1. Retrato atual
a. Retrato físico
- Afonso da Maia é um velho «mais idoso que o século». Tendo em conta que a ação se inicia em 1875, tal significa que a sua idade será superior aos 75 anos, símbolo da sua sabedoria e experiência de vida;
- É forte, saudável e resistente aos desgostos e à passagem dos anos;
- Um pouco baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes;
- Tem a face larga, o nariz aquilino e a pele corada, quase vermelha;
- Cabelo branco cortado à escovinha e longa barba branca.
b. Retrato moral
- Ama os seus livros, o seu whist, o conforto da sua poltrona e o seu semelhante, praticando assiduamente a caridade, o que evidencia o seu lado caridoso, generoso e solidário.
c. Retrato social
- Rico, graças a um conjunto de heranças que a família recebeu e que possibilitam que não tenha trabalhado um único dia da sua vida.
2. Breve história de Afonso da Maia - Grande analepse
A analepse inicia-se em 1820, ano da Revolução Liberal, e abrange 55 anos, pois termina em 1875.
a. Primeiro exílio (voluntário)
a. Primeiro exílio (voluntário)
- Rebelde, liberal e jacobino, segundo o pai, lê Rousseau, Volney, Helvécio e a Enciclopédia, de Tácito de Rabelais.
- Adepto da Constituição, maçon (segundo o pai), defende valores opostos ao deste, pelo que é expulso de casa para Santa Olávia.
- Enfastiado do campo e perdoado, Afonso regressa a Lisboa e parte, quase de seguida, rumo ao exílio voluntário em Inglaterra, onde vive confortavelmente com o dinheiro do pai, portando-se sempre como diletante e estrangeirado, indiferente à situação política portuguesa, esquecendo os seus correligionários maçónicos e de lides políticas, que, em Portugal, continuam a sua intervenção política militante e ativa contra o Absolutismo e são perseguidos por D. Miguel nos dias da Abrilada, enquanto ele assiste às corridas em Epson.
- Este conflito entre pai e filho é, no fundo, um conflito entre duas gerações. De um lado, temos Caetano da Maia, miguelista, absolutista, conservador e beato; do outro, Afonso, liberal, revolucionário e inovador.
b. Casamento
- Afonso regressa a Lisboa por causa da morte súbita do pai.
- Casa com Maria Eduarda Runa, da qual tem um filho, Pedro da Maia.
- Faz obras em Benfica, preparando o futuro.
- Face à Lisboa miguelista, recorda com saudades a Inglaterra e anseia por uma aristocracia tory que possa repor a ordem, o progresso e a moral.
c. Segundo exílio (forçado)
- Vendo o seu domicílio invadido pelos seguidores de D. Miguel, exila-se novamente em Inglaterra, onde vive rodeado de luxo.
- Observa as desigualdades que existem entre os emigrados liberais, o que o leva a descrer do liberalismo, mas nunca se envolve ativamente no combate às mesmas.
- Pelo contrário, estuda e admira a língua e a cultura inglesas, integrando-se com naturalidade no universo social e cultural inglês. Conserva a prática da caridade e da solidariedade.
- Mostra-se impotente face ao fanatismo religioso e à ignorância da mulher. Procurando despertá-la desse estado de espírito, viaja para Roma e, posteriormente, regressa a Benfica. A deterioração da doença e do beatismo de Maria Runa tornam-no cada vez mais ateu e revoltado contra a pobreza espiritual do país.
d. Suicídio de Pedro
- Mostra-se colérico por ver o filho naquela situação humilhante, antecipando o escândalo, a desonra da família e «o seu nome pela lama»;
- Mostra-se, por outro lado, indignado pela incapacidade de Pedro reagir «como homem» à situação, lançando-se, em vez disso, «... para um sofá, chorando miseravelmente...»;
- Porém, a visão de Pedro mergulhado na dor lancinante reaviva-lhe toda a ternura pelo filho;
- Sente enorme carinho e felicidade e fica embevecido quando pega no neto pela primeira vez;
- Ao jantar, não come quase nada e deixa-se cair num estado de melancolia, centrando o seu pensamento na desgraça («... pensando em todas as coisas terríveis que assim invadiam num tropel patético a sua paz de velho...»);
- É resgatado desse estado pela antevisão de futuras alegrias na presença do neto;
- Após o suicídio, parte para Santa Olávia mergulhado em pesado luto, o que leva Vilaça a afirmar que «... o velho não durava um ano». No entanto, o neto dar-lhe-á a força para sobreviver à desgraça do filho e viver.
(em atualização)