova o seu comportamento infantil e ciumento. Kay, desesperada, pede-lhe que abandonem a casa imediatamente, mas Nevile recusa, insistindo em cumprir a quinzena prometida. No auge da discussão, ela alerta-o que a ex-mulher não o perdoou realmente e que esconde intenções profundas sob a serenidade que exibe. Ele, porém, vê em Audrey apenas generosidade e decência. O diálogo termina de forma glacial, com a mulher a acusar o marido de ser um homem frio, sem sentimentos, e este, cansado e frustrado, a abandonar o quarto.
Lady Tressilian conversa com Thomas Royde, notando que ele mantém a mesma reserva e silêncio da juventude, em contraste com o irmão falecido, Adrian. A idosa aborda então a delicada situação da casa, o “eterno triângulo” entre Nevile, Kay e Audrey, e admite divertir-se com o embaraço criado pela teimosia do primeiro em reunir as duas mulheres. De seguida, questiona de quem teria partido a ideia, concluindo que não seria de Audrey e duvidando que Kay tivesse essa astúcia. Lady Tressilian considera a atual esposa uma jovem desmiolada, de mau génio e sem maneiras, o que só prejudica o casamento. Já a antiga consorte, ponderada, parece ser quem mais sofre. Na conversa, fica evidente o amor discreto e de longa data de Thomas por Audrey. A velha senhora recorda a sua alcunha de juventude, “Fiel Thomas”, e sugere que a constância e devoção dele possam finalmente ser reconhecidas por Audrey, agora que passou por tantas desilusões. Thomas, envergonhado mas sincero, admite que foi com essa esperança que regressou.
Na cozinha, Hurstall, o mordomo, confessa à cozinheira Mrs. Spicer o seu mal-estar e inquietação: sente que há algo estranho na casa, como se todos estivessem presos numa armadilha, tensos e desconfortáveis. A cozinheira, prática, atribui isso a má digestão, mas ele insiste que o ambiente anda carregado. Na sala de jantar, Mary Aldin anuncia que convidou Latimer, amigo de Kay, para jantar no dia seguinte, o que gera conversas sobre passeios, golfe, dança e programas sociais. Entre as trocas, surgem pequenas ironias que evidenciam tensões entre o casal. Mary, instigada por Thomas Royde, revela discretamente a sua vida: tem 36 anos, vive há 15 com Lady Tressilian, depois da morte do pai, e sente pesar por nunca ter viajado, apesar de ser o seu maior desejo. Há um início de aproximação entre ela e Thomas, marcado por olhares atentos e sinceros. O jantar termina com Mary a anunciar outro convidado: Mr. Treves, um idoso distinto, advogado reformado, de saúde frágil, mas intelectualmente lúcido, conhecido por ter convivido com muita gente interessante. Enquanto isso, Thomas observa as duas mulheres em contraste: Kay, exuberante, cheia de vida e beleza intensa; e Audrey, pálida, recatada, quase apagada. A comparação inspira-lhe a imagem de duas figuras de contos populares: Rosa Vermelha e Branca de Neve.
Durante o jantar em Gull’s Point, Mr. Treves aprecia a boa comida, o vinho e a organização impecável da casa de Lady Tressilian, apesar de a sua dona estar confinada ao quarto. Enquanto observa os presentes, repara no contraste entre Kay — radiante, sedutora, dominando a atenção de Ted Latimer — e Audrey, discreta, silenciosa e imersa em pensamentos. A diferença entre ambas impressiona o velho advogado. Após o jantar, todos se reúnem na sala: Kay impõe-se com vitalidade, escolhendo a música e dançando provocadoramente com Latimer, deixando Nevile hesitante. Quase por cortesia, este convida a ex-esposa para dançar, mas esta recusa o convite, desculpando-se com o calor, e retira-se para o terraço. Mr. Treves, pensativo e observador, tece comentários ambíguos sobre Latimer, elogiando-lhe os dotes de dançarino, mas insinuando que a sua aparência lembra um criminoso que conheceu. A conversa com Mary Aldin revela o seu olhar clínico e insinuante, sugerindo que por vezes ver demasiado bem pode ser uma maldição. Enquanto isso, no terraço, Nevile e Audrey têm um breve momento de proximidade forçada quando o cabelo dela se prende no botão da manga dele. Ambos ficam nervosos e trémulos, e Thomas Royde interrompe a cena. O ambiente permanece tenso e cheio de olhares implícitos. Esta parte termina com a chegada da criada de Lady Tressilian, que anuncia o desejo da velha senhora de ver Mr. Treves no seu quarto.
Lady Tressilian recebe Mr. Treves com prazer, e os dois passam algum tempo a recordar velhos tempos e a trocar impressões. A conversa logo se volta para o “eterno triângulo” — Nevile, Audrey e Kay — e a velha senhora mostra-se indignada com a situação, porém o advogado analisa o caso de forma fria e pragmática, sugerindo que tais paixões súbitas são comuns e muitas vezes terminam em reconciliação ou em novos casamentos. A idosa insiste que Audrey tem demasiado orgulho para voltar para os braços do ex-marido, mas o homem lembra que, no amor, o orgulho raramente resiste. Depois, Lady Tressilian fala da sua solidão, da morte do marido e da fidelidade de Mary Aldin e da criada Barrett, que lhe são essenciais, e a conversa termina. Na sala, os convidados conversam: discute-se crimes, falhas da justiça e a possibilidade de a fazer "pelas próprias mãos”. Thomas defende que, se a lei falha, alguém tem o direito de agir — uma ideia que Mr. Treves rejeita como perigosa. O advogado, então, conta uma história sombria: uma criança que matou outra com arco e flecha em circunstâncias suspeitas. Oficialmente o episódio foi considerado um acidente, todavia ele nunca esqueceu a questão, sugerindo que reconheceria esse “assassino em miniatura” mesmo adulto. O relato deixa o ambiente tenso. Na despedida, Mr. Treves é acompanhado por Ted Latimer até ao hotel. No caminho, o advogado alerta-o, de forma velada, sobre os perigos da vida e da sua conduta impetuosa. Entretanto, surge Thomas Royde, e os três entram no Balmoral Court, onde descobrem que o elevador está avariado. O homem, com o coração fraco, é forçado a subir lentamente as escadas. Royde e Latimer despedem-se e seguem em direções opostas sob a lua prateada.
Na praia, Audrey, Mary, Kay e Ted Latimer desfrutam de um dia de sol. Kay, impaciente e provocadora, mantém-se próxima de Ted, com quem partilha cumplicidade e entusiasmo. Mary e Audrey observam-nos de longe e comentam como parecem formar um par natural, até mais harmonioso que ela com Nevile. Mary, sem querer, deixa escapar que teria sido melhor se Kay nunca tivesse conhecido o marido, o que gela imediatamente Audrey, que insiste que o passado está morto e que não sente mais nada por Strange. Entre as duas amigas surge uma conversa íntima: Mary admite sentir o peso de uma vida convencional, dedicada a Lady Tressilian, e revela pequenos “jogos mentais” que faz para se distrair, como observar as reações das pessoas. Audrey, fria e misteriosa, responde que ela própria é imprevisível, deixando a outra intrigada. Posteriormente, Mary fica sozinha na praia e conversa com Ted Latimer. Pela primeira vez, percebe nele não só arrogância e cinismo, mas também dor: ama Kay e perdeu-a para Nevile. Ted confessa o ressentimento que sente pelos outros, acusando-os de “presunção”, uma superioridade natural dos que sempre tiveram privilégios. Mary tenta defendê-los, dizendo que, embora pareçam superficiais, não são cruéis, e demonstra sincera compaixão pela infelicidade dele. Ted admite amar Kay desde sempre, mas acrescenta enigmaticamente que “muitas coisas podem acontecer no futuro próximo”, deixando no ar uma ameaça ou presságio.