Este episódio surge no capítulo VI do romance e integra a chamada crónica de costumes. Estamos perante um acontecimento eminentemente mundano, integrado na crónica de costumes (recordar o subtítulo «Episódios da Vida Romântica»), cujo objetivo central é homenagear o banqueiro Cohen, de cuja mulher Ega (o promotor da homenagem) é amante.
1. Objetivos
- Homenagear o banqueiro Jacob Cohen, uma iniciativa de João da Ega («... o Ega, alargando pouco a pouco a ideia, convertera-o agora numa festa de cerimónia em honra do Cohen...»).
- Retratar a sociedade lisboeta.
- Proporcionar a Carlos da Maia o primeiro contacto com o meio social lisboeta.
- Apresentar a visão crítica de alguns problemas.
- A nível da ação central: proporcionar a Carlos o primeiro encontro com Maria Eduarda.
2. Intervenientes
Promotor do jantar, uma homenagem ao banqueiro Jacob Cohen, marido da «divina Raquel», com quem mantém uma relação adúltera, João da Ega defende o Realismo / Naturalismo. Ao assumir esta posição, acaba por convocar o poeta Tomás de Alencar, representante do Ultrarromantismo, e criar uma enorme discussão. A sua postura ao longo do jantar assemelha-se à adotada pelos jovens escritores da Geração de 70, profundamente revolucionários, o que o leva, por vezes, a recorrer a argumentos exagerados para sustentar as suas ideias.
. Jacob Cohen
É o homenageado durante o jantar, o marido da «divina Raquel», diretor do Banco Nacional, por isso o representante das Finanças na obra.
. Tomás de Alencar
Representante do Ultrarromantismo, é confrontado com os princípios naturalistas / realistas defendidos por Ega.
. Dâmaso Salcede
É o tipo do novo rico burguês e a súmula dos defeitos da sociedade: provincianismo, vaidade, futilidade e oportunismo (repare-se como louva Carlos da Maia com o intuito de assumir uma posição mais preponderante na sociedade.
. Carlos da Maia
O episódio proporciona-lhe o primeiro contacto com a sociedade, mantendo, durante o evento, uma posição relativamente discreta.
. Craft
Representante da cultura artística e britânica, Craft tem uma participação pouco relevante neste episódio.
3. Temas discutidos durante o jantar
1. Literatura
2. Finanças
4. Fim do jantar - resolução da disputa
5. Conclusões - o modo de ser português
1. A falta de personalidade:
. Carlos da Maia
O episódio proporciona-lhe o primeiro contacto com a sociedade, mantendo, durante o evento, uma posição relativamente discreta.
. Craft
Representante da cultura artística e britânica, Craft tem uma participação pouco relevante neste episódio.
3. Temas discutidos durante o jantar
1. Literatura
- Tomás de Alencar:
- defensor do Ultrarromantismo;
- opositor do Realismo / Naturalismo, que qualifica depreciativamente como «pústula», «pus», «literatura latrinária», «o excremento»;
- incoerente: condena no presente o que cantara no passado: o estudo dos vícios da sociedade;
- falso moralista: refugia-se na moral por não ter outra arma de defesa, outros argumentos - considera o Realismo / Naturalismo imoral;
- vive desfasado do seu tempo: «... escreveu dois folhetins cruéis; ninguém os leu...»;
- crítico do poeta Craveiro (Antero de Quental?), o «paladino do Realismo» e da «Ideia Nova»;
- defensor da crítica literária de natureza académica:
- feita de ataques pessoais e de calúnias;
- preocupada com aspetos formais em detrimento dos aspetos temáticos («... dois erros de gramática, um verso errado...»);
- obcecada com o plágio («... uma imagem roubada a Baudelaire...»).
- João da Ega:
- defensor do Realismo / Naturalismo;
- distorce e exagera as teses realistas / naturalistas (agnosticismo, positivismo, dependência das anomalias sociais de fatores como a educação, o meio, a hereditariedade, a raça...);
- defensor do cientificismo na literatura;
- não distingue Ciência e Literatura.
- Carlos:
- recusa o ultrarromantismo de Alencar;
- defende o romance como análise social: «Esse mundo de fadistas, de faias, parecia a Carlos merecer um estudo, um romance...»;
- considera intoleráveis os ares científicos do Realismo: «... o mais intolerável no realismo eram os seus grandes ares científicos (...) e a invocação de Claude Bernard, do experimentalismo, do positivismo, de Stuart Mill e de Darwin, a propósito de uma lavadeira que dorme com um carpinteiro!»;
- defende que os carateres só se manifestam pela ação;
- recusa os exageros do Ega.
- Craft:
- recusa o Ultrarromantismo de Alencar;
- defende a arte como idealização do que de melhor há na natureza;
- defende o conceito parnasiano da arte pela arte: «E a obra de arte (...) vive apenas pela forma...».
- Narrador:
Atente-se na proximidade das teses defendidas por Carlos, Craft e pelo narrador das sustentadas por Eça de Queirós, que advoga uma nova forma para a literatura.
- recusa o Ultrarromantismo de Alencar;
- recusa a distorção do Naturalismo contida nas afirmações de Ega;
- defende uma estética próxima da de Craft: «... estilos novos, tão preciosos e tão dúcteis...» - tendência parnasiana.
2. Finanças
- o país tem absoluta necessidade dos empréstimos ao estrangeiro;
- a ocupação dos ministérios é «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo» (tal como hoje, Portugal vivia de empréstimos ao estrangeiro e da cobrança de impostos);
- Cohen representa a posição oficial: é calculista e cínico, pois, tendo responsabilidades em razão do cargo que desempenha (Diretor do Banco Nacional), lava as mãos do assunto e aceita "alegremente" que o país vai direito para a bancarrota (120 anos depois, o país enfrenta uma situação semelhante);
- Ega representa a posição prenunciadora da ideologia anarco-republicana, vendo na bancarrota a oportunidade ideal para levar a cabo uma revolução: «À bancarrota seguia-se uma revolução, evidentemente. Um país que vive da inscrição, em não lha pagando, agarra no cacete. [...] E, passada a crise, Portugal, livre da velha dívida, da velha gente, dessa coleção grotesca de bestas...».
3. A história política
- Ega:
- aplaude as afirmações do Cohen e delira com a bancarrota como determinante da agitação revolucionária;
- defende o afastamento violento da Monarquia;
- defende a invasão espanhola como forma de arrasar, enterrar o velho Portugal e construir um Portugal novo, «sério e inteligente, forte e decente, estudando, pensando, fazendo civilização como outrora... Meninos, nada regenera uma nação como uma medonha tareia...»;
- aplaude a instauração da República;
- enumera as consequências do Constitucionalismo:
- falta de educação e de higiene («... piolhice dos liceus...»);
- doença e devassidão («... roída de sífilis...»);
- passividade e inércia («... apodrecida no bolor das secretarias...»);
- comportamentos rotineiros («... arejada apenas ao domingo...»);
- perda da coragem e da dignidade («... perderam o músculo...»; «... perderam o caráter...»);
- centralismo («Lisboa é Portugal! Fora de Lisboa não há nada.»);
- fraqueza física e moral («... a raça mais fraca e mais cobarde...»).
- Alencar:
- opõe-se à invasão espanhola, pois considera-a um perigo para a independência nacional, e dispõe-se a despertar o patriotismo do país com os seus poemas;
- defende o romantismo político:
- uma democracia humanitária (de 1848);
- uma república governada por génios;
- a fraternidade entre os povos, «os Estados Unidos da Europa»;
- repudia o talento dos seus conterrâneos, despeitado com o desprezo «desses politicotes», seus companheiros de farra antes de cumprirem as suas ambições;
- protesta contra a alegre fantasia dos companheiros afirmando exaltadamente o amor pela pátria.
- Cohen:
- defende a existência de gente séria e honesta nas camadas políticas dirigentes;
- condescende na necessidade de reformas no país;
- considera Ega e Alencar uns exagerados;
- em caso de invasão, participaria com o financiamento (as armas e a artilharia comprar-se-iam na América);
- juntamente com Ega, organizaria a guerrilha.
- Dâmaso:
- exemplo de covardia:
- se se desse a invasão espanhola, «raspava-se» imediatamente para Paris;
- considera ainda que toda a gente fugiria como uma lebre.
- revela grande reverência relativamente a Carlos.
4. Fim do jantar - resolução da disputa
- Ega e Alencar insultam-se mutuamente;
- fazem uso de uma linguagem escabrosa e ofensiva;
- envolvem-se numa zaragata que quase termina numa sessão de pugilato;
- acabam por fazer as «pazes à portuguesa»: reconciliação e mostras de arrependimento, com abraços e protestos de amizade;
- ou seja, esgotados os argumentos, passa-se à pessoalização das questões (= Questão Coimbrã, após as primeiras intervenções críticas; o desafio para um duelo entre Antero de Quental e Ramalho Ortigão).
5. Conclusões - o modo de ser português
1. A falta de personalidade:
- Alencar muda de opinião quando Cohen assim o pretende;
- Ega muda também de opinião quando Cohen o pretende;
- Dâmaso, cuja divisa é «Sou forte», aponta o caminho covarde da fuga.
2. A disputa Ultrarromantismo / Naturalismo, reflexo da Questão Coimbrã.
3. A falta de coragem / a covardia domina a sociedade, «... desde el-rei nosso senhor até aos cretinos de secretaria!...».
4. A falta de cultura e civismo domina as classes mais destacadas, com exceção de Carlos e de Craft.
5. O exército:
- em caso de invasão, teriam de se alugar os generais para defesa da pátria;
- a falta de disciplina dos soldados, não obstante serem «teso(s)»;
- a fraqueza física e moral («Um regimento, depois de dois dias de marcha, dava entrada em massa no hospital!»; o episódio do marujo sueco).
mto bom
ResponderEliminarMuito bom e com informação muito completa. Ajudou-me imenso num trabalho da escola.
ResponderEliminarMuito interessante, aprendi imenso xP! Mal posso esperar para começar a fazer o trabalho
ResponderEliminarComo assim mano como podes ficar feliz por fazer um trabalho?
EliminarQuem é culto e não gosta de se manter ignorante aprecia o ato de aprendizagem e tem uma sensação de realização ao fazer trabalhos e aprender. Devias experimentar, ouvi dizer que faz bem!
EliminarMuito bom pena é que o Gabriel confundiu Eça com Ega mas ta de veras interessante
ResponderEliminaruau, realmente explica bastante bem! mais um trabalho com boa nota!
ResponderEliminarfenomenal incrivel lindo maravilhoso util agradavel, alguns dos adjetivos para descrever o artigo, sem duvida uma das melhores leituras que já pousei os meus olhos sobre, um artigo que ao contrario dos seus concorrentes dispõe de boas informações e não manipula nem aproveita se das fragilidades de crianças minúsculas sem parentalidades
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