● Estado de espírito da donzela
▪ Quatro coblas
constituídas por um dístico e um refrão monóstico.
▪ Rima emparelhada: aaR.
▪ Métrica: versos hexassílabos.
▪ Quatro coblas
constituídas por um dístico e um refrão monóstico.
▪ Rima emparelhada: aaR.
▪ Métrica: versos hexassílabos.
Na segunda
cobla, o «eu» lírico relata a sua experiência pessoal. De facto, ele dormiu um
dia naquela cozinha e aí teve a melhor sesta da sua vida desde o dia em que
nasceu, visto que nela não havia moscas por ser muito fria, pois não havia lume
/ não estava acesa nem alimentos para cozinhar.
Na terceira,
o sujeito poético afirma que aquela cozinha, por ser tão fria, é um bom local
para se refrescar o vinho… se alguém o der ao infanção, pois também não existe
bebida em sua casa, visto que não possui dinheiro para o comprar (“e se vinho
gaar d’alguém”).
Através da
hipérbole, criticam-se as condições miseráveis (a falta de dinheiro, a fome,
etc.) em que o infanção vive. Com a comparação, enfatiza-se a excelente sesta
que o sujeito poético fez em casa do infanção e a ausência de moscas, que
provam a falta de lume e de alimentos para cozinhar). Por meio da ironia,
expõe-se a situação económica frágil do infanção.
▪ o nome da pessoa criticada é
omitido;
▪ os recursos
estilísticos usados eram a ironia e as palavras com duplo sentido.
▪ Rima:
- esquema rimático: ababccb;
- rima cruzada nos quatro
primeiros versos, emparelhada no quinto e no sexto e interpolada nos quarto e
sétimo.
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça
Embora
estejamos na presença de uma única quadra, trata-se de uma verdadeira arte
poética, ou seja, um conjunto de princípios que orientam a produção de um texto
poético. A estrofe abre com um conselho dirigido ao «tu» para ser paciente.
Esse conselho assenta no recurso ao modo imperativo («Sê»), que pressupõe a
existência do «tu», do interlocutor do sujeito poético, que recebe a mensagem
deste último e dela extrai ensinamentos sobre a arte de escrever poesia. Deste
modo, é possível concluir que o texto pressupõe uma finalidade didática, visto
que se apresenta como um ensinamento dirigido a todos aqueles que procuram
exercer a atividade poética.
A “explicação”
desse “conselho” é desenvolvida no resto da composição poética a partir do
recurso à metáfora e a nova comparação. Estes recursos estilísticos destacam a
naturalidade que deve estar na origem do texto poético, associado
metaforicamente a um fruto que, depois de amadurecido, se desprende naturalmente
do ramo da árvore. A metáfora do amadurecimento pode também remeter para a
ideia da reformulação / reescrita do texto: o escritor escreve e, depois,
corrige, reformula até encontrar a «versão» que o satisfaça. Por outro lado, a metáfora
e a comparação insinuam também a paciência e a espera que o processo criativo,
o processo de escrita implicam.
Este poema de Eugénio de Andrade centra-se na questão poética. Ele tem início com uma afirmação perentória: “Toda a poesia é luminosa” (v. 1). Quer isto dizer que a poesia contém a verdade que lhe é característica; o problema reside no facto de os sentimentos, as emoções ou os preconceitos do leitor (a metáfora “nevoeiro dentro de si”) o impedirem de “ver claro”, ou seja, de compreender o que lê.
Há, porém,
uma solução para essa incompreensão: o contacto contínuo com o texto poético,
ideia traduzida pela reiteração “outra vez”. Esse contacto continuado com a
composição poética, por causa da forma insistente como é feito, acabará por
familiarizar o leitor com os processos característicos do texto poético, o que
fará com que a poesia se torne clara (atente-se na expressividade da hipérbole “ficará
cego de tanta claridade” – v. 10).
Note-se, porém,
que o alcançar dessa luminosidade é apresentado sob a forma de condição,
traduzida pela oração subordinada adverbial condicional presente entre os
versos 6 e 9. Assim sendo, não é certo que o leitor chegue mesmo à compreensão
do texto; pelo menos, se não mantiver o tal contacto ativo e continuado com
ele.
Essa dúvida
permanece no último verso do texto, através do qual o sujeito poético parece
querer abençoar todo o leitor que “viu a luz, a luminosidade” da poesia: “Abençoado
seja se lá chegar”.
Tendo em
conta esta análise, o título do texto torna-se ele próprio claro:
apontará para uma definição de «poesia», dado que remete para o seu principal
objetivo, que passa por observar sem constrições as ideias ou sentimentos
expressos pelo sujeito poético.
é o bago de uva
macerado
nos lagares do mundo
e aqui se diz
para proveito dos que vivem
que a dor
é vã
e o vinho breve.
De facto, a
vida é associada a um “bago de uva” que, depois de “macerado / nos lagares do
mundo”, se transforma em «vinho». Note-se que, neste contexto, o vinho
simboliza a vivência humana, nomeadamente a sua brevidade, o seu caráter
efémero.
Por outro
lado, o adjetivo «macerado» (v. 3) remete para a dor e o sofrimento, dado que o
resultado da ação de macerar o bago de uva (a vida) é o seu esmagamento. Não
obstante, “a dor / é vã / e o vinho / breve”, ou seja, a dor e o sofrimento são
inúteis, visto que o resultado da maceração, ainda que aprazível (o vinho), é
breve, não dura muito, graças à passagem veloz do tempo.
Dado que o
poema constitui uma reflexão sobre a vida, o tempo verbal predominante é o
presente do indicativo, que, tendo em conta as ideias expressas no poema,
traduz a importância que o agora, o presente assume.
Relativamente
ao poema, o nome «salmo» refere-se a um hino através do qual se enaltece ou
engrandece algo; no entanto, neste poema, esse significado não se aplica. De
facto, a composição constitui uma reflexão sobre a vida e a sua efemeridade,
pelo que não se afigura como um livro de louvor, mas antes como um desabafo
sobre a temática abordada.