Este poema de Eugénio de Andrade centra-se na questão poética. Ele tem início com uma afirmação perentória: “Toda a poesia é luminosa” (v. 1). Quer isto dizer que a poesia contém a verdade que lhe é característica; o problema reside no facto de os sentimentos, as emoções ou os preconceitos do leitor (a metáfora “nevoeiro dentro de si”) o impedirem de “ver claro”, ou seja, de compreender o que lê.
Há, porém,
uma solução para essa incompreensão: o contacto contínuo com o texto poético,
ideia traduzida pela reiteração “outra vez”. Esse contacto continuado com a
composição poética, por causa da forma insistente como é feito, acabará por
familiarizar o leitor com os processos característicos do texto poético, o que
fará com que a poesia se torne clara (atente-se na expressividade da hipérbole “ficará
cego de tanta claridade” – v. 10).
Note-se, porém,
que o alcançar dessa luminosidade é apresentado sob a forma de condição,
traduzida pela oração subordinada adverbial condicional presente entre os
versos 6 e 9. Assim sendo, não é certo que o leitor chegue mesmo à compreensão
do texto; pelo menos, se não mantiver o tal contacto ativo e continuado com
ele.
Essa dúvida
permanece no último verso do texto, através do qual o sujeito poético parece
querer abençoar todo o leitor que “viu a luz, a luminosidade” da poesia: “Abençoado
seja se lá chegar”.
Tendo em
conta esta análise, o título do texto torna-se ele próprio claro:
apontará para uma definição de «poesia», dado que remete para o seu principal
objetivo, que passa por observar sem constrições as ideias ou sentimentos
expressos pelo sujeito poético.
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