Português

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Renascimento - Origem

·         O Renascimento é «um movimento cultural que, articulado com fatores sociais, económicos, políticos e religiosos, criou uma profunda de dinâmica de mudança na Europa dos séculos XV e XVI». É um movimento de recuperação da cultura greco-latina, cuja designação se ficou a dever a uma certa oposição à Idade Média, considerada, erradamente em parte, como uma «época de trevas» pelos homens do Renascimento. Nas palavras de António José Saraiva e Óscar Lopes, o Renascimento é o período que caracterizado pela «adoção das formas artísticas greco-latinas e a assimilação do espírito que as anima», o que sugere que estamos perante uma aceitação e não uma ressurreição das formas clássicas, visto que a ressurreição supõe a morte e as formas greco-latinas nunca morreram. Com efeito, durante a Idade Média leram-se Homero e Virgílio, comentaram-se as obras de Aristóteles e Platão, estudaram-se as línguas grega e latina.
     ·         O berço do Renascimento foi a Itália do século XV, nomeadamente cidades como Florença, Génova e Veneza, não obstante alguns sinais de mudança se terem começado a sentir no final da Idade Média, em determinados centros intelectuais europeus.
     ·         Esta origem explica-se pelo facto de, sobretudo em Florença, se ter formado uma elite de políticos e intelectuais que, enriquecida pelo comércio, esteve na génese de um movimento profundo de renovação cultural.
     ·         Ainda em Florença, é de destacar o papel da família Médicis ao longo do século XV, família essa que governou a cidade e se constituiu como mecenas de inúmeros artistas, o que fomentou o desenvolvimento das letras e das artes. Durante o século XVI, membros dessa família dominaram o papado, o que fez com que Roma se tornasse o novo centro de irradiação do Renascimento.
     ·         O movimento renascentista acabou por e expandir por toda a Europa – tendo como base a Itália e a Flandres, outro centro de comércio e desenvolvimento artísticos ‑, tendo atingido o auge nas primeiras décadas do século XVI.
     ·         Por outro lado, durante o período do Renascimento, a Europa assistiu ao surgimento de cortes luxuosas, de estados poderosos e de forte centralização do poder. Reis e papas interessaram-se pela cultura, pelo que se rodearam de artistas, edificaram palácios e igrejas que ornamentaram com pinturas e esculturas, muitas vezes contendo o retrato do patrono e / ou de familiares seus.
     ·         A riqueza, aliada ao desejo de promoção e notoriedade, possibilitou o investimento na arte por parte de ricos comerciantes e de altos dignitários da Igreja. Em simultâneo, o mecenato alastrou a diversas cortes europeias.
     ·         A difusão do Renascimento pela Europa ficou a dever-se, em larga medida, às viagens e à troca de correspondência encetadas pelos artistas e intelectuais da época, favorecendo assim a difusão de ideias.
·         Esse grupo de letrados desenvolveu uma intensa atividade intelectual distribuída por diferentes áreas:
·         Pedagogia ‑ propunham:
·        a leitura e o comentário dos textos de autores clássicos para apreensão do seu significado preciso;
·        a introdução de matérias novas, como a História, no conjunto das disciplinas existentes;
·        a introdução, nos estudos, das obras de autores científicos da Antiguidade.
·         Sociedade ‑ defendiam:
·        a escolha dos dirigentes segundo o saber e a capacidade;
·        a condenação da guerra;
·         Literatura:
·        adotaram como modelos os géneros literários, as formas poéticas, os recursos estilísticos cultivados pelos antigos autores gregos e romanos;
·        adaptaram as línguas modernas ao estilo antigo.
     ·         Por outro lado, foram vários os fatores que contribuíram para a difusão deste novo espírito:
·         O desenvolvimento do comércio, das atividades industriais e das cidades e, portanto, de uma sociedade mercantil;
·         A descoberta da tipografia, graças a Gutenberg, que se constituiu como um meio prodigioso para a difusão das ideias e da informação, associada ao crescimento de um público a quem já não satisfazia a reprodução manuscrita do livro, com todos os constrangimentos que acarretava;
·         A descoberta do caminho marítimo para a Índia e para a América;
·         O encontro de civilizações desconhecidas, como a chinesa, facto que levou à modificação das conceções acerca do planeta, dos costumes e das crenças;
·         As invenções e aperfeiçoamentos técnicos, como a artilharia ou os novos processos de navegação ou de exploração das minas.
·         Verifica-se, por isso,
·         o alargamento da curiosidade a vários aspetos do património cultural antigo (o saber prático ou especulativo, o lucro e a operosidade mercantil, a inteligência e o corpo humano, a vida terrena);
·         a difusão da cultura clássica pelas novas técnicas de produção do livro, por meio da edição dos clássicos greco-latinos e das obras de análise e interpretação dos humanistas.

Bibliografia:
» Manual Plural 12,
» Manual Português +, Areal Editores
» História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes;
» História da Literatura

Aspetos culturais: Renascimento, Humanismo e Classicismo

         O desenvolvimento do comércio, das atividades industriais e das cidades relaciona-se com o grande movimento que se designa pela palavra Renascimento em sentido lato. A velha cultura clerical não consegue satisfazer as novas necessidades e aspirações culturais. E alguns grandes acontecimentos, aparentemente súbitos, mas na realidade preparados por um longo processo, transformam rapidamente o horizonte mental dos grupos sociais mais dinâmicos.
         A descoberta da tipografia e a invenção da imprensa em meados do século XV, atribuída a Gutenberg, é estimulada pela existência de um público em crescimento, para o qual já não bastava a reprodução manuscrita do livro. Essa invenção acelerou prodigiosamente a difusão dos livros, das ideias e das notícias, e constituiu-se em poderoso fator de transformação ideológica.
         O descobrimento do caminho marítimo para a Índia e o da América ‑ ambos rapidamente divulgados pela imprensa ‑, assim como o encontro de civilizações desconhecidas, como a chinesa, modificam as concepções multisseculares do europeu acerca do planeta, dos costumes e das crenças.
         Outras invenções e aperfeiçoamentos técnicos, como a artilharia, os novos processos de exploração de minas, etc., mostram as possibilidades de domínio da natureza, abrindo caminhos para a ciência conexamente matemática e experimental, que será um facto no final do século XVI com os trabalhos de Galileu.
         Não surpreende por isso que, sobretudo antes de começarem e depois de terminarem as lutas religiosas que ensanguentaram os meados do século XVI, principie a esboçar-se um moderno ideal de sociedade, sob a alegoria, por exemplo, de uma distante cidade quimérica e racionalizada, sem tribunais nem violência ‑ a Utopia de Tomás Morus (a que se seguiram, mais tarde, a Cidade do Sol, escrita em 1602 na prisão por Campanella, e a Nova Atlântida, 1627, de Francisco Bacon).
         É neste contexto que se torna possível uma assimilação mais ampla da cultura greco-latina. Embora alguns autores latinos não fossem ignorados antes do século XV (especialmente Séneca, Cícero e Ovídio) e muitos lugares-comuns literários da Antiguidade tivessem feito caminho até à literatura cortês através das obras do clero medieval, certas facetas da cultura clássica eram inassimiláveis pelo mundo feudal e agrário. O desenvolvimento da sociedade mercantil e de toda uma cultura ligada à sua experiência põe em causa a síntese doutrinária lentamente elaborada pelo clero das universidades nos séculos imediatamente anteriores, e um dos efeitos desta situação é o alargamento da curiosidade a outros aspetos do património cultural antigo em que, contrariamente à Escolástica, se dignificassem as atividades civis, o saber prático ou especulativo em diretrizes teológicas, o lucro e a operosidade mercantil, a inteligência e até o corpo humano, a vida terrena. Pouco a pouco, o esquema teológico da Criação, Queda e Redenção serve de modelo a este outro: Luzes greco-romanas, Trevas "góticas" e monaicas. Daqui a designação de Renascimento, que só mais tarde se começou a usar explicitamente em relação ao Quattrocento (século XV italiano) e a uma parte do século XVI europeu de demarcação problemática.
         Os promotores deste movimento são os Humanistas, letrados cuja actividade se exerce geralmente fora da hierarquia clerical, e que constituem um grupo cada vez mais numeroso. A palavra humanismo com que se designou este movimento, inspirada pelo conceito de humanitas (o da humanidade, ou qualidade humana, como cultura e estrutura moral) de Cícero, exprime a crença num conjunto de valores morais e estéticos universalmente humanos, os quais se achariam definidos tanto nas Escrituras e na Patrística como na cultura profana da Antiguidade.
         Já Petrarca, herdeiro da poesia provençal, viaja incansavelmente em busca de códices latinos. Boccaccio (1313-1375), Poggio (1380-1459), Alberti (1404-1472) e outros letrados italianos descobrem e dão a conhecer textos ignorados de Tácito, Cícero, Quintiliano, Tito Lívio. Prelados bizantinos fixados em Itália por ocasião dos concílios quatrocentistas, outros intelectuais de Bizâncio, posteriormente fugidos aos Turcos, e eruditos italianos, como Filelfo, e Lorenzo Valla (1405-1457), criador da filosofia clássica ‑ , contribuem para a revelação da língua e da literatura helénicas, quase completamente ignoradas no Ocidente medieval.

Renascimento - A Europa - Aspetos sociais

         Do final do século XV a meados do século XVI, a indústria desenvolve-se para além dos quadros corporativos das cidades e há um surto de invenções e melhoramentos técnicos, favorecidos pela procura crescente de mercadorias. Os senhores feudais apropriam-se tanto quanto podem de terras comunais, reduzindo muitos servos ou colonos a assalariados e produzindo para o mercado. O aumento do volume de trocas, implicando o da circulação monetária, traz como resultado a procura de ouro, prata e outras mercadorias preciosas. Intensifica-se o trabalho mineiro e buscam-se minas, quer dentro quer fora da Europa. O descobrimento da prata na América e do caminho marítimo para a Índia vêm ao encontro desta necessidade de acréscimo dos meios de troca, e provocam uma alta de preços, ruinosa para os que apenas vivem de foros e serviços feudais.
         Tornam-se possíveis grandes acumulações de capital e operações bancárias à escala de toda a Europa e respetivos interesses ultramarinos. Formam-se grandes casas financeiras, como os Fugger e os Welser. Descobrem-se meios de drenagem de capitais, como o empréstimo público.
         Estas formas de concentração e mobilização dos meios monetários servem de base aos grandes estados nacionais e até supranacionais, como o reino de França, o império de Carlos V (dependente da casa Fugger e das minas de prata) e o império português (dependente do ouro da Mina e da pimenta). Os monarcas, recorrendo largamente ao empréstimo, consumindo em massa material de guerra, onde já figurava a artilharia, oferecendo garantias de diversa ordem, estimulam fortemente o crescimento do capitalismo mercantil. Por vezes a realeza favorece a burguesia mercante; outras vezes, ajudada pela concentração do poder económico e político, atua como vértice de uma aristocracia militar e administrativa, na sua maior parte oriunda da aristocracia agrária.
         Os bens feudais da Igreja dão origem a constantes conflitos entre a Igreja e os príncipes, que tendem a chamar a si, no todo ou em parte, o poder religioso e os bens eclesiásticos, quer separando-se de Roma, como Henrique VIII de Inglaterra, quer arrancando-lhe, como o rei de França, concessões importantes.
         Com o incremento do volume da produção, sob o estímulo do comércio europeu e intercontinental, acelera-se o ritmo de desenvolvimento de algumas cidades, especialmente no Reno, no Báltico e na Flandres. A burguesia industrial e comercial destas cidades resiste às tentativas de dominação empreendidas por Carlos V e por outros príncipes. Ao mesmo tempo, o aumento da exploração agrícola, em que se lançam alguns senhores feudais, agrava a situação dos camponeses e provoca insurreições como a de 1525 na Alemanha.
         Estas circunstâncias facilitaram a propagação da heresia religiosa desencadeada pelo protesto de Lutero contra a venda de indulgências, em 1517, que inicia o movimento de contestação da Igreja de Roma que ficaria conhecido por Reforma e que acabaria por dividir os países europeus em católicos e protestantes. Os escritos de Lutero e outros protestantes tornaram-se rapidamente conhecidos, graças à recente invenção da imprensa. Relembremos que uma das suas ideias mais polémicas foi a preconização da livre interpretação dos textos bíblicos (é sob a sua direção que sai a primeira tradução da Bíblia em alemão). A burguesia das cidades, desejosa de se libertar da tutela eclesiástica, apoiou, em grande parte, o movimento. O mesmo fizeram os príncipes alemães, que cobiçavam os bens feudais da Igreja. Massas de camponeses, artesãos e assalariados das cidades insurrecionavam-se em nome do Evangelho contra a complexa formação social ‑ senhoria e mercantil ‑ que os oprimia. Mas Lutero condenou os levantamentos populares.
         A Igreja atravessa então um momento difícil. O rei de Inglaterra separa-se do Papa; o de França toma uma atitude ambígua; e mesmo os príncipes favoráveis ao Papa desacatam a Santa Sé, como Carlos V, cujo exército em 1527 saqueia Roma, saque que revelou até que ponto a religião se sujeitara a interesses dinásticas e, em geral, políticos e sociais.
         A necessidade duma reforma é geralmente admitida, até por alguns cardeais. Existe uma grande corrente que, sem pôr em discussão a autoridade do Papa, preconiza a emenda dos abusos e a interiorização do sentimento religioso. Essa corrente, que tem o seu intérprete máximo em Erasmo de Roterdão, chegou a aparecer como um compromisso possível entre Luteranos e «Papistas».
         Entretanto, a cultura e o saber científico desenvolvem-se. Exemplo desse desenvolvimento é a defesa, em 1543, na Polónia, pelo astrónomo Copérnico, da teoria do heliocentrismo, ignorada, porém, durante 72 anos, até Galileo a confirmar.
         Após uma época de anarquia e de indecisão, define-se a nova fisionomia política e religiosa da Europa. No concílio de Trento (1545-63), cortam-se as pontes entre os dois fragmentos da antiga cristandade: a Península Ibérica torna-se o mais forte baluarte do mundo católico; as cidades do Reno, do Báltico e do mar do Norte, o eixo do mundo protestante. A França está dividida entre um e outro. No fragmento católico desenvolve-se uma reacção conhecida pelo nome de «Contra-Reforma», que consiste, sob seu aspecto negativo, numa repressão por meios coativos de todas as manifestações culturais suspeitas de heterodoxia, incluindo manifestações toleradas durante épocas anteriores; e sob o aspecto positivo, numa tentativa de recuperação da Escolástica e no desenvolvimento de formas exteriores de devoção. A Inquisição (romana, espanhola e portuguesa) torna-se o principal instrumento de representação ideológica. À Companhia de Jesus cabe o papel principal na difusão do novo catolicismo "tridentino". No mundo protestante, as condições foram, em geral, mais favoráveis à expansão da ciência, assim como à difusão de uma cultura laica.
         As duas mentalidades afrontar-se-ão nas guerras com que Filipe II tenta submeter a Inglaterra e as cidades da Flandres e Países Baixos. O império espanhol, abrangendo, além da Espanha, Portugal, domínios nas Índias Ocidentais, o Brasil, grande parte da Itália, etc., funcionará em benefício de uma aristocracia de sangue, servida por uma poderosa organização militar e que possui, além da maior parte da terra em Espanha, postos dominantes no comércio transoceânico e os saques e tributos de guerra ou domínio. A defesa da fé católica é o motivo mais frequentemente invocado por esta aristocracia feudal para as guerras no exterior e as confiscações ou perseguições no interior. Em contraste, os Países Baixos aparecem como uma federação de cidades burguesas invocando princípios que mais tarde se diriam democráticos, como o direito ao autogoverno e à liberdade de crença.

A. J. Saraiva, Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa
(Texto adaptado)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Motoristas ganham mais do que professores

Ministro Motoristas de Crato ganham mais que professores
O ministério liderado por Nuno Crato tem ao seu serviço um total de 13 motoristas, 12 deles com um salário-base mensal de 1.850 euros, noticia esta segunda-feira o Diário de Notícias.
Motoristas de Crato ganham mais que professores
DR
ECONOMIA
O Ministério da Educação e Ciência tem um total de 13 motoristas, entre o gabinete do ministro Nuno Crato e três secretarias de Estado, escreve hoje o Diário de Notícias (DN), que acrescenta que todos os motoristas com excepção de um têm um vencimento-base mensal de 1.848,53 euros.
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De acordo com o jornal, também sete secretárias pessoais têm salários-base acima dos 1.800 euros, e outros dez funcionários de apoio técnico administrativo ganham mais de 1.500 euros brutos, de acordo com os valores que constam das listas de nomeações publicadas no Portal do Governo.
O Ministério da Educação assegura, contudo, que desde que Nuno Crato assumiu funções já cortou as despesas de funcionamento do seu ministério para menos de um terço dos valores registados nos anteriores ministérios da Educação e da Ciência e do Ensino Superior que foram, entretanto, unificados na mesma pasta.
O DN alerta ainda que a maioria dos motoristas e secretárias pessoais dos gabinetes do ministério ganham melhor que todos os 15 a 20 mil professores contratados a termo, que auferem um salário de 1.373,13 euros brutos, e também mais que os professores do quadro até ao terceiro escalão. 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Deputada bêbeda


Deputada do PS detida por conduzir com 2,41 g/l de álcool

Glória Araújo foi detida em Lisboa por crime ao volante no dia do seu 37.º aniversário.
Glória Araújo é deputada desde 2005, eleita pelo círculo do Porto DR
Glória Araújo, deputada do Partido Socialista (PS), foi detida na passada sexta-feira em Lisboa, por conduzir com excesso de álcool no sangue (2,41 gramas por litro), bem acima do limite a partir do qual esta infracção é qualificada como crime (1,2 g/l).
A notícia foi avançada pela Rádio Renascença. Contactada pelo PÚBLICO, a deputada socialista recusou fazer qualquer comentário.

“Agradeço o seu contacto, mas não vou fazer qualquer comentário”, respondeu Glória Araújo, deputada desde 2005, eleita pelo círculo do Porto.

Segundo a Renascença, tudo aconteceu na sexta-feira, dia em que Glória Araújo completou 37 anos.

A deputada foi detida numa operação stop no centro de Lisboa às 3h20 da madrugada e foi depois notificada para comparecer perante o Tribunal de Pequena Instância Criminal de Lisboa, desconhecendo-se o resultado da audiência com o juiz.

Ao abrigo do Código da Estrada, os condutores são punidos se apresentarem uma taxa de alcoolemia igual ou superior a 0,5 g/l (contra-ordenação grave). A partir de 0,8 g/l, é considerada uma contra-ordenação muito grave e uma taxa igual ou superior a 1,2 g/l é considerada crime.

O Código Penal prevê uma pena de prisão até um ano ou multa até 120 dias para quem cometer o crime de condução sob efeito de álcool, além de ficar sujeito a uma pena acessória de retirada da carta de condução por um período entre três meses e três anos.

Natural de Aveiro, Glória Maria da Silva Araújo passou a infância e juventude em Paços de Ferreira, vivendo actualmente em Lousada.

Licenciada em engenharia mecânica, a deputada socialista faz parte da Comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação, sendo suplente na Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas e na Comissão de Defesa Nacional. A nível partidário, integra a comissão nacional do PS.

Glória Araújo já participou até em acções sobre a segurança na estrada, como a Comissão Interparlamentar da Segurança Rodoviária (Setembro de 2008) e um encontro com empresários em Lousada para debater a Estratégia Nacional para a Segurança Rodoviária (Março de 2009).

David Bowie - "Absolute Beginners"


          Este senhor comemora hoje o seu sexagésimo sexto aniversário.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Regresso às aulas: 'Precisamos de merda'

"Precisamos de Merda", João de Vasconcelos e Sá
Fonte: Ephemerajpp

     Texto lido durante um jantar, por ocasião do Carnaval de 1934, na presença do ministro da Agricultura de então, um sujeito de nome Leovigildo Queimado Franco de Sousa. O autor foi o poeta João de Vasconcelos e Sá, avô do fadista António Pinto Basto.

* * * * * * * * * * * * * * *

Ao Excelentíssimo Senhor Ministro da Agricultura

Exposição

Porque julgamos digna de registo,
a nossa exposição, Sr. Ministro,
erguemos até vós humildemente,
uma toada uníssona e plangente,
em que evitámos o menor deslize,
e em que damos razão da nossa crise.

Senhor, em vão esta província inteira,
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Mas falta-nos a matéria orgânica precisa,
na terra que é delgada e sempre fraca.
A matéria em questão, chama-se caca.

Precisamos de merda, senhor Soisa,
e nunca precisámos de outra coisa…

Se os membros desse ilustre Ministério
querem tomar o nosso caso bem a sério;
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade,
e mijem-nos também, por caridade…

O Senhor Oliveira Salazar,
quando tiver vontade de cagar,
venha até nós, solicito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo, com sossego,
ajeite o cu bem apontado ao rego,
e como Presidente do Conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho.

A nação confiou-lhe os seus destinos…
Então comprima, aperte os intestinos.
E ai… se lhe escapar um traque não se importe…
quem sabe se o cheirá-lo não dará sorte…

Quantos porão as suas esperanças
num traque do Ministro das Finanças…
E também, quem vive aflito e sem recursos,
já não distingue os traques, dos discursos…

Não precisa falar, tenha a certeza,
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provém da merda que juntarmos nelas.

Precisamos de merda, senhor Soisa,
e nunca precisamos de outra coisa,
adubos de potassa, cal, azote;
tragam-nos merda pura do bispote,
e de todos os penicos portugueses,
durante pelo menos uns seis meses.

Sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente eles nos despejem trampa.
Ah terras alentejanas, terras nuas,
desesperos de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sempre a paixão nostálgica da merda…

Precisamos de merda senhor Soisa,
e nunca precisámos de outra coisa…
Ah, merda grossa e fina , merda boa,
das inúteis retretes de Lisboa.

Como é triste saber que todos vós
andais cagando, sem pensar em nós…
Se querem fomentar a agricultura, 
mandem vir muita gente com soltura…

Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala…
Ah, venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade,
formas normais ou formas esquisitas.
E desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia, à grande bosta,
tudo o que vier a gente gosta.

Precisamos de merda, Senhor Soisa,
e nunca precisámos de outra coisa…

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

'O fantástico sr. Madureira'


O fantástico sr. Madureira

Publicado ontem

 28 1 0

     A minha figura do ano, do que ontem acabou e do que hoje começa, é o porteiro da escola dos meus filhos. A tarefa desempenhada pelo fantástico sr. Madureira encerra em si o máximo de eficiência que deve reclamar-se a todos os funcionários e trabalhadores, mas é, simultaneamente, um extraordinário exemplo do mínimo de coerência usado pelo Estado para gerir um dos mais decisivos pilares de um país: o sistema educativo.
     Entre turmas do ensino básico e do jardim de infância, a escola do Meiral, em Gaia, tem cerca de 300 alunos. O sr. Madureira sabe, sem exceção, o nome de todos os estudantes e respetivos encarregados de educação. É fácil imaginar a confusão que se instala junto ao portão da escola quando a campainha toca, às 17.30 horas. Pequenos e graúdos aparecem aos magotes, mas nenhum sai da escola sem que o porteiro tenha avistado, do lado de fora, quem os vem buscar. É um trabalho quase insano, mas desempenhado com absoluta eficácia pelo sr. Madureira. Os pais sabem quanto vale este alívio.
     O piso do estabelecimento de ensino está pejado de desenhos de jogos tradicionais, todos feitos pelo sr. Madureira, para gosto e gozo das crianças. Este exemplo de dedicação estende-se a todas as tarefas atribuídas ao porteiro.
     E aí vem o absurdo: são os pais que têm de quotizar-se para garantir que a escola continua a ter porteiro. Isto, ao mesmo tempo que a Câmara de Vila Nova de Gaia garante livros grátis a todos os alunos, independentemente dos rendimentos auferidos pelos pais. É uma estupidez cuja explicação resulta, pois claro, do caos. Mesmo que quisesse, a Câmara não podia pagar o vencimento do porteiro, porque essa é uma competência do Ministério da Educação. Ora, o Ministério da Educação, apertado nos gastos como está, terá a vida do sr. Madureira (deste e de muitos outros que seguramente estarão espalhados pelas escolas do país) numa das mais baixas escalas de problemas a resolver nos próximos 10 ou 20 anos.
     É um vício que me acompanha: para cada reforma anunciada pelo Governo procuro sempre encontrar uma pessoa que nela se encaixe. O resultado raras vezes é animador. A esquizofrenia que rodeia este caso é particularmente reveladora: o Estado que decide à distância será sempre incapaz de resolver problemas como o do sr. Madureira. Que são apenas pequenos na aparência, porque na essência são, afinal, os problemas que verdadeiramente mexem com as nossas vidas, com o nosso quotidiano.
     É por isso que o fantástico sr. Madureira, cujas palavras são esmagadas pelo silêncio que as cerca, como diria o Manuel António Pina, é a minha figura do ano. Do que passou, do que hoje começa e dos que aí vêm. Porque, temo, o silêncio há de continuar a ser esmagador.
     Bom ano.

'Obrigado, professores!'

     "A International Association for the Evaluation of Educational Achievement realiza, cada quatro anos, dois estudos conceituados internacionalmente: o TIMMS (Trends in International Mathematics and Science Study) e o PIRLS (Progress in International ReadingLiteracy Study). Portugal participou na edição de ambos de 1995, tendo ficado nos últimos lugares do ranking. Ausente dos estudos de 1999, 2003 e 2007, voltou a ser cotado em 2011. Entre 50 países ficou no 15.º lugar a matemática e 19.º em ciências. Entre 45 países, foi 19.º no PIRLS. Em valor absoluto, os resultados são positivamente relevantes. Mas em valor relativo ainda são mais: de 1995 para 2011 foi Portugal o país que mais progrediu em matemática e o segundo que mais avançou no ensino das ciências; se reduzirmos o universo aos países da União Europeia, estamos na 12.ª posição em ciências, sétima em matemática e oitava em leitura; se ponderarmos estes resultados face ao estudo económico e financeiro das famílias e dos estados com que nos comparamos, o seu significado aumenta exponencialmente e deita por terra o discurso dos que odeiam os professores. Há bem pouco, Gaspar, arauto da econometria e vuvuzela dos indicadores internacionais, rotulava de ineficiente o sistema de ensino. O seu amanuense Crato, outrora impante de PIMMS e PIRLS na mão, ficou mudo agora. Relativizo os estudos e discuto os critérios e os objectivos destes estudos. Não os valorizo como eles os valorizam. Mas é por isso que denuncio o silêncio oficial. Porque estes resultados, valham o que valerem, são, inequivocamente, fruto do trabalho dos professores portugueses. Apesar de tudo, quantas vezes apesar das políticas. Obrigado, professores!"

Santana Castilho,  in Público (02/01/2013)
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