Português

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Molhada

Do uso (errado) de «portanto»

Portanto...
Quando uma aluna da minha professora de português do então 5° ano do liceu começava a resposta com "portanto", como na altura era moda na linguagem juvenil, era certo que desencadeava uma tempestade. Ainda me dá vontade de rir quando me lembro do teatro que ela fazia, arregalava os olhos como se tivesse visto um fantasma, levava as mãos ao cabelo e arrepelava-os de pavor, puxava do lenço branco que trazia no bolso e assoava-se ruidosamente como se lhe tivesse entrado um cheiro tóxico pelas narinas. Isto durava um bom bocado e o silêncio na aula era terrível, a temer a borrasca a cair sobre a desgraçada do portanto. Seguia-se o sermão. Portanto??? Ó parvoinha, ó tolinha, então ainda não raciocinaste e já estás a usar uma conjunção coordenativa conclusiva? Estás a coordenar o quê, disparates ou sabedoria? Queres fingir que sabes do que estás a falar, julgas que me enganas? Em vez de estudar e de aprender a usar os miolos decoraste as coisas e vens para aqui fingir que sabes do que falas? Explicava depois, já mais calma, que primeiro é preciso explicar os elementos em que se baseia o raciocínio, o que mostra que as pessoas estudaram o assunto e perceberam-no em vez de andar "à pesca", como ela dizia. Se essas premissas estivessem erradas, bem podíamos usar os portantos todos que não havia anjo protector para nos defender da asneira final. E ela considerava ofensivo que se começasse pelo "portanto", não era só um erro de construção da frase -o que já seria gravíssimo - ela ensinava que era uma questão de respeito pela inteligência e boa fé dos outros, porque se não pudessem avaliar o ponto de partida tinham que seguir a conclusão sem saberem se estava certa ou errada. Um dos exemplos que dava para ilustrar as consequências nefastas desta organização do discurso era poder esconder preconceitos, ideias feitas que levavam a conclusões sem permitir escrutinar os seus fundamentos. Apontava uma aluna com uma elaborada trança no cabelo e dizia, à queima roupa, "portanto, tu só te preocupas com os penteados", e todos sabiam que essa era uma boa aluna e que era injusto ela concluir pela avaliação superficial; ou mostrava à turma uma lancheira debaixo do tampo de uma carteira e acusava " portanto acordaste tarde e não tiveste tempo de tomar o pequeno almoço"  e todos sabiam que a menina vinha de longe e se levantava de madrugada, claro que teria fome antes da hora da saída das aulas. E por aí fora. Ela ensinou-nos a ser exigente na avaliação dos argumentos, a desconfiar de quem apresenta ou adere a conclusões sem se preocupar em saber se as razões resultam da ignorância disfarçada ou da má fé, para chegar ao "portanto".
Hoje, se olharmos à nossa volta, há um recurso sistemático aos "portanto" para início de conversa, começa-se sempre pela afirmação peremptória e, quando se vai ver o raciocíonio e as suas premissas, por mais duvidosas ou incertas que sejam, já todos assumiram a conclusão. A minha professora de português, se fosse viva, teria um colapso nervoso. Arrepelaria os cabelos, invectivando este mundo de enganos. E não haveria lenços capazes de a proteger da corrosão ácida das conclusões mal pensadas.

(c) Suzana Toscano, in Quarta República

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Quantificador existencial

1. Definição

                O quantificador existencial é aquele que especifica o nome que antecede, com o qual concorda em género, indicando uma quantidade imprecisa dos elementos do conjunto designado pelo nome.
                O quantificador existencial introduz uma noção de existência e de quantidade, remetendo não para a totalidade mas para uma parte dos elementos de um conjunto, de modo impreciso em relação à sua quantidade.

1.1. Formas

Quantificadores existenciais
Singular
Plural
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
algum
alguma
alguns
algumas
muito
muita
muitos
muitas
pouco
pouca
poucos
poucas
tanto
tanta
tantos
tantas
‑‑‑‑‑
‑‑‑‑‑
vários
várias
bastante
bastantes

Quantificador universal

1. Definição

                O quantificador universal é aquele que antecede o nome, especificando quantitativamente todos os elementos do conjunto designado pelo nome, isto é, é aquele que refere todos os elementos de um conjunto, incluindo-os(1) ou excluindo-os(2):
(1) Todos os alunos obtiveram positiva.
(2) Nenhum aluno obteve positiva.


1.1. Formas

Quantificadores universais
Variáveis
Invariáveis
Singular
Plural
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino


tudo
nada
cada
todo
toda
todos
todas
qualquer
qualquer
quaisquer
quaisquer
nenhum
nenhuma
nenhuns
nenhumas


ambos
ambas

. Os quantificadores «todo» e «ambos» são sempre seguidos de um artigo definido ou de um determinante demonstrativo ou possessivo:
Ambos os futebolistas foram expulsos.
Todos os meus textos transpiram genialidade.

. Em determinados contextos, a palavra «qualquer» tem valor indefinido e não universal:
O João disse qualquer coisa à Joana.

. «Tudo» e «nada» ocorrem como quantificadores, antecedendo pronomes demonstrativos em construções como as seguintes:
Tudo isto é nojento.
O Benfica gastou milhões de euros em aquisições e está a lutar para não descer de divisão: nada disto faz sentido.
Tudo isto é chover no molhado.


Bibliografia:
     - Dicionário Terminológico;
     - Domínios, Zacarias Nascimento e Maria Lopes.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Insucesso Escolar

Henricartoon

Quantificador: definição

                O quantificador é a palavra que, geralmente, antecede o nome, atribuindo-lhe informações sobre o número, a quantidade ou parte do seu referente (isto é, a parte do que é designado por esse nome).
                Os traços acima referidos aproximam o quantificador do determinante, que diferem, porém, pelo facto de
. os quantificadores não poderem ocorrer em construções de «deslocação à esquerda clítica»:
- Eu reprovei todos os alunos da turma C.
- * Todos os alunos da turma C, eu reprovei-os.
. os determinantes podem ocorrer nesse tipo de construções:
- Comprei aqueles ténis na feira.
- Aqueles ténis, comprei-os na feirai
                Neste tipo de construções, o complemento (direto ou indireto) ocorre no início da frase, sendo retomado pelo pronome pessoal átono ou clítico), como se pode verificar pelos exemplos apresentados.
                Por outro lado, o quantificador «todo» pode ser seguido de um pronome pessoal: «Todos nós cantámos a cana verde após o jantar.».

Bibliografia:
     - Dicionário Terminológico;
     - Gramática da Língua Portuguesa, Clara Amorim e Catarina Sousa;
     - Da Comunicação à Expressão, Olga Azeredo et alii.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Da ignorância em estado puro


Palavras variáveis e invariáveis

     Palavras variáveis são aquelas que são flexionadas (em número, por exemplo), isto é, que sofrem alterações da sua forma. É o caso dos nomes, adjetivos, pronomes, determinantes, quantificadores e verbos:
               - cão - cães
               - lhe - lhes

     Palavras invariáveis são aquelas que não são flexionadas, ou seja, que não sofrem alterações. É o caso dos advérbios, das conjunções, das preposições e das interjeições.
               - ai!
               - mais
               - para
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