O Neoclassicismo é um retomar da estética clássica. A ideia de que o Classicismo consiste na imitação dos autores greco-latinos é já uma característica que deriva de um núcleo de ideias da estética clássica. Algumas dessas ideias configuram-se na luta contra o Barroco. Eram tão nítidos os excessos do Barroco, que vários críticos começam a dar-se conta de que se haviam afastado muito dos antigos moldes com a nova arte cheia de ornamentos, com a variação de ideias ilógicas. Ignorava-se o conteúdo da poesia.
Por parte dos cultores do Barroco não havia a consciência de que tinha havido uma quebra em relação aos cânones clássicos. Esta consciência apenas surgiria ao longo da primeira metade do século XVIII em Portugal.
Há um sentido profundo do Neoclassicismo que nasce daqui, desta ideia de que o remédio contra a perversão do gosto estava no regresso aos antigos, à lição genuína dos modelos greco-latinos, mas imitá-lo segundo a fúria nacionalista que se vivia.
Ao estabelecermos uma poética do Classicismo (que serviu de programa estético para os neoclássicos), esta apresentaria os seguintes princípios:
1) Imitação dos modelos (autores) greco latinos (como já foi dito, esta imitação não deve ser entendida como pura idolatria): é uma imitação à luz dos princípios da época. Era dado assente que os clássicos tinham contribuído para o alcance do belo universal e intemporal. Esta é uma das principais características derrubadas pelo Pré-Romantismo.
A imitação, contudo, não devia impedir a criação. Trata-se de seguir voos mais seguros, que seguissem rumos propostos pelos antigos, pois assim havia uma referência cultural. Em Portugal, este princípio acabou por se manifestar também na imitação de autores clássicos portugueses (por exemplo, Camões e António Ferreira.
2) Universalidade racional do belo.
A luz da razão é que deve dominar na criação literária. Por detrás do Classicismo está uma certa convicção (exaltação) racional. O Classicismo vai adotar a doutrina filosófica de Aristóteles sobre a criação, que devia ter por base a razão, o trabalho (estudo) e a cultura (o conhecimento). Não há aqui nada que se pareça com a imaginação ou espontaneidade do criador. Esta noção de estética da criação vai subentender também o apuramento e a correção. A beleza consegue-se através de princípios rígidos e universais. É a racionalidade que define o gosto do belo, daí ser impossível separar o intelectualismo da universalidade e intemporalidade do belo. É uma beleza justificada racionalmente. Contudo, pode-se criar, mas sempre com base em princípios racionais e na imitação dos clássicos. Segundo os clássicos, a razão seria universal, intemporal e imutável ao longo dos tempos.
Estes dois princípios são uma espécie de macro-princípios.
3) Princípio da verosimilhança.
Para o Classicismo, a arte deve obedecer à razão, logo deve representar o que é verdadeiro. Para os neoclássicos, a arte não deve representar todo o verdadeiro, mas o verosímil, daí afastando tudo o que seja irreal. Ser verosímil implicava que se exprimisse o que dentro de um plano verdadeiro fosse típico. Devia pôr-se de lado o que se apresenta como pitoresco. Nada de literatura fantasista.
4) Princípio da mimese (imitação) da natureza.
A arte devia ser entendida como uma imitação da natureza.
Este princípio está ligado ao segundo princípio. Com efeito, detrás da estética clássica está a ideia de que o belo, determinado pela razão, há de ser universal e igual em todas as épocas.
A racionalidade conduziria a uma atividade essencialmente mimética. A imitação da natureza respeita a uma natureza própria: o homem, enquanto senhor da natureza, devia preocupar-se em retratá-la, mas esta imitação não devia corresponder a uma simples fotografia ou a um puro decalcamento dessa natureza. Devia escolher-se o mais harmonioso e o mais positivo. Trata-se, portanto, de uma natureza seletiva e idealizante. Esta mimese procura na natureza os seus aspetos mais nobres.
Além disso, no Classicismo há certos paradigmas que mudam: locus horrendus versus locus amoenus. Os lugares desejados têm a ver com a configuração de um lugar ideal.
5) Intelectualismo.
Este princípio está por detrás dos princípios anteriores.
Traduz-se na subordinação aos princípios da razão, pois esta condicionava o juízo estético do bom gosto. A razão é que devia ajuizar o que era bom ou mau para a arte. Mas também é em resultado deste intelectualismo que se pode seguir a imitação dos autores greco-latinos e o primado das regras. Há a necessidade de conhecer os autores greco-latinos e as regras e isto conduz a um certo intelectualismo.
As regras eram importantes para os clássicos, mas não tinham em si mesmas o seu fundamento; havia regras, porque elas seguiam o primado da razão.
Por outro lado, os autores greco-latinos deviam ser imitados, porque foram os que estiveram mais próximos do belo universal e intemporal. Há a preocupação da procura do rigor formal de qualquer texto.
Quer devido aos ditames da razão, quer devido à imitação dos autores greco-latinos, temos dois princípios:
. princípio das conveniências internas: exigência
de uma coerência interna do texto;
.
princípio das conveniências externas: adequação da estrutura interna ao público
e às finalidades do texto. Isto subentende que o público, enquanto
destinatário, já esperasse um determinado rigor ou temática, uma determinada
linguagem ou personagens.
No fundo, é desta regra geral que deriva a regra das três unidades: tempo, espaço e ação.
Este princípio do intelectualismo fazia com que não houvesse contrastes violentos entre as diversas produções estéticas ou mesmo entre uma parte e outra da obra (coerência dos elementos internos da obra).
6) Distinção dos géneros literários.
Cada género literário implicava um certo padrão temático-estilístico, além de um conjunto de convenções a que devia subordinar-se. A inspiração dos poetas neoclássicos enveredou pela poesia didática.
Os géneros preferidos, no caso português, são: poemas científicos e filosóficos: ode moral pindárica (Cruz e Silva); ensinamento da fábula (Bocage); poesia portuguesa de género.
7) Função moral da literatura.
Toda a literatura devia obedecer a um princípio ético e moral.
Os neoclássicos vão interpretar este princípio à luz de um maior pragmatismo em relação aos clássicos. Entende-se neste princípio que a forma devia manter um equilíbrio entre a razão e o sentimento.
Se, por um lado, vão imperar os aspetos da ética e do ensino de costumes, por outro lado, vão dominar os aspetos da crítica social e cultura. O caso do Neoclassicismo português vai sublinhar os aspetos da racionalidade e utilidade.
Esta função moral da literatura é também uma forma de atribuir uma função social à literatura. Não é uma literatura moralista, mas serve a moral; não é uma literatura dogmática.
O que está em causa nesta função pode exprimir-se numa expressão de Molière: "moral da autenticidade". Através dos retratos dados pela literatura, cada homem conhece-se melhor enquanto homem. É mais neste sentido que se deve entender a função moral da literatura.
Em coerência com este princípio, a forma estética devia manter uma perfeita harmonia entre a razão e o sentimento.
8) A não espontaneidade da criação literária.
O Classicismo defende que o processo de formação literária é um processo progressivo, gradual, do texto, no qual a claridade da razão vai afastando os defeitos dessa produção. A criação literária é assim um trabalho de constante progresso, de "vigília racional". Os clássicos procuravam ainda "a clareza racional do apuramento formal constante". A criação literária não é espontânea, é um processo lento. A inspiração é um dom, uma semente que tem que se cultivar, se cair num bom húmus, onde a inspiração germine.
Há espontaneidade apoiada num conhecimento, numa cultura e por isso é um processo lento.
Face ao exposto, verificamos que, quando o Neoclassicismo vai retomar os princípios clássicos, fá-lo com influência (inspiração) racionalista, trazida pelo espírito das luzes do Iluminismo. Por isso, alguns dos princípios clássicos já não são puros e surgem como que "degenerados" ou "contaminados".
Quando o Neoclassicismo surge com a intenção de retomar a estética clássica, tem que supor a transposição de uma estética de um século para outro, pois a estética clássica quinhentista vai confrontar-se, em finais do século XVII e XVIII, com uma situação histórico-cultural substancialmente diferente. Nesta altura, vivia-se a época da "crise da consciência europeia", uma época que anunciou e favoreceu o surgimento do Iluminismo e também uma época que iria proporcionar o surgimento de um novo Classicismo: Classicismo francês.
Tal como na literatura clássica, também no Neoclassicismo há uma reflexão moral do homem em sociedade. Esta dimensão implica não só princípios morais, mas também princípios éticos e sociais, daí o seu caráter pragmático.
Se a tendência da literatura, nesta época, é a de ser a expressão de uma cultura das luzes, a literatura ganha, nesta altura, uma função de crítica social e de orientação ideológica. Ganha também uma função didática, daí a literatura, com influência do Iluminismo, dever contribuir para o progresso social.
Contudo, a estrutura neoclássica apresenta princípios contraditórios, porque o facto de se tratar de retomar a estética clássica, quando alguns dos traços da literatura clássica já começavam a ser desprezados, faz com que haja um certo caráter artificioso na literatura neoclássica. Tudo isto ganha maior relevo por causa do processo polémico da implantação do Neoclassicismo. Não só em Portugal, mas também noutras literaturas europeias, a literatura neoclássica foi-se desenvolvendo contra um outro tipo de conceção de literatura e de prática literária: o Barroco tardio.
O Rococó aparece como uma espécie de visão em miniatura do Barroco e que deste vai manter o gosto pela ostentação, pelo frívolo e pela elegância formal.
O Rococó, sem que mantenha a grandiosidade típica do Barroco, vai favorecer a manutenção de traços desse estilo de época: foge à racionalidade e utilidade clássicas defendidas pelo Neoclassicismo; vai favorecer o gosto pela intimidade, o que permite o devaneio e o sonho, daí a vida ser concebida como um sonho de felicidade.
Do ponto de vista estilístico, o tratamento da linguagem também apresenta um caráter perfecionista e denota preferência pelos diminutivos. Também não está isento de aspetos contraditórios. Assim, vai manifestar tendências que se vão misturar com tendências do Barroco Tardio e do Neoclassicismo.
O Rococó não pode ser considerado como o estilo dominante no século XVIII. Aparece como tendência difusa que vamos encontrar dispersa por obras onde ainda predominam características do Barroco ou, pelo contrário, do Neoclassicismo ou até em obras onde já começa a afirmar-se o espírito pré-romântico.
No entanto, o Rococó, ao apresentar esta subversão de valores, acaba por ter uma importância fundamental na gestação do Pré-Romantismo.