. Assunto: o trovador descreve o encontro
com uma pastora e o diálogo que, a medo, estabelece com ela, que deixa
transparecer a preocupação dela com a sua honra.
. Tema: a declaração amorosa de um cavaleiro à pastora, que recusa.
. Estrutura interna
. 1.ª parte (1.ª estr.) - Momento narrativo inicial que descreve a
posição solitária da pastora, afastada dos demais, e que é observada por um
cavaleiro, e que situa a ação no espaço e no tempo.
. 2.ª parte (2.ª estr.) - Momento descritivo do ambiente
envolvente, onde se destaca o canto das aves, que não fazem sentir outra coisa
que não seja amor a quem o escutar.
. 3.ª parte (3.ª estr.) - Diálogo iniciado pelo cavaleiro que, a
medo, ousa pedir à pastora que o escute. Ele aborda-a com o intuito de obter os
seus favores amorosos e dirige-se-lhe em termos corteses.
. 4.ª parte (4.ª estr.) - A resposta da donzela é negativa e
crítica do comportamento do cavaleiro. Embora este seja representante de uma
classe social mais elevada, é a pastora que revela um comportamento mesurado e
cortês, pois preocupa-se com a sua honra: quem os ali vir pode pensar que o encontro
foi combinado e não fortuito.
. Elementos narrativos do poema
1. Acção:
. encontro de
um cavaleiro com uma pastora, a quem ele aborda com o intuito de obter os seus
favores amorosos, mas ela recusa, preocupada com a sua honra e com o que os
outros poderão pensar se os virem ali a conversar.
2. Personagens:
3. Espaço:
NOTA:
A descrição
das flores de maio, da brisa da primavera, do cantar malicioso das aves, a
sugerirem um ambiente propício ao relacionamento amoroso, são motivos comuns à
lírica cortês occitânica / provençal.
D. Dinis, embora
respeite e admire os trovadores provençais, critica o convencionalismo deste
quadro primaveril do amor provençal (mais idílico que no cantar de amigo).
Mas o enquadramento da
relação amorosa na primavera tem uma relação lógica: se o cantar de amor é um
agradecimento pela possibilidade do trovador experimentar uma sensação /
sentimento que provoca o rejuvenescimento, a primavera é a estação mais
adequada, pois é nela que a natureza rejuvenesce. Por isso se associa o canto
dos pássaros ao do trovador.
4. Tempo:
. manhã / alvorada
("quando saia la raia do sol").
. Classificação:
Esta cantiga é uma pastorela, "género" de origem provençal
(foi inaugurada por Marcabrú), que não foi muito cultivada pelos trovadores
galego-portugueses.
. Hibridismo
A pastorela é
muito difícil de classificar ou incluir num dos géneros mais conhecidos, porque
apresenta características próprias do cantar de amor e do cantar de amigo. Daí
a constante oscilação por parte dos estudiosos.
Vejamos alguns
itens onde esse hibridismo é evidente.
1. Linguagem: linguagem concretizante, com
referência a topónimos (Crexente, rio
Sar), embora haja vestígios de uma linguagem própria do cantar de amor ("mia
senhor" / mesura") mais convencional e abstractizante.
2. Origem: é de origem provençal como a
cantiga de amor e foi pouco praticada na Península, ao contrário da cantiga de
amigo, mais ligada à tradição popular.
3. Forma: cantiga de mestria, mais comum
no género da cantiga de amor que na cantiga de amigo.
4. Estrutura interna: apresenta uma estrutura narrativa
e dialógica, o que permite uma maior dramatização. Aproxima-se mais da cantiga
de amigo, devido à sua estrutura oralizante, pois a cantiga de amor coloca-se
num plano mais elevado.
5. Estatuto das
personagens:
representantes dos dois pólos da pirâmide social: uma pastora, representante do
povo (tal como na cantiga de amigo) e um cavaleiro, representante da
aristocracia feudal (cantiga de amor). Aqui, no entanto, é a personagem de
estatuto social inferior que revela comportamentos/sentimentos próprios da dama
da cantiga de amor: mesura e preocupação pela sua reputação.
6. Espaço: todos os elementos são colocados
de forma a construírem um cenário, daí a pastorela ser dotada de uma nitidez
descritiva que nos afasta da paisagem sugestiva, mas campestre, ao contrário da
cantiga de amor, inserida num ambiente palaciano/cortês.
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