Português

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Professora despedida por ensinar demasiado

(c) La Republica

   
     Una profesora de la Escola Espanyola d'Escaldes-Engordany ha sido despedida por enseñar "demasiado" a sus alumnos. La educadora del curso de P4 (Educación infantil) ha sido apartada de su empleo por recomandación de un inspector, que ha dado la razón al centro y recomienda en regreso de la profesora a España.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Sousa Neto

  • Amigo do Conde de Gouvarinho, é o representante da administração pública no romance, figurante e personagem-tipo da burocracia: é apresentado como «Oficial superior de uma grande repartição do estado», «Da Instrução Pública» (cap. XII);
  • revela falta de cultura e mediocridade intelectual - o narrador, ironicamente, apresenta-o como «cheio de curiosidade inteligente» a perguntar a Carlos se «em Inglaterra havia também literatura»;
  • é incapaz de argumentar, por falta de conhecimentos;
  • fala «do alto da sua considerável posição burocrática»;
  • nunca entra em discussões e acata todas as opiniões alheias, mesmo quando elas são absurdas;
  • provocado pro Ega, é incapaz de travar um diálogo consequente, devido à falta de conhecimentos sobre figuras e temas da época (por exemplo, Proudhon, o socialismo utópico) e devido a uma formação preconceituosa e à ignorância que o leva a afirma, acerca das «páginas de Proudhon sobre o amor», que não sabia «que esse filósofo tivesse escrito sobre assuntos escabrosos»;
  • representa, enquanto tipo social, a degradação na instrução pública, a superficialidade e a falta de cultura dos representantes da Administração do Estado.

Guimarães

  • É o tio de Dâmaso, um antigo trabalhador do jornal Rappel, fundado por Victor Hugo e Rochefort;
  • Democrata e simpatizante do comunismo, é o mensageiro do Destino e o portador da desgraça, ao entregar a Ega o cofre que lhe foi entregue por Maria Monforte e que encerra a verdadeira identidade de Maria Eduarda;
  • É o destinador da ação que, pela sua atuação casual (a entrega do cofre a Ega), recusa o êxito a Carlos, inviabilizando os seus amores com Maria Eduarda e ferindo mortalmente Afonso.

Cruges

  • Simboliza o músico idealista que sucumbe face à mediocridade cultural portuguesa;
  • sonha compor uma ópera que o imortalize, mas falta-lhe a motivação, devido ao meio em que se insere e que pode ser comprovado pela seguinte afirmação: «Se eu fizesse uma ópera, quem é que ma representava?».

Craft

  • Filho de um clérigo de uma igreja inglesa, o que o aproxima de Carlos e da sua forma de estar no mundo, daí a grande amizade que se desenvolverá entre eles;
  • temperamento byroniano;
  • rico graças à herança de um tio, passa o tempo a viajar e a colecionar obras de arte;
  • é um gentleman;
  • herdou da cultura britânica a bravata na defesa das suas ideias, a correção e a retidão de caráter;
  • assume uma posição de superioridade e de desdém face aos outros;
  • arquétipo do que deve ser um homem, acabará por ser vítima do seu diletantismo e desocupação;
  • boémio, amante do Belo e do xadrez, regressa a Inglaterra, onde sucumbe ao álcool (em Richmond).

Castro Gomes

  • Fidalgo brasileiro;
  • elemento catalisador da catástrofe ao desvendar o passado de Maria Eduarda (a Carlos);
  • introduz Maria Eduarda no meio social lisboeta;
  • abandona Portugal sem pesar, após a anagnórise.

Jantar dos Gouvarinhos

1. Objetivos
  • Reunir a alta burguesia e a aristocracia;
  • Reunir a camada dirigente do país;
  • Radiografar a ignorância das classes dirigentes.

2. Alvos visados
  • Conde de Gouvarinho:
  • Voltado para o passado;
  • Tem lapsos de memória;
  • Tece comentários grosseiros relativamente às mulheres;
  • Revela falta de cultura;
  • Não conclui nenhum assunto;
  • Pouco sagaz, não compreende a ironia de Ega;
  • Vai ser ministro.
  • Sousa Neto:
  • Acompanha as conversas sem intervir;
  • Não entra nas discussões;
  • É inculto - desconhece o sociólogo Proudhon;
  • Defende a imitação do estrangeiro;
  • Acata todas as opiniões alheias, mesmo que absurdas;
  • Defende a literatura de folhetins, de cordel;
  • É deputado.
     Neste episódio, Eça de Queirós caustica as camadas dirigentes do país, os funcionários mais destacados do Estado (um é deputado, o outro prepara-se para ser ministro), escancarando a sua falta de cultura e a superficialidade dos juízos.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Capítulo I do Sermão (Questionário)

1. A frase «Vos estis sal terrae» («Vós sois o sal da terra»), transcrita da Bíblia, mais concretamente do Evangelho de S. Mateus, capítulo V, versículo 13, constitui o chamado conceito predicável, a partir do qual se desenvolverá o Sermão.

1.1. Observe a frase «Vós sois o sal da terra».

1.1.1. Identifique os referentes do pronome pessoal «vós».

1.1.2. Refira a subclasse a que pertence o verbo usado.

1.1.3. Identifique a função sintática desempenhada pelo constituinte «o sal da terra».

1.1.4. Indique por palavras suas a relação de sentido entre o constituinte com a função de sujeito e o constituinte referido em 1.1.3.

1.1.5. Identifique o que representa o «sal».

1.1.6. Indique, agora, o que representa o elemento «terra».

1.1.7 Sabendo que «predicar» significa atribuir propriedades a entidades ou situações ou estabelecer relações entre entidades ou situações, explique em que medida a frase de 1.1. representa um conceito predicável.

1.2. Por que motivo é atribuída por Cristo a propriedade «sal da terra» aos referentes do pronome pessoal «vós».

1.3. Relacione a função do sal com a função das entidades referidas por «vós».

1.4. Como avalia o padre António Vieira o sucesso dessas entidades no desempenho da sua função?

1.5. Enuncie o problema levantado pelo padre Vieira.

1.5.1. Identifique e classifique o vocábulo que introduz esse problema.

1.6. Refira as duas hipóteses gerais apresentadas como causas possíveis do problema.

1.6.1. Identifique os elementos linguísticos que as introduzem como causa do problema e as apresentam como duas alternativas.

1.7. Enumere os motivos que poderão ter conduzido à primeira causa e os que poderão ter conduzido à segunda.

2. O segundo parágrafo inicia-se com uma premissa e, com base nela, o padre António Vieira coloca uma pergunta.

2.1. Enuncie a premissa.

2.2. Parafraseie a pergunta.

2.3. Identifique a parte do problema para o qual é proposta, neste parágrafo, uma solução e refira a solução proposta, bem como a finalidade da adoção de tal proposta.

2.3.1. O problema e a finalidade da solução proposta estão representados por duas orações subordinadas adverbiais que ocorrem na mesma frase. Classifique-as.

2.3.2. Qual é o tipo de argumento usado para sustentar essa proposta? Justifique a sua resposta.

3. Para fundamentar o que se há de fazer à terra que se não deixa salgar (isto é, aos ouvintes que não querem seguir os ensinamentos da verdadeira doutrina), o padre António Vieira recorre ao exemplo de Santo António.

3.1. Indique a razão por que o padre Vieira convoca a figura de Santo António.

3.2. Relate o episódio ocorrido com o santo e que justifica o título deste sermão.

3.3. Em determinado passo do capítulo, o autor do texto recorre a diversas interrogações. Aponte a intencionalidade do pregador ao colocar essas questões.

3.4. Aponte a decisão tomada pelo padre Vieira.

3.4.1. Refira três argumentos apresentados pelo pregador que justificam essa atitude.

3.5. O primeiro capítulo termina com uma invocação e com a expressão de um desejo.

3.5.1. Indique o destinatário da invocação e a sua intencionalidade.

Questionário SERMÃO - Texto Introdutório (Correção)

1.1. O Sermão foi proferido na cidade de S. Luís do Maranhão, no dia 13 de junho de 1654.

1.2. O Padre António Vieira tinha emigrado para o Brasil na sua juventude e aí se encontrava nessa data desenvolvendo ações missionárias junto dos índios.

1.3. Segundo a nota introdutória do Sermão, a doutrina defendida pelo Padre Vieira era mal recebido e objeto de contestação.

1.3.1. Os ensinamentos do Padre Vieira eram relevantes para o bem-estar espiritual e secular, mundano do homem.

1.4. O adjetivo usado é «alegórico» e pertence à subclasse dos qualificativos.

1.4.1. A alegoria pode ser definida de diferentes maneiras. No que diz respeito ao Sermão, podemos entender alegoria enquanto recurso estilístico que consiste na representação de uma realidade abstrata através de uma realidade concreta, por meio de analogias, metáforas, imagens e comparações.
                               Por exemplo, a imagem da mulher de olhos vendados que segura uma balança nas mãos representa a justiça; a imagem de uma caveira com dois ossos cruzados é uma alegoria da pirataria; a ideia de «arte de navegar» aplicada à condução das coisas do Estado constitui uma alegoria; as personagens Diabo e Anjo, do Auto da Barca do Inferno, representam, respetivamente, o Mal e o Bem, podendo considerar-se, assim, figuras alegóricas.

Questionário SERMÃO - Texto Introdutório

1. A nota apresentada no início do sermão fornece alguns dados pertinentes sobre o contexto extralinguístico em que foi proferido e sobre o próprio texto.
1.1- Indique o local e a data em que foi proferido o sermão.
Resposta: O sermão foi proferido em 1654, na Ilha de Maranhão, Brasil. Foi proferido, mais precisamente, na catedral de S. Luís (localizada na cidade de S. Luís, daí o nome da catedral).

1.2- Recorde as informações que recolheu sobre a vida e a obra do Padre António Vieira e indique o motivo por que se encontrava nesse local nessa data.
Resposta: Após o falhanço do seu plano em apoiar os napolitanos sob o domínio espanhol e de quase ter sido morto devido a isso, o Padre António Vieira regressa a Portugal, onde é denunciado, pela primeira vez, à Inquisição. De seguida, D. João IV afasta-o do seu convívio após o acidente de D. Teodósio, e é então que o regresso do Padre ao Brasil é ordenado, em Novembro de 1652, e o rei D. João IV, seu eterno amigo, nada faz para impedir a sua partida devido ao ocorrido recentemente.

1.3-De acordo com a nota, qual era a reacção à «doutrina» que o Padre António Vieira pregava?
Resposta: A reacção à doutrina pregada pelo Padre António Vieira incidia para duas vertentes: para a vertente espiritual e cultural do Homem, cuja era entendida pela sociedade através das diversas alegorias presentes no Sermão.

1.3.1. Os ensinamentos da referida doutrina eram relevantes em duas vertentes da vida do homem. Identifique-as.
Resposta: As duas vertentes da vida do homem, nas quais os ensinamentos da doutrina eram relevantes, eram as seguintes: a vertente espiritual e a cultural.

1.4. Transcreva o adjectivo usado para qualificar o Sermão e mencione a sua subclasse.
Resposta: O adjectivo utilizado para classificar o Sermão é “alegórico” e é um adjectivo qualificativo.

 1.4.1. O adjectivo referido remete para a figura de retórica «alegoria». Apresente uma definição deste recurso estilístico e um exemplo.
Resposta: A “Alegoria” pode ser definida como uma representação que transmite um outro significado em adição ao significado literal do texto, isto é, é uma expressão que é dita com o objectivo de dar a noção de outra. Tal como acontece com a metáfora, embora sejam figuras de estilo distintas.
Por exemplo: "O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão."
O polvo aparece aqui como uma notável representação alegórica da hipocrisia com que se mascara o ser humano e, em particular, alguns membros da igreja.

Sofia G.

Questionário SERMÃO - Texto Introdutório

1.1.  O Sermão foi proferido na Cidade de S. Luís do Maranhão no ano de 1654.

1.2.   Padre António Vieira encontrava –se nesse local pois a  Companhia de Jesus lhe  ordenou que regressa-se como missionário ao Maranhão.

1.3.  A reação á doutrina que o Padre António Vieira pregava, era de ódio e animosidade.

1.3.1. Os ensinamentos da referida doutrina eram relevantes a nível espiritual e temporal.

1.4.  O adjetivo usado para qualificar o Sermão é “alegórico”.

1.4.1. A alegoria é uma comparação alargada entre uma realidade concreta e animada, que é mostrada ao ouvinte com o objetivo de explicar uma entidade intelectual.

José V.

World Press Cartoon 2012 (Sintra)


(c) World Press Cartoon - 1.º Prémio

     Este cartune é o vencedor do 1.º Prémio do World Press Cartoon (2012), que decorre em Sintra até 30 de julho.
     A obra é da autoria do artista norueguês Egil Nyhus e constitui uma caricatura de Dominique Strauss-Kahn. A distinção é partilhada, ex-aequo, com o artista cubano Aristides Hernandez, vencedor da categoria de cartune editorial com um desenho sem título alusivo às intervenções militares dos EUA:


terça-feira, 1 de maio de 2012

"Meninas e Meninos", Fernando Sylvan (Timor Leste)

Todos já vimos
nos livros, nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de meninas e meninos
a defender a liberdade de armas na mão.

Todos já vimos
nos livros, nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de cadáveres de meninos e meninas
que morreram a defender a liberdade de armas na mão.

Todos já vimos!
E então?

domingo, 29 de abril de 2012

Episódio das Corridas de Cavalos

     Este é outro episódio que se insere na crónica de costumes.

1. Objetivos
  • Novo contacto de Carlos com a sociedade de Lisboa, incluindo o próprio rei.
  • Visão panorâmica da sociedade lisboeta (masculina e feminina) sob o olhar crítico de Carlos.
  • Tentativa frustrada de igualar Lisboa às capitais europeias, sobretudo Paris.
  • Criticar o cosmopolitismo postiço da sociedade;
  • Possibilidade de Carlos encontrar novamente a mulher que viu à entrada do Hotel Central.


2. Caracterização do ambiente geral

     2.1. Largo de Belém:
  • tosca guarita de madeira, armada de véspera -> improvisação;
  • monotonia;
  • tristeza e silêncio;
  • pasmaceira (o trabalhador com o filho ao colo e a mulher);
  • desinteresse (o garoto apregoando o programa das corridas que ninguém compra, a mulher da água fresca sentando-se na sombra a catar o filho);
  • o trintanário que fora comprar o bilhete de Craft demora-se em discussão com o bilheteiro, que não tem troco de uma libra; Craft apeia-se para ir resolver o problema e é insultado;
  • as pessoas em trajes domingueiros;
  • traços realistas: a descrição do calor, do colorido, dos sons e dos costumes de uma cidade estagnada. 
  • falta de motivação e entusiasmo pelo fenómeno desportivo em causa;
  • provincianismo.

     2.2. Entrada do hipódromo:
  • «... abertura escalavrada num muro de quintarola...»;
  • primeira desordem / discussão:
  • motivo: um sujeito queria entrar sem pagar a carruagem, porque o sr. Savedra lho tinha prometido;
  • o engarrafamento de dog-carts e caleches de praça;
  • os insultos dos ocupantes;
  • a intervenção deselegante da polícia;
  • o grande rebuliço e a poeirada;
. falta de organização
. pelintrice
. falta de educação
. provincianismo


     2.3. Descrição do hipódromo:
  • situado numa colina, sob a aragem vinda do rio, provoca uma sensação de frescura e paz;
  • a gente apinhada;
  • as precárias condições das tribunas e do espaço envolvente:
  • a tribuna real forrada de uma baetão vermelho de mesa de repartição;
  • as tribunas públicas com o feitio de traves mal pregadas - o hipódromo parecia um palanque de arraial - mal pintadas e com fendas;
  • o recinto da tribuna fechado por um tapume de madeira; 
  • as pessoas não sabem ocupar os seus lugares: «... havia uma fila de senhoras quase todas de escuro encostadas ao rebordo, outras espalhadas pelos primeiros degraus; e o resto das bancadas permanecia deserto e desconsolado...»;
. a improvisação
. o remendo apressado
. a iniciativa sem base sólida
. os retoques sem gosto


     2.4. Durante as corridas:
  • fuma-se e fala-se baixo -> falta de à-vontade;
  • as pessoas pasmam -> pasmaceira;
  • dois brasileiros queixam-se do preço dos bilhetes e consideram as corridas uma «sensaboria de rachar»;
  • a chegada do rei é saudada com o «Hino da Carta».

     2.5. Descrição do bufete:
  • instalado debaixo da tribuna;
  • pobreza: «... o tabuado nu, sem sobrado, sem um ornato, sem uma flor.» - assemelha-se a uma taberna;
  • falta de higiene e aspeto nojento: «... dois criados, estonteados e sujos, achatavam à pressa as fatias de sanduíches com as mãos húmidas da espuma da cerveja.»;
  • a animação fictícia, com hurras a Clifford e a Carlos.

     2.6. As corridas

     . 1.ª corrida: a do 1.º Prémio dos «Produtos»:
  • os dois cavalos «passavam num galope sereno»;
  • os assistentes não sabem quem ganhou e, mal a corrida termina, regressam ao silêncio, à lassidão e ao desapontamento;
  • o desinteresse pela corrida confirma-se na atitude dos que se encontram de costas voltadas para a pista, fumando e contemplando as mulheres;
  • o provincianismo bacoco dos homens que ficam parados e embasbacados a admirar Clifford;
  • a ausência de apostas;
  • a falta de autoridade e de respeito para com o rei, cuja proximidade não impede a desordem;
  • a corrida termina com uma cena de insultos e pancadaria por causa de uma burla (segunda desordem):
. quebra do verniz de civilização e requinte social que a sociedade pretendia ostentar, 
deixando emergir o provincianismo
. grande incultura e grosseria
. inadequação do ambiente cosmopolita das corridas à vivência social portuguesa
  • «Isto é um país que só suporta hortas e arraiais...»;
  • «Corridas, como muitas outras coisas civilizadas lá de fora, necessitam primeiro gente educada.»;
  • «Do que gostamos é de vinhaça, e viola, e bordoada...».
          SER          =/=          PARECER
     (provinciano)                   (civilizado)
 
«Aquela corrida insípida, sem cavalos, sem jóqueis, com meia dúzia
de pessoas a bocejar em roda...»
«... tudo aquilo era uma intrujice...»
porque era «... um divertimento que não estava nos hábitos do país.»

     . 2.ª corrida: a do Grande Prémio Nacional:
  • alguns sujeitos examinam o «Rabino», «com o olho sério, afetando entender», entre os quais se einclui Carlos, que também admira o cavalo, mas nota-lhe o peito estreito;
  • finalmente, aposta-se:
  • estão quatro cavalos inscritos na corrida;
  • o favorito é o «Rabino» e todos querem tirar o bilhete deste;
  • Carlos, por «divertimento» («... gostara da cabeça ligeira do potro, do seu peito largo e fundo...») e «... para animar mais aquele recanto da tribuna, ver brilhar gulosamente os olhos interesseiros das mulheres.», decide apostar tudo em «Vladimiro», apesar do potro ir em último lugar na corrida;
  • todos os outros decidem apostar contra Carlos, procurando «aproveitar-se daquela fantasia de homem rico...»;
  • contra todas as expectativas, «Vladimiro» vence «Minhoto» por duas cabeças, o que permite a Carlos ganhar a poule e provoca a irritação dos restantes, que perderam;
  • finalizada a corrida, o torpor volta a instalar-se enquanto as pessoas se dispersam:
  • «Mas uma indiferença, um tédio lento, ia pesando outra vez, desconsoladoramente...»;
  • os rapazes bocejavam, com um ar exausto;
  • a música desanimada;
  • «As senhoras tinham retomado a imobilidade melancólica...»;
  • «E sujeitos, de mãos atrás das costas, pasmavam...».
Conclusões - Intenção crítica de Eça:
  1. o oportunismo e a cupidez dos que se pretendem aproveitar de Carlos apostar no cavalo menos favorito;
  2. o desejo português de ser o primeiro em tudo;
  3. a tendência de as pessoas se aperceberem do que é óbvio e de se colarem ao vencedor, evidenciada pelo facto de mesmo os que não haviam apostado no «Minhoto» o aplaudirem, pois esperavam que fosse ele o vencedor;
  4. o patriotismo provinciano que vê em jogo, numa corrida de cavalos, o prestígio do nosso país: como «Minhoto» era um cavalo português, a sua vitória seria um ato patriótico;
  5. o cansaço rápido que se apodera de nós e que permite que outros venham, de seguida, colher o fruto do nosso esforço desordenado: o jóquei inglês deixou primeiro que «Minhoto» se cansasse, para depois o vencer facilmente;
  6. o não saber perder, patente na reação das personagens quando o cavalo em que apostaram perdeu:
  • «... o adido italiano (...) empalideceu...»;
  • «... atiravam-lhe com um ar amuado as apostas perdidas...»;
  • «... a vasta ministra da Baviera, furiosa...»;
  • «... o secretário lento e silencioso...».

     . 3.ª corrida: a do Prémio de El-Rei  um cavalo solitário atravessa a meta, sem se apressar, num galope pacato, e só muito tempo depois chega um outro cavalo, uma pileca branca arquejando, num esforço doloroso, numa altura em que o jóquei do cavalo vencedor se encontrava já a conversar com os amigos, encostado à corda da pista.

     . 4.ª corrida: a do Prémio da Consolação:
  • todo o interesse fictício desaparecera e regressa a indiferença geral;
  • junto à meta, um dos cavaleiros caíra;
  • já à saída, o Vargas, bêbedo, esmurrara um criado de bufete  «... tudo é bom quando acaba bem.».

     2.7. As personagens

          2.7.1. Os jóqueis:
                    . 1.ª corrida:
                              -» o Pinheiro - montava o «Escocês»
                              -» um sujeito - montava o «Júpiter»
                    . 2.ª corrida:
                              -» um jóquei - montava o «Rabino»
                              -» um jóquei espanhol - montava o «Minhoto»
                              -» um jóquei inglês - montava o «Vladimiro»
                    . 3.ª corrida:
                              -» um gentleman - montava um cavalo
                              -» um jóquei roxo e preto - montava uma pileca
                    . 4.ª corrida:
                              -» jóqueis sem identificação

          2.7.2. Os homens
  • O Visconde de Darque:
  • dono do «Rabino», o favorito, considera a sua participação um sacrifício;
  • «... não podia apresentar um cavalo decente, com as suas cores, senão daí a quatro anos»;
  • não apurava cavalos para «aquela melancolia de Belém», para aquele «horror»;
  • quando há qualquer problema ou dúvida, requisitam-no de imediato: «Eu sou o dicionário...».
  • El-Rei: sorridente.
  • Alencar:
  • elegantemente vestido;
  • sempre cortês e bem penteado nesse dia, beija fidalgamente a mão de D. Maria da Cunha;
  • encontra nas corridas «... um certo ar de elegância, um perfume de corte...».
  • O barão de Craben, pequenino, aos pulinhos.
  • Craft, que apresenta Clifford a Carlos.
  • Sequeira:
  • «... entalado numa sobrecasaca curta que o fazia mais atarracado, de chapéu branco...»;
  • considera uma «sensaboria» «... aquela corrida insípida, sem cavalos, sem jóqueis, com meia dúzia de pessoas a bocejar em toda...», «... um divertimento que não estava nos hábitos do país...».
  • Clifford: «... parecia achar tudo aquilo ignóbil...», acabando por retirar a «Mist».
  • Steinbroken: aposta sem conhecer os cavalos.
  • Conde de Gouvarinho e os seus dislates e ignorância: «... todos os requintes da civilização se aclimatavam bem em Portugal.»; «O nosso solo (...) é um solo abençoado!».
  • Teles da Gama, encarregado de organizar as apostas.
  • Eusebiozinho, acompanhado pela Concha e pela Carmen.
  • Dâmaso:
  • o seu «chique a valer»;
  • a gabarolice, a falta de educação e de respeito para com as mulheres, traduzida numa linguagem rude: «... tinha estado (...) com uma gaja divina...»;
  • a queixa da troça que o seu véu provocara.

          2.7.3. As mulheres
  • Em geral:
  • as que vêm no High Life dos jornais
  • as dos camarotes de S. Carlos
  • as das terças-feiras dos Gouvarinhos
                     
  • não sabem ocupar os seus lugares
  • vestem-se ridiculamente de escuro («vestidos sérios de missa»)
  • peles murchas, gastas e moles
                     
                               «... canteirinho de camélias meladas...»

  • Em particular:
  • As duas irmãs do Taveira (diminutivos irónicos);
  • magrinhas;
  • loirinhas;
  • corretamente vestidas.
  • A viscondessa de Alvim: nédia e branca.
  • Joaninha Vilar:
  • cada vez mais cheia e com um quebranto cada vez mais doce no olhar;
  • lânguida, parece oferecer o seu «apetitoso peito de rola!».
  • As Pedrosos, banqueiras, interessando-se pelas corridas.
  • Condessa de Soutal: desarranjada, com lama nas saias.
  • D. Maria da Cunha:
  • desenvolta, ousada, foi a única com atrevimento suficiente para se vir sentar junto dos homens, porque «... não aturava a seca de estar lá em cima perfilada, à espera da passagem do Senhor dos Passos.»;
  • bela, apesar da idade;
  • muito à vontade, era a única a divertir-se;
  • considera ridículo o «Hino da Carta», porque dá às corridas um ar de arraial;
  • casamenteira, apresenta Alencar à sua amiga Concha e, depois, procura aproximar ainda mais Carlos e a condessa.
  • A menina Sá Videira:
  • petulante e pretensiosa;
  • filha de um rico negociante de sapatos de ourelo;
  • abonecada;
  • «... com o arzinho petulante e enojado...»;
  • «... falando alto inglês...».
  • A ministra da Baviera, a baronesa Craben:
  • «... enorme, empavoada...»;
  • muito gorda: «... com um gluglu grosso de peru...»; «... feitio de barrica, deixando sair o sebo por todas as costuras do vestido (...)»; «... a insolente baleia!»;
  • altiva, insolente e sobranceira.
  • A Condessa de Gouvarinho:
  • elegantemente vestida;
  • sensual e audaz;
  • é admirada por vários homens;
  • no dia seguinte, partirá para o Porto para comemorar o aniversário do pai e quer que Carlos a acompanhe, congeminando um plano para levar a cabo os seus intentos.

     Em suma, neste episódio, o narrador critica e caricatura uma sociedade que aplaude a organização das corridas na sua ânsia de imitar o que de melhor há «lá fora», sobretudo em Paris, modelo de civilização. Porém, como em Portugal não havia a tradição nem o hábito de realização de tais eventos, em vez de um grande acontecimento mundano, assistimos a um grande fiasco, a mais uma manifestação do gosto pela aparência e pelo postiço, em detrimento daquilo que seja autêntica e genuinamente português.
     Os alvos visados por Eça de Queirós são, basicamente, dois:
  • a Monarquia, pela falta de autoridade que o Rei demonstra, pois a sua presença não consegue impedir as várias desordens;
  • a alta sociedade lisboeta:
  • a incivilização;
  • o fracasso total dos objetivos da corrida;
  • a falta de decoro e de educação;
  • a incultura;
  • a grosseria;
  • o desinteresse;
  • o caráter mimético;
  • a improvisação;
  • o atraso generalizado;
  • o provincianismo: a organização das corridas, que pretendia emprestar-lhes um toque de civilização, acaba por pôr a nu o quanto há de postiço e de reles no decoro solene da assistência:
  • «... desmanchando a linha postiça de civilização e a atitude forçada de decoro...»;
  • a «... massa tumultuosa (...) empurrando-se contra as escadas da tribuna real, onde um ajudante de el-rei, reluzente de agulhetas e em cabelo, olhava tranquilamente...»;
  • os gritos de «Fora! Fora!», «ordem» e «morra»;
  • a reação agressiva do Vargas;
  • a fuga espavorida das «... senhoras com as saias apanhadas...».
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