quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Orações subordinadas relativas
1. Oração subordinada substantiva relativa sem antecedente - Finita
1.1. Oração subordinada substantiva relativa sem antecedente - Não finita infinitiva
2. Oração subordinada adjectiva relativa
2.1. Relativa restritiva
2.2. Relativa explicativa
- É introduzida por:
-» advérbios relativos: «onde», «como»:
. O Ernesto poisou a mochila onde havia espaço.
-» pronome relativo "quem":
. Quem desdenha quer comprar.
-» quantificador relativo "quanto" (precedido ou não de preposição):
. Só comes quanto ganhas.
- Não possui antecedente.
- Completa / modifica o grupo verbal da oração subordinante.
- Pode desempenhar diversas funções sintácticas:
-» Sujeito: Quem estuda passa de ano.
-» Predicativo do sujeito: O Carlos Cruz não é quem parece.
-» Complemento directo: Adoro quem estuda.Só pagas quanto gastares.
-» Complemento indirecto: Ofereci um rebuçado a quem estudou.
-» Complemento oblíquo: Gosto de quem me trata bem.
-» Complemento agente da passiva: O jogo foi ganho por quem marcou mais golos.
-» Modificador do grupo verbal da subordinante:
- O meu avô vivia como podia.
- Adormeço onde calha.
1.1. Oração subordinada substantiva relativa sem antecedente - Não finita infinitiva
- É introduzida por advérbios relativos e pronomes relativos "que" e "quem" (precedidos ou não de preposição).
- Tem o verbo no infinitivo:
-» Não tenho que dar no Natal.
-» Jorge Jesus não sabe como mudar a situação.
-» No Verão, não tenho a quem deixar o piriquito.
-» Hulk, tens com que escrever?
-» Não sei onde estacionar o carro.
2. Oração subordinada adjectiva relativa
2.1. Relativa restritiva
- Limita, restringe a referência do antecedente.
- Contém informação relevante para a definição do antecedente.
- Não pode ser eliminada da frase, pois alteraria o sentido da oração subordinante.
- Desempenha a função sintáctica de modificador restritivo do nome:
-» Quem ama verdadeiramente (oração substantiva relativa sem antecedente) não diz palavras que ofendam (oração relativa restritiva).
-» Os alunos que estudaram obtiveram boas classificações. → Os alunos obtiveram boas notas. (neste caso, são todos os alunos; no primeiro exemplo, eram só alguns)
-» A mulher que eu amo está presa.
2.2. Relativa explicativa
- Apresenta informação adicional / facultativa sobre o antecedente (na oração subordinante).
- Assim, pode ser eliminada, pois a sua omissão não altera o sentido da oração subordinante.
- Na oralidade, é marcada por uma pausa; na escrita, por vírgulas, travessões ou dois pontos.
- Desempenha a função sintáctica de modificador apositivo do nome (1) ou modificador da frase (2):
-» (1) Os benfiquistas, que se mostravam entusiasmados, saíram frustrados do estádio.
-» (2) O Benfica perdeu, o que deixou a D. Lídia furiosa.
Poema II ("O Guardador de Rebanhos")
Se, no poema I, Caeiro definiu a sua filosofia, assente no sensacionismo, na objectividade na análise da natureza, neste segundo poema da obra O Guardador de Rebanhos refere-se mais concretamente ao seu processo de pensamento. É preciso não esquecer que, para deixar de pensar, é necessário pensar no assunto.
O texto inicia-se com uma comparação ("O meu olhar é nítido como um girassol.") que significa que o sujeito poético vê a realidade à luz do sol, com toda a nitidez que essa luz lhe propicia. Dito de outra forma, a comparação evidencia a nitidez do olhar do «eu», dado a planta a que o seu olhar é comparado segue continuamente a luz solar. À semelhança de Cesário Verde, o sujeito poético assume uma atitude deambulatória ("Tenho o costume de andar pelas estradas..." - v. 2), observando atentamente a realidade, atento à diversidade que o rodeia, ("Olhando para a direita e para a esquerda..."), descobrindo novas «coisas» a cada olhar, constituindo, assim, a visão, o sentido primordial que nos permite conhecer o mundo.
O verso 9 apresenta-nos uma nova comparação, desta vez com uma criança, um símbolo recorrente em Caeiro, pela inocência e ingenuidade que lhe estão associadas. Neste caso específico, a comparação é estabelecida com uma criança "ao nascer", o que remete para um ser não contaminado, constantemente surpreendido pelos estímulos da realidade que lhe chegam através dos sentidos e que provocam o seu espanto ("pasmo essencial" - v. 8), resultante do que o rodeia, novo para quem acabou de nascer. De modo semelhante, o sujeito poético sente-se como a criança recém-nascida, que vê com uma inocência primordial, isto é, vê tudo como se visse pela primeira vez, espantado perante "a eterna novidade do Mundo". Todos estes dados confirmam, no fundo, a afirmação de Jacinto do Prado Coelho: "Caeiro (...) vive de impressões, sobretudo visuais, e goza em cada impressão o seu conteúdo original.".
À semelhança do que sucede na primeira estrofe, a segunda abre com nova comparação (neste caso, entre a sua crença no mundo e um malmequer), que é uma forma de objectivação, concretização, através dos sentidos, de uma realidade eminentemente abstracta dado que reside apenas no pensamento. No entanto, este versos confirmam-nos que, apesar do seu esforço para afirmar o contrário, o sujeito poético ainda pensa e não vê apenas. Dito de outra forma, ele apresenta uma teoria à qual falta uma prática efectiva e continuada, confirmada por uma espécie de «insistência doentia» nas explicações dos seus actos. Repare-se como ele começa por fazer uma constatação ("Creio no Mundo"), para de seguida se justificar: "Porque o vejo. Mas não penso nele (...)". Se estivesse convicto das suas afirmações, não necessitaria do raciocínio justificativo. Ainda assim, prossegue a sua afirmação da supremacia do olhar sobre o pensamento: "Porque pensar é não compreender..." - v. 15; "(Pensar é estar doente dos olhos)" - v. 17). Este último verso é uma confirmação da negação do pensamento, da metafísica, pois não devemos procurar procurar ou atribuir significados ao mundo, devemos antes deixar-nos guiar pelos sentidos, pelas sensações puras, aceitando pacificamente as coisas tais quais elas são ("Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo..." - v. 18).
A terceira estrofe abre com uma afirmação categórica: "Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...". Esta afirmação clarifica a sua veia antifilosofia, evidenciando a recusa da metafísica, do pensamento abstracto, defendendo em alternativa o primado dos sentidos. Os restantes versos acabam por comprovar / aprofundar esta ideia, ao aclararem o tipo de relação que o «eu» estabelece com a natureza, uma relação de amor ("Mas porque a amo..." - v. 21). E é uma relação de amor porque no amor não há perguntas, não há certezas acerca do «objecto» amado, não há «razões» que justifiquem o «amor por», nem sequer uma definição do que é amar. Deste acto amoroso, está ausente o pensamento, a racionalidade; o sujeito aceita apenas as coisas tais como são. Há, portanto, uma tentativa de equiparação do amor ao seu desejo de inconsciência, de não pensar
A última estrofe é constituída por um dístico silogístico: se "amar é a eterna inocência" (v. 24) e se "a única inocência é não pensar" (v. 25), então "amar" é "não pensar". Neste sentido, não pensar é uma espécie de amor sem objecto, um amor ideal. É um amor pela Natureza, um amor natural e sinónimo de aceitação incondicional, sem questionação. No fundo, estamos perante a necessidade humana de amor, de carinho, mesmo que unicamente no seio da Natureza.
Em suma, «Persegue Caeiro a inocência como Mestre, para que Pessoa conquiste o amor como discípulo.» (Nuno Hipólito, in No Altar do Fogo)
O texto inicia-se com uma comparação ("O meu olhar é nítido como um girassol.") que significa que o sujeito poético vê a realidade à luz do sol, com toda a nitidez que essa luz lhe propicia. Dito de outra forma, a comparação evidencia a nitidez do olhar do «eu», dado a planta a que o seu olhar é comparado segue continuamente a luz solar. À semelhança de Cesário Verde, o sujeito poético assume uma atitude deambulatória ("Tenho o costume de andar pelas estradas..." - v. 2), observando atentamente a realidade, atento à diversidade que o rodeia, ("Olhando para a direita e para a esquerda..."), descobrindo novas «coisas» a cada olhar, constituindo, assim, a visão, o sentido primordial que nos permite conhecer o mundo.
O verso 9 apresenta-nos uma nova comparação, desta vez com uma criança, um símbolo recorrente em Caeiro, pela inocência e ingenuidade que lhe estão associadas. Neste caso específico, a comparação é estabelecida com uma criança "ao nascer", o que remete para um ser não contaminado, constantemente surpreendido pelos estímulos da realidade que lhe chegam através dos sentidos e que provocam o seu espanto ("pasmo essencial" - v. 8), resultante do que o rodeia, novo para quem acabou de nascer. De modo semelhante, o sujeito poético sente-se como a criança recém-nascida, que vê com uma inocência primordial, isto é, vê tudo como se visse pela primeira vez, espantado perante "a eterna novidade do Mundo". Todos estes dados confirmam, no fundo, a afirmação de Jacinto do Prado Coelho: "Caeiro (...) vive de impressões, sobretudo visuais, e goza em cada impressão o seu conteúdo original.".
À semelhança do que sucede na primeira estrofe, a segunda abre com nova comparação (neste caso, entre a sua crença no mundo e um malmequer), que é uma forma de objectivação, concretização, através dos sentidos, de uma realidade eminentemente abstracta dado que reside apenas no pensamento. No entanto, este versos confirmam-nos que, apesar do seu esforço para afirmar o contrário, o sujeito poético ainda pensa e não vê apenas. Dito de outra forma, ele apresenta uma teoria à qual falta uma prática efectiva e continuada, confirmada por uma espécie de «insistência doentia» nas explicações dos seus actos. Repare-se como ele começa por fazer uma constatação ("Creio no Mundo"), para de seguida se justificar: "Porque o vejo. Mas não penso nele (...)". Se estivesse convicto das suas afirmações, não necessitaria do raciocínio justificativo. Ainda assim, prossegue a sua afirmação da supremacia do olhar sobre o pensamento: "Porque pensar é não compreender..." - v. 15; "(Pensar é estar doente dos olhos)" - v. 17). Este último verso é uma confirmação da negação do pensamento, da metafísica, pois não devemos procurar procurar ou atribuir significados ao mundo, devemos antes deixar-nos guiar pelos sentidos, pelas sensações puras, aceitando pacificamente as coisas tais quais elas são ("Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo..." - v. 18).
A terceira estrofe abre com uma afirmação categórica: "Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...". Esta afirmação clarifica a sua veia antifilosofia, evidenciando a recusa da metafísica, do pensamento abstracto, defendendo em alternativa o primado dos sentidos. Os restantes versos acabam por comprovar / aprofundar esta ideia, ao aclararem o tipo de relação que o «eu» estabelece com a natureza, uma relação de amor ("Mas porque a amo..." - v. 21). E é uma relação de amor porque no amor não há perguntas, não há certezas acerca do «objecto» amado, não há «razões» que justifiquem o «amor por», nem sequer uma definição do que é amar. Deste acto amoroso, está ausente o pensamento, a racionalidade; o sujeito aceita apenas as coisas tais como são. Há, portanto, uma tentativa de equiparação do amor ao seu desejo de inconsciência, de não pensar
A última estrofe é constituída por um dístico silogístico: se "amar é a eterna inocência" (v. 24) e se "a única inocência é não pensar" (v. 25), então "amar" é "não pensar". Neste sentido, não pensar é uma espécie de amor sem objecto, um amor ideal. É um amor pela Natureza, um amor natural e sinónimo de aceitação incondicional, sem questionação. No fundo, estamos perante a necessidade humana de amor, de carinho, mesmo que unicamente no seio da Natureza.
Em suma, «Persegue Caeiro a inocência como Mestre, para que Pessoa conquiste o amor como discípulo.» (Nuno Hipólito, in No Altar do Fogo)
sábado, 1 de janeiro de 2011
Plano (Álvaro de Campos e Pablo Picasso)
Planificação
Título: A arte no seu todo
Introdução
A classificação da arte e da ciência e a sua relação hoje em dia é bastante subjectiva pois , a ciência é um tipo de arte que apesar de diferentes, têm pontos em comum.
A ciência é uma arte objectiva, necessita de estudo , confirmação e aceitação por parte de um todo, já a arte é o mais subjectiva possível. Cada um a interpreta mediante a sua visão do mundo, mediante o seu imaginário e capacidade de aceitação .
Portanto, é a partir da visão que damos ás coisas, mais aprofundada ou menos que torna-mos objectos arte, conforme o olhar que lhe damos.
Desenvolvimento
Pablo Picasso foi entre o século XX considerado o mestre da arte.
A sua arte difere bastante da usual, os seus quadros e obras viajam além do real, vão para lá do desconhecido. Demonstra as suas amarguras e tristezas ao tornar a sua obra tão sofrida, surreal e por vezes amedrontadoras.
Newton foi um cientista físico e matemático, considerado o cientista que causou maior impacto na história da ciência. Realizou bastantes descobertas entre as quais “ a teoria binomial”, “ o calculo”, “ a leia da gravitação” e, “ a natureza das cores”.
Vénus de Milo é uma famosa estátua grega que representa a deusa grega Afrodite, do amor sexual e beleza física, ficou conhecida no entanto pelo seu nome romano, Vénus.
Conclusão
A estátua Vénus de Milo, o binónio de Newton, o qudro de Picasso e a poesia de Álvaro de Campos são obras de arte. Apesar de tão diferentes , diferem apenas na sua imagem pois para muitos de nós são ambos denominados obras de arte.
VD
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
They don't know
Kirsty MacColl (1979)
Tracey Ullman (1983)
Porquê? A Tracey fez, ontem, 51 anos. Parabéns!
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Plano (Álvaro de Campos e Pablo Picasso)
Planificação
Título: A arte e o seu ser
Introdução
Hoje em dia é cada vez mais difícil estabelecer as fronteiras entre a arte e a ciência assistindo-se, assim, à inter-relação e interpenetração de metodologias de investigação.
A arte é um ramo das Ciências Sociais e Humanas, uma vez que se ocupa do estudo de factos e conhecimentos da actividade humana, organizando a sua investigação a partir da observação indirecta do objecto de estudo e apresentando os resultados dessa investigação sob a forma de teorias explicativas.
Ou seja, não persegue o conhecimento como um saber exacto quantificável - como as ciências exactas -, mas antes procura conhecer fenómenos através da compreensão de todo o seu processo de formulação com princípios estéticos do que é belo e atraente.
Desenvolvimento
Pablo Picasso, personalidade artística dominante do século XX (1981 - 1973), procurou novos modos de expressão apropriados à sensibilidade moderna, e através do Cubismo reescreveu a linguagem da arte.
As obras de Picasso procuram representar para além da realidade, o surreal, o mundo do inconsciente. Os seus quadros povoam-se de imagens estranhas, fantasmagóricas e irreais, deformações monstruosas, semelhantes às dos sonhos de significado difícil de desvendar.
Já no quadro de Picasso “Mulher Chorando” pode ser observado a dor descomunal que pode ser transmitida por um rosto humano. Esta pintura tem as características de uma mulher específica, Dora Maar, que foi uma dos seus inúmeros casos amorosos que ficou lendário. Esta mulher era a sua colaboradora mais próxima num certo tempo da sua vida.
Isacc Newton (1634 – 1727) foi o cientista inglês mais reconhecido como físico e matemático. De personalidade sóbria, fechada e solitária, para ele, a função da ciência era descobrir leis universais e enunciá-las de forma precisa e racional.
O binómio de Newton é uma expressão que permite calcular o desenvolvimento de (a + b)n, sendo a + b um binómio e n um número natural qualquer.
A expressão que permite escrever o desenvolvimento de qualquer potência de uma expressão algébrica formada por dois termos (binómio) foi dada a conhecer pelo físico e matemático inglês Isaac Newton em 1676.
A estátua “Vénus de Milo” (250 a.C.) marca a tendência para a idealização de formas, revelando influências de Lisipo e Praxíteles. Esta famosa estátua representa a deusa grega Afrodite, do amor sexual e beleza física, tendo ficado no entanto mais conhecida pelo seu nome romano, “Vénus”.
Álvaro de Campo é vanguardista e cosmopolita que canta o mundo moderno, canta tudo o que pressupõe vitalidade e sensibilidade individual. Ele é um sensacionista que converte tudo em substância de sensibilidade (torna a sensação a realidade da vida e a base da arte) e é um futurista que se caracteriza pela exaltação da energia, de “todas a dinâmicas”, da velocidade e da força.
Conclusão
Tanto o “binómio de Newton” como a “Vénus de Milo” como a pintura de Picasso e ainda a poesia de Álvaro de Campos, são diferentes obras de arte. Contudo, apesar das suas diferenças, tudo o que é arte é belo e, por isso, todas estas obras são sublimes.
A obra de arte é concebida para ser sentida. Observar uma obra de arte é, acima de tudo, um acto de contemplação e é desta contemplação que surgem as compreensões, fruições da obra que apesar de distintas de pessoa para pessoa estas interpretações referem-se sempre ao belo.
Todas estas obras de arte tiveram um efeito de “explosão” na sociedade marcando a diferença e com um sentido autêntico e eficaz, dando assim o primeiro passo para o futurismo ou o modernismo de hoje.
AI
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Álvaro de Campos, o nome
Álvaro, à semelhança dos dois outros heterónimos, é um nome de origem germânica, significando «atento a tudo» ou «atento a novas oportunidades», remetendo para a fase futurista do Campos cantor da modernidade, do progresso, simbolizados nas máquinas e na indústria.
Já Campos poderá remeter para os «campos do conhecimento» e, assim, em conjunto, os dois nomes traduziriam o homem «atento a todos os campos do conhecimento», um verdadeiro modernista.
Especulações...
Plano (Álvaro de Campos e Pablo Picasso)
Planificação
Titulo: As diversas formas de arte
Introdução
• Relação existente entre a ciência e a arte. A ciência descreve as coisas como elas são enquanto que a arte as descreve como são sentidas.
• A ciência só pode ter uma única interpretação, não pode ser contestada, enquanto a arte pode ser encarada de diversas formas, pois cada pessoa tem uma maneira diferente de captar a arte, todos temos vivencias e passados distintos e dependendo disso é que vamos interpretar positiva ou negativamente uma obra.
Desenvolvimento
• Pablo Picasso foi um pintor e escultor muito reconhecido no inicio do século XX.
• O quadro de Picasso apresenta uma mulher a chorar, mostra-nos o quanto sofria a única mulher que esteve psicologicamente à altura de Pablo.
• Newton foi um cientista inglês, mais reconhecido como físico e matemático.
• No campo da matemática Newton criou uma expressão que se denomina Binómio de Newton e permite calcular o desenvolvimento de (a+b)n.
• A Vénus de Milo é uma estátua grega, representa a deusa grega Afrodite, deusa do amor e da beleza física.
Conclusão
• Vénus de Milo e o quadro de Picasso são duas obras de arte, ou seja, o Binómio de Newton é tão belo como a arte pois tudo o que é arte é belo, embora cada pessoa tenha uma interpretação diferente de beleza de cada obra de arte.
Chamo a vossa atenção para o conteúdo do seguinte «post», onde estão as instruções para a realização do trabalho: http://portugues-fcr.blogspot.com/2010/12/alvaro-de-campos-e-pablo-picasso.html.
JR
"Ode Triunfal"
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical -
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força -
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés -- oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos da estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos pianos-inclinados dos portos!
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de l'Opera que entram
Pela minh'alma dentro!
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-la-hó la foule!
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras!
Comerciantes; vadios; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes;
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer,
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)
A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes -
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraitre amarelos com uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!
Ó fazendas nas montras! ó manequins! ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente,
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes --
Na minha mente turbulenta e incandescida
Possuo-vos como a uma mulher bela,
Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama,
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.
Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
Parlamento, políticas, relatores de orçamentos;
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta.)
Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o amor antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.
Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!
Up-lá hó jóquei que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!
(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!)
Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas,
E ser levantado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!
Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos -- e eu acho isto belo e amo-o! -
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosa gente humana que vive como os cães,
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!
(Na nora do quintal da minha casa
O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje. . . )
Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!
Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro Sol no novo Horizonte!
Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos, brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!
Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia, eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô eia!
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!
Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-lá! He-hô Ho-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical -
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força -
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés -- oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos da estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos pianos-inclinados dos portos!
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de l'Opera que entram
Pela minh'alma dentro!
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-la-hó la foule!
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras!
Comerciantes; vadios; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes;
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer,
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)
A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes -
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraitre amarelos com uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!
Ó fazendas nas montras! ó manequins! ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente,
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes --
Na minha mente turbulenta e incandescida
Possuo-vos como a uma mulher bela,
Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama,
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.
Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
Parlamento, políticas, relatores de orçamentos;
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta.)
Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o amor antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.
Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!
Up-lá hó jóquei que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!
(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!)
Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas,
E ser levantado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!
Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos -- e eu acho isto belo e amo-o! -
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosa gente humana que vive como os cães,
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!
(Na nora do quintal da minha casa
O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje. . . )
Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!
Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro Sol no novo Horizonte!
Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos, brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!
Eia eletricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia, eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô eia!
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!
Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-lá! He-hô Ho-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
sábado, 25 de dezembro de 2010
É Dia de Natal
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
Fernando Pessoa
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
Fernando Pessoa
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
O nome: Ricardo Reis
Ricardo é um nome de origem germânica e significa «senhor poderoso» ou «homem prático e decidido».
Reis remete, obviamente, para a realeza, para a nobreza heráldica.
Assim sendo, o nome Ricardo Reis pode apontar para uma figura que controla o seu destino, que é senhor de si mesmo.
Assim sendo, o nome Ricardo Reis pode apontar para uma figura que controla o seu destino, que é senhor de si mesmo.
O nome: Alberto Caeiro
De acordo com o sítio http://www.umfernandopessoa.com, o nome deste heterónimo de Fernando Pessoa seria explicável do modo seguinte...
Alberto, um nome de origem germânica, significa «calmo» ou «nobre».
Por seu lado, Caeiro relacionar-se-ia com cal e por isso com branco, remetendo para os versos do heterónimo - brancos por não possuírem rima - e para o facto de ele não crer em nada além do que via. Assim, a sua compreensão da realidade seria, igualmente, branca, sem nada escrito nela. Além disso, em determinadas culturas, o branco é a cor funerária, do esquecimento e da perda de tudo.
Deste modo, associando o nome e o sobrenome, Alberto Caeiro significaria «a nobreza calma do esquecimento das coisas.
Há, ainda, quem seja audaz e associe o nome «Caeiro» a «(Sá-)Carneiro», o grande amigo de Pessoa e que desempenhou um papel, simultaneamente, importante e involuntário no surgimento deste heterónimo, pois, segundo a carta sobre a génese dos heterónimos, ele teria surgido para pregar uma partida a Mário de Sá-Carneiro.
Subscrever:
Mensagens
(
Atom
)