Português: Arcadismo

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Arcadismo

     O arcadismo foi um movimento que surgiu na segunda metade do século XVIII e se prolongou até princípios do século XIX. Há historiadores que fixaram duas datas-limite: 1756-1825.

    Na segunda metade do século XVIII, com a queda do Marquês de Pombal, estava-se numa situação diferente, pois já havia uma ação cultural efervescente, acentuada pela ação dos intelectuais que procuravam acompanhar os assuntos que se discutiam na Europa. Procuravam equiparar Portugal à Europa. Uma figura importante então foi o Duque de Lafões.

    Se o Barroco, mesmo em Portugal, teve o seu período áureo entre os inícios do século XVII e os meados ou mesmo fins desse séculos (com escritores como frei António das Chagas, Jerónimo Baía, Jacinto Frei de Andrade, Francisco Manuel de Melo), o Barroco do século XVIII é decadente. Assim é, salvo raras exceções (Pina e Melo, D. Francisco de Vasconcelos).

    As primeiras manifestações antibarrocas já vinham de longe e começaram a esboçar-se em finais do século XVII com a tradução da Arte Poética, feita por Francisco Manuel Meneses, que se revela influenciado pelo Classicismo francês.

    Outra manifestação das novas tendências é a obra que José Xavier Valadares escrevem em 1739 e que tem o sugestivo título do Exame Crítico de uma Silva Poética. Nesta obra, já se patenteia o elogio da razão e da verdade e a preocupação pela imitação da natureza.

    Mais tarde, surge outra obra de Cândido Lusitano, pseudónimo de Francisco José Freire, que expõe de modo sistemático os princípios de uma estética. É a obra Arte Poética ou Regras da Verdadeira Poesia, publicada em 1748. Encontramos uma luta contra a estética barroca, na qual cada vez mais se acentuava um desequilíbrio ou caía numa poesia de circunstância ou de conveniência ou mesmo de caráter obsceno. Tinha pouca densidade semântica, que ainda se encontrava na poesia barroca anterior.

    À medida que a poesia do Barroco tardio se esvaziava de conteúdos, havia uma compensação que se encontrava nos efeitos da linguagem. Daí que haja uma agudeza de conceitos.

    Em virtude de, nesta época, ter desaparecido a grandeza literária barroca, que teve uma época áurea, serão todas estas características que o Barroco ainda vai apresentar no século XVIII que vão permitir o lema de uma primeira arcádia: Arcádia Lusitana ou Olissiponense (1756). O lema era "inutilia truncat" (corta o que é extravagante). Este lema era idêntico ao da Arcádia de Roma, que já se fundara em 1690 e que tinha como lema "sterminare il cativo gusto". A nossa arcádia surge pouco depois do terramoto e na época de abertura cultural. Surge por iniciativa de vários escritores, como: Cruz e Silva, Manuel Esteves Negrão, Teorónio Gomes de Carvalho. Para Correia Garção, a Arcádia é formada com o intuito de restabelecer a boa poesia e a verdadeira eloquência por meio da mais severa crítica. De uma maneira geral, os árcades desejavam manifestar o repúdio pelas coisas inúteis, porque o Barroco trouxe consigo o desequilíbrio e a decadência dos valores clássicos. Era necessário restaurar  autêntica poesia clássica e para isso era necessário empreender um retorno às fontes originárias do Classicismo. Ao desprezarem o Barroco, vão deter-se no pastoralismo, vão tentar assemelhar a sua vivência poética à dos pastores. Devem imitar os valores clássicos na poesia bucólica.

    Ao deterem-se sobre o pastoralismo, vão passar por cima da Idade Média e suas influências na arte. Ao imitar os poetas greco-latinos, imitavam o modelo de poetas e pastores que queriam viver em contacto com a natureza idílica. Ao procurarem imitar os clássicos antigos, configuravam a estética arcádica. Esta passagem fez-se de modo declarado, que veio ficar marcada por um grande confronto.

    Devido à influência greco-latina, os sócios das arcádias tinham que adotar pseudónimos diretamente relacionados com a formação greco-latina ou pastoralismo: Cruz e Silva (Elpino Nonacriense), Correia Garção (Coridon Erimanteu), Bocage (Elmano Sadino).

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