Português

sábado, 26 de julho de 2025

Classes e subclasses de palavras (1)

1. Lê o seguinte excerto.
 
Deambulações e pensamentos ...

               – Amo, pelas tardes demoradas de verão, o sossego da cidade baixa, e sobretudo aquele sossego que o contraste acentua na parte que o dia mergulha em mais bulício. A Rua do Arsenal, a Rua da Alfândega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para leste desde que a da Alfândega cessa, toda a linha separada dos cais quedos tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas tardes, na solidão do seu conjunto. Vivo uma era anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele. Por ali arrasto, até haver noite, uma sensação de vida parecida com a dessas ruas. De dia elas são cheias de um bulício que não quer dizer nada; de noite são cheias de uma falta de bulício que não quer dizer nada. Eu de dia sou nulo, e de noite sou eu. Não diferença entre mim e as ruas para o lado da Alfândega, salvo elas serem ruas e eu ser alma, o que pode ser que nada valha, ante o que é a essência das coisas. um destino igual, porque é abstrato, para os homens e para as coisas designação igualmente indiferente na álgebra do mistério.

         Mas há mais alguma coisa... Nessas horas lentas e vazias, sobe-me da alma à mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa externa, que não está em meu poder alterar. Ah, quantas vezes os meus próprios sonhos se me erguem em coisas, não para me substituírem a realidade, mas para me confessarem seus pares em eu os não querer, em me surgirem de fora, como o elétrico que dá a volta na curva extrema da rua, ou a voz do apregoador noturno, de não sei que coisa, que se destaca, toada árabe, como um repuxo súbito, da monotonia do entardecer!
Bernardo Soares, Livro do Desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa
(ed. Richard Zenith), 7. ª ed., Lisboa, Assírio & Alvim, 2014, pp. 41-42

 

1.1. Identifica as classes e as subclasses das palavras presentes nas seguintes tabelas.
 

Palavras

Classe

Subclasse

 

Palavras

Classe

Subclasse

«tardes» (l. 1)

 

 

 

«De dia» (ll. 7-8)

 

 

«sobretudo» (l. 1)

 

 

 

«um» (l. 8)

 

 

«aquele» (l. 1)

 

 

 

«que» (l. 8)

 

 

«mais» (l. 2)

 

 

 

«Eu» (l. 9)

 

 

«se» (l. 3)

 

 

 

«nulo» (l. 9)

 

 

«desde» (1l. 3)

 

 

 

«Não» (l. 9)

 

 

«a» (l. 3)

 

 

 

«entre» (l. 9)

 

 

«Alfândega» (l. 3)

 

 

 

«o» (l. 10)

 

 

«quedos» (l. 4)

 

 

 

«salvo» (l. 10)

 

 

«me»(l.4)

 

 

 

«ante» (l. 10)

 

 

«se» (l. 4)

 

 

 

«porque» (l. 11)

 

 

«essas» (l. 4)

 

 

 

«abstrato» (l. 11)

 

 

«seu» (l. 5)

 

 

 

«tudo» (l. 14)

 

 

«àquela» (l. 5)

 

 

 

«e» (l. 14)

 

 

«coevo» (l. 5)

 

 

 

«Ah» (l. 15)

 

 

«mim»(l.6)

 

 

 

«os» (l. 16)

 

 

«outros» (l. 6)

 

 

 

«de fora» (l. 17)

 

 

«como» (l. 6)

 

 

 

«ou» (l. 17)

 

 

«ali» (l 7)

 

 

 

«entardecer» (l. 18)

 

 


2. Associa as formas verbais da coluna A à respetiva subclasse da coluna B.

 

A

B

a) «Amo»(l. 1)

1. 1ntransitivo

b) «cessa» (l. 3)

2. Transitivo direto.

c) «insiro» (l. 4)

3. Transitivo indireto.

d) «sentir» (l. 5)

4. Transitivo direto e indireto.

e) «serem» (l.10)

5. Transitivo predicativo.

f) «substituírem»(1. 16)

6. Copulativo

 

2.1.   Classifica os verbos auxiliares dos complexos verbais presentes nas seguintes frases:

a)   Bernardo  Soares tinha deambulado  pela cidade baixa. ................................................

b)   Continuou  a  percorrer  as  ruas  tristes. ......................................................................

c)   A realidade nunca será substituída  pelos sonhos. ............................................................

d)   Soares não pode alterar  a tristeza que o invade. ..........................................................

e)   A realidade  circundante    de fasciná-lo  eternamente. ................................................

 
2.2. Indica o tempo e o modo dos complexos verbais. .............................................................................
 
3. Indica a classe e a subclasse dos vocábulos relativos presentes nas seguintes frases:

a)  O excerto pertence ao Livro do Desassossego, cujo autor é Bernardo Soares.

...........................................................................................................................................................

 

b)  O enunciador, que percorre a cidade de Lisboa, tece várias considerações.

.............................................................................................................................................................

 

e) As reflexões surgem a partir de locais da cidade de Lisboa por onde deambula.

............................................................................................................................................................

 

            d)  quem pense que Bernardo Soares é uma figura real.

............................................................................................................................................................

 

e)   O Livro do Desassossego, do qual muito me falaram, é realmente composto por fragmentos.

............................................................................................................................................................

 

3.1. Indica os antecedentes dos relativos presentes nas alíneas a), b), e) e e).

..............................................................................................................................................................

 

4. Reescreve as seguintes frases, substituindo a expressão destacada por um pronome.

a)  Os sonhos surgem de fora a Bernardo Soares.

...............................................................................................................................................

 
b)  Podemos dispor livremente os fragmentos do Livro do Desassossego.

...............................................................................................................................................

 
e) Quando puder, lerei este excerto do livro à minha mãe.

................................................................................................................................................

 
d)    Temos lido vários fragmentos da obra.

................................................................................................................................................

 
e)   Na próxima aula, leremos um novo fragmento.

................................................................................................................................................

 
f)    Relatar-vos-ei a deambulação de Bernardo Soares.

................................................................................................................................................

 

5. Indica se o valor do pronome pessoal «se», presente nas seguintes frases, é reflexo, recíproco, inerente, impessoal ou passivo.

a)  Atualmente, lê-se muito pouco. ...............................................................................................

b)  Bernardo Soares goza de sentir-se coevo de Cesário Verde. ...................................................

e) Salientam-se os heterónimos pessoanos e não o semi-heterónimo. ......................................

d)  Se Pessoa e Soares se encontrassem, decerto que se cumprimentariam. ................................

e)   Viu-se absorto e perdido nos seus próprios pensamentos. .........................................................

 

5.1. Completa as afirmações que se seguem com os valores utilizados anteriormente:

a)    o pronome pessoal surge sem pessoa gramatical, quando apresenta os valores

..................................................................................................................................................

 

b)    o pronome pessoal surge com as várias pessoas gramaticais, quando ocorre com os valores

..................................................................................................................................................

 
e) o pronome pessoal surge somente com sujeitos plurais ou com sujeitos constituídos por grupos nominais coordenados, quando apresenta o valor

..................................................................................................................................................

 
5.2. Comprova o valor passivo do pronome pessoal «se», colocando a(s) respetiva(s) frase(s) na voz passiva.

..........................................................................................................................................................

 
5.2    Indica as alíneas que apresentam frases em que:

a)    o «se» exprime um sujeito indeterminado, parafraseável por «há pessoas que»; «há quem» ou «alguém».

..........................................................................................................................................................

 

b)    o «se» indica que uma única entidade é simultaneamente agente e paciente da ação expressa pelo verbo, ao qual se pode juntar as expressões «a si» e «a si próprio/mesmo».

........................................................................................................................................................

 
6.     Refere a classe e a subclasse dos constituintes destacados.

a)  Soares subiu por ali, pois algo o impeliu. .............................................................................................

b)  Deambulava vagarosamente para apreciar o que via. ...............................................................................

e) O seu escritório ficava perto daquele lugar. .......................................................................................

d) Os sonhos surgiam-lhe de dia, insistentemente. .................................................................................

 

* * * * *

Correção
 

1.

«tardes»: nome/ comum;

«sobretudo»: advérbio/ modo;

«aquele»: determinante / demonstrativo;

«mais»: advérbio / quantidade e grau;

«se»: pronome / pessoal (inerente);

«desde»: preposição;

«a»: pronome/ pessoal;

«Alfândega»: nome/ próprio;

«quedas»: adjetivo/qualificativo;

«me»: pronome/ pessoal;

«se»: conjunção/ subordinativa condicional;

«essas»: determinante/ demonstrativo;

«seu»: determinante/ possessivo;

«àquela»: pronome/ demonstrativo (forma contraída);

«coevo»: adjetivo/ qualificativo;

«mim»: pronome/ pessoal;

«outros»: determinante/ indefinido;

«como»: conjunção / subordinativa comparativa;

«ali»: advérbio / lugar;

«De dia»: locução adverbial/ tempo;

«um»: determinante/ artigo indefinido;

«que»: pronome/ relativo;

«Eu»: pronome/ pessoal;

«nulo»: adjetivo/ qualificativo;

«Não»: advérbio/ negação;

«entre»: preposição;

«o»: determinante/ artigo definido;

«salvo»: advérbio/ exclusão;

«ante»: preposição;

«porque»: conjunção/subordinativa causal;

«abstrato»: adjetivo/ qualificativo;

«tudo»: pronome/ indefinido;

«e»: conjunção/ coordenativa copulativa;

«Ah»: interjeição;

«os»: pronome/ pessoal;

«de fora»: locução adverbial/ lugar;

«ou»: conjunção/ coordenativa disjuntiva;

«entardecer»: nome/ comum.

 

2.

a) 2

b) 1

c) 3

d) 5

e) 6

f) 4

 

2.1.

a) «tinha»: auxiliar do tempo composto;

b) «Continuou»: auxiliar aspetual;

c) «será»: auxiliar da passiva;

d) «pode»: auxiliar modal;

e) «há (de)»: auxiliar temporal.

 

2.2.

a) Pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo;

b) Pretérito perfeito do indicativo;

c) Futuro do indicativo;

d) Presente do indicativo;

e) Presente do indicativo.

 

3.

a) «cujo»: determinante relativo;

b) «que»: pronome relativo;

c) «onde»: advérbio relativo;

d) «quem»: pronome relativo;

e) «(d)o qual»: pronome relativo.

 

3.1.

a) «(o) Livro do Desassossego»;

 b) «O enunciador»;

c) «(d)a cidade de Lisboa»;

d) sem antecedente;

e) «O Livro do Desassossego».

 

4.

a) Os sonhos surgem-lhe de fora;

b) Podemos dispô-los livremente;

c) Quando puder, ler-lho-ei;

d) Temo-los lido;

e) Na próxima aula, lê-lo-emos;

f) Relatar-vo-la-ei.

 

5.

a) Valor impessoal;

b) Valor inerente;

c) Valor passivo;

d) Valor recíproco;

e) Valor reflexo.

 

5.1.

a) impessoal e passivo;

b) inerente e reflexo;

c) recíproco.

 

5.2. Os heterónimos pessoanos são salientados e não o semi-heterónimo.

 

5.3.

a) alínea a);

b) alínea e).

 

6.

a) Locução adverbial de lugar;

b) Advérbio de modo;

c) Advérbio de lugar;

d) Locução adverbial de tempo.

 

Títulos

1.      Um título deve ter um aspeto, uma forma diferente do texto corrido, para deixar clara a sua estrutura. Um título de secção, por exemplo, pode ser numerado e ser indicado num tipo de letra maior ou negrito ou, então, uma combinação destes elementos.
 
2.      Quando se divide um texto, deve usar-se um sistema coerente ao longo do texto, sendo que o número dos capítulos e das secções, por exemplo, deve distinguir-se pelo tamanho da letra.

3.      Por regra, um título de secção não é pontuado, exceto se terminar por um ponto de interrogação ou um ponto de exclamação.
 
4.      Por outro lado, as maiúsculas de um título interno seguem as regras habituais, em contraste com o título de uma obra ou publicação.

. Caminhos da inclusão: estratégias transformadoras na Educação Especial [título de uma secção].

. Caminhos da Inclusão: Estratégias Transformadoras na Educação Especial [título de uma obra].

Espaço em branco

1.     Além de usarmos um espaço para separar as palavras, utilizamos também o espaço em branco noutras partes do texto:
. nas margens do texto;
. no início ou antes de cada parágrafo;
. entre seções do texto;
. em redor de títulos...

Quer isto dizer que o espaço não define unicamente a fronteira da palavra, antes define também a fronteira dos parágrafos e do próprio texto. Por outro lado, o espaço em branco auxilia imenso a leitura, torna o texto menos espesse, mais leve ao olhar, à perceção.


2.      No caso do espaço à volta do texto, à volta dos títulos e à volta das secções, não existem regras estabelecidas para o seu uso, apenas hábitos.

i) Num livro, os parágrafos habitualmente não possuem linhas entre si, contudo possuem avanços no início (com diversas exceções). Os capítulos começam com uma nova página.

ii) Num relatório, por sua vez, as secções são criadas com quebras de página.

iii) Num texto publicado em linha, não é aconselhável usar o avanço no início dos parágrafos, dado que é menos flexível nas mudanças de disposição do texto em diferentes ecrãs ou dispositivos. Com efeito, os textos em linha devem estar preparados para aparecer tanto num pequeno ecrã de telemóvel quanto num muito maior, como o de um telemóvel.


3.      Quando lemos textos num ecrã, o espaço é muito importante, visto que normalmente não existe o avanço no início do parágrafo para auxiliar a leitura. Além disso, um ecrã é fugidio, está sempre a deslizar por entre os dedos ou ao toque do rato.

         Já no caso do papel, num texto de referência, o espaço em branco ajuda a organizar a informação que ele contém.


4.      A linha em branco entre secções é acompanhada, por vezes, por um sinal de corte, como, por exemplo, um asterisco.

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Os espaços entre palavras

1.         Na opinião do professor Marco Neves, o espaço entre palavras constitui o primeiro elemento do sistema de pontuação.

 

2.         Mais: acrescenta que «o espaço, a vírgula e o ponto são os três sinais» de pontuação fundamentais em diferentes níveis:

i) o espaço separa as palavras;

ii) a vírgula separa alguns constituintes da frase;

iii) o ponto separa as frases.

 

3.         O espaço concorre com o hífen e a ausência de sinal, o que faz com que, em determinadas circunstâncias, tenhamos de decidir qual deles usamos, ou seja, um espaço, um hífen ou nada. É o caso do seguinte exemplo:

. água ardente (água que arde – uma água muito quente ou com propriedades que causam ardor);

. água-ardente (forma arcaica da palavra «aguardente», que designa uma bebida alcoólica destilada, como, por exemplo, a cachaça);

. aguardente (palavra que designa uma bebida alcoólica obtida através da destilação, como, por exemplo, a cachaça, o brandy ou o rum).

Esta sucessão marca uma ligação cada vez maior entre as duas partes (aguardente provém do latim aqua ardens, isto é, «água que arde», e originou aguardente, vocábulo que indica a sensação de queimar ao ser bebida). No primeiro caso, os dois sentidos estão bem delimitados (água ardente),mas, no segundo, os dois conceitos criam um novo conceito, sem que desapareçam os dois conceitos originais, enquanto, no terceiro, a palavra é usada sem necessariamente se pensar no sentido das duas partes que a constituem.

Por outro lado, em termos fonéticos, a separação através do espaço e do hífen implica uma acentuação diferente das duas partes («água» é uma palavra esdrúxula, isto é, acentuada na antepenúltima sílaba, ao passo que «ardente» é grave, ou seja, acentuada na penúltima), enquanto a junção das duas palavras numa só dá origem à criação de uma palavra com uma só sílaba tónica («aguardente» é grave: a sílaba acentuada é «den»).

 

4.         A separação de palavras através do espaço é uma convenção dependente do uso. Por exemplo, seria perfeitamente possível fazer da expressão «com certeza» uma única palavra: «concerteza». Tanto é assim que é frequente encontrar pessoas que usam a segunda forma, que, na verdade, não existe, é um erro.

 

5.         Usa-se um espaço a seguir a cada sinal de pontuação, mas nunca antes.

No caso do ponto, do ponto de interrogação e do ponto de exclamação, além do espaço a seguir, como são sinais que finalizam uma frase, implicam o uso de maiúscula inicial na palavra seguinte:

. Acabei a frase. Vou começar uma nova.

. Que dia é hoje? Sexta-feira.

. Está um vento frio durante a noite! Que horror!

 

6.         No caso da vírgula, dos dois pontos e do ponto e vírgula, usa-se igualmente o espaço a seguir a cada um destes sinais, porém, como a frase não termina, usa-se minúscula a seguir:

. Está frio, mas vou vestir calções.

. A informação é a seguinte: acabou a guerra na Ucrânia.

. Esta é uma frase; aquela é outra.

 

7.         Quanto aos parênteses e às aspas, sinais que são usados sempre as pares nas frases, devemos usar um espaço antes do primeiro sinal e outro espaço depois do último sinal(1), exceto se forem seguidos de outro sinal que não seja o travessão(2):

(1) O meu tio (falecido em 2022) chamava-se João.

(2) Vais levar uma palmada no bumbum (ou não).

 

8.         Relativamente ao travessão, usa-se sempre um espaço antes e outro depois:

. A professora Cíntia Chagas dedicou-se aos alunos com alma e coração – uma verdadeira inspiração para todos.

 

Classificação dos sinais de escrita

    O tristemente celebérrimo Dicionário Terminológico (http://dt.dge.mec.pt/) divide os sinais de escrita da seguinte forma:

o alfabeto (A, B, C...);

os acentos gráficos (agudo, grave e esdrúxulo);

os sinais diacríticos (til, cedilha e trema);

os sinais gráficos (hífen e apóstrofo);

os sinais auxiliares de escrita (parênteses curvos, parênteses retos, aspas altas, aspas baixas, asterisco, cardinal, barra oblíqua e chaveta);

os sinais de pontuação (ponto, ponto de interrogação, ponto de exclamação, dois pontos, vírgula, ponto e vírgula, reticências e travessão).
 

Função da pontuação

1.ª)        A pontuação ajuda a ler.

De acordo com Marco Neves (Pontuação em Português, Guerra & Paz, pp. 17 ss.):

como sistema fonético, a pontuação ajuda a ler em voz alta, isto é, auxilia a entoar o texto;

como sistema gramatical, ajuda a ler em voz baixa, ou seja, auxilia a compreensão do texto;

como sistema pragmático.

Atualmente, a pontuação é usada sobretudo como sistema gramatical e pragmático, com resquícios da lógica fonética. Apesar de, inequivocamente, ajudar a ler em voz alta (por exemplo, a entoar uma interrogação ou uma exclamação), a pontuação segue em grande medida uma lógica gramatical.

O que é que significa a última informação? Por exemplo, diz a gramática que o sujeito não se separa por vírgula do predicado, daí que, quando lemos em voz alta e fazemos uma pausa a seguir a um sujeito longo, na escrita não inserimos aí uma vírgula, porque tal é gramaticalmente incorreto. Quer isto dizer que a vírgula pode ser entendida como uma pausa, porém essa não é a sua função principal, antes a de tornar mais clara a estrutura da frase.

 

2.ª)        A pontuação ajuda igualmente a escrever.

Por exemplo, quando escrevemos, a necessidade de pontuar o texto leva aquele que escreve a pensar na sua divisão em parágrafos, na estrutura que vai dar à frase, no que vai escrever e como o vai fazer, etc.

 

3.ª)        A pontuação é um sistema.

Quer isto dizer que os sinais podem ser usados de modo diverso e com efeitos diferentes. Por exemplo, quando queremos isolar uma expressão / oração intercalada na frase, podemos usar a vírgula, o travessão ou os parênteses. Por outro lado, a pontuação serve-se das diferenças entre os vários sinais. Em certos casos, somos obrigados a usar um determinado sinal de pontuação; noutros podemos socorrer-nos de vários, com efeitos diferentes, além de haver outros que suscitam dúvidas sobre que sinal usar.

 

4.ª)        Mas palavras do professor Marco Neves, “A pontuação é um sistema ligado a cada tradição linguística, por vezes com diferenças entre diferentes países que usam a mesma língua”. Além disso, a pontuação vai variando ao longo do tempo e, por outro lado, “um sistema pessoalíssimo”. Por exemplo, José Saramago, na vasta maioria da sua obra, faz um uso da pontuação bem diferente do comum dos portugueses que escreve com o mínimo de correção. Ora, quando cada pessoa escreve, cria uma «voz própria», aquilo que chamamos estilo.

Foco do narrador de O Cortiço

    Para dar apoio a teoria cientificista, os autores naturalistas criaram narradores oniscientes impassíveis, do tipo que pode ver tudo e por todos os ângulos. Nas suas obras as descrições são precisas e minuciosas, frias e fiéis aos aspetos exteriores. As personagens são vistas de fora para dentro, como casos a estudar. Não há aprofundamento psicológico, e o que interessa são as ações exteriores e não os meandros da consciência. O narrador de O cortiço esta em terceira pessoa, e onisciente, mas não deixa de fazer intromissões constantes na narrativa: E [Miranda] pôs-se a passear no quarto sem vontade de dormir, sentindo que a febre daquela inveja lhe estorricava os miolos. Feliz e esperto era o João Romão! Esse, sim, senhor! Para esse e que havia de ser a vida!... Filho da mãe, que estava hoje tao livre e desembaraçado como no dia em que chegou da terra sem um vintém de seu! Esse, sim, que era moco e podia ainda gozar muito[...] (AZEVEDO, 2004, p. 29, grifo nosso). Aqui, o narrador utiliza o discurso indireto livre sem as marcas dos travessões e a presença de verbos dicendi para julgar o comportamento de Miranda, o dono do sobrado ao lado do cortiço de João Romão, isto é, o narrador tem total acesso ao pensamento dos personagens sem se envolver com eles, o que lhe possibilita analisar, observar, distanciar-se do objeto em estudo e revelar dos fatos uma impressão de realidade. A linguagem de O cortiço e afinada com o estilo naturalista, ou seja, simples, e apresenta o ambiente físico e social detalhadamente, como se o narrador estivesse munido de uma 16 máquina fotográfica, que lhe permitisse compor e decompor os detalhes de cada cena, pretendendo retratar de maneira fiel a realidade focalizada. O cortiço é tornado pelo narrador como o protagonista do romance, tratando de caracteriza-lo e descreve-lo minuciosamente, como um verdadeiro personagem naturalista deveria ser descrito. Constata-se isso em uma amostra de uma passagem do livro que revela o amanhecer no cortiço: Eram cinco horas da manha e o cortiço acordava, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de  (op. cit., 2004, p. 37) chumbo. [...]. Como exemplo de detalhamento de personagens como tipos sociais, temos: Jerónimo era alto, espadaúdo, construção de touro, pescoço de Hercules, punho de quebrar um coco com um murro: era a forca tranquila, o pulso de chumbo. O outro - franzino, um palmo mais baixo que o português, pernas e braços secos, agilidade de maracajá: era a forca nervosa; [...]. Um solido e resistente; o outro, ligeiro e destemido; mas ambos corajosos.(op. cit., 2004, p.119). Esse trecho narra características de Jerónimo, o português que se apaixona por Rita Baiana, e descreve também o brasileiro Firmo, namorado da mulata. O português com seu porte de atleta enamora-se da garota e deixa o mulato brasileiro enciumado. Começa aqui uma competição entre Firmo, um ágil e franzino capoeirista com o robusto Jerónimo. Numa frequente narração impessoal e de descrições minuciosas, com muitas sugestões visuais, olfativas, táteis e auditivas, a linguagem de O cortiço esta caracterizada pela adoção de uma postura analítica e cientifica diante da realidade, o que torna a narrativa lenta, como acontece na cena seguinte: Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas das ondas: pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xicaras a tilintar; [...] No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. [...]. (op. cit., 2004, p.37) Constata-se, ainda, a maneira descritiva de uma denuncia da sociedade que "mostra o homem como um ser escravizado pelo meio, raça e época" (MARQUES Jr., 2000, p. 28), pois se observa a exploração do homem pelo homem, o problema da moradia popular, os conflitos humanos, termos que são vistos à luz dos princípios do Naturalismo.

Análise da obra O Cortiço, de Aluísio de Azevedo

 I. Biografia de Aluísio de Azevedo


II. Obras de Aluísio de Azevedo


III. Período literário


IV. Ação

        . Resumo

        . Capítulos

            . Capítulo I

            . Capítulo II

            . Capítulo III

            . Capítulo IV

            . Capítulo V

            . Capítulo VI

            . Capítulo VII

            . Capítulo VIII

            . Capítulo IX

            . Capítulo X

            . Capítulo XI

            . Capítulo XII

            . Capítulo XIII

            . Capítulo XIV

            . Capítulo XV

            . Capítulo XVI

            . Capítulo XVII

            . Capítulo XVIII

            . Capítulo XIX

            . Capítulo XX

            . Capítulo XXI

            . Capítulo XXII

            . Capítulo XXIII


V. Personagens

    V.1. Caracterização

        1. João Romão

        2. Bertoleza

        3. Miranda

        4. Rita Baiana

        5. Estela

        6. Léonie

        7. Pombinha

        8. Jerónimo

        9. Piedade

        10. Leandra

        11. Ana das Dores

        12. Dona Isabel

        13. Leocádia

        14. Zulmirinha

        15. Augusta Carne-Mole

        16. Neném

        17. Velho Botelho

        18. Henrique

        19. Agostinho

        20. Alexandre

        21. Paula

        22. Albino

        23. Firmo

        24. Senhorinha

    V.2. O percurso existencial das personagens femininas

    V.3. Os tipos sociais e as forças naturais instintivas.


VI. Conclusões

        a) Forma

        b) Conteúdo


VII. O Narrador

    VII.1. Narrador

    VII.2. Foco


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