Português

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Modalidade e valor modal I (G 60)

A modalidade / valor modal indica a atitude do locutor em relação ao que (se) diz e em relação aos participantes do discurso.
                A modalidade pode ser expressa de formas diversas: através da entoação, da variação do modo verbal, de advérbios, de verbos modais (auxiliares como “dever”, “poder”, etc., ou principais com valor modal, como “crer”, “pensar”, “obrigar”, etc.), adjetivos de valor apreciativo, construções frásicas modalizadoras, etc.

1. Indique o valor modal dos enunciados apresentados. Observe o exemplo.

Enunciado
Valor modal
1. Carolina, abre o livro na página 84.
obrigação
2. Os resultados dos vossos testes foram satisfatórios.

3. Depois da aula, podeis ir beber um copo ao “Leitão Bar”.

4. Não gostei do último episódio da novela das onze.

5. Segundo Ricardo Reis, o destino comanda a vida humana.

6. Isa, não podes falar tão alto.

7. Talvez eu pudesse fazer testes mais difíceis.

8. É provável que o Benfica seja campeão.

9. A Laura deve ter estudado imenso para Mandarim.

10. Gonçalo, tens de me oferecer um leitão para te dar positiva.

11. Adoro a série The Walking Dead.

12. Não sei se a filosofia de Reis é a mais interessante.

13. Não abram as janelas!

14. Que frio desagradável!

15. É provável que o baile de finalistas seja a um sábado.


2. Associe a cada enunciado dado o valor modal correspondente.

Coluna A


1. Alice, faz já esse exercício.



2. Lamento que esteja frio aqui.


Coluna B
3. É provável que o tempo piore na próxima semana.


1. Valor modal epistémico
4. Graças a Deus, amanhã é sábado!


2. Valor modal deôntico
5. Creio que a professora Paula voltará um dia destes.


3. Valor modal apreciativo
6. Peço que se portem lindamente nesta aula.



7. Os marcianos podem aterrar a qualquer momento.



8. Comprem-me uma peruca.




3. Considere o seguinte enunciado: Vais anular a matrícula a Português?

3.1. Reescreva-o, imprimindo-lhe os valores modais propostos.
a) Valor epistémico – certeza: _____________________________________________
b) Valor epistémico – dúvida: ______________________________________________
c) Valor deôntico – permissão: _____________________________________________
d) Valor deôntico – obrigação: _____________________________________________
e) Valor apreciativo – contentamento: _______________________________________

4. Recorrendo às sábias explicações do professor de Português, indique a veracidade (V) ou a falsidade (F) das afirmações apresentadas.
(A) O valor modal transmite a objetividade de quem fala ou escreve. _____
(B) A modalidade manifesta-se em três domínios. _____
(C) Os domínios designam-se deôntico, epistémico e apreciativo. _____
(D) O domínio epistémico transmite ideias de obrigação ou proibição. _____
(E) O domínio deôntico transmite valores de certeza, probabilidade ou crença. _____
(F) O domínio apreciativo está associado à expressão de juízos de valor, de opiniões. _____

4.1. Corrija as afirmações falsas.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. A modalidade pode ser expressa através de diversos elementos linguísticos.
Leia as frases apresentadas em cada secção e atente nas palavras / expressões sublinhadas. Considere a modalidade que se verifica em cada grupo e, de seguida, nos quadros apresentados, assinale com uma cruz (X) as opções corretas e transcreva as palavras e expressões sublinhadas para as quadrículas adequadas, de forma a identificar alguns dos recursos linguísticos que caracterizam cada valor modal/modalidade.

A
a) A Diana leu o romance. [identifique o modo verbal]
b) Talvez a Diana tenha lido o romance.
c) A Diana leu o romance?
d) É possível que a Diana tenha lido o romance.
e) Tenho a certeza de que a Diana leu o romance.
f) Duvido que a Diana tenha lido o romance.
g) Eu venceria a Volta à França se tivesse canetas. [identifique o modo verbal]
h) Creio em Deus, nos Anjos e nos Santos.
i) Acredito em tudo o que me dizem.
j) O Benfica, sem dúvida, será campeão nos próximos 50 anos.
k) Parece que não sei esta matéria.
l) Julgo que a Miquelina não sobreviveu ao acidente.
m) Seguramente, considero esta turma a melhor de todas as que já tive.
n) É suposto não dizer disparates durante esta aula.
o) Calculo que este exercício vos faça morrer de tédio.
p) Pode ser que segunda-feira neve e a escola feche.
q) É provável que o meu tio João esteja com gripe.
r) Imagino que já estejam cansados destas frases.
s) Forçosamente, esta aula tem de corre bem.
t) Acho que disse outro disparate.
u) Provavelmente, o Sporting ficará mais um ano a ver navios.
v) Penso que dificilmente chegarei aos 100 anos de vida.
x) É certo que todos irão para a universidade.

Modalidade
apreciativa

deôntica

epistémica

Recursos linguísticos
Entoação
Declarativa

Persuasiva

Exclamativa

Interrogativa

Verbos
modais
poder
principais com
valor modal



Modos verbais
.
.
Advérbios/locuções adverbiais


Adjetivos

Outras expressões modais


B
a) Felizmente, o mundo não acabou em 2012.
b) Discordo dessa ideia.
c) Lamento que penses assim!
d) Oxalá que voltes são e salvo de Júpiter!
e) Ainda bem que a aula acabou! Ufa!
f) Quem me dera que já fosse sábado!
g) Espero que se casem e sejam muiiiiiiiiiiiiiiiiito felizes!
h) Deus queira que neve no Natal!
i) Desejo que a vida vos sorria sempre.
j) Congratulo-me com as vossas notas a Matemática.
k) Parabéns pelo vosso esforço!

Modalidade
apreciativa

deôntica

epistémica

Recursos linguísticos
Entoação
Declarativa

Persuasiva

Exclamativa

Interrogativa

Verbos
principais com
valor modal


Advérbios

Outras expressões modais


C
a) Podes tentar de novo.
b) Proíbo-te de andares aos tiros na sala!
c) A Marta tem de estar presente na minha festa.
d) Deves estudar mais do que a Miquelina.
e) Fonseca, nas férias tens autorização para namorar até ao amanhecer.
f) Não é permitido o uso de telemóvel nas aulas.
g) Mata o animal! [identifique o modo verbal]
h) Não fumem tanto! [identifique o modo verbal]
i) É desejável que tomem banho todos os dias.
j) É proibido pisar a relva!
k) É obrigatório usar o cinto de segurança.
l) Necessariamente, têm de trazer sempre o material escolar.
m) Autorizo o copianço descarado nos testes de Português.
n) Nestas aulas, permito-vos tudo.
o) O professor de pesca submarina obriga os alunos a cantar o hino nacional.

Modalidade
apreciativa

deôntica

epistémica

Recursos linguísticos
Entoação
Declarativa

Persuasiva

Exclamativa

Interrogativa

Verbos
modais

principais com
valor modal


Modos verbais
.
.
Advérbios/locuções adverbiais


Outras expressões modais


6. Assinale as alíneas corretas, de modo a identificar a modalidade dos enunciados apresentados.

1. Os resultados dos testes que fizemos foram bons.
(A) epistémica.
(B) deôntica.
(C) apreciativa.

2. Sofia, a tua mãe deixa-te ir ao concerto do Justino Bibas.
(A) epistémica.
(B) deôntica.
(C)apreciativa.

3. Muito gosta a Rafaela de chocolate preto!
(A) epistémica.
(B) deôntica.
(C) apreciativa.



4. Mariana e Laura, é necessário fazer as pazes.
(A) epistémica.
(B) deôntica.
(C)apreciativa.

5. A Sandra atropelou o papagaio da Diana com a trotinete.
(A) epistémica.
(B) deôntica.
(C) apreciativa.

6. A Isa e a Carolina ofereceram-me boleia para Marte.
(A) epistémica.
(B) deôntica.
(C) apreciativa.

7. Quem sabe se a gasolina não estará mais barata amanhã?
(A) epistémica.
(B) deôntica.
(C) apreciativa.

8. Não perturbem o meu espírito.
(A) epistémica.
(B) deôntica.
(C) apreciativa.

9. Estes exercícios foram deliciosos!
(A) epistémica.
(B) deôntica.
(C) apreciativa.


. Correção

Dêixis / Deíticos II - Correção (G 59)


1.1. Substitua as expressões sublinhadas por determinantes e pronomes demonstrativos adequados.
a. aquelas galochas
b. estas
c. aquelas
d. essas
e. essas botas

2. Leia o texto, tendo em conta o contexto que o rodeia.

2.1.
«me» (l. 3): identifica o Ernesto
«Tu» (l. 5): identifica a Miquelina
«Eu» (l. 8): identifica o Ernesto.
«Eu» (l. 9): identifica a Miquelina.

2.2.
Linha 2: «lá» refere-se a «casa do Eusébio».
Linha 7: «lá» refere-se à «casa» da Miquelina.

2.3.
«Aí» refere-se a «no escritório».

2.4.
«Ontem» (l. 1): refere o dia anterior ao da conversa, ou seja, 3 de setembro.
«Amanhã» (l. 4): refere o dia posterior ao da conversa, ou seja, 5 de setembro.
«Hoje» (l. 5): refere o dia em que a conversa tem lugar – 4 de setembro.
«Agora» (l. 6): refere o momento em que ocorre a conversa entre o Ernesto e a Miquelina.

2.5. Dêixis temporal.

3.1. D

3.2. B

3.3. B

3.4. C

3.5. D



. Ficha

Ricardo Araújo Pereira destrói acordo ortográfico

domingo, 8 de dezembro de 2019

Pôr as barbas de molho

Noutros tempos, a barba era um sinal de prestígio, honra e poder.
D. João de castro, o quarto vice-rei da Índia, ficou registado nos livros de História como o protótipo do português antigo, de consciência reta e austera. No século XVI, enquanto exerceu o cargo mencionado, resistiu ao cerco montado a Diu em 1546 pelo sultão Mafamud, conservando assim a soberania portuguesa naquelas paragens do Oriente.
Após os confrontos, D. João de Castro teve de reconstruir a fortaleza de Diu para impedir novos ataques, mas faltava-lhe o dinheiro necessário pata executar a tarefa, por isso escreveu à câmara de Goa uma missiva em que solicitava um empréstimo de vinte mil pardaus, oferecendo em penhor as próprias barbas. E foi isso que aconteceu: o empréstimo foi-lhe concedido e a fortaleza refeita. Ora, na época, ter a barba cortada representava uma humilhação.
Note-se que a barba constituiu um atributo indispensável ao prestígio da magistratura. De facto, os magistrados usavam barba para conferir maior solenidade à função de julgar. Talvez por isso, em 17 de junho de 1716, o regedor do reino português ordenou que cada um dos desembargadores tivesse dez cruzados anuais para o barbeiro.
Várias línguas possuem provérbios que dão nota da importância da barba como sinal do valor de um homem. Um desses provérbios é de origem espanhola e reza o seguinte: «Cuando las barbas de tu vecino veas pelar, pon las tuyas a reojar», ou seja, “Quando vives as barbas do vizinho ficar sem pelos, põe as tuas de molho.”. Daí terá surgido o provérbio português, “Quando vires as barbas do vizinho a arder, põe as tuas de molho.», que significa observar o dano, o perigo na vizinhança e, em consequência, tomar precauções.
O uso popular adotou a parte final do provérbio: “pôr ou deitar as barbas de molho”, ou seja, acautelar-se, ficar de sobreaviso, precaver-se contra um perigo iminente.


Natal em Mangualde


Star Trek / O Caminho das Estrelas: Temporada 1 - Episódio 0

Pronúncia de molho

Molho e molho são palavras homógrafas, isto é, escrevem-se da mesma maneira, mas pronunciam-se (e têm significados diferentes).
Assim, pronunciamos molho
com o o aberto (ó) quando é sinónimo de “feixe”, “punhado”:
- um molho de grelos
- um molho de erva
com o o fechado (ô) quando nos referimos a um tempero culinário:
- molho de carne
- molho de tomate

Quando a palavra surge no plural, a distinção de sons mantém-se:
- molhos (mólhos) de erva
- molhos (môlhos) de tomate

Plural de abaixo-assinado

Qual é o plural de abaixo-assinado? Abaixo-assinados ou abaixos-assinados?

Abaixo-assinado é uma palavra composta pelo advérbio abaixo e pelo particípio passado assinado. Só este segundo elementos deve ser flexionado no plural, visto que o primeiro elemento é um advérbio, logo é invariável.

Assim, a forma correta de plural é abaixo-assinados.

sábado, 7 de dezembro de 2019

Seinfeld: Temporada 07 - Episódio 01

A estranha queda do ensino privado no PISA 2018

Um dos dados mais surpreendentes do recente relatório PISA consiste na quebra, muito significativa, dos resultados do ensino privado em Portugal entre 2015 e 2018. Em média, os alunos do privado descem de 541 para 493 (-48 pontos), aproximando-se assim do valor registado em 2018 pelo ensino público (492), que por sua vez diminui apenas 2 pontos face a 2015. A queda do ensino privado verifica-se, além disso, em todas as dimensões de competências avaliadas: -42 pontos na leitura; -46 a matemática e -55 em literacia científica (quando no ensino público as variações são, respetivamente, de -3, +4 e -6 pontos). Em suma, os alunos do ensino privado revelam, entre 2015 e 2018, uma descida muito acentuada do nível de competências adquiridas nos domínios considerados.


A estranheza que esta evolução suscita é dupla: não só entre 2000 e 2015 o ensino privado sempre assumiu valores bastante acima dos registados no ensino público (ao contrário do que sucede em 2018), como o nível de competências dos seus alunos chegou a estar acima da média do privado na OCDE (entre 2009 e 2015), para se situar agora bem abaixo do valor obtido a essa escala. Ao contrário, de facto, do que sucede com o ensino público português, que não só tem vindo a melhorar consistentemente no PISA desde 2000, como supera a média da OCDE desde 2015.

A alteração relativa do perfil socioeconómico dos alunos do privado, entre 2015 e 2018, é uma das possíveis hipóteses explicativas desta evolução recente. E, de facto, alguns indicadores sugerem uma mudança nesse sentido, mantendo-se contudo a vantagem comparativa do perfil desses alunos face aos que frequentam a escola pública (que obtém, desse ponto de vista, resultados no PISA comparativamente melhores que os alunos do privado, em 2018).


Uma outra hipótese explicativa consiste em admitir que se tenham intensificado, em muitas escolas privadas, as lógicas de «preparação intensiva para os exames», em linha com a sobrevalorização desta modalidade de avaliação durante o consulado de Nuno Crato. Ou seja, de lógicas que em certa medida favorecem a obtenção de bons resultados nos exames (como os rankings sugerem, apesar das diferenças de perfil socioeconómico), mas que comportam o risco de uma menor preparação dos alunos quando se trata de avaliar competências (que é o que o PISA faz). Contudo, tal como a anterior, também esta hipótese parece ser curta para explicar a dimensão do descalabro. Uma coisa é todavia certa: a tese, há muito em voga, da suposta supremacia do ensino privado face à escola pública parece ter sofrido, com o PISA de 2018, um novo e forte abalo.


     Este post foi retirado do blogue Ladrões de Bicicletas.
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