Português

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Funções sintácticas (GC5)

1.1.
     a) ofereceu
     b) desagradou
     c) perdoou
     d) contou / sabia
     e) dirigiu
     f) doou

1.2.
     b) O exercício desagradou à Sara.
         Pergunta: O exercício desagradou a quem?
         Resposta: À Sara.

     c) A Ana Irene perdoou o furto ao ladrão.
         Pergunta: A Ana Irene perdoou o furto a quem?
         Resposta: Ao ladrão.

     d) A Sophie contou o que sabia à Margarida.
         Pergunta: A Sophie contou o que sabia a quem?
         Resposta: À Margarida.

     e) A Joana dirigiu a ofensa à Vera.
         Pergunta: A Joana dirigiu a ofensa a quem?
         Resposta: À Vera.

     f) O Pedro doou o bilhete a Jerónimo de Sousa.
         Pergunta: O Pedro doou o bilhete a quem?
         Resposta: A Jerónimo de Sousa.

1.3.
     b) O exercício desagradou-lhe.
     c) A Ana Irene perdoou-lhe o furto.
     d) A Sophie contou-lhe o que sabia.
     e) A Joana dirigiu-lhe a ofensa.
     f) O Pedro doou-lhe o bilhete.

1.3.1. Os pronomes surgem depois do verbo, ligados por hífen, e antes do complemento directo, quando este está presente.

1.3.2. O grupo que o pronome substitui é de tipo preposicional, visto que o seu núcleo é uma preposição.

1.4. O grupo preposicional iniciado pela preposição a, que é a resposta a uma pergunta do tipo sujeito + verbo + a quem? e que pode ser substituído por um pronome pessoal na forma dativa desempenha a função sintáctica de complemento indirecto.

Nova época

          Começa agora...

sábado, 23 de outubro de 2010

Funções sintácticas (G6)

1. Observe as seguintes frases.
          a) A professora deu os «bons-dias» ao Pedro.
          b) O Pedro assistiu à festa anteontem.
          c) Na Eurodisney, a Carolina fugiu do Mickey.
          d) A Ana Rute foi à Guarda no mês passado.

     1.1. Identifique os constituintes que desempenham a função sintáctica de sujeito aplicando os testes relevantes.

          a) A professora deu os «bons-dias» ao Pedro.
              Sujeito: A professora.
              Teste de substituição: Ela deu os «bons-dias» ao Pedro.
              Pergunta-teste: Quem deu os «bons-dias» ao Pedro?
              Resposta: A professora (=> sujeito).

     1.2. Identifique os constituintes que desempenham a função sintáctica de complemento directo aplicando os testes relevantes.

     1.3. Identifique os constituintes que desempenham a função sintáctica de complemento indirecto aplicando os testes relevantes.

2. Diversos constituintes das frases dadas não podem ser classificados nem como sujeito, nem como complemento directo, nem como complemento indirecto. Este facto significa que desempenham outra(s) função(ões) sintáctica(s).

     2.1. Releia as frases em 1.

          2.1.1. Responda às seguintes perguntas, feitas à primeira frase.

               1.ª) O que é que a professora fez?

               2.ª) O que é que a professora fez os «bons-dias»?

               3.ª) O que é que a professora fez ao Pedro?

               2.1.1.1. Identifique as frases agramaticais resultantes do par pergunta-resposta.

     2.2. Repita o exercício com as restantes frases.

          2.2.1. Indique as frases agramaticais resultantes dos pares pergunta-resposta.

3. Responda, agora, às perguntas seguintes.

    Nos pares pergunta-resposta com frases agramaticais:

     3.1. Os constituintes que desempenham a função de complemento directo ocorrem na pergunta ou na resposta?

     3.2. E os constituintes que desempenham a função de complemento indirecto?

     3.3. De entre os restantes constituintes das frases, quais foram os que ocorreram na resposta à semelhança do complemento directo e do complemento indirecto.

     3.4. Indique, dos restantes constituintes, os que não se comportaram como complementos?

4. Concentre a sua atenção nos constituintes que identificou nas respostas às perguntas 3.3. e 3.4.

     4.1. Reescreva as frases b a d, omitindo os constituintes referidos em 3.3.

          4.1.1. Classifique as frases como gramaticais, agramaticais ou de sentido incompleto.

     4.2. Rescreva, agora, as mesmas frases retirando-lhes os constituintes referidos em 3.4.

          4.2.1. Classifique as frases resultantes, à semelhança do que fez em 4.1.1.

5. Complete o quadro apresentado.

Desaparecimento

Criança raptada no Alentejo

Funções sintácticas (G5)

Complemento indirecto

1. Observe as frases seguintes.
          a) A Carolina ofereceu uma lambada à Ana Rute.
          b) O exercício desagradou à Sara.
          c) A Ana Irene perdoou o furto ao ladrão.
          d) A Sophie contou o que sabia à Margarida.
          e) A Joana dirigiu a ofensa à Vera.
          f) O Pedro doou o bilhete a Jerónimo de Sousa.

     1.1. Transcreva para o caderno diário as formas verbais presentes nas frases.

     1.2. Redija uma pergunta para cada frase sobre quem / o quê é o destinário da situação e registe a resposta. Oriente-se pelo exemplo dado:

          a) A Carolina ofereceu uma lambada à Ana Rute.
              Pergunta: A Carolina ofereceu uma lambada a quem?
              Resposta: À Ana Rute.

     1.3. Substitua um dos constituintes da frase pela forma dativa do pronome pessoal - lhe / lhes -, de acordo com o exemplo:

          a) A Carolina ofereceu uma lambada à Ana Rute.
              A Carolina ofereceu-lhe uma lambada.

          1.3.1. Identifique a posição ocupada pelos pronomes na frase.

          1.3.2. Identifique o tipo do grupo substituído pelo pronome.

1.4. Tendo presentes os exercícios realizados, complete a síntese seguinte:


T.P.C.: Alberto Caeiro

Tarefas:

          1.ª) Ler os textos da páginas 51 e 52 do manual e a Carta a Adolfo Casais Monteiro (também do manual);

          2.ª) Fazer uma síntese, sob a forma de esquema, dos referidos textos no que diz respeito a Alberto Caeiro, de acordo com os seguintes tópicos:

                    i) Aspectos biográficos:
                              a) Nascimento;
                              b) Falecimento;
                              c) Profissão;
                              d) Educação.

                    ii) Retrato:
                              a) Traços físicos.

                    iii) Obra:
                              a) Obras;
                              b) Relação com Pessoas e heterónimos;
                              c) Traços poéticos
                               d) Relação com a escrita.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Funções sintácticas (GC4)

1.1.
     a) destruíram
     b) desmaiou
     c) contemplou
     d) comprou
     e) construíram

1.2.
     b) A jovem desmaiou.
         Pergunta: Quem desmaiou?
         Resposta: A jovem.

     c) O João contemplou o oceano.
         Pergunta: Quem contemplou o oceano?
         Resposta: O João.

     d) O Paulo comprou o Memorial.
         Pergunta: Quem comprou o Memorial?
         Resposta: O Paulo.

     e) Os madeirenses construíram edifícios belos.
         Pergunta: Quem construiu edifícios belos?
         Resposta: Os madeirenses.

1.3.
     b) A jovem desmaiou.
         Ela desmaiou.

     c) O João contemplou o oceano.
         Ele contemplou o oceano.

     d) O Paulo comprou o Memorial.
         Ele comprou o Memorial.

     e) Os madeirenses construíram edifícios belos.
         Eles construíram edifícios belos.

1.3.1. Os pronomes pessoais ocupam a posição inicial da frase, em posição pré-verbal, isto é, antes do verbo.

1.4.
     a) O professor destruiu o quadro.
     b) As jovens desmaiaram.
     c) Os Joões contemplaram o oceano.
     d) Os Paulos compraram o Memorial.
     e) O madeirense construiu edifícios belos.

1.4.1. As alterações ocorreram ao nível da pessoa dos verbos: os que se encontravam na terceira pessoa do singular passaram para  terceira do plural e vice-versa.

1.5. O grupo nominal que é a resposta a uma pergunta Quem + verbo, que pode ser substituído por um pronome pessoal na forma nominativa em posição pré-verbal e que concorda com o verbo em número desempenha a função sintáctica de sujeito.

2.1.
     b) A jovem desmaiou.
         Pergunta: o que fez a jovem?
         Resposta: Desmaiou.

     c) O João contemplou o oceano.
         Pergunta: O que fez o João?
         Resposta: Contemplou o oceano.

     d) O Paulo comprou o Memorial.
         Pergunta: O que fez o Paulo?
         Resposta: Comprou o Memorial.

     e) Os madeirenses construíram edifícios belos.
         Pergunta: O que fizeram os madeirenses?
         Resposta: Construíram edifícios belos.

2.1.1. O núcleo dos constituintes pertence à classe dos verbos.

2.2.
     b) A jovem desmaiou mas a Ana Rute não.
     c) O João contemplou o oceano e eu também.
     d) O Paulo comprou o Memorial mas a Carolina não.
     e) Os madeirenses construíram edifícios belos e os açorianos também.

2.3. O grupo verbal que é a resposta a uma pergunta do tipo O que fez + sujeito e que pode ser recuperado numa estrutura coordenada do tipo e sujeito também ou mas sujeito não desempenha a função sintáctica de predicado.

3.1.
     b) A jovem desmaiou.
         Pergunta: A jovem desmaiou o quê?
         Resposta: ----------

     c) O João contemplou o oceano.
         Pergunta: O jovem contemplou o quê?
         Resposta: O oceano.

     d) O Paulo comprou o Memorial.
         Pergunta: O Paulo comprou o quê?
         Resposta: O Memorial.

     e) Os madeirenses construíram edifícios belos.
         Pergunta: Os madeirenses construíram o quê?
         Resposta: Edifícios belos.

3.2.
     b) A jovem desmaiou.
         ----------

     c) O João contemplou o oceano.
         O João contemplou-o.

     d) O Paulo comprou o Memorial.
         O Paulo comprou-o.

     e) Os madeirenses construíram edifícios belos.
         Os madeirenses construíram-nos.

3.2.1. Os pronomes surgem em posição pós-verbal, isto é, após o verbo.

3.3.
     a) Os professores destruíram os quadros.
     b) ----------
     c) O João contemplou os oceanos.
     d) O Paulo comprou os Memoriais.
     e) Os madeirenses construíram um edifício belo.

3.3.1. Não se verificaram outras alterações.

3.4. O grupo nominal que é a resposta a uma pergunta do tipo verbo + o quê / quem?, que pode ser substituído por um pronome pessoal na forma acusativa e que não concorda com o verbo em número desempenha a função sintáctica de complemento directo.

domingo, 17 de outubro de 2010

Funções sintácticas (G4)

Sujeito, Predicado, Complemento directo

1. Atente nas frases apresentadas.
          a) Os professores destruíram o quadro.
          b) A jovem desmaiou.
          c) O João contemplou o oceano.
          d) O Paulo comprou o Memorial.
          e) Os madeirenses construíram edifícios belos.

     1.1. Transcreva para o caderno diário as formas verbais presentes nas frases.

     1.2. Redija para cada frase uma pergunta sobre quem causou a situação ou quem se encontra no estado descrito pelo verbo e registe a resposta, de acordo com o exemplo:
         
          a) Os professores destruíram o quadro.
              Quem destruiu o quadro?
              Resposta: Os professores.

     1.3. Substitua os grupos nominais adequados por um dos pronomes pessoais na forma nominativa (ele / ela / eles / elas), seguindo o exemplo dado:

          a) Os professores destruíram o quadro.
              Eles destruíram o quadro.

          1.3.1. Identifique a posição ocupada pelos pronomes na frase.

     1.4. Reescreva as frases alterando o número dos grupos nominais que substituiu.

          1.4.1. Identifique as alterações que efectuou nas frases, além das ocorridas nos grupos nominais.

     1.5. Tendo em conta os exercícios realizados, complete o quadro seguinte:


2. Releia as frases apresentadas em 1.

     2.1. Redija para cada frase uma pergunta sobre o que fez o sujeito e registe a resposta, de acordo com o exemplo:

          a) Os professores destruíram o quadro.
              Pergunta: O que fizeram os professores?
              Resposta: Destruíram o quadro.

          2.1.1. Identifique a classe de palavras que compõe o núcleo dos constituintes que surgiram nas respostas à pergunta anterior.

     2.2. Reescreva as frases acrescentando uma estrutura coordenada do tipo e Sujeito também ou mas o Sujeito não. Atente no exemplo:

          a) Os professores destruíram o quadro.
              Os professores destruíram o quadro e os alunos também.
              ou
              Os professores destruíram o quadro mas os alunos não.
     Note-se que, nas estruturas coordenadas acrescentadas, a forma verbal está subentendida.

     2.3. Tendo em conta os exercícios realizados, complete a afirmação seguinte:


3. Releia novamente as frases apresentadas em 1.

     3.1. Redija, agora, para cada frase uma pergunta sobre quem / o quê recai a situação ou quem / o quê é afectado pelo estado descrito pelo verbo e registe a resposta. Oriente-se pelo exemplo:

          a) Os professores destruíram o quadro.
              Pergunta: Os professores destruíram o quê?
              Resposta: O quadro.

     3.2. Identifique o grupo nominal que, em cada frase, pode ser substituído por um dos pronomes pessoais na forma acusativa o / a / os / as.

          a) Os professores destruíram o quadro.
              Os professores destruíram-no.

          3.2.1. Identifique a posição dos pronomes na frase.

     3.3. Reescreva as frases alterando o número dos grupos nominais que substituiu na resposta à pergunta 3.2.

          3.3.1. Identifique outras alterações a que procedeu, além das efectuadas na resposta à pergunta 3.3.

     3.4. A partir dos exercícios anteriores, podemos concluir que:

sábado, 16 de outubro de 2010

Ficha de leitura de "Tudo o que faço ou medito"

Tudo o que faço ou medito


                                                     Tudo o que faço ou medito
                                                     Fica sempre na metade.
                                                     Querendo, quero o infinito.
                                                     Fazendo, nada é verdade.

                                                     Que nojo de mim me fica
                                                     Ao olhar para o que faço!
                                                     Minha alma é lúcida e rica,
                                                     E eu sou um mar de sargaço -

                                                     Um mar onde bóiam lentos
                                                     Fragmentos de um mar de além...
                                                     Vontades ou pensamentos?
                                                     Não o sei e sei-o bem.

                                                            Fernando Pessoa


Vocabulário:

          . nojo (v. 5): repugnância, náusea, luto;

          . sargaço(v. 8): designação de certas algas marinhas que bóiam nas águas e são frequentemente aproveitadas para adubo.


Questionário:

1. Na primeira estrofe do poema, o sujeito poético confessa um sentimento que o domina.

          1.1. Identifique o sentimento e a causa que está na sua origem.

          1.2. Justifique em que medida os versos 3 e 4 atestam a impossibilidade de realização do "querer".

2. Esse sentimento provoca um outro sentimento no sujeito poético.

          2.1. Indique-o.

          2.2. Interprete o sentido da antítese da segunda estrofe.

3. Atente, agora, na terceira estrofe.

          3.1. Proceda ao levantamento dos vocábulos que sugerem indefinição e estagnação.

          3.2. Estabeleça uma relação de sentido entre "mar de além" (v. 10) e "mar de sargaço" (v. 8).

          3.3. Apresente uma explicação para o paradoxo com que o poema termina.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ranking 2010

          A nossa escola surge em posíções bem antagónicas nos «rankings» (relativos aos exames nacionais) do passado ano lectivo:

                    . 3.º ciclo: lugar 220 em 1295 escolas.

                    . Secundário: lugar 568 em 601.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"Humor" político

          "Depois do átomo e da descoberta do neutrão, do protão, do fotão, do electrão, do quark, do fermião, do busão, do gluão, o governo da nação portuguesa acaba de revelar ao mundo a existência... do 'pelintrão', um corpo sem massa nem energia, que suporta toda a carga."

domingo, 10 de outubro de 2010

"Isto"

          Este poema parece ter sido uma espécie de resposta ou de esclarecimento em relação à questão do fingimento poético enunciada em "Autopsicografia": não há mentira no acto de criação poética; o fingimento poético resulta da intelectualização do "sentir", da sua racionalização.

. Assunto: tal como "Autopsicografia", esta composição poética funciona como uma espécie de arte poética, na qual o poeta expõe o seu conceito de poesia como intelectualização da emoção.


. Tema: o fingimento poético (como afirmou Álvaro de Campos, "Fingir é conhecer-se.").


. Estrutura interna

     . 1.ª parte (1.ª estrofe) - Tese do sujeito poético:
               . não mente;
               . antes sente com a imaginação:
                        - simultaneidade dos actos de sentir e imaginar;
                        - fingimento poético através da imaginação;
               . não usa o coração → a base da poesia não reside nas sensações, no coração, mas na inteligência, no seu fingimento.

     . 2.ª parte (2.ª estrofe) - Fundamentação filosófica do uso da imaginação:
          A realidade de onde o sujeito poético parte é apenas a aparência ou o terraço (fronteira) que encobre outra coisa: as ideias, a obra poética, o Belo. Socorrendo-se do pensamento, da imaginação, o sujeito poético pretende ultrapassar o que lhe "falta ou finda" e contemplar "outra coisa (...) que é linda".

     . 3.ª parte (3.ª estrofe) - Conclusão:
               . o poeta liberta-se do que "está ao pé", do seu "enleio" → as sensações, o mundo das aparências, em busca daquilo que é verdadeiro e belo ("a coisa linda");
               . escreve "em meio do que não está ao pé" → o mundo das ideias, da inteligência, da imaginação que transforma as sensações, através do fingimento, em arte poética - a recusa da ideia da poesia enquanto expressão imediata das sensações;
               . o sentir é para quem não é poeta, para quem se limita ao mundo do sensível, das aparências - o leitor -, pois o poeta não sente.


. Forma

          Formalmente, o poema é constituído por três quintilhas de versos hexassílabos e rima cruzada e emparelhada, segundo o esquema a b a b b.


. Linguagem e estilo

          Em termos fónicos, é destacar o recurso frequente ao transporte (vv. 3-4, 8-9, etc.) e à aliteração:
               . em "s": "Eu simplesmente sinto / Com a imaginação / Não uso o coração";
               . em "f": "O que me falha ou finda";
               . em "l": "Livre do meu enleio".
          Por outro lado, nas duas primeiras quintilhas dominam os sons fechados e nasais ("Não", "Sinto", "imaginão"), que desaparecem na última estrofe, o que pode indiciar a evolução de um estado de arrastamento para outro de clarividência ou convicção.

          A nível morfossintáctico, é de destacar o recuro à primeira pessoa ("finjo", "minto", "escrevo", etc.), ao contrário do sucedido em "Autopsicografia", o que parece indicar a preocupação de conferir um tom intimista e confessional ao texto, por oposição ao carácter eminentemente programático do outro poema.

          Por outro lado, predominam as frases de tipo declarativo, que,  associadas ao ponto final, traduzem a procura de formulação de uma teoria, de uma arte poética. No último verso, porém, encontramos uma frase interrogativa e outra exclamativa, que encerram alguma ironia e remetem o sentir para o leitor.

          Em termos semânticos, o maior destaque vai para a comparação presente entre os versos 6 e 9, que apresenta a realidade vivida pelo sujeito poético como uma mera passagem para a «outra coisa», isto é, a obra poética, expressão máxima do Belo.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

«Orpheu»

          A revista Orpheu pretendia ser uma publicação trimestral de literatura, destinada a Portugal e ao Brasil, no entanto não ultrapassou as duas primeiras edições.
          O primeiro número foi dado à estampa em 1915, correspondente aos meses de Janeiro, Fevereiro e Março, e era constituído por 83 páginas, impressas em excelente papel de tipo elegante. Abria com uma «Introdução», da autoria de Luís de Montalvor, que pretendia definir os objectivos da publicação, produto de um grupo de jovens autores que se reuniam, com frequência, nalguns cafés da baixa lisboeta.
          A pretensão deste grupo «é formar, em grupo ou ideia, um número escolhido de revelações em pensamento ou arte, que sobre este princípio aristocrático tenham em Orpheu o seu ideal esotérico e bem nosso de nos sentirmos e conhecermos».
          Por alturas do rebentar da Primeira Guerra Mundial, conheceram-se em Lisboa Fernando Pessoa, cuja adolescência tinha sido passada na África do Sul, em contacto com a cultura inglesa; Mário de Sá-Carneiro, que, entre 1913 e 1916, passou grande parte do tempo em Paris; Almada Negreiros e Santa-Rita Pintor, que trouxeram da capital francesa as novidades literárias e plásticas, nomeadamente o futurismo e correntes afins.
          Na época, estas figuras foram apelidadas de loucas e só posteriormente foram reconhecidas como fazendo eco de um sentimento geral de crise latente.
          O projecto do Orpheu nasceu por volta de 1914, graças a Luís de Montalvor, acabado de regressar do Brasil, que pretendia o lançamento de uma revista luso-brasileira. Dela saíram dois números (os únicos publicados), ambos em 1915. Neles, é possível encontrar textos de Fernando Pessoa, Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Luís de Montalvor, Cortes Rodrigues, todos portugueses, bem como dos brasileiros Ronald de Carvalho (que, regressado do Brasil, constituiria a ponte que unia os modernismos brasileiro e português) e Eduardo Guimarães. Outras colaborações pertenceram a figuras como Ângelo de Lima, internado no manicómio, ou Álvaro de Campos, heterónimo de Pessoa.
          O primeiro número, saído em Abril, esgotou-se no espaço de três semanas. Não se conclua, no entanto, do seu sucesso, pois as pessoas adquiriram a revista para se horrorizarem com o seu conteúdo e soltarem a sua raiva contra os que nela colaboraram. Armando Cortes Rodrigues relatou que os autores órficos eram apontados a dedo quando passavam na rua, olhados com ironia e escárnio e julgados loucos, pelo que para eles reclamavam o internamento urgente no hospício de Rilhafoles.
          Mais tarde, em Julho de 1915, saiu o segundo número, este com um conteúdo claramente futurista. O terceiro número chegou a estar impresso, em parte, mas acabou por não chegar junto do público por falta de verba para a sua publicação, pois as edições anteriores tinham sido financiadas pelo pai de Mário de Sá-Carneiro. O suícidio do próprio Sá-Carneiro, em 1916, em Paris, agudizou a crise e Orpheu morreu mesmo ali, ao segundo número.
          Feitos, parcialmente, como os próprios autores confessaram, para escandalizar e irritar o burguês, os dois números de Orpheu atingiram plenamente o seu objectivo.
          Findo o projecto, o grupo modernista continuou a publicar noutras revistas: Exílio (1916), Centauro (1916), Portugal Futurista (1917), Athena (1924 - 1925) e Presença (1927 - 1940).
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