Português

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Na aula (LV): verbos pronominais ou pronomes verbais

    Contexto: aula de Português - lecionação dos deíticos pessoais. O professor questiona que classes de palavras podem desempenhar a função de deíticos e dá exemplos para tentar arrancar respostas.

    Professor: Eu, tu, ele, nós, vós, eles são o quê?

    Resposta firme e rápida da Diana Gonçalves: Verbos!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Análise do capítulo I de O Fantasma de Canterville

    O capítulo I do conto corresponde ao ponto de partida, à situação inicial da ação, com a referência a um assunto corriqueiro: a venda da propriedade Canterville Chase, por parte de Lorde Canterville, ao embaixador norte-americano, Hiram B. Otis. Uma «chase» é uma propriedade rural, situada numa vasta área de terras abertas para taça, o tipo de terra que era apenas acessível à elite da sociedade. A concretização da transação constitui o prólogo da história, visto que são apresentados alguns dos aspetos mais importantes do conto.

    Assim, em primeiro lugar, o narrador enquadra o principal motivo da venda, ou seja, o facto de a casa estar alegadamente assombrada. Por outro lado, o início da narrativa lembra aqueles casos em que alguém assume um novo projeto ou toma uma decisão fulcral na sua vida e ignora os sinais negativos. De facto, não há dúvidas: todos pensam que o Sr. Otis comete um grande erro quando decide comprar a propriedade. A este propósito, convém atentar na diferença entre as atitudes adotadas pelas personagens. Assim, enquanto Lorde Canterville desiste da sua casa ancestral, um sinal do declínio da aristocracia inglesa, o Sr. Otis vive num mundo onde tudo é possível, incluindo colocar fantasmas num museu. Na época da ação, não era costume a aristocracia vender as suas propriedades, pelo que o facto de Lorde Canterville transacionar a sua mostra que estamos a entrar numa era de algumas mudanças. Além disso, o facto de o Sr. Otis comprar Canterville Chase indicia que a sua posição e estatuto lhe proporcionam riqueza, enquanto Lorde Canterville herdou a sua fortuna e a propriedade por meio da sua linhagem real. A aquisição mostra, na Era Vitoriana (1837-1901), o homem da classe média pode ascender socialmente, enquanto o poder da aristocracia entra em declínio.

    Em segundo lugar, encontramos um dos fios condutores da obra: o confronto entre a conservadora visão britânica e a abordagem moderna dos norte-americanos, entre a formalidade recatada dos primeiros e uma certa falta de refinamento dos segundos. Vive-se um tempo de rápidas transformações, essencialmente motivadas pela Revolução Industrial. As cidades cresciam impulsionadas pela indústria, e o comércio global tornava-se mais fácil e eficiente, graças à produção rápida de bens manufaturadas e novas formas de transporte mais velozes, como, por exemplo, o comboio. No contexto desta sociedade em transformação, as velhas formas de pensar eram gradualmente substituídas por um pensamento mais moderno.

    O início do conto introduz de forma clara o contraste entre (para continuar a ler a análise, clica aqui: »»»).

domingo, 30 de novembro de 2025

Sequências narrativas em O Fantasma de Canterville

 
I. Compra da mansão de Canterville (cap. I): O embaixador norte-americano Hiram B. Otis compra a mansão de Canterville Chase, apesar de ser avisado sobre a presença de um fantasma.

 
II. Acomodação da família Otis (cap. I): A família Otis muda para a nova residência e... (continua aqui: »»»).

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

Análise do título e da ação de O Fantasma de Canterville

    O Fantasma de Canterville foi publicado pela primeira vez em 1887. O seu título, numa primeira leitura, sugere que estamos na presença de uma história tradicional de terror, semelhante às que eram escritas na época e que se destacavam pela exploração do tema do sobrenatural, que estava presente nas narrativas de crime e suspense que evocam os medos e as superstições mais ancestrais, como monstros, demónios, vampiros, lobisomens ou visitas do Além. De facto, os autores contemporâneos começavam, na época, a refletir nas suas obras as inquietações e tendências da ciência moderna que, em diversas circunstâncias, desafiava os limites da compreensão humana, misturando o insólito e o real.

    No caso de O Fantasma, Oscar Wilde segue outro caminho, elaborando uma narrativa curta que... (continua aqui: »»»).

Romantismo versus Modernidade em Oscar Wilde

     Ler aqui: »»».

A modernidade em Oscar Wilde

     Consultar aqui: »»».

A crítica em O Fantasma de Canterville

     Ler aqui: »»»

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

O dandismo em Oscar Wilde

    O dandismo integra-se na corrente do Esteticismo, visto que defendia, a partir de fundamentos históricos, o belo como solução ou antídoto para os horrores da sociedade industrializada. O movimento atingiu o auge no século XIX, com figuras como Baudelaire e Walter Pater. Para Oscar Wilde, o dândi não era apenas alguém... »»»

Oscar Wilde e o Esteticismo

    O Esteticismo é um movimento literário e artístico que privilegiava a beleza formal. Esta corrente influenciou grandemente Oscar Wilder, cuja filosofia conheceu aquando da sua passagem por Oxford, tendo sido influenciado sobretudo por John Ruskin (1819-1900)e Walter Pater (1839-1894)... »»»

domingo, 23 de novembro de 2025

Bocage: a afirmação de uma singularidade na literatura portuguesa

    A vida de Bocage foi muito agitada.
    Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em Setúbal, em 1765. Era filho de pais burgueses, sendo o pai advogado e poeta nas horas vagas e por certo o ambiente familiar terá favorecido a tendência literária de Bocage. A mãe era de origem francesa e faleceu quando ele tinha dez anos, facto que marcou a sua vida: toda a força paroxística da sua poesia centrada na morte advém da perda da mãe.
    Desde cedo, Bocage manifesta um temperamento inquieto: aos catorze anos abandonou as aulas de latim preferiu seguir o curso da guarda marinha em Lisboa, onde passou a levar uma vida de boémia, pouco regrada. Participava em outeiros, uma espécie de serenatas que faziam nos conventos às freiras.
    Também desde cedo começou a manifestar os seus talentos de improvisação. Ao mesmo tempo, devido ao seu caráter impulsivo, começou a ter problemas sociais com o poder político e religioso.
    Em 1786, partiu para a Índia, tendo sempre presentes duas referências: Camões, com quem se acha identificado em muitos casos (destino); Getrúria, que terá sido o seu primeiro grande amor e que faz desabrochar alguns dos seus dotes de improvisador. A sua poesia é muito autobiográfica, o que é natural no texto lírico, fala muito do "eu", das suas vivências.
    Após quatro anos, regressa a Lisboa, pois sentira-se desterrado. Depois de regressado a Lisboa, em 1790 ingressa na Nova Arcádia, mas cedo manifesta o seu espírito boémio e começa a aguçar a sua veia satírica. Aproveita o tom poético-satírico para pôr a ridículo alguns confrades da academia. Manifesta o seu espírito arruaceiro e conflituoso e escreve versos com alusões religiosas, mas impregnados de forte heterodoxia.
    Em 1794, é expulso da arcádia, facto que terá várias repercussões: revela o seu individualismo de poeta que pretende impor a sua singularidade, que não se quer ligar a normas. Bocage evidencia uma sensibilidade romântica.
    Por outro lado, a expulsão incita-lhe um tom satírico, do qual vai resultar uma poesia "orgulhosa", revisteira, brejeira, sem preocupações estéticas. Daqui resulta o prejuízo de uma exploração temática mais profunda. Augusto França afirma que, em Bocage, os valores instintivos prevaleceram sobre os culturais.
    Em 1797, é denunciado como o "bota-fogo", "um fogo de ideias subversivas do trono e do altar". Era assim um crítico do poder político e religioso, o que o levou a ter problemas. Então, alguns amigos seus tentam fazer crer que não se tratava tanto de crime político, mas tinham a ver com sua impiedade em relação à Igreja; conseguem que o "crime político" seja convertido em acusação de "papéis ímpios, sediciosos e míticos". Deste modo, vai transitar da prisão do estado para a prisão da Inquisição, no convento das Necessidades, aproveitando para aí aprofundar os seus estudos  de latim, retórica e francês na biblioteca do convento. Daí sai em 1799 e graças ao seu conhecimento de línguas, dedica-se à tradução, vivendo desse trabalho e sustentando também a irmã. No entanto, retorna à sua vida de boémia, caindo na improvisação brejeira até à morte.
    Pressentindo a morte por causa de uma doença no sangue, Bocage abranda a sua combatividade interior e reconcilia-se com os seus inimigos: Filinto Elísio, António Macedo, contra quem escrevera uma sátira - "Pena de tabelião" - e também com Deus, numa atitude de humildade e de pungente arrependimento.
    Bocage morre em 1805, com apenas quarenta anos.

Síntese da poesia de Alberto Caeiro

    No link seguinte (poesia-de-alberto-caeiro),vais encontrar uma ótima síntese da poesia de Alberto Caeiro, através de uma apresentação.

Resolução do questionário sobre o poema "Um piano na minha rua", de Fernando Pessoa

     Se queres ter acesso à resolução, explicada pormenorizadamente, do questionário do poema "Um piano na minha rua", da autoria de Fernando Pessoa, clica no link: questionário-resolução.

Caracterização sistemática do Pré-Romantismo como estilo de época

        1) Valorização da sensibilidade.
    a) Encontramos nos poetas pré-românticos uma espécie de libertação da sensibilidade e é essa afirmação dos sentimentos que rompe com os padrões anteriores, que parece não terem encontrado um rumo alternativo. É uma sensibilidade desenfreada, daí podermos desejar tudo, mesmo o que se designa por "locus horrendus"
    Ao falar-se em valorização do sentimento entende-se aqui, mais do que uma análise de sentimentos, uma constante temática na poesia pré-romântica, no sentido de o sentimento se tornar o fundamento não só na vida psicológica, mas também da moral e dos valores. Está em causa uma valorização dos sentimentos, de modo a dar-se uma transformação radical. Os sentimentos irão definir os valores e a sua hierarquia. Vale o que é determinado pela sensibilidade e não pela razão. O sentimento passa a ser um critério de valor, daí que a moral passe a ser determinada a partir do sentimento. E a valorização do sentimento conduz a um novo conceito de virtude.
    O autor que mais encarna estas ideias é Rousseau, através da sua teoria do bom selvagem: dá-se a valorização daquilo que é próprio de cada homem. Assim se dá o primeiro passo de uma revolução moral. Esta valorização conduz à teoria do "génio criador", porque se valoriza a individualidade de cada um. O génio cria segundo as suas regras e princípios, donde esses são diferentes dos princípios dos outros.

    b) Que tipo de sensibilidade?
    Temos, por um lado, uma sensibilidade terna e melancólica, que em certos casos vai dar lugar a emoções suaves e sentidas.
    Neste caso, o poeta procura ambientes calmos, uma paisagem em consonância com os seus sentimentos. Não é necessariamente uma sensibilidade que se pode extravasar no relacionamento do poeta com figuras humanas, tendo em conta a delicadeza da sua personalidade. Também se pode antever um relacionamento com as paisagens às quais confidencia os seus estados de alma trespassados de felicidade. Este aspeto, no entanto, é o que menos se observa na estética pré-romântica.
    Por outro lado, há uma sensibilidade exaltada, mais própria do Pré-Romantismo. Nesta situação, as confidências do poeta já não resultam da contemplação da paisagem, mas sim da "visão" que ele tem de uma paisagem. Esta pode ser terrífica, tempestiva ou noturna, chegando-se daqui à configuração do "locus horrendus".
    Na sequência da valorização desta paisagem e destes ambientes negros, surge um novo tipo de literatura, chamada narrativa de terror ou gótica em contraposição ao Neoclassicismo. Este é um dos aspetos que aponta para posteriores orientações românticas.

        2) Egotismo (valorização do "eu).
    Com a valorização dos sentidos, vem a consequente valorização do "eu". A hipertrofia do "eu" acarreta consigo um certo egotismo.
    A literatura pré-romântica é uma literatura do "eu". Note-se que este caráter egotista, esta exploração do íntimo pessoal, faz-se em termos intimistas, confessionais. Com este tópico, antecipa-se a literatura romântica, que trará a preocupação de expressar a vida pessoal e íntima do "eu".
    Na literatura pré-romântica, o perfil do poeta aparece frequentes vezes associado ao signo da infelicidade, isto é, o poeta terá já nascido sob este signo. O poeta sente-se mais inclinado para a melancolia e o desespero.
    Esta literatura pré-romântica defende o "confessionalismo do autor". Há, assim, um egotismo confessional, em que predomina a melancolia e a insatisfação.
    Em conformidade com esta maneira de estar e sentir do poeta, a literatura pré-romântica traz um novo caudal de observações de pormenor, de minúcias relacionadas com a vida psicológico-afetiva do poeta. Esta literatura não tem pudor em tornar-se uma literatura de caráter confidente, o que constituiu uma novidade para a época. Isto implicava que tinha deixado de haver um controle sobre as faculdades expressivas. Por outro lado, acentuava-se o caráter psicológico e íntimo das coisas que se exprimiam.

        3) A perseguição do destino, do fado.
    Porque o poeta vive intensamente do afeto e dos sentimentos exacerbados, ele vive pelas e das suas emoções. Ao mesmo tempo, é um ser vibrátil, emocionável, apaixonado e fica sujeito aos caprichos do destino ("fatum"). Note-se que este fatalismo sentido, que se associa a uma sensibilidade melancólica, a um gosto de ser triste, estava presente em Camões. Daqui este projetar-se na poesia desta fase.
    Ainda como ser apaixonado, o poeta sente que o seu amor pode ser total ou avassalador, ou também um amor violentamente sensual.

        4) Uma fragilidade emotiva.
    O estado de melancolia atinge, na poesia pré-romântica, uma grande valorização, que se alia por vezes a uma fragilidade emotiva, que se traduz com alguma frequência no choro e nas lágrimas. Esta forma de extravasar os sentimentos era inconcebível na literatura neoclássica, o que traduz uma atitude negativa. Aparece uma estética que denota uma particularidade semântica de teor essencialmente negativo em contraste com o Neoclassicismo.

        5) Temática de presságios (temática pessimista).
    Esta temática é mais um sinal da fragilidade humana sentida pelo poeta. Simultaneamente, esta temática revela uma insatisfação espiritual muito grande.
    Esta temática dos presságios aparece geralmente ligada a certos cenários. Para além do mocho que pia, temos cenários ligados à sombra, à noite, às ruínas. Esta temática manifesta-se através do "locus horrendus". Nesta situação, não é de estranhar que haja maior abertura da personalidade humana aos presságios e que se encontre em alguma poesia pré-romântica os sonhos ruins e meditações sobre e sob a escuridão.
    Um dos casos paradigmáticos é a poesia de Bocage, que chega a apresentar a noite negra como menos negra que o seu destino. Surge a temática da noite e do sepulcro.

        6) (Re)descoberta da natureza e do pitoresco.
    É uma nova visão da natureza e de um novo sentimento perante ela, pois entre a natureza e o "eu" estabelecem-se também relativamente afetivas. Daí que a natureza, tal como o poeta a vê, se associe aos seus estados mais íntimos. A natureza surge liberta para acompanhar os seus estados íntimos.
    Assim, o poeta pré-romântico não se limita a dar maior e nova atenção ao mundo físico, à paisagem e aos caracteres pitorescos que a natureza vai tomando em certas regiões e épocas do ano.
    O poeta manifesta preferência por uma certa paisagem. Prefere uma natureza agreste, onde predominam os precipícios, a queda, os abismos, os mares, pelo que estes fatores têm simultaneamente de sedutor e assustador. Na paisagem, procura-se também o seu lado exótico e, nas estações do ano, uma há que lhe dá mais estimulo para o exotismo: outono, porque é a estação que marca um declínio lento, um anoitecer mais cedo, uma constante quebra do dia. Traz ainda as colorações melancólicas; em suma, é a estação do crepúsculo, um "crepúsculo magoado".
    Não é estranho que a par deste exotismo surja uma natureza agreste, onde o outono favorece uma reflexão melancólica e simbólica e daqui vai um pequeno passo aos ambientes noturnos e lúgubres. A natureza e os seus horrores harmonizam-se com os sentimentos do poeta, com o seu estado de alma e com o seu desespero.
    Estes sentimentos eram mais agravados quanto mais as condições de vida a isso obrigavam: dificuldades económicas, desgostos amorosos, exílio, prisão. É o caso de Bocage.

        7) Teoria do "génio criador".
    Existem alguns pontos de doutrina que são inovadores na literatura pré-romântica.
    Vimos já que a literatura pré-romântica traduz um forte declínio das influências greco-latinas e acentuado afastamento dos cânones clássicos. Contudo, várias vezes, os poetas pré-românticos se veem obrigados a vazar a sua nova sensibilidade dentro das formas poéticas e estilísticas da tradição clássica.
    A maior parte dos princípios defendidos pelo Pré-Romantismo apresentam-se sob forma negativa, contestatória, porque não sendo este movimento apoiado em escolas ou grupos doutrinários, o Pré-Romantismo apresenta um caráter contestatário da doutrina clássica. Contesta-se a doutrina das regras, dos modelos, géneros literários e convenções clássicas. Na prática, passa-se duma literatura rigorosa, sujeita a modelos, para uma literatura confessional, que acentua a quebra com as regras neoclássicas.
    Isto acontece na Alemanha com o movimento Sturm und Drang e na França. Neste último país, em volta dos princípios defendidos por Diderot, passa-se à defesa de princípios com um ponto de vista positivo. Um deles atinge grande divulgação: doutrina do génio criador.
    O génio, fundamento da criação poética nas doutrinas do Pré-Romantismo, é uma força alheia ao domínio da razão e insuscetível de ser submetida a preceitos. O génio é, por conseguinte, uma força criativa, de caráter irracional, não estando sujeita a regras ou padrões. O génio é tido como força torrencial e incontrolada de potencialidades quase infinitas. Deste modo, cada manifestação do génio cria a sua própria expressão, donde o génio não pode de modo algum estar subordinado a regras alheias. É uma força inconscientemente submetida a regras universais, pela contradição latente que daí resultaria.
    A teoria do génio criador associa-se diretamente à estética da espontaneidade pré-romântica: a poesia é a manifestação espontânea de uma sensibilidade ferida. É, portanto, uma poesia que alguns poetas confessam como imperfeita em relação à poesia que obedecia aos cânones do Neoclassicismo.
    Aparentemente trata-se de humildade relativa à assumida imperfeição. É uma "falsa humildade" por parte dos poetas pré-românticos, já que isso mesmo é transformado num dos motivos do Pré-Romantismo. Este princípio da estética da espontaneidade contraria não só a doutrina estética e literária dos clássicos (aristotélica-horaciana) como também toda uma série de aspetos ligados ao Neoclassicismo: regras e subordinação a modelos.
    Em relação às grandes influências do Pré-Romantismo, podemos dizer que as influências do Neoclassicismo são gradualmente substituídas por novas fontes pré-românticas. Dá-se a redescoberta de Shakespeare e influências de autores como Young, Gessner, Thompson.
    Do ponto de vista estilístico-formal, o quebrar com a doutrina neoclássica e as novas temáticas apresentadas traduzem como consequência um novo estilo de época e naturalmente novas influências no tema das produções literárias.
    Apesar de uma tendência para novas formas houve a manutenção de géneros literários comuns ao Neoclassicismo. Devido a isto, é natural encontrar elementos pré-românticos e neoclássicos que se misturam, devido à formação literária dos poetas. Um dos casos paradigmáticos a este nível é Bocage. A uma formação neoclássica virá corresponder uma acentuada tendência para uma sensibilidade e temática pré-românticas.
    Em relação ao corte com o Neoclassicismo, há uma nítida diferença em relação à conceção do texto literário e também em relação ao processo de criação e avaliação literária.
    Para os pré-românticos, o texto literário era entendido como um fruto espontâneo da vida interior e da sensibilidade do escritor, mesmo para os que não aceitavam a teoria do génio criador.
    Os pré-românticos defendiam uma conceção expressivista do escrito e, segundo esta, a criação literária seria uma expressão que passava da vida para o texto e que não a podia contrariar. Não é uma expressão racionalizada. Isto implicava que a avaliação do texto literário se ressentisse.
    Mesmo que o texto literário apresentasse vários traços que, à luz da doutrina neoclássica, fossem entendidos como imperfeições, o texto devia ser valorizado precisamente por isso, pois elas correspondia à autenticidade das emoções realmente vividas, ao impacto dos sentimentos e à delicadeza da sensibilidade pessoal.
    Estes traços, em vez de imperfeições, acabam por constituir as maiores qualidades do texto, porque falam da autenticidade da vida dos poetas.
    Algumas dessas imperfeições eram:
        . frases inacabadas;
        . uso e abuso de reticências;
        . ausência de rima, etc.
    Em Portugal, essas tendências apenas se fazem sentir em maior grau nos finais do século XVIII e princípios do XIX.
    O Pré-Romantismo português afirma-se com maior relevo através da produção de João Xavier de Matos, Filinto Elísio, Tomás António Gonzaga, José Anastácio da Cunha, Marquesas de Alorna e Bocage. Mas é Bocage que ocupa um lugar de relevo na análise das ideias pré-românticas em Portugal, porque ele representa uma fase adiantada da formação (teórica e prática) do Romantismo e porque ele representa, de algum modo, a síntese de todas as tentativas pré-românticas de libertação do Arcadismo e da cultura retórica.
    Em Bocage, notam-se forças contraditórias que, no seu caso, são vividas e sentidas dramaticamente, em parte devido à sua conduta pessoal. A sua conduta foi por natureza conflituosa e foi agravada pelo conflito de tendências estéticas da época em que viveu. É um poeta de conflitos e um poeta de charneira.
    Segundo Jacinto Prado Coelho, o conflito entre os moldes tradicionais, que lhe servem para exprimir formalmente a sua poesia, e a necessidade de encontrar uma linguagem adequada à violência dos impulsos afetivos criam-lhe um dramatismo interior que se torna visível muitas vezes através de alegorias e que se centra basicamente em temas como a noite, a solidão, a morte, o pecado, o amor, o ciúme e o destino.
    Tal como já dissemos, os pré-românticos, e destes em particular Bocage, combinam, de modo diverso e de acordo com experiências pessoais, diferentes elementos neoclássicos e românticos.
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