1. TIPOS DE TEXTOS
Partindo
do conceito de texto como sendo um conjunto
de palavras que formam um sentido relacionado a um contexto, podemos
dividir os textos em dois grandes grupos: os textos literários e os textos
não literários.
Por que
fazemos essa distinção? Para estudar os tipos de textos existentes em nossa
sociedade, é importante compreender como podemos usá-los a fim de tornar nossa
comunicação mais clara e aproveitarmos melhor a variedade de textos que temos a
nosso dispor.
Para
isso, foi feita a distribuição dos textos por esses dois grupos. Isso equivale
a dizer que a maioria dos textos que existem podem ser colocados em um desses
grupos.
Os textos literários são aqueles que
possuem função estética, destinam-se ao entretenimento,
ao belo, à arte, à ficção. Já os não
literários são os textos com função utilitária, pois servem para informar, convencer, explicar,
ordenar.
Observe
os exemplos a seguir.
Textos
literários e textos não literários
(Texto 1) Descuidar
do lixo é sujeira
“Diariamente, duas horas antes da chegada do
caminhão da prefeitura, a gerência de uma das filiais do McDonald’s deposita na
calçada dezenas de sacos plásticos recheados de papelão, isopor, restos de
sanduíches. Isso acaba propiciando um lamentável banquete de mendigos. Dezenas
deles vão ali revirar o material e acabam deixando os restos espalhados pelo
calçadão.” (Veja São Paulo,
23-29/12/92)
O
primeiro texto – "Descuidar do lixo é sujeira" – se propõe a dar uma
informação sobre o lixo despejado nas calçadas, bem como o que acontece com ele
antes de o caminhão do lixo passar para recolhê-lo. É um texto informativo e,
portanto, não literário.
O texto
não literário apresenta linguagem
objetiva, clara, concisa, e pretende informar o leitor de determinado assunto.
Para isso, quanto mais simples for o vocabulário e mais objetiva for a
informação, mais fácil se dará a compreensão do conteúdo: foco do texto não
literário.
São exemplos de textos não literários: as notícias, os artigos jornalísticos,
os textos didáticos, os verbetes de dicionários e
enciclopédias, as propagandas publicitárias, os textos científicos, as receitas culinárias, os manuais,
etc.
(Texto 2) O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Manuel Bandeira. Em Seleta
em prosa e verso.
Rio de Janeiro: J. Olympio/MEC, 1971, p.145)
O segundo
texto – “O bicho” – é um poema.
Sabemos disso principalmente por sua forma. O poema é construído em versos e
estrofes e apresenta uma linguagem carregada de significados, ao que chamamos
de plurissignificação. Cada palavra pode apresentar um sentido diferente
daquele que lhe é comum.
No
texto literário, a expressividade é
o mais importante. O conteúdo, nesse caso, fica em segundo plano. O vocabulário
bem selecionado transmite sensibilidade ao leitor. O texto é rico de simbologia
e de beleza artística.
Podemos
citar como exemplos de textos
literários o conto, o poema, o romance, peças de teatro,
novelas e crônicas.
2. ANÁLISE DOS TEXTOS
Os dois
textos apresentam temática semelhante: pessoas que reviram o lixo em busca de
comida. No entanto, o primeiro texto procura ressaltar o transtorno que causam
os mendigos por deixarem o lixo esparramado pelo chão. A notícia procura
denunciar dois fatos: o restaurante que deixa seu lixo na calçada com
antecedência de duas horas, e a sujeira espalhada nas calçadas pelos mendigos
que reviram o lixo.
A única
palavra nesse texto que pode denotar algum tipo de sentimentalismo do autor é
“lamentável”. No entanto, ela perde sua carga significativa ao acompanhar a
palavra “banquete”, revelando que o autor da notícia, na verdade, não está
preocupado com as pessoas que se alimentam do lixo, mas com a sujeira causada
pelo tal banquete.
O
título do texto também nos faz pensar: “Descuidar do lixo é sujeira”. Sujeira,
no sentido de os mendigos deixarem tudo espalhado pela calçada, dificultando a
limpeza das ruas; sujeira, no sentido de não ser uma atitude correta a falta de
preocupação com o tempo que o lixo ficará na rua à espera do caminhão que irá
recolhê-lo. De qualquer forma, o autor só demonstra preocupação com o lixo e a
sujeira e não com a fome dos mendigos.
Já o
segundo texto apresenta preocupação com a forma: é um poema. A escolha das
palavras e o suspense que causa no leitor levam a uma progressão de sentido que
culmina com a revelação de que o bicho é um homem. O poema retrata a condição
degradante a que um homem pode chegar quando atinge o ápice da miséria.
O poeta
mostra sua indignação com o fato de um homem se assemelhar a um bicho por
buscar comida no lixo. Compara-o aos animais que têm por hábito revirar latas
de lixo: cachorro, gato e rato. No último verso, declara sua inconformidade com
o vocativo “meu Deus”, demonstrando sua emoção com a revelação de que o bicho
era um homem, ou seja, o poeta não admite que um homem possa se comportar como
um bicho.
Ao
lermos o poema, a carga emotiva das palavras escolhidas pelo poeta é
transmitida para nós. Aí está a diferença fundamental entre um texto literário
e um texto não literário: a expressividade.
3. EXERCÍCIO
(UERJ – 2012)
SOBRE A
ORIGEM DA POESIA
“A
origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem.
Talvez
fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia.
Ou: qual a origem do discurso não poético, já que, restituindo laços mais
íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, a poesia aponta para
um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua
ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões,
discursos, ensaios ou telefonemas [...]
No seu
estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam nossa relação com as
coisas, impedindo nosso contato direto com elas. A linguagem poética inverte
essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de
acesso sensível mais direto entre nós e o mundo [...]
Já
perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se desapegaram
das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação
se desapegou da vida. Mas temos esses pequenos oásis – os poemas – contaminando
o deserto de referencialidade.
ARNALDO ANTUNES
No
último parágrafo, o autor se refere à plenitude da linguagem poética, fazendo,
em seguida, uma descrição que corresponde à linguagem não poética, ou seja, à
linguagem referencial.
Pela
descrição apresentada, a linguagem referencial teria, em sua origem, o seguinte
traço fundamental:
a) O desgaste da intuição
b) A dissolução da memória
c) A fragmentação da experiência
d) O enfraquecimento da
percepção
Resolução
A opção
c) é correta, uma vez que a linguagem literária afasta-se das praticidades
cotidianas. Isso significa afastar-se do referente, da linguagem do cotidiano.
O original pode ser consultado aqui:
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