Português

sábado, 28 de abril de 2012

Quelque chose comme moi!

     «Eu acho que, com a idade que temos, nós é que deveríamos impor as regras. Pensar "então se tenho ido a todas as festas, não preciso de ir a esta. É dinheiro que poupo e uma noite em casa". Os nosso pais matam-se a trabalhar para nós irmos todas as sextas sair até às tantas. Não concordo.
     Mas uma coisa que me irrita é quando desconfiam de mim! Epa não é bem desconfiar, mas é a sensação que dá. Eu esforço-me pelas notas, para me portar bem, para tudo (e não digam que não) e só sabem dizer "andas de cabeça no ar"; "logo te conto uma história quando saírem as notas"... Olha, sinceramente não percebo! Não percebo onde estou a errar! Não sei. É óbvio que também tenho os meus momentos mais "malucos" e de cabeça no ar, mas bolas! Eu trabalho, eu porto-me bem... Eu não vos dou motivos de problemas, não armo confusão. E depois mandas uma boca destas? Olha não percebo. Sou responsável e sei por-me no meu lugar. Sei quando chega e quando é demais. E o que sabes é criticar... Sinceramente não percebo! E tu não entendes o quanto isso me irrita! A sério, é das coisas que mais me irrita. Quando eu faço TUDO POR TUDO para te dar alegrias e tu chateias-te por algo que ACHAS que estou a fazer! IRRITA como não calculas!!!! E entristece!!»

     «Roubado« de um blogue de uma jovem estudante de 17 anos, natural de Beja: http://sofiaa-isaabel.blogspot.pt/2011/10/blog-da-bea-continuacao-do-seu-post.html. Começa a ser raro encontrar testemunhos destes, que vão desde o reconhecimento do esforço familiar para proporcionar um futuro melhor; a necessidade de reconhecer o estatuto de (quase) adulto; o desejo de confiança em si enquanto pessoa; a pressão para obter boas notas; a injustiça na apreciação do esforço e do estudo...

     Parabéns à Sofia Isabel, autora do «Quelque chose comme moi!».

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Questionário SERMÃO - Texto Introdutório

1.1.  O Sermão foi proferido na Cidade de S. Luís do Maranhão no ano de 1654.

1.2.   Padre António Vieira encontrava –se nesse local nessa data devido à Companhia de Jesus lhe ter ordenado que regressa-se como missionário no Maranhão para evangelizar os índios e pregar.

1.3.  A reação á doutrina que o Padre António Vieira pregava, era de luta por parte dos colonos e de misticidade.

1.3.1. Os ensinamentos da referida doutrina eram relevantes a nível espiritual e temporal daquela terra.

1.4.  O adjetivo usado para qualificar o Sermão é “alegórico” e pertence à subclasse dos adjetivos relacionais.

1.4.1. Alegoria é uma figura de estilo complexa baseada na analogia, que são geralmente metáforas. A alegoria encerra uma comparação alargada entre uma realidade concreta e animada, que é mostrada ao leitor/ouvinte com o objetivo de explicar/clarificar uma entidade abstrata (intelectual, moral, psicológica, sentimental, teórica). Por exemplo, assim, com fama e glória, teve os troféus pendentes da vitória.

Filipa P.

Questionário SERMÃO - Texto Introdutório

1.1. O Sermão foi proferido na cidade de S.Luís Maranhão no ano de 1654.

1.2. O Padre António Vieira encontrava – se em S. Luís de Maranhão no Brasil em 1654 para pronunciar o sermão aos peixes destinado a encontrar uma salvação para os índios.

1.3. De acordo com a nota, a «doutrina» que o padre pregava teve uma má reação pela parte da população pois fora perseguida.

1.3.1. Os dois aspetos da vida do homem eram os mais necessários ao bem espiritual e temporal daquela terra.

1.4. alegórico ”

1.4.1. 

Ana F.

Questionário SERMÃO - Texto Introdutório

1.1- O sermão foi proferido na cidade de S. Luís do Maranhão , no ano de 1654.

1.2-  O motivo por que se encontrava nesse local, nessa data foi por ter embarcado para o reino, à procura do remédio da salvação dos índios para obter uma legislação justa para os índios.

1.3- A reação à «doutrina» que o Padre António Vieira pregava foi uma doutrina bem recebida, pois podemos ver com o que aparece entre parenteses  que é (posto que perseguida).

1.3.1- Os ensinamentos  da referida doutrina eram relevantes em duas vertentes da vida do Homem que eram  necessários ao bem espiritual e temporal daquela terra.

1.4-  O adjetivo usado para qualificar o sermão foi alegórico e a sua subclasse é qualificativo.

1.4.1- O adjetivo referido remete para a figura de retórica «alegoria» porque os peixes são a personificação dos homens. Alegoria designa-se por uma representação concreta do abstrato. O sermão está associado a este conceito pois, o Padre Vieira quando fala aos peixes na verdade é aos homens que se dirigi. Como exemplo o polvo, que tem defeitos como a traição e ataca sempre de emboscada,  porque se disfarça, partilha estas características com os judas.

A. A. 

Liga dos Campeões: na tua casa ou na minha?


Discurso político: 25 de abril de 2012

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Caracterização de Alencar

     Alencar, o grande amigo de Pedro da Maia (fora o primeiro que vira Carlos depois deste nascer), é o representante do Ultrarromantismo.
     O retrato físico que dele é feito é tipicamente romântico:
          . alto;
          . magro;
          . face escaveirada;
          . olhos encovados;
          . nariz aquilino;
          . calvo na frente;
          . «testa lívida»;
          . «longos, espessos, românticos bigodes»;
          . dentes estragados;
          . vestido de negro.

     Psicologicamente, Alencar
  • aparentava um ar antiquado, artificial e lúgubre (pág. 159);
  • adota poses solenes, pomposas, arrebatas e retrógradas;
  • é considerado um gentleman (pág. 176), generoso (175) e um «patriota à antiga» (167).
     Quanto à sua linguagem, é formal («Vossa Excelência» e a voz «arrastada, cavernosa, ateatrada».

     O episódio do Jantar do Hotel Central revela-nos o defensor do Ultrarromantismo em todo o seu esplendor:
  • opõe-se ao Realismo e ao Naturalismo, que qualifica como «pústula», «pus», «literatura latrinária», «excremento»;
  • incoerente, condena no presente o que cantara no passado: o estudo dos vícios da sociedade;
  • falso moralista, refugia-se na moral por não ter outra arma de defesa e considera o Realismo imoral, ele que tivera um passado em nada exemplar;
  • mostra-se desfasado do seu tempo, numa espécie de fuga ao real: «... escreveu dois folhetins cruéis; ninguém os leu...»;
  • critica o poeta Craveiro (Antero de Quental?), o «paladino do Realismo» e da «Ideia Nova»;
  • defende a crítica literária de natureza académica:
  • feita de ataques pessoais e de calúnias;
  • preocupada com aspetos formais em detrimento dos aspetos temáticos («... dois erros de gramática, um verso errado...»);
  • obcecada com o plágio («... uma imagem roubada a Baudelaire...»).

Dâmaso Salcede

     Dâmaso é retratado em termos disfóricos desde o primeiro momento em que surge nas páginas do romance: gordo e baixo («um rapaz baixote» - notar o diminutivo depreciativo), de mau gosto, o tipo do novo rico, de aspeto ridículo e maneira de vestir pretensiosa: frisado como um noivo de província, de camélia ao peito e plastrão azul-celeste.
      Movido provavelmente por um complexo de inferioridade, faz tudo para se elevar ao nível de Carlos da Maia, procurando atrair, a propósito e a despropósito, a sua benevolência de admiração: «O senhor Dâmaso Salcede, que não despegava os olhos de Carlos...».
     Gabarola e estúpido, declara-se sabedor da vida dos Castro Gomes e de ter um tio em Paris, mas não capta a ironia de Ega: «E que tio! (...) O tio do Dâmaso governa a França, menino!»; pelo contrário, «Dâmaso, escarlate, estoirava de gozo...». Tem a mania do chique («Uma gente muito chique (...) chique a valer!»), mas o ridículo que o envolve desmente essa pretensão de requinte:
  • os seus critérios para avaliar o chiquismo são ridículos: «... criado de quarto, governanta inglesa para a filhita, femme de chambre, mais de vinte malas...»;
  • à pergunta se queria vermute, responde: «Sim, uma gotinha para o apetite...»;
  • caricata é ainda a forma como enaltece Paris: «Aquilo é que é terra! Isto aqui é um chiqueiro. (...) Aquele boulevarzinho, hem! Ai, eu gozo aquilo... E sei gozar, sei gozar, que eu conheço aquilo a palmo...»;
  • tem um discurso profuso e deselegante, pontuado de calão de baixo nível.
     Surgindo os dois retratos de forma consecutiva, é evidente o intuito do narrador fazer contrastá-los. Este facto explica-se pela imagem de dignidade que se pretende dar dela e por ser uma personagem de tragédia e, como tal, teria de ser nobre de caráter. Dâmaso, por seu turno, está marcado para figurante da crónica de costumes. É, portanto, uma personagem plana, uma caricatura, um tipo social, o representante do novo rico.

Episódio do Jantar no Hotel Central

     Este episódio surge no capítulo VI do romance e integra a chamada crónica de costumes. Estamos perante um acontecimento eminentemente mundano, integrado na crónica de costumes (recordar o subtítulo «Episódios da Vida Romântica»), cujo objetivo central é homenagear o banqueiro Cohen, de cuja mulher Ega (o promotor da homenagem) é amante.

1. Objetivos
  • Homenagear o banqueiro Jacob Cohen, uma iniciativa de João da Ega («... o Ega, alargando pouco a pouco a ideia, convertera-o agora numa festa de cerimónia em honra do Cohen...»).
  • Retratar a sociedade lisboeta.
  • Proporcionar a Carlos da Maia o primeiro contacto com o meio social lisboeta.
  • Apresentar a visão crítica de alguns problemas.
  • A nível da ação central: proporcionar a Carlos o primeiro encontro com Maria Eduarda.

2. Intervenientes

          . João da Ega

     Promotor do jantar, uma homenagem ao banqueiro Jacob Cohen, marido da «divina Raquel», com quem mantém uma relação adúltera, João da Ega defende o Realismo / Naturalismo. Ao assumir esta posição, acaba  por convocar o poeta Tomás de Alencar, representante do Ultrarromantismo, e criar uma enorme discussão. A sua postura ao longo do jantar assemelha-se à adotada pelos jovens escritores da Geração de 70, profundamente revolucionários, o que o leva, por vezes, a recorrer a argumentos exagerados para sustentar as suas ideias.

          . Jacob Cohen

     É o homenageado durante o jantar, o marido da «divina Raquel», diretor do Banco Nacional, por isso o representante das Finanças na obra.

          . Tomás de Alencar

     Representante do Ultrarromantismo, é confrontado com os princípios naturalistas / realistas defendidos por Ega.

          . Dâmaso Salcede

     É o tipo do novo rico burguês e a súmula dos defeitos da sociedade: provincianismo, vaidade, futilidade e oportunismo (repare-se como louva Carlos da Maia com o intuito de assumir uma posição mais preponderante na sociedade.

          . Carlos da Maia

     O episódio proporciona-lhe o primeiro contacto com a sociedade, mantendo, durante o evento, uma posição relativamente discreta.

          . Craft

     Representante da cultura artística e britânica, Craft tem uma participação pouco relevante neste episódio.


3. Temas discutidos durante o jantar


          1. Literatura
  • Tomás de Alencar:
  • defensor do Ultrarromantismo;
  • opositor do Realismo / Naturalismo, que qualifica depreciativamente como «pústula», «pus», «literatura latrinária», «o excremento»;
  • incoerente: condena no presente o que cantara no passado: o estudo dos vícios da sociedade;
  • falso moralista: refugia-se na moral por não ter outra arma de defesa, outros argumentos - considera o Realismo / Naturalismo imoral;
  • vive desfasado do seu tempo: «... escreveu dois folhetins cruéis; ninguém os leu...»;
  • crítico do poeta Craveiro (Antero de Quental?), o «paladino do Realismo» e da «Ideia Nova»;
  • defensor da crítica literária de natureza académica:
  • feita de ataques pessoais e de calúnias;
  • preocupada com aspetos formais em detrimento dos aspetos temáticos («... dois erros de gramática, um verso errado...»);
  • obcecada com o plágio («... uma imagem roubada a Baudelaire...»).
  • João da Ega:
  • defensor do Realismo / Naturalismo;
  • distorce e exagera as teses realistas / naturalistas (agnosticismo, positivismo, dependência das anomalias sociais de fatores como a educação, o meio, a hereditariedade, a raça...);
  • defensor do cientificismo na literatura;
  • não distingue Ciência e  Literatura.
  • Carlos:
  • recusa o ultrarromantismo de Alencar;
  • defende o romance como análise social: «Esse mundo de fadistas, de faias, parecia a Carlos merecer um estudo, um romance...»;
  • considera intoleráveis os ares científicos do Realismo: «... o mais intolerável no realismo eram os seus grandes ares científicos (...) e a invocação de Claude Bernard, do experimentalismo, do positivismo, de Stuart Mill e de Darwin, a propósito de uma lavadeira que dorme com um carpinteiro!»;
  • defende que os carateres só se manifestam pela ação;
  • recusa os exageros do Ega. 
  • Craft:
  • recusa o Ultrarromantismo de Alencar;
  • defende a arte como idealização do que de melhor há na natureza;
  • defende o conceito parnasiano da arte pela arte: «E a obra de arte (...) vive apenas pela forma...».
  • Narrador:
  • recusa o Ultrarromantismo de Alencar;
  • recusa a distorção do Naturalismo contida nas afirmações de Ega;
  • defende uma estética próxima da de Craft: «... estilos novos, tão preciosos e tão dúcteis...» - tendência parnasiana.
     Atente-se na proximidade das teses defendidas por Carlos, Craft e pelo narrador das sustentadas por Eça de Queirós, que advoga uma nova forma para a literatura.


          2. Finanças
  • o país tem absoluta necessidade dos empréstimos ao estrangeiro;
  • a ocupação dos ministérios é «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo» (tal como hoje, Portugal vivia de empréstimos ao estrangeiro e da cobrança de impostos);
  • Cohen representa a posição oficial: é calculista e cínico, pois, tendo responsabilidades em razão do cargo que desempenha (Diretor do Banco Nacional), lava as mãos do assunto e aceita "alegremente" que o país vai direito para a bancarrota (120 anos depois, o país enfrenta uma situação semelhante);
  • Ega representa a posição prenunciadora da ideologia anarco-republicana, vendo na bancarrota a oportunidade ideal para levar a cabo uma revolução: «À bancarrota seguia-se uma revolução, evidentemente. Um país que vive da inscrição, em não lha pagando, agarra no cacete. [...] E, passada a crise, Portugal, livre da velha dívida, da velha gente, dessa coleção grotesca de bestas...».

          3. A história política
  • Ega:
  • aplaude as afirmações do Cohen e delira com a bancarrota como determinante da agitação revolucionária;
  • defende o afastamento violento da Monarquia;
  • defende a invasão espanhola como forma de arrasar, enterrar o velho Portugal e construir um Portugal novo, «sério e inteligente, forte e decente, estudando, pensando, fazendo civilização como outrora... Meninos, nada regenera uma nação como uma medonha tareia...»;
  • aplaude a instauração da República;
  • enumera as consequências do Constitucionalismo:
  • falta de educação e de higiene («... piolhice dos liceus...»);
  • doença e devassidão («... roída de sífilis...»);
  • passividade e inércia («... apodrecida no bolor das secretarias...»);
  • comportamentos rotineiros («... arejada apenas ao domingo...»);
  • perda da coragem e da dignidade («... perderam o músculo...»; «... perderam o caráter...»);
  • centralismo («Lisboa é Portugal! Fora de Lisboa não há nada.»);
  • fraqueza física e moral («... a raça mais fraca e mais cobarde...»).
  • Alencar:
  • opõe-se à invasão espanhola, pois considera-a um perigo para a independência nacional, e dispõe-se a despertar o patriotismo do país com os seus poemas;
  • defende o romantismo político: 
  • uma democracia humanitária (de 1848);
  • uma república governada por génios;
  • a fraternidade entre os povos, «os Estados Unidos da Europa»; 
  • repudia o talento dos seus conterrâneos, despeitado com o desprezo «desses politicotes», seus companheiros de farra antes de cumprirem as suas ambições;
  • protesta contra a alegre fantasia dos companheiros afirmando exaltadamente o amor pela pátria.
  • Cohen:
  • defende a existência de gente séria e honesta nas camadas políticas dirigentes;
  • condescende na necessidade de reformas no país;
  • considera Ega e Alencar uns exagerados;
  • em caso de invasão, participaria com o financiamento (as armas e a artilharia comprar-se-iam na América);
  • juntamente com Ega, organizaria a guerrilha.
  • Dâmaso:
  • exemplo de covardia:
  • se se desse a invasão espanhola, «raspava-se» imediatamente para Paris;
  • considera ainda que toda a gente fugiria como uma lebre. 
  • revela grande reverência relativamente a Carlos.


4. Fim do jantar - resolução da disputa
  • Ega e Alencar insultam-se mutuamente;
  • fazem uso de uma linguagem escabrosa e ofensiva;
  • envolvem-se numa zaragata que quase termina numa sessão de pugilato;
  • acabam por fazer as «pazes à portuguesa»: reconciliação e mostras de arrependimento, com abraços e protestos de amizade;
  • ou seja, esgotados os argumentos, passa-se à pessoalização das questões (= Questão Coimbrã, após as primeiras intervenções críticas; o desafio para um duelo entre Antero de Quental e Ramalho Ortigão).


5. Conclusões - o modo de ser português


     1. A falta de personalidade:
  • Alencar muda de opinião quando Cohen assim o pretende;
  • Ega muda também de opinião quando Cohen o pretende;
  • Dâmaso, cuja divisa é «Sou forte», aponta o caminho covarde da fuga.
     2. A disputa Ultrarromantismo / Naturalismo, reflexo da Questão Coimbrã.

     3. A falta de coragem / a covardia domina a sociedade, «... desde el-rei nosso senhor até aos cretinos de secretaria!...».

     4. A falta de cultura e civismo domina as classes mais destacadas, com exceção de Carlos e de Craft.

     5. O exército:

  • em caso de invasão, teriam de se alugar os generais para defesa da pátria;
  • a falta de disciplina dos soldados, não obstante serem «teso(s)»;
  • a fraqueza física e moral («Um regimento, depois de dois dias de marcha, dava entrada em massa no hospital!»; o episódio do marujo sueco).

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Semana Académica - Porto 2012 - Cartaz


"Escolas escondem crimes das autoridades"

     «Quatro anos depois de o procurador-geral da República, Pinto Monteiro, ter eleito o combate à violência em meio escolar como prioridade e apelado às escolas para participarem os casos, os estabelecimentos de ensino continuam a esconder das autoridades os crimes cometidos no seu interior.

     O alerta foi feito esta quarta-feira por Celso Manata, coordenador dos procuradores do Ministério Público junto do Tribunal de Família e Menores de Lisboa. "A atitude paternalista das escolas, típica dos países do sul da Europa, desculpando muitas situações, acaba por prejudicar os miúdos, porque passa uma ideia de impunidade e depois quando os casos nos chegam a nós já as coisas são mais graves", disse Celso Manata, no seminário Segurança em Ambiente Escolar, organizado pela PSP, que se realizou ontem no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa.

     O procurador admite as dificuldades sentidas por professores, funcionários e órgãos de gestão das escolas e apela à sua coragem. "Eu sei que muitas vezes é difícil participar as ocorrências porque os miúdos e as famílias não são fáceis, mas há que ter coragem para informar as autoridades", afirmou.
     Os últimos números conhecidos apontam contudo para um aumento de 22 por cento nas ocorrências em contexto escolar participadas às forças de segurança. De acordo, com o Relatório Anual de Segurança Interna, a PSP e a GNR receberam no ano lectivo 2010/2011, no âmbito do Programa Escola Segura, 5762 ocorrências, das quais 4284 foram de natureza criminal.»
(c) Correio da Manhã

A «soirée» dos Gouvarinhos

     O encontro de algumas das personagens do «nosso» romance em casa dos Condes de Gouvarinho é um dos momentos da crónica de costumes.
     Nela há a destacar a fraca afluência, reveladora do desinteresse pelo evento, e o ambiente de dormêwncia, de tédio: «Enfim, secara-se.».
     Por outro lado, o narrador destaca as conversas balofas e entediantes do conde e as conversas ocas da condessa, representativas da sua falta de cultura e ignorância: «Imaginava que a Inglaterra é um país sem poetas, sem artistas, sem ideias, ocupando-se só de amontoar libras...». Como consequência, o interesse de Carlos da Maia por ela transforma-se num grande tédio, à semelhança, no fundo, do que acontecera com todas as suas paixões.

Vila Balzac

1. Origem do nome

     O nome da habitação está relacionado com o escritor francês Balzac. A escolha de Ega reflete a sua dualidade literária e a sua personalidade contraditória, pois Balzac foi um escritor francês realista que, tal como Ega, se dividiu entre o Romantismo e o Realismo.


2. Localização:
  • na Penha de França, algures na Graça;
  • local isolado e solitário, propício ao estudo, «às horas de arte e ideal», escolhido «Porque ia fechar-se lá, como num claustro de letras, a findar as «Memórias de um Átomo».


3. Descrição

     Após a leitura do início do capítulo VI, facilmente se conclui que a Vila Balzac é o reflexo de João da Ega. Carlos rapidamente o verifica, pois, quando certo dia vai visitar o amigo, depara com uma «casota de paredes enxovalhadas», imagem bem diferente das descrições idealizadas que Ega lhe fizera.


     3.1. A sala:
  • predomínio da cor verde;
  • ausência de decoração: tratando-se do espaço de um «intelectual» que se alimenta de uma «côdea de Ideal» e de «duas garfadas de filosofia», marca a oposição entre os ideais que apregoa e aquilo que é, de facto, pois a sua sensualidade sobrepõe-se à sua faceta intelectual.

     3.2. O quarto:
  • predomínio do vermelho: simbolicamente ligado à vida e à morte, esta ambivalência representa o ardor amoroso e carnal de um Eros triunfante que convida à transgressão (a relação adúltera de Ega com Raquel Cohen), mas, de tal modo exagerado, que se reveste de um caráter infernal e descontrolado que leva Ega a mascarar-se de Mefistófeles, assumindo, assim, a sua condição de amante cego e infernal;
  • o leito enorme «enchia, esmagava tudo. (...) o centro da Vila Balzac...";
  • o luxo e os ornatos espaventosos;
  • o aparato de tabernáculo: traduz a sordidez da relação;
  • o espelho, como num lupanar:
  • o caráter narcisista e ocioso de Ega;
  • a sordidez, a sensualidade e a vida dissoluta de Ega e dos amores adúlteros com Raquel Cohen;
  • o «olhar silencioso e doce» que Ega lança ao leito e o gesto de «passar uma pontinha da língua sobre o beiço»;
  • a mesinha de cabeceira repleta de livros de Spencer, Baudelaire e Stuart Mill;
  • a garrafa de champanhe e os copos sobre a cómoda;
  • o toucador em desordem;
  • os ganchos do cabelo e os ferros de frisar.

     3.3. A sala de jantar:
  • a eloquência chocarreira do Ega: «- A sr.ª Josefa, solteira, de temperamento sanguíneo (...)»; «E, como quando eu recolher, talvez a sr.ª Josefa esteja entregue ao sono da inocência, ou à vigília da devassidão...»;
  • os olhares trocados e os subentendidos: «A moça sorria, sem embaraço, habituada decerto a estas familiaridades boémias.»; «E subitamente, numa outra vez, com um olhar que ela devia perceber...».


4. Conclusão

     Em jeito de conclusão, podemos afirmar que, afinal, o recanto de estudo de João da Ega não passa de uma sórdida alcova de furtivos amores ilícitos.
     Por outro lado, a Vila Balzac configura um espaço de contraste entre o ser (a realidade:a imundície, a sensualidade, a sordidez, a familiaridade pouco digna com os empregados, o refúgio de amores ilícitos) e o parecer (o idealizado, a partir das descrições de Ega: o falso requinte).
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