domingo, 11 de julho de 2021
Análise do filme «O Rei Leão»
I. Introdução
A educação do jovem príncipe
baseia-se em valores que o preparam para um dia vir a ser rei, sucedendo no
trono ao seu pai. Porém, o leãozinho, como criança que é, só pensa em se
divertir e procurar aventuras.
Sabendo que um grupo de hienas
acabou de chegar à região, Scar vai em busca do sobrinho e aconselha-o a
visitar um lugar proibido, para provar a sua coragem. Inocentemente, Simba
segue o desafio do tio e, na companhia de nala, sua amiga, dirige-se para o
local. Aí, ambos são atacados pelas hienas e só não são mortos porque no Mufasa
surge em cena e os salva.
Gorada esta armadilha, Scar não
desiste e prepara uma nova cilada: deixa o leãozinho num caminho por onde passa
uma manada de búfalos e faz com que o irmão saiba do perigo que Simba corre e o
vá salvar de novo. Quando Mufasa fica suspenso numa ribanceira, pede ajuda a
Scar, mas este limita-se a empurrá-lo. Simba assiste a cena e depara com um pai
morto.
Seguidamente, Scar convence o
sobrinho de que a culpa foi sua, por isso deve abandonar o reino para sempre.
Simba parte e é encontrado por Timon e Pumba no deserto, desmaiado. O suricate
e o javali decidem adotá-lo e ajudá-lo a sobreviver. Assim, o leão cresce com
os dois novos amigos, sem preocupações, até que um dia reencontra Nala e fica a
saber por ela que o reino está em perigo por causa do tio Scar. Inspirado pelas
palavras do pai, que lhe aparece nas estrelas, resolve regressar.
Regressado ao Reino, Simba
reencontra a mãe, que estava convencida de que o filho tinha morrido. O jovem
leão luta com o tio, que confessa a morte de Mufasa e acaba por ser morto pelas
hienas, quando as tenta culpabilizar pelo passamento do irmão.
Simba e nala casam e, no final do
filme, regressamos a uma cena análoga da primeira: os dois apresentam a sua
filha ao povo. Este celebra, novamente unido, em paz e em harmonia.
3.1. Mufasa
Trata-se de uma personagem traidora,
cruel, ardilosa e maléfica, que não hesita em assassinar o irmão. Além disso,
revela se um péssimo rei que conduz o povo à miséria e o reino ao caos.
Timon é um nome grego histórico que
significa “aquele que respeita”. Podemos também encontrá-lo numa peça de
Shakespeare (Timão de Atenas). Uma outra explicação possível para a sua
atribuição à personagem de “O Rei Leão” terá a ver com o filósofo grego Tímon,
um discípulo de Pirro, o fundador da escola cética.
Timon é um suricate perspicaz e
egocêntrico que reivindica as ideias de Pumba como suas. Ao contrário do animal
real, Timon anda sobre as patas traseiras, enquanto que o verdadeiro se desloca
sobre as quatro patas e apenas consegue ficar de pé nas traseiras.
Timon
Sofre de flatulência; é um guerreiro feroz e destemido que avança para a
batalha de peito aberto. Quando o chamam “porco”, sente-se ofendido. O seu nome
deriva do idioma suaíli da África Oriental e significa “tolo, fraco,
descuidado, negligente”.
Quando os dois amigos encontram o
jovem Simba quase morto no deserto, resolvem adotá-lo e cuidar dele. O leão
cresce feliz com ambos, sendo influenciado pela forma otimista como encaram a
vida. Quando Simba regressa ao reino, os dois animais acompanham-no.
Ambos voltam a reencontrar-se, já
adultos, quando Nala tenta caçar Pumba e Simba surge em defesa dele. Os dois
reconhecem-se e é a leoa que chama o protagonista à razão, convencendo-o a
regressar, pois o reino necessita dele. Após o regresso, Nala acompanha-o e
luta ao seu lado. Derrotado o tio e recuperado o reino, Nala passa a ser sua
esposa e mãe da sua filha.
As cenas iniciais da película
descrevem-nos a infância e a educação de Simba, a cargo do seu pai, que o
procura preparar para um dia ser rei. Numa das várias cenas monumentais do
filme, do alto do topo de uma colina, Mufasa mostra ao filho a extensão do
reino (“tudo o que o Sol toca”), mas alerta-o para o facto de existir um lugar
perigoso onde ele jamais deverá ir. Porém, o leãozinho é curioso e destemido,
por isso, quando o tio o desafia a visitar o cemitério dos elefantes,
dizendo-lhe que só os leões mais corajosos aí vão, Simba desobedece ao pai e
dirige-se para lá, desconhecendo que se tratava de uma armadilha preparada por
Scar para que seja morto pelas hienas. Acompanhado pela amiga Nala e por Zazu,
a ave que é mordomo de Mufasa, que o avisa de que estão a arriscar a vida, mas
é ignorado: «Perigo? Eu rio na cara do perigo.» (responde Simba). A aventura
termina de forma positiva, quando o rei surge e os salva das hienas,
aproveitando para dar uma lição ao filho, explicando-lhe que ser valente não é
sinónimo de procurar problemas. Para o convencer, afirma mesmo que até os reis
têm medo. Antecipando uma cena posterior, Mufasa diz-lhe que os reis que morrem
ficam nas estrelas e que um dia também ele estará no céu.
São estes valores que o pai lhe
transmite que nortearão a vida de Simba, apesar de o ter perdido muito cedo.
A obra do dramaturgo inglês retrata
o percurso de um príncipe, Hamlet, que se tenta vingar do tio, Cláudio, visto
que este envenenou o rei para ocupar o trono. Após a sua morte, este surge ao
filho como fantasma para o guiar, tal como Mufasa faz com Simba, surgindo nas
estrelas e dirigindo-lhe a palavra.
Na peça, o protagonista é dado como
louco e é exilado, mas no final não vence a contenda, ao contrário do que
sucede com Simba, que triunfa sobre o tio e ocupa o trono. A cena mais célebre
da peça consiste no monólogo de Hamlet, durante o qual este segura um crânio e
profere a famosa frase: «Ser ou não ser, eis a questão». No filme da Disney,
encontramos uma cena na qual Scar fala, sozinho, segurando um crânio de um
animal na pata.
Scar, cicatriz em português, é um
leão que inveja o poder do irmão e o deseja substituir no trono, por isso
odeia-o e a Simba e decide ataca-los com armadilhas preparadas com a ajuda das
hienas. O seu caráter negro fica bem evidenciado quando avisa os outros de que
é melhor não lhe voltarem as costas. O auge da sua crueldade é, provavelmente,
atingido na cena em que Mufasa está pendurado de um penhasco e estende a pata,
pedindo ajuda ao irmão. Scar não hesita e empurra-o para a morte. De seguida,
convence Simba de que este é o culpado da morte do pai, forçando-o a abandonar
o reino.
Timon e Pumba andam sozinhos,
guiados pela sorte, vivendo a forma de forma descontraída, como uma grande
aventura. Quando se apercebem de que Simba foi abandonado, tornam-se seus
amigos, criam-no e transmitem-lhe a sua filosofia de vida: «Hakuna
Matata». E acrescentam que, quando o mundo nos vira as costas, nós
devemos virar as costas ao mundo. É uma forma descontraída e sem regras de
viver, tendente a esquecer o passado e deixar de sofrer, que, no entanto, pode
ser encarada como um meio de fugir aos problemas, em vez de os enfrentar.
Trata-se de uma questão abordada noutras obras, como, por exemplo, n’Os
Maias, com a personagem de Pedro da Maia, com as consequências trágicas que
se conhecem.
Seja como for, a verdade é que um
Simba traumatizado e sentindo-se responsável pela morte do pai acaba por
recuperar a alegria de viver e acaba por ter uma infância feliz.
Esse passado acaba mesmo por o
apanhar quando reencontra Nala, a amiga de infância, que tenta caçar Pumba. O
reencontro proporciona o surgimento do amor entre os dois leões: «Domado está o
leão».
Na qualidade de leoa, Nala é uma das
felinas que caça para o grupo, tendo de dividir a comida com Scar e as hienas.
Ela explica, então, a Simba que o seu povo vive miseravelmente por causa da má
gestão do tio.
Por outro lado, o reencontro
desperta nele o sentido do dever, do qual está afastado há muito tempo. Quando
era criança, o que mais desejava era ser rei, porém, no presente, não se sente
preparado para assumir o trono. Recorda, então, as lições do pai, segundo as
quais um rei deve ir além da sua vontade. Mufasa era um bom monarca e
respeitado, pois respeitava todos os animais do reino, que viviam num
equilíbrio delicado.
Scar é o oposto do irmão: preguiçoso,
mau, cruel e autoritário. Para alcançar e, posteriormente, manter o poder,
associa-se às hienas, um grupo oportunista e extremamente perigoso.
O xamã mostra-lhe o seu próprio
reflexo num lago e afirma: «Ele vive em ti». Isto significa que o que Simba
aprendeu com o pai e essa aprendizagem servir-lhe-á de bússola na sua ação. Por
outro lado, a mensagem é clara: os ensinamentos e a memória dos que amamos
acompanha-nos ao longo da vida, serve-nos de guia, de orientação.
Quando Mufasa aparece ao filho no
céu, entre as estrelas, diz-lhe que Simba se esqueceu do pai e de quem é,
querendo dizer, no fundo, que deve seguir as lições do passado, em vez de
continuar a fugir. Após essas aparições, o jovem leão enche-se de coragem e
determinação e regressa ao reino, motivado pelo exemplo do pai.
Outra relaciona-se com a aprendizagem
e o crescimento interior. Ao longo da película, assistimos à evolução de Simba,
desde o momento em que surge nos braços de Rafiki até ao triunfo sobre Scar.
Durante o tempo que medeia entre os dois marcos, o leão enfrenta vários
obstáculos, sofre revezes, perdas e é assaltado por dúvidas existenciais. Mas é
tudo isso que o faz crescer e tornar-se adulto. Neste sentido, podemos ver aqui
os dilemas e as dificuldades da juventude.
Tal como Mufasa diz ao filho, todos
temos de ocupar o nosso lugar no ciclo da vida. Além disso, temos de ter
orgulho de quem somos e não podemos fugir de nós mesmos. Mesmo assaltados pelo
medo e por dúvidas, receando fracassos ou refeições, temos de lutar e encontrar
o nosso lugar no mundo.
Biografia de Homero
Trata-se, muito provavelmente, de um
bardo grego que viveu cerca do final do século VIII e início do VII a.C. Há
outros autores que apontam para os princípios do século IX ou finais do VIII,
na Jónia, uma região da atual Turquia. A partir da descrição de um poeta/canto
da Odisseia, que muitos estudiosos consideram um autorretrato, Homero é
frequentemente descrito como cego. Note-se, porém, que os gregos dos séculos
III e II a.C. começaram a questionar se o poeta teria mesmo existido e se as
duas epopeias teriam sido escritas por uma só pessoa.
Os dois poemas pertencem a uma
antiquíssima tradição oral. Histórias sobre uma expedição grega ao Oriente e
sobre viagens dos seus líderes de regresso a casa circulavam na Grécia há
centenas de anos, antes da Ilíada e da Odisseia terem sido
compostas. Contadores de histórias ocasionais e menestréis semiprofissionais
foram os responsáveis pela transmissão desses relatos de geração em geração por
via oral, através da memorização, sendo que cada «contador» os desenvolvia e
afirmava à medida que os contava, normalmente para uma audiência. Assim sendo,
é possível um só poeta ou vários poetas trabalhando de forma cooperativa terão
finalmente passado essas narrativas à escrita, com cada um fazendo os seus
próprios acrescentos e expandindo ou contraindo certos episódios para se
adequar ao seu gosto. A inovação de Homero, caso tenha sido mesmo ele a compor
as obras, parece ter sido costurar essas histórias, transformando-as num todo
complexo e coeso.
Embora as evidências históricas, arqueológicas
e linguísticas sugiram que os dois poemas épicos foram compostos por volta do
século VIII a.C., algures entre 750 e 650, a sua ação localiza-se na Grécia
micénica do século XII a.C., em plena Idade do Bronze. Segundo as crenças dos
gregos, esta era antiga foi uma época de grande glória, quando os deuses ainda
pisavam a Terra e os seres humanos com atributos sobre-humanos povoavam a
Grécia. As duas obras evocam esse período, num estilo elevado, retratando a
vida característica dos grandes reinos da Idade do Bronze. Nesse tempo, os
gregos eram chamados de «aqueus», palavra que designava uma grande tribo que
viveu na Grécia durante o período do Bronze.
Por outro lado, na época em que os
dois poemas épicos foram redigidos, o alfabeto grego estava em expansão em
termos de uso. A versão escrita mais antiga da Ilíada socorre-se
precisamente desse alfabeto e contém traços característicos da forma mais
antiga de escrita helénica. Continua em aberto a discussão em torno da dúvida
se Homero foi somente um poeta oral que ditou a Ilíada a um assistente
literário (convém relembrar a possibilidade de o autor ser cego ou ter cegado em
determinada fase da sua vida) ou alguém com experiência na tradição oral, mas
passado a escrito. Seja como for, os dois poemas foram compostos no dialeto
jónico do grego antigo, que era falado nas ilhas do mar Egeu e nas zonas
costeiras da Ásia Menor, a atual Turquia. Assim sendo, é possível concluir que
Homero será natural de algum lugar da Jónia, mas também existe a hipótese de tenha
escolhido o dialeto jónico porque o considerou mais apropriado ao estilo
elevado que caracterizava uma epopeia. A análise da literatura grega posterior
sugere que os poetas faziam uso de diferentes dialetos nos seus textos, de
acordo com os temas abordados, e que podiam escrever até em dialetos que não
falavam. Além disso, os textos de Homero são pan-helénicos, isto é, abrangem
toda a Grécia, em espírito, e, de facto, usam formas de vários dialetos.
Por outro lado, apesar de a ação se
desenrolar na Idade do Bronze, as duas obras fazem referência a realidades
gregas dos séculos VIII e VII a.C., portanto contemporâneas da sua redação. A
estrutura social feudal presente na Odisseia assemelha-se mais à da
Grécia de Homero do que à de Ulisses. Além disso, o poeta substitui o panteão
de divindades da sua própria época por deuses adorados pelos gregos micénicos.
Outros anacronismos, como, por exemplo, certas referências a ferramentas de
ferro e a tribos que ainda não haviam migrado para a Grécia na Idade do Bronze,
sugerem as origens posteriores a essa era do poema.
Deste modo, pode concluir-se que
Homero viveu, provavelmente, no século IX a.C., pelo que não foi testemunha dos
factos ocorridos na guerra de Troia, que terá tido lugar entre os séculos XIII
e XII a.C. Aproveitando a tradição oral, que nunca esqueceu essa guerra, sem se
preocupar com a verdade histórica, Homero transformou a história em poemas
épicos. Por outro lado, grande parte dos estudiosos concorda que a Ilíada
foi uma obra de juventude do poeta e precedeu a Odisseia, que terá sido
redigida na velhice, como complemento da primeira e ampliação da sua
perspetiva.
De acordo com a tradição, Homero, já
cego, teria vivido os últimos anos da sua vida errando e cantando os seus
versos pelas ruas de Ios, onde faleceu.
sábado, 3 de julho de 2021
sexta-feira, 2 de julho de 2021
Exame Nacional de Português - 12.º ano - 2021 - 1.ª fase
sábado, 12 de junho de 2021
segunda-feira, 7 de junho de 2021
Análise de "Todas as cartas de amor são ridículas"
Ao longo da composição, o «eu»
repete uma ideia, como se quisesse provar uma tese: as cartas de amor são
ridículas. De facto, de acordo com a estrofe inicial, as cartas de amor são,
por natureza, ridículas. Trata-se de um facto, um dado adquirido, algo que é do
conhecimento geral.
Na terceira, clarifica que, quando
há amor verdadeiro e autêntico, as cartas de amor «têm de ser» ridículas, isto
é, caracterizadas por um tom exageradamente sentimental. É típico das missivas
amorosas repetir clichés e transbordar emoções.
A quarta estrofe clarifica o sentido
do poema. Se, nas anteriores, ressaltava a ideia de que estávamos na presença
de uma crítica ao sentimentalismo romântico, nesta o «eu» explica que, na
verdade, ridículas são as pessoas que nunca escreveram cartas de amor, isto é,
que nunca expressaram os seus sentimentos de forma tão simples, sincera e sem
barreiras. Deste modo, a crítica será dirigida àqueles que julgam os outros
porque nunca se apaixonaram, pelo menos daquela forma.
Na quinta, o «eu» assume que sente
saudades do passado inocente e esperançoso em que escrevia cartas de amor.
Nesse tempo, o sujeito lírico não teria pudor ou consciência de que escrever
cartas de amor seria algo ridículo aos olhos de outras pessoas.
Na penúltima estrofe, encontramos um
«eu» maduro e mais cínico que parece sentir vergonha das cartas de amor que
escreveu no passado, na sua juventude. Reconhece que aquilo que é realmente
ridículo é o modo como recorda esse momento e esse facto. Com o tempo, a forma
como encara e vive o sentimento amoroso mudou e ele mesmo foi-se tornando mais
fechado e incapaz de se expressar de um mondo tão intenso e genuíno.
A última estrofe está toda entre parênteses,
um sinal de pontuação que exprime, por vezes, uma explicação, o que nos faz
considerar que esta parte do texto constitui, de facto, uma explicação da
estrofe anterior ou até de todo o poema. Ela sugere que todas as palavras e os
sentimentos presentes numa carta de amor são ridículos, o que pode significar que
não é a pessoa que está apaixonada que é ridícula, ou as cartas, mas sim as
palavras e os sentimentos em si.
quarta-feira, 2 de junho de 2021
Episódio de Leonardo
Análise de "Cálice", de Chico Buarque e Gilberto Gil
Análise de "Eu cantei já, e agora vou chorando"
Introdução:
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O soneto é da autoria de Luís
de Camões, poeta renascentista português que viveu, provavelmente, entre 1524
ou 1525 e 1580, sendo um dos cânones da literatura portuguesa e insigne na
cultura universal. Este poema insere-se na chamada corrente renascentista,
visto assumir a forma de um soneto, composição poética importada de Itália
por Sá de Miranda, após a sua passagem pelo país. É, portanto, um exemplo da
chamada medida nova.
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Desenvolvimento:
. Tema
. Assunto
. Estrutura
externa
. Estrutura
interna – 1.ª parte – 2.ª
parte
. Contraste
passado / presente
. Estado de espírito do sujeito e suas causas
. Recursos expressivos
Conclusão
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Neste texto,
é abordado o tema do infortúnio e o assunto compreende a saudade por um tempo
passado que, comparativamente ao presente, embora enganador, era preferível à
desolação que o rodeia e à implacabilidade e inexorabilidade do destino. O poema é constituído por duas
quadras e dois tercetos (um soneto), num total de catorze versos
decassilábicos heroicos, visto que são acentuados na sexta e décima sílabas (Eu/can/tei/já/e
a/go/ra/vou/cho/ran), com rima interpolada e emparelhada, de acordo com o
seguinte esquema rimático: ABBA / ABBA / CDE / CDE. Em todos os versos
encontra-se rima grave ou feminina (“chorando”/”confiando”), consoante e
incompleta (“confiado”/”passado”), à exceção dos versos 9 e 12, que possuem
rima completa. Nos grupos de versos 1 e 4, 2 e 3, 10 e 13, 11 e 14, a rima é
pobre, dado que as palavras rimantes pertencem à mesma classe gramatical
(“chorando”/”criando”), enquanto que nos restantes é rica, pois rimam
palavras de classes diferentes (“quando”/”julgando”). Por outro lado, nos
versos 11 e 14 existe rima imperfeita. O soneto pode dividir-se em
duas partes. Na primeira, correspondente às duas quadras e ao primeiro
terceto, o sujeito lírico lamenta o passado ilusório e enganador que o
destino o obrigou a viver, o que acentua a precariedade do momento presente.
No último terceto, a segunda parte, o sujeito poético, através do recurso a
duas interrogações retóricas nos versos 12 e 14, responsabiliza o destino
que, sendo inimigo e implacável, se sobrepõe aos erros de uns e/ou à
falsidade de outros, tornando inútil qualquer esperança. O sujeito poético começa por
estabelecer uma relação antitética entre o passado e o presente, salientando
a alegria experimentada em contraste com a tristeza do presente (“Eu cantei
já e agora vou chorando” – v. 1). Note-se a abundância de vocábulos de cariz
negativo, tais como “chorando” (v. 1), “lágrimas” (v. 4), “fui enganado” (v.
6), “triste” (v. 7), “som de ferros” (v. 11), “mente” (v. 12, “culpa” (v.
13), “injusta”, “erros” (v. 14), que exprimem a sua dor e desalento
presentes. Por outro lado, as diversas antíteses (“cantei”/”vou chorando” –
v. 1; “canto”/”lágrimas” – vv. 3 e 4; “triste (…) presente” – v. 7 / “passado
(…) ledo” – v. 8) confirmam o contraste existente entre a felicidade passada
e a tristeza presente vivido pelo sujeito lírico. Este chega mesmo a revelar
a consciencialização do fator que contribuiu para o seu desencanto e a sua
desilusão: a traição de que foi vítima por parte de alguém, como se pode
comprovar pelas expressões seguintes: “(…) fui nisso enganado” – v. 6;
“Fizeram-me cantar, manhosamente” – v. 9; “(…) tudo mente” – v. 12. Ao tomar
consciência disto, o sujeito põe em causa a aparente felicidade anterior,
considerando-a um prenúncio da desgraça que está a viver (“Parecer que no
canto já passado / Se estavam minhas lágrimas criando” – vv. 3-4),
acentuando, deste modo, o momento presente como muito negativo e infeliz (“É
tão triste este meu presente estado” – v. 7). O eu diz-se vítima da alegria
tranquila e ilusória que conheceu [“(…) cantei tão confiado” – v. 2;
“Fizeram-me cantar (…) / confianças” – vv. 9-10] de ter , a qual não era
senão um esboço, um indício do seu destino de desventura, que metaforicamente
identifica com prisão, com sofrimento, já que foi esse o resultado que
obteve: “Cantava, mas já era ao som dos ferros” – v. 11. O sujeito, tal como foi
anteriormente referido, realça o tempo passado, predominando as formas
verbais no pretérito perfeito (vv. 1, 2, 5, 6, 9) e imperfeito (vv. 4 e 11),
o advérbio de tempo “já” (vv. 1, 3, 11), a forma verbal repetida “cantei”
(vv. 1, 2, 5), bem como outras formas do mesmo verbo (vv. 9, 11) e outros
vocábulos pertencentes ao mesmo campo semântico (“canto” – v. 3), de modo a
salientar a existência de uma situação calma e tranquila que foi alterada
contra a sua vontade. Deste modo, o sujeito sente-se objeto de manipulação de
uma entidade superior [“(…) a Fortuna injusta (…)” – v. 14], que, para além
de ter modificado a sua vida e o seu estado de espírito, atuou de forma
camuflada, deixando-o viver na ilusão, até que fez desmoronar a encenação e
contribuiu para o estado presente do eu. Note-se a importância da conjunção
coordenativa adversativa “mas” (vv. 5, 10, 11), com o intuito de reforçar o
contraste entre o comportamento que o eu assumia e as suas causas reais: não
sabe concretizar a real época da sua felicidade, desconhecia a presença
nefasta do destino nos seus atos. É de salientar igualmente que o tempo
passado, a felicidade, ocorreu num momento pontual, concreto, definido, para
o que contribui o pretérito perfeito, reforçando o seu caráter efémero,
enquanto que o presente, marcado pelo sofrimento e pela dor, se reveste de um
cariz durativo, que é conseguido através da conjugação perifrástica, fazendo
pressupor que a infelicidade, a tristeza são sentidas com maior intensidade:
“vou chorando” (v. 1); “estavam (…) criando” (v. 4); “estou julgando” (v. 8).
O pessimismo e o dramatismo do momento presente vivido pelo sujeito,
resultado de um passado fictício, encontram-se sintetizados no verso 12
quando o eu afirma ”(…) tudo mente”, o que vem corroborara existência de uma
ilusão, de um engano vividos, fruto da atuação de uma força superior,
manipuladora. Temas como este, onde
sobressaem a fatalidade, a desgraça, a infelicidade, a desilusão, são
frequentes na lírica camoniana, quer se refiram à força do Destino sobre o
próprio sujeito poético, quer à influência exercida pela mulher amada. |