domingo, 4 de setembro de 2022
Análise do poema "Ao padre Lourenço Ribeiro, homem pardo que foi vigário da freguesia de Passé"
Análise do poema "Ao mesmo assunto"
A escola do século XIX em imagens - VIII
John Frederick Lewis, Escola árabe (c. 1850) |
Embora a arte europeia tenda a representar sobretudo, como é natural e expectável, o mundo dos europeus, não faltam, a partir do Renascimento e da expansão europeia, exemplos de pinturas e outras obras artísticas que refletem a descoberta e o contacto com outros continentes, civilizações e culturas. Trata-se de um olhar, de início curioso e ocasional, que se vai tornando mais atento e sistemático à medida que as principais potências do Velho Continente constroem ou consolidam, no século XIX, os seus impérios coloniais.
John F. Lewis, um inglês que viveu a sua infância no Cairo, registou, nesta pintura a guache e aguarela, o ambiente de uma típica maktab, a escola muçulmana que correspondia sensivelmente ao que hoje designamos por ensino básico. Os rapazes que desejassem prosseguir os seus estudos ingressariam depois numa madrassa. Umas e outras são escolas religiosas, sublinhando a ligação umbilical, também patente no mundo ocidental, entre a escola e a religião. Só que, enquanto na Europa a laicização progressiva da sociedade foi abrindo espaço à separação entre a escola pública, destinada a formar cidadãos, e as escolas da Igreja, vocacionadas para a formação do clero, no mundo muçulmano essa distinção entre religião e laicidade tem-se mostrado mais difícil e custosa.
A pintura, de contornos difusos, mas onde não falta expressividade, foca-se nas figuras do professor, já idoso – a idade avançada é, neste contexto, um símbolo de sabedoria -, e de um dos seus alunos, que se prepara para recitar a lição. O apelo à memória, hoje tão criticado, era um elemento essencial dos sistemas de ensino mais tradicionalistas e conservadores. E será sempre fundamental, embora ninguém defenda hoje o decorar de matérias como um fim em si mesmo: a verdade é que só somos verdadeiramente conhecedores daquilo que conseguimos armazenar, de forma organizada e compreensiva, no nosso cérebro.
Análise do poema "Aos principais da Bahia chamados Caramurus"
Análise do poema "Ilha de Itaparica, Alvas areias", de Gregório de Matos
Análise do poema "Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia", de Gregório de Matos
sábado, 3 de setembro de 2022
Análise do poema "Buscando a Cristo", de Gregório de Matos
Manuel Botelho é o poeta representativo do Barroco no Brasil, diferente dos que vimos até aqui e cuja produção é muito pequena e não ficou muito conhecida no Brasil, ao contrário da de Gregório de Matos, que foi muito popular.
Por causa dessa sua popularidade, teve um problema semelhante ao de Luís de Camões: como não publicou nada em vida, não se sabe exatamente o que é ou não de sua autoria. Os seus poemas foram, na sua maioria, reunidos por James Amado.
Em comum com Manuel Botelho, Gregório possui o facto de terem estudado juntos em Coimbra. A diferença é que, enquanto o primeiro escreveu versos sobre o emblema de um Barroco sério, de que Música do Parnaso é exemplo, apesar de aí encontrarmos poemas de outro caráter; o segundo, além da vertente séria, tem uma vertente satírica, que o tornou popular. Ela é de tal ordem que ele ficou conhecido por "Boca do Inferno". A sátira está muito dentro do espírito barroco (ver Fénix Renascida e Postilhão de Apolo). Assim, ele não transgride o espírito barroco e escreve poesia satírica, séria e também sacra.
Gregório estudou em Coimbra, mas vai ser o primeiro a dar pistas sobre a sociedade brasileira. Manuel Botelho e Itaparica só falaram da riqueza da terra de forma ufanista. Por seu turno, Gregório fala da sociedade brasileira, o que faz sobretudo na vertente satírica da sua poesia.
O texto "Buscando a Cristo" é um soneto de tema sacro, comum ao Barroco ibérico, o que evidencia sua matriz religiosa e católica.
Apresenta as fases do próprio Cristo independentes, mas subordinadas a um todo, que é o corpo. Enumera as partes e vai-se dirigindo a cada uma: braços, olhos, pés. Isto é típico do Barroco. Usa também jogos de oposições: "Que para receber-me, estais abertos / E, por não castigar-me, estais cravados.". Mas esta oposição é aparente, porque, na realidade, há uma reiteração. Também na referência aos olhos, temos um jogo de palavras/oposições, mas igualmente aparente, porque a ideia é sempre de perdão. Isto faz parte de um certo gosto que o Barroco tem pelo ludismo, visto que deste movimento faz parte o espírito de jogo, que tem a ver com a participação do leitor, que tem de pensar para compreender o jogo. É por isto que a poesia experimental do século XX vai buscar as suas bases ao Barroco, pela forma como este pressupõe a participação do leitor. Claro que esta participação não é intencional como o é na poesia do século XX. No Barroco, a participação do leitor dá-se pelo gosto do próprio poeta em ser hermético e camuflar as suas ideias. Não parte do conceito de que o leitor é um criador, mas que o poeta é que tem recursos para dizer ou não dizer, de acordo com a ocasião.
Outra característica barroca é o uso da gradação (ex.: "Para ficar unido, atado e firme"), que ao mesmo tempo é uma forma de recolher de elementos que ficaram mais ou menos dispersos.
Camões escreveu o soneto "Alma minha gentil que te partiste", enquanto Gregório "Alma gentil, espírito generoso". O primeiro insere-se na sua linha temática do neoplatonismo e todo o poema gira em torno disso. Isto não aparece no poema de Gregório, que opõe mais as ideias de vida e de morte, ao passo que Luís Vaz fala de um amor que permanece mesmo depois da morte.
A forma de tratar a figura feminina é diferente: Camões usa formas mais suaves e equilibradas; Gregório de Matos socorre-se de uma forma mais retorcida, usando oposições ("Senão por dar-te a mágoa de perder-te") e a ideia de um prazer quase erótico na vida e na morte; o amor de Camões é mais espiritual.
Encontramos ainda em Gregório de Matos como característica barroca o espírito de imitação, próprio do Classicismo.
Uma última nota para o facto de a oposição vida/morte se manifestar de modos diversos: em Camões, valoriza-se o amor que continua, mesmo depois da morte; em Gregório, valoriza-se a moral.
Análise do poema "À Ilha de Maré Termo desta Cidade da Bahia - Silva", de Manuel Botelho
Manuel Botelho de Oliveira estudou em Coimbra e foi colega de Gregório de Matos, famoso pela sua língua viperina (era chamado "Boca do Inferno") e pela beleza da sua linguagem.
Manuel Botelho chegou a escrever um livro intitulado Música do Parnaso, que é muito curioso, porque em nenhum momento fala do Brasil. Aqui, faz jogos de palavras bem barrocos como "caavo", "anarda", por exemplo. Fala da caça ao javali, na Fonte das Lágrimas de Coimbra e de tudo, menos do Brasil. O mais curioso é que, no prefácio, afirma que escreveu o livro para mostrar que as musas, por um momento, também se fizeram brasileiras. Por outro lado, Manuel Botelho escreveu em várias línguas: português, castelhano, latim.
Apesar de brasileiro, adquiriu uma visão de colonizador. No fim da obra, coloca um poema que é o único que se refere ao Brasil de uma forma curiosa, com os mesmos objetivos do colonizador. Ele elege não a cultura, mas a natureza brasileira. Não se refere a acontecimentos citadinos nem à mulher brasileira, mas ao pescado, à fruta, aos legumes. O seu olhar para a terra é semelhante ao do colonizador, embora haja quem veja aí uma certa dose de brasilidade. Este poema apêndice tem uma inspiração nativa e um tom ufanista.
Silva é uma forma de composição bastante usual no Barroco.
O poema pode dividir-se em várias partes:
👉 Numa segunda parte do poema, o «eu» poético fala dos habitantes da ilha, que são os «pescadores em saveiros». Aproveita a palavra «peixes» para expressar uma ideia que não tem nada a ver com o que está a falar: "ser pequeno no Mundo é desventura".
Desde a Carta de Caminha que a literatura mostra as preocupações económicas do colonizador com a exploração da terra, que é boa para qualquer tipo de plantação. Mesmo os frutos tipicamente europeus são aí produzidos em maior quantidade e qualidade.
Segue-se a enumeração dos frutos tipicamente brasileiros: coqueiros, cajus (variação de cor e sabor; jogo de palavras - " e como vários são nas várias cores"), castanha, pitangas, pitombas (exploração do sensorialismo), araçázes, bananas (inclui a referência à característica barroca da "ordem na desordem": apresenta diversos fragmentos e no fim faz uma síntese: "... é fruto, é como pão, serve em conduto...").
A enumeração da fruta prossegue: pimenta (caracterizada pela qualidade, quantidade e superioridade); mamão, maracujá (em toda a poesia brasileira, o maracujá pelo seu sabor e o ananás pela sua forma aparecem como rainhas das frutas do Brasil. No texto Sermão da Fruta, do franciscano A. Pereira, comparam-se os frutos aos pecados e aí o maracujá ocupa um lugar de destaque), ananás (temos o jogo visual, quando se refere à casca do ananás e outro elemento barroco, que é concetualismo: aproveita a fruta para falar de um conceito - "não há c'roa no mundo sem espinhos". É a descrição do ananás que ocupa um maior número de versos e termina com uma síntese, depois da dispersão), mangavá (caracterizado pela cor, forma e abundância; gosto barroco pelo sensorial), maracujá.
Segue-se o louvor dos legumes: mangarás, batatas, mandioca (há uma lenda que diz que a mandioca foi dada a conhecer aos índios por Tupã ou Sumé - figura mitológica saída das águas -, aqui tomado como S. Tomé. Há uma apropriação da lenda por motivos religiosos, que aparece noutros autores. É caracterizada por uma série de elementos barrocos: abundância, gradação, comparação com o pão de trigo para vincar a superioridade do beiju; sensualização, jogo concetual), arroz.
Depois de caracterizar todos os elementos referidos, faz um jogo com o A, que é também um elemento barroco e faz parte do seu ludismo, pois gosta de jogos formais e concetuais. O autor chega a imitar Camões, o que também é típico do Barroco, bem como um certo tom grotesco, resultante da mistura do clássico (Camões) com a descrição de frutos e legumes.
Em resumo, podemos dizer que, em todos os aspetos, se marca a superioridade dos elementos brasileiros em relação aos europeus. O poema termina com uma espécie de síntese, onde se fala da Ilha da Maré e se recorre à mitologia: Vénus e Fénix, que morre para renascer e ela faz parte do espírito de renovação barroca. Subjacente está um fundamento religioso, quando se considera Maria superior a Vénus.
Itaparica segue os mesmos passos de M. B. de Oliveira; apenas acrescenta a pesca da baleia.
sexta-feira, 2 de setembro de 2022
Análise do poema "Prosopopeia", de Bento Teixeira
Bento Teixeira faz uma tentativa de imitar Camões, fazendo uma epopeia reduzida, mesmo em termos de impacto. É uma epopeia que fala da família dos Albuquerques, o que reduz o âmbito do poema, que inaugura a lisonja na literatura do Brasil: louva, pois, a família dos Albuquerques, que pertencem à família dos donatários da capitania de Pernambuco.
Na Invocação, invoca Deus e não as musas, o que mostra a sua origem cristã. As referências ao mundo grego e latino são referências características do Renascimento, sendo que a alusão a Deus também aparece em Camões, que usa a mitologia e a cultura clássicas como ornamento. O poema refere-se ao Renascimento tardio, ao poema camoniano e está filiado numa cultura europeia e religiosa.
No canto IV, afirma a sua ligação não só ao cristianismo, mas ao catolicismo. O poema tem, de facto, um vínculo ideológico com o catolicismo..
No V, existem várias referências à Antiguidade Clássica: Talia é uma musa do canto épico e da comédia; o motivo da humildade do poeta, que é fingida, como se comprova quando ele refere o seguinte: "Doutro licor melhor que o de Aganipe". O uso da humilitas é uma característica clássica.
O VI diz-nos que, com o seu canto, Bento Teixeira pretende mostrar feitos tais que espantem todos os elementos: ar, fogo, mar e terra. Depois dos seis primeiros cantos, onde propõe e invoca, passa a descrever. Mas o quê? O espaço de Pernambuco. Ele vai situar Pernambuco e, mais concretamente, a cidade de Recife, referindo-se sobretudo às vantagens do porto da cidade, formado por uma barreira de coral.
Se alguém podia pensar que ele se humildava por escrever no Brasil, no canto XIX, mostra que não estava inserido no ambiente descrito; trata os índios como bárbaros, o que mostra que tem uma visão de colonizador. Transfere para a linguagem uma propriedade que atribui aos indígenas: hipálage. Ele faz uma distinção e eleva-se a si mesmo. A única referência ao Brasil é a referência a um espaço do porto do Recife. De resto, o poema não serve para louvar o país, mas os Albuquerques. Ele louça o espaço, como é comum nesta primeira literatura, mas denigre as gentes.
Caminha, apesar de ter achado a terra ótima e as índias belas, tem como preocupação vestir o índio; aqui a referência ao porto subentende uma situação de exploração. O louvor a Pernambuco tem a ver com o progresso que esta capitania vai alcançar com a produção da cana de açúcar.
No canto XX, mostra preocupações com a posse colonial e não com a terra. Este poema não tem pontos de vista brasileiros, mas coloniais, até porque ainda não havia o verdadeiro brasileiro resultante de uma fusão do índio, do branco e do negro. Logo, não se pode exigir uma literatura brasileira.
No último canto (XXI), prepara a narração dos feitos dos Albuquerques de Pernambuco.
Temos, assim, na "Prosopopeia" um louvor da terra, como é visível também na Carta de Caminha. Nesta fase, estamos já num segundo período, sendo que o primeiro era o da descoberta e informação acerca da nova terra, de que a obra de Caminha é o modelo.
O segundo período afasta-se um pouco do que se possa dizer em termos de literatura, porque é uma literatura para o Brasil e uma literatura de catequese. Mas os jesuítas também produzem uma literatura sobre o Brasil nas cartas que enviam para Portugal e onde falam da terra e das almas.
Este período do século XVI e uma época em que se produz uma literatura sobre o Brasil, a par da qual surge uma literatura para o Brasil (ex.: Anchieta). Por seu turno, no século XVII, deparamos com uma literatura que se começa a formar. É produzida no Brasil, mas ainda não se pode chamar brasileira. No século XVIII, começa a haver um sistema literário iniciado com o Barroco, porque há brasileiros que vêm estudar para Portugal e regressam. É o caso de Manuel Botelho.
A escola do século XIX em imagens – VII
George Haanen, Escola nocturna (1835) |
Eis uma faceta da escola oitocentista que não poderia faltar nesta série: a escola noturna. As aulas à noite têm hoje uma presença pouco mais do que residual nos sistemas educativos, mas foram cruciais em épocas em que a maioria da população começava a trabalhar com uma escolarização mínima, ou mesmo sem ter tido oportunidade, na infância, de frequentar a escola. Neste contexto, e à medida que os trabalhadores vão percebendo que a formação escolar lhes pode abrir novas perspetivas profissionais e de desenvolvimento pessoal, a vontade e a necessidade de voltar a estudar começam a impor-se.
Na imagem, percebemos que boa parte dos alunos que chegam a esta escola, iluminada a velas e candeias, é ainda criança: na primeira metade do século XIX, o trabalho infantil era uma realidade muito frequente, o que remetia estas crianças desafortunadas para a escola noturna, única forma de escaparem ao analfabetismo. Posteriormente, graças sobretudo à luta sindical, esta situação começará a mudar, com o aparecimento de legislação restritiva do trabalho de menores e o aumento progressivo da idade mínima para trabalhar. Aliás, e já que se fala em sindicalismo, refira-se também o papel importante que os sindicatos tiveram, praticamente desde o seu aparecimento, na promoção do ensino e da formação profissional entre os seus associados.
Nesta escola, o ambiente de aprendizagem parece pouco formal, reinando algo parecido com o que hoje chamaríamos diferenciação pedagógica, o que é natural tendo em conta as diferenças de idades, as motivações e os níveis de conhecimento de uns e outros. Assim, enquanto uns alunos estudam autonomamente, outros fazem uma pausa no estudo e aquecem-se junto à salamandra. Um dos discentes, vestido de verde, ouve a explicação do professor, que por sua vez mira de relance aqueloutro – talvez um novo aluno? – que acaba de chegar à escola, trazido pela mãe…
Fonte: Escola Portuguesa.
Análise do poema "De São Maurício", de José de Anchieta
quarta-feira, 31 de agosto de 2022
Análise de "O Operário em Construção", de Vinicius de Moraes
O poema é antecedido de uma epígrafe,
extraída do Evangelho de São Lucas (Lc 5, 5-8), um trecho parafraseado por
Vinicius para compor a estrutura do poema e proporcionar a sua leitura. A
passagem bíblica corresponde à tentação sofrida por Jesus no deserto. Nela,
este elevado pelo Diabo ao alto de um monte e é aí tentado a adorar o seu
opositor. O texto de Vinicius retoma essa ideia claramente através de uma
estrofe em que o operário é desafiado a abandonar a sua ética em troca de
favores do seu patrão, após este compreender que nem por meio da violência o
convenceria:
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
– Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
A escolha desta passagem para iniciar um poema que
retrata o operário contribui para o entendimento do poema e encontra
justificação nas bases sociais de meados do século XX. A epígrafe funciona como
um pequeno roteiro para o desenvolvimento do poema, que vai da descoberta do
sofrimento até à negação do tentador.
O título do
poema contém a ideia de um operário que não constrói somente o mundo ao seu
redor, mas que vai dando conta da ampliação de si mesmo e da grandiosidade do
seu trabalho de maneira poética e crítica, quando já não aceita a sua condição
de operário, isto é, é um operário em construção de si mesmo.
O poema inicia-se com a narrativa em trono de um operário
da construção civil e do seu quotidiano, sem que ele consiga perceber a
importância do seu trabalho para a sociedade, que o ato de construir uma casa
tinha um grande significado para os que iriam morar nela. De facto, a abertura
da composição faz-se com a apresentação do papel do trabalhador na construção
das 6coisas e o desconhecimento do significado e impacto da sua profissão,
traduzido pela alienação verificada na multidão que empilha os tijolos com suor
e cimento.
A comparação com “um pássaro sem asas” reflete a condição
de artífice do operário, que, sem grandes expectativas, alcançava as alturas
com o suor do seu trabalho. Apesar de o operário desconhecer a importância do
seu trabalho, a sua ação não só é mais importante que a coisa construída, mas
também faz o trabalhador ser e fazer mais, de maneira reflexiva: “Mas ele
desconhecia, / Esse fato extraordinário, / Que o operário faz a coisa, / E a
coisa faz o operário”. Estes versos conceituam a capacidade transformadora do
trabalho em relação ao produto do seu trabalho. O vocábulo «coisa» aponta para
a ideia da alienação e coisificação do trabalho, sendo o trabalhador alienado e
coisificado transformado em «coisa» pelo sistema de produção. Por seu turno, o
paradoxo «liberdade» e «escravidão» significa que o produto do seu trabalho
deveria garantir liberdade ao operário, contudo tal não sucede, pelo contrário
transforma-o num escravo.
Em contraste com a alienação inicial, o funcionário é
tomado por uma súbita revelação e a tomada de consciência de que tudo à sua
volta é fruto do seu trabalho. Essa tomada de consciência dá-se num momento
simples do seu quotidiano, o momento de uma refeição: “À mesa, ao cortar o pão
/ O operário foi tomado / De uma súbita emoção / Ao constatar assombrado / Que
tudo naquela mesa / – Garrafa, prato, facão – / Era ele quem os fazia / Ele, um
humilde operário, / Um operário em construção.”. A imagem do trabalhador
sentado à mesa, cortando o pão (note-se que estes versos podem ser entendidos
como o simples ato de alguém se alimentar, mas também como uma alusão ao partir
do pão feito por Jesus), é o ponto de partida para a “súbita emoção” que o assalta
e o leva a compreender a relação do seu trabalho com o que é produzido por esse
mesmo trabalho. É isso que nos mostra a extensão enumeração: “Olhou em torno:
gamela / Banco, enxerga, caldeirão / Vidro, parede, janela / Casa, cidade,
nação! / Tudo, tudo o que existia / Era ele quem o fazia”.
De seguida, o «eu» poético dirige-se aos “homens de
pensamento”, afirmando que lhes é impossível compreender o que o humilde
operário soube naquele momento. Isto constitui uma conceção anti-intelectual
que contrapõe a noção de homens de pensamento ao humilde operário. A tomada de
consciência do operário prossegue quando ele olha as suas mãos e compreende que
são elas que tornam possível toda a sua obra: “O operário emocionado / Olhou
sua própria mão / […] / E olhando bem para ela / Teve um segundo a impressão /
De que não havia no mundo / Coisa que fosse mais bela.”. Esta constatação
evidencia a descoberta que o trabalhador fez sobre si mesmo, a sua ação
iluminada pela sua capacidade de construir aquilo que a sua mente pensa que é
capaz.
O operário, quando olha para a sua mão, tem a impressão
de que não há coisa mais bela. Note-se que a mão simboliza o trabalho e, em
simultâneo, é uma parte do corpo modificado pelo próprio trabalho, enquanto o
adjetivo «rude» evidencia o sofrimento do corpo do trabalhador. Por outro lado,
o “instante de compreensão” é solitário (“Foi dentro da compreensão / Desse
instante solitário”), valorizando-se, assim, o indivíduo e não o coletivo.
Encontrado esse sentido, o operário encontra a dimensão do poético que há no
seu trabalho: “O operário adquiriu / Uma nova dimensão: / A dimensão da poesia.”,
dimensão que causou a mudança de atitude que trouxe ao operário outras
possibilidades de entender e viver no mundo. Os versos “Cresceu em alto e
profundo / Em largo e no coração” revelam que essa dimensão poética tem as suas
raízes no discurso emocional e é a partir dela que um operário «dizia» e o
outro «escutava», aprendendo a dizer «não». Ou seja, o trabalhador consegue
agora perceber a beleza que existe naquilo que constrói e reconhecer-se a si mesmo
nos produtos que cria. Ele vai-se libertando, gradualmente, do jogo do patrão e
incentivando os outros operários a fazerem o mesmo, a tomarem consciência da
sua força, do seu poder de construção. Esta consciencialização opera-se por
estas vias, ignorando as construções coletivas de luta, como os sindicatos, e
através de um método retórico contrário ao racional. Em suma, a tomada de
consciência social parte da sua função produtiva na sociedade e alcança
dimensões mais amplas, primeiro adquirindo uma conceção estética, da beleza das
suas rudes mãos, até à transformação das suas experiências de vida em poesia. O
trecho em que o operário contempla a sua mão e considera que é a coisa mais
bela do mundo pode parecer contraditório, visto que, de modo geral, a mão de um
operário da construção civil tende a ser grossa, rude e cheia de calos. Deste
modo, como pode ser considerada bela? A beleza que ele vislumbra situa-se além
das aparências; percebe que tem nas suas mãos o poder de transformar o mundo.
O que leva o operário a dizer «não» e a «se fazer forte
na sua resolução» é a perceção das suas condições de vida, a diferença de
condições de vida entre os trabalhadores e os patrões, ou seja, a oposição entre
a pobreza dos primeiros e a riqueza dos segundos, através de várias metáforas,
que o levam a questionar determinadas situações: “Notou que sua marmita / Era o
prato do patrão / Que sua cerveja preta / Era o uísque do patrão / Que seu
macacão de zuarte / Era o terno do patrão / Que o casebre onde morava / Era a
mansão do patrão / Que seus dois pés andarilhos / Eram as rodas do patrão / Que
a dureza do seu dia / Era a noite do patrão / Que sua imensa fadiga / Era amiga
do patrão”. Este patrão é comparado, mais à frente, ao diabo tentando Jesus.
Assim sendo, existe um momento de diabolização da riqueza e de transformar a
pobreza em virtude, o que constitui uma forma simplista de abordar a luta de
classes. Este ato de contestação não é um processo individual, passando o
operário a compartilhar a insatisfação com os seus colegas de trabalho.
Esta ação tem duas consequências. A primeira é a
violência exercida sobre o operário, praticada pelos delatores, que, através de
uma sugestão cifrada do patrão, o agridem. Assim, vê o seu rosto cuspido e o
braço partido, agressões semelhantes às sofridas por Jesus Cristo: “Pois será
entregue aos gentios, e escarnecido, injuriado e cuspido” (Lucas, cap. 18,
versículo 32). A segunda consequência relaciona-se com a ineficiência das
agressões. De facto, o operário, apesar de delatado por colegas e apesar de
agredido repetidas vezes, continua a resistir e a dizer «não», mesmo sabendo
que não seria fácil conviver com a sua própria verdade: “E todo o seu
sofrimento / Misturava-se ao cimento / Da construção que crescia”. O patrão,
percebendo a recusa do funcionário, tenta suborná-lo, oferecendo-lhe poder,
tempo de lazer e mulheres, com a condição de que abandone o «não», no entanto o
operário não reconhece naquilo que vê o poder do patrão, mas sim o trabalho de
quem o construiu: “Um dia tentou o patrão / Dobrá-lo de modo vário. / De sorte que
o foi levando / Ao alto da construção / E num momento de tempo / Mostrou-lhe
toda a região / E apontando-a ao operário / Fez-lhe esta declaração: / – Dar-te-ei
todo esse poder / […] / Será teu se ma adorares / E, ainda mais, se abandonares
/ O que te faz dizer não. / […] / Mas o que via o operário / Que olhava e
refletia / Mas o que via o operário / O patrão nunca veria. / O operário via as
casas / E dentro das estruturas / Via coisas, objetos / Produtos manufaturas. /
Via tudo o que fazia / O lucro do seu patrão / E em cada coisa que via /
Misteriosamente havia / A marca de sua mão. / E o operário disse: Não!”. Assim
sendo, podemos concluir que o subordinado tem uma visão que o patrão jamais
será capaz de compreender: o patrão não lhe podia dar nada daquilo, visto que
fora ele, operário, e os seus companheiros que tinham construído tudo o que
havia. Por outro lado, o operário observa a ampla região em volta da construção
e vê o que o seu patrão não consegue ver: o trabalhador vê casas e muitos
objetos, enquanto a visita do seu patrão se limita ao lucro.
Este passo, em que o operário é desafiado a abandonar a
sua ética em troca de favores do seu patrão, após este tomar consciência de que
nem mesmo a violência o faria mudar de opinião, constitui uma paráfrase da
epígrafe bíblica do poema: o patrão tenta subornar o operário, tal como Satanás
tentara Jesus. No entanto, aquele não compreende, de facto, a recusa do seu
funcionário, que é claro e revela a sua tomada de consciência: “ – Mentira! – disse
o operário / Não podes dar-me o que é meu.”. Da discussão com o patrão, resulta
o silêncio, o vácuo, o eco de tempos passados, de familiares que se foram.
A sensação que se extrai do final do poema remete para a
luta, a dor e o sofrimento, mas também a superação, quando “Uma esperança
sincera / Cresceu no seu coração / E dentro da tarde mansa / Agigantou.se a
razão / De um homem pobre e esquecido / Razão porém que fizera / Em operário
construído / O operário em construção”. Os versos finais são carregados de uma
troca contínua entre aquele que faz e o que é feito, ou seja, o operário
constrói-se na medida em que constrói os seus sonhos, as suas habilidades
refletem quem ele é. Um operário em construção constrói-se a si próprio,
espelha-se no que faz para continuar a realizar um bom trabalho, tal como um
poeta ou um artesão.
Em suma, o poema procura expor o processo histórico de formação
da classe operária e a consciencialização social, a partir da perceção da sua função
produtiva no campo económico e da construção de uma nova forma de perceção do
mundo, que inclui a dimensão estética, a ação coletiva e a necessidade de
adoção de um posicionamento político, que sustenta o «não» do operário ao
patrão. Note-se que toda a composição poética assenta na metonímia, pois o
poeta não foca um trabalhador e um patrão específicos, mas de duas classes que
se situam e vivem em campos opostos: “Via tudo que fazia / O lucro do seu
patrão / E em cada coisa que via / Misteriosamente havia / A marca de sua mão.”
Neste poema, dá-se conta da busca do autoconhecimento e
do reconhecimento de quem se é e do que faz. Muitas vezes, não há uma relação
direta entre o construído e aquele que o fez, pois, quando a construção está
terminada, no exemplo do texto, ela não pertence, de facto, a quem a fez. No
poema, a revolta dá-se quando o operário toma consciência da sua condição e, ao
alcançar a dimensão da poesia, consegue poetizar a sua existência, tornando-se
dono da sua própria vida, mesmo que de maneira figurativa.
terça-feira, 30 de agosto de 2022
A escola do século XIX em imagens – VI
Paul des Amoignes - Na sala de aula (1886) |
Este quadro constitui um exemplar da pintura naturalista francesa. Nesta observação cirúrgica e quase fotográfica da sala de aula, a figura de um pequeno estudante destaca-se pelo olhar intenso e penetrante, certamente dirigido à figura do professor.
Alguns colegas escrevem aplicadamente, outros mostram-se apáticos, distraídos ou aborrecidos. Mas só este rapaz levanta o lápis do caderno para prestar atenção ao professor. É uma realidade de todos os tempos e de todas as escolas: nem todos os alunos têm o mesmo interesse, a mesma capacidade de concentração, a mesma facilidade em aprender. Mas o desafio de dar a todos a sua oportunidade, razão de ser da escola, em especial da escola pública, é hoje ainda mais pertinente do que há um ou dois séculos.
A técnica do pintor é primorosa, não só no traço e na ambiência naturalista, mas também na forma como os rostos à volta do protagonista se apresentam desfocados – algo que na técnica fotográfica se consegue reduzindo a profundidade de campo – reforçando o impacto e o dramatismo da imagem. E atraindo o nosso olhar, irresistivelmente, para o aluno que quer aprender.
Análise do quadro "O Tempo – Passado e Presente"
“O Tempo – Passado e Presente” é uma
pintura de Paula Rego, datado de 1990, a segunda realizada pela pintora
enquanto Artista Associada da National Gallery, um acrílico sobre papel colado
em tela, 183 cm x 183 cm.
O título
encontra eco nas duas personagens centrais – um homem velho e uma menina,
provavelmente avô e neta – e também no par mulher/criança que comunica na porta
ao fundo aberta. Os quadros nas paredes contêm outras personagens, são uma
espécie de janelas que se abrem para outras narrativas e até os bonecos sobre o
móvel e os azulejos nas paredes são figuras que podem contar-nos histórias, a
nós e ao bebé que nos olha da direita do quadro.
Ao centro, a figura masculina domina
a composição. A idade já avançada sulca-lhe o rosto, pinta-lhe o cabelo de
cinzento, estagna-lhe o olhar. É a presença que dialoga com a rapariga, pequena
e andrógina, que está sentada à esquerda, debruçada sobre a folha em branco que
se esforça por esconder. Sobre o aparador, vemos uma caravela, um hipopótamo e
uma estatueta de contornos femininos, que as vestes acentuam. Estes objetos
remetem para a memória do tempo passado, tal como os objetos e pinturas que
povoam as paredes definidoras do espaço interior onde a cena se desenvolve. É
um espaço fechado, iluminado pela claridade que entra pela porta que, ao fundo,
se abre para o mar. Essa mesma porta mostra-nos uma mulher idosa, de saia azul,
e uma menina, de saia amarela, que se encontra no exterior. Todas as
personagens parecem alheadas do bebé envolto no seu casulo verde, confiado ao
anjo, que encima o berço, a sua proteção. É esta figura a única que nos olha.
A figura do bebé, que Paula Rego
afirmou constituir uma alusão ao nascimento da sua neta Lola, é, pois, encimada
por um anjo fundido com a parede-biombo onde se insere. À esquerda do quadro
encontramos uma alusão ao mar que funde elementos relacionados com a História
de Portugal (a caravela, por exemplo, é um símbolo dos Descobrimentos), a
atividade de marinheiro de Keith Sutton e as viagens de S. Jerónimo, enquanto o
centro da composição alude à pintura produzida num contexto de encomenda e
fruição religiosa, da mesma forma que a imagem do anjo e a figura do bebé
estabelecem com o observador uma relação de familiaridade que remete para a
cultura tradicional – constituindo estas três camadas sociais uma crítica
subtil à retórica propagandística do Estado Novo. Neste contexto, merece destaque
a capa azul de pescador que marca a divisão de planos e o traje escolar,
característico dos rapazes da Mocidade Portuguesa, com que é representada a
adolescente – vestes que acentuam a robustez das formas desenhadas e se
sobrepõem aos traços de feminilidade.
Outras recorrências, como os
azulejos bicromáticos em azul e branco onde estão representados jogos infantis,
a extremidade da moldura do quadro apócrifo acima do aparador que remete para
os beirais da casa portuguesa de Raul Lino, ou o mar que a porta aberta ao
fundo deixa adivinhar como horizonte, remetem à infância da pintora (serão memórias
convocadas da quinta dos seus avós na Ericeira).
Neste quadro, podemos encontrar
influências de outras obras, como, por exemplo, “S. Jerónimo na sua cela” (c.
1475), de Antonello de Messina, embora haja diferenças significativas entre os
dois quadros. Assim, a relação interior/exterior é invertida: em da Messina o
espaço encontra-se “fechado”, o tempo petrificado, e o observador é apenas
convidado a observar; em Paula Rego, o observador encontra-se no interior do
espaço onde se desenrola a ação da pintura, assumindo o lugar de espectador; a
ilusão do espaço, em perspetiva, é-nos sugerida em Antonello pelo padrão
geométrico do chão e pela arcaria à direita; em Paula Rego, são as ortogonais
marcadas pela parede lateral esquerda e pela sobreposição de planos à direita
que fecham o espaço e conduzem o olhar através da pintura. Para a construção
das figuras do primeiro plano, o quadro recorre ao jogo realidade-ficção,
fazendo coincidir em cada personagem a representação de alguém do seu mundo
real com uma imagem retirada de uma obra da National. Desta forma, a figura
masculina, não sendo a representação de S. Jerónimo mas um retrato de Keith
Sutton, encontra-se na mesma posição mantendo a atitude pensativa e
introspetiva que a figura do “S. Jerónimo numa paisagem” (c. 1440), de Bono da
Ferrara; a figura da menina a desenhar («retrato» da artista quando jovem)
coincide com a imagem do leão na pintura de Bono da Ferrara, ao nível da
relação espacial que este estabelece coma figura de “S. Jerónimo” e do
posicionamento do corpo. No que concerne ao bebé, existem semelhanças com o
leão representado por Domenichino em “A visão de S. Jerónimo” (a. 1603). Do
mesmo modo, a relação entre o par leão/anjo em Domenichino é assumida em “O
Tempo…” pela dupla bebé/anjo. Assim, ao jogo realidade-ficção sobrepõe-se a injunção
profano-religioso.
Por outro lado, as pinturas de
santos reproduzidas no fundo do quadro são reproduções fiéis ao “S. Francisco em
Meditação” (c. 1636-9), de Francisco de Zurbaran, ao “S. Sebastiºao” (c. 1623),
de Gerrit van Honthorst, e ao São Cristóvão, no reverso do volante esquerdo, do
“Tríptico de Donne” (c. 1478), de Hans Memling. Deste modo, Paula Rego presta
homenagem aos mestres do passado.
É possível identificar na pintura
duas narrativas paralelas: uma personificada pela própria artista que se
autorrepresenta em três tempos diferentes (coincidentes com o bebé, a menina ao
fundo e a adolescente) de cariz autobiográfico; outra historicista, que
consiste na pintura enquanto disciplina artística. Neste contexto, é
interessante registar a relação de “O Tempo…” e “As Meninas”, de Diego
Velázquez, havendo diversas semelhanças entre as duas obras: a porta que se
abre ao fundo para onde converge a obliquidade da construção espacial
assinalando o ponto de fuga; a profusão de figuras; a convocação de obras de
pintores precedentes e, no caso de Velázquez, também seus contemporâneos; a
elisão do sujeito. É, no entanto, através da autorrepresentação – com a
suspensão do gesto de Velázquez e a folha em branco em Paula Rego, com o facto
de os pintores integrarem não só a pintura, mas também o seu tempo e contexto
histórico de produção (para Velázquez a corte e para Paula Rego a instituição
museu).
Podemos considerar “O Tempo –
Passado e Presente” como uma alegoria, por conter a representação simbólica de
ideias abstratas através de figuras, grupos de figuras ou atributos. Neste
caso, a arte do presente deve permitir estabelecer relações por antecipação
(visão do futuro) e por retornos (conhecimento do passado). Nesta obra de Paula
Rego, a existência dessa visão do futuro e conhecimento do passado estimula a
continuidade transformativa que determina a inovação. Assim, no quadro,
perspetivado como uma alusão à história da pintura que tem no tempo histórico o
tema e na pintura o motivo, o que motiva a pintora é a combinação de formas
múltiplas da história da pintura e da arte, a desconstrução e reformulação do
real, a afirmação da linguagem pictórica e, através dela, da injunção da arte
com a vida. Ou seja, “O Tempo – Passado e Presente” constitui uma alegoria da
história da pintura.
C Paula Rego: O Tempo – Passado e
Presente ou a Pequena História da História da Pintura.
C GREER, Germaine. 1992. “A Olhar para
Paula Rego”, in Paula Rego: Histórias da National Gallery.