Português

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Caeiro, o «Mestre»

          Quer Fernando Pessoa (o ortónimo) quer os restantes heterónimos consideram Alberto Caeiro o seu Mestre. Porquê?

          Caeiro é, desde logo, o único que consegue atingir a paz, a tranquilidade e a serenidade ao recusar o pensamento e ao adoptar o sentir - "Eu não tenho filosofia, tenho sentidos." -, precisamente o oposto de Pessoa, que tudo racionalizava e era incapaz de sentir. Caeiro é, por conseguinte, aquilo que o ortónimo não consegue ser, isto é, alguém que não procura qualquer sentido para a vida ou para o universo, porque lhe basta aquilo que vê e sente em cada momento.

          Na verdade, todos os «eus» poéticos pessoanos são atingidos, de uma forma ou de outra, pelo peso excessivo do pensamento, da razão, do racionalismo, causadores de dor e impeditivos da felicidade. Assim, Pessoa apresenta-se como incapaz de sentir; Ricardo Reis procura controlar as suas emoções através do uso da razão, para evitar a infelicidade; Álvaro de Campos, na sua fase abúlica, lamenta-se do seu vício de pensar («Pára, meu coração! Não penses! Deixa o pensar na cabeça!»). Pelo contrário, Alberto Caeiro encontra a felicidade ao recusar o pensamento e a existência de um lado abstracto / obscuro das coisas, defendendo a existência apenas do concreto, do objectivo: "Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, / Sei a verdade e sou feliz".

          Sintetizando, Caeiro é considerado o Mestre em consequência dos seguintes princípios poéticos:
  • Recusa do pensamento (que implica que se deturpe o significado das coisas que existem), da essência, acreditando o poeta apenas na aparência (captada pelos sentidos), eliminando assim a dor de pensar e alcançando a felicidade;
  •  Sensacionismo: Caeiro substitui o pensamento, que considera uma doença, pelas sensações que colhe no exterior objectivo, defendendo que nada existe para além do que é perceptível para o ser humano, para além do que é captado pelos sentidos;
  • Aceitação serena do mundo e da realidade tal qual eles são: as coisas são o que são, resumem-se à sua aparência, não têm significados ocultos, e o poeta aceita-as como elas são, sem as questionar, sem as pensar, visto que, «pensar é não compreender» (pelo contrário, o ortónimo pensa, vê para além das aparências, considerando que aquilo que vê é apenas a exteriorização de outra coisa);
  • Comunhão com a Natureza: o ser humano deve submeter-se às leis naturais e não deve racionalizar processos que existem naturalmente (por exemplo, as ideias de vida ou de morte, que existem enquanto verdades absolutas), daí a negação da existência de significados ocultos na Natureza;
  • Olhar ingénuo sobre o mundo: aceitação das ideias de vida e de morte sem mistérios, depojadas de reflexão, de pensamento, de subjectividade;
  • Neopaganismo: visão pagã da existência, resultante da comunhão com a Natureza, que passa pela descrença total na transcendência e pela opção pela sensação, considerada a única verdade;
  • Irregularidade formal (verso livre, irregularidade métrica e estrófica), «seguida» por Álvaro de Campos.
          Note-se, porém, que existe uma grande liberdade dos discípulos em relação ao seu Mestre. Por exemplo, Ricardo Reis é discípulo de Caeiro apenas em parte, visto que ama a Natureza e o viver lúdico da infância, mas não possui a calma e a placidez exibidas pelo Mestre diante da passagem / do fluir do tempo e da certeza da morte. Reis receia-a e angustia-se perante a sua mortalidade e a do ser humano em geral.
          Por sua vez, Álvaro de Campos, apesar de amar e reverenciar Caeiro, "exaspera-se por não conseguir viver os seus ensinamentos". É o próprio Campos que afirma: «Mestre, só seria como tu se tivesse sido tu».
          Fernando Pessoa, por seu turno, é a antítese do Mestre, porque pensa e sofre em virtude dessa reacionalidade e da consciência. Ele que afirmou que cada um dos heterónimos constitui uma espécie de drama e que todos juntos constituem um outro drama, o que leva alguns estudiosos da obra pessoana a falar em Poetodrama relativamente à questão da heteronímia.
          Em suma, Caeiro é o Mestre, mas quer o ortónimo quer os heterónimos seguiram o seu próprio caminho com plena liberdade.



Bibliografia:

     . COELHO, Jacinto do Prado, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa;
     . Colecção RESUMOS, Poemas de Fernando Pessoa;
     . JACINTO; Conceição et alii, Análise de Poemas de Fernando Pessoa;
     . MARTINS, Fernando Cabral (Coord.), Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português.
     . MATOS, Maria Vitalina Leal, A Vivência do Tempo em Fernando Pessoa;
     . SEABRA, José Augusto, Fernando Pessoa ou o Poetodrama;
     . SENA, Jorge de, Fernando Pessoa & Companhia Heterónima.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Matriz do teste (1.º - 2010-11)

Grupo I

          Texto A

                    » Questionário sobre um texto de Fernando Pessoa.

          Texto B

                    » Exercício de escolha múltipla sobre um texto informativo;
                    » Exercício de associação.

Grupo II

          » Questões sobre gramática:
                    . grupos frásicos;
                    . funções sintácticos;
                    . tipos de sujeito.

Grupo III

          »Texto de reflexão.

Texto de reflexão: "A Natureza e a sua capacidade de renovação»

Plano da AI

Texto de reflexão / Dissertação I - Plano

1.
Tema: A Natureza e a sua capacidade de renovação.

Tese: No nosso mundo, a palavra “renovação” vai ser mais solicitada que o (este determinante dá uma ideia de familiaridade, quando estamos a falar de uma personalidade) Barack Obama. Esta frase funcionaria muito melhor como título do que como tese, que deve ser concreta e objectiva, aclarando desde logo a posição do autor do texto.

1.º Argumento: A lei de Lavoisier (“Nada se cria, tudo se transforma”), será a lei que melhor se aplica ou que explica melhor o que acontece na Natureza, pois a população só consegue mesmo transformá-la (confuso), desgastando-a e esgotando-a.

2.º Argumento: A sobre-exploração deste Planeta, ou seja, de toda a natureza pode pôr fim ao único conhecimento de vida, ao nosso Mundo. Hoje em dia, as acções do Homem tornam a natureza cada vez mais vulnerável e gasta. Maior objectividade: que acções?

3.º Argumento: Esta natureza, e tudo o que possa provir dela, não se transforma ao mesmo ritmo com que é usada e abusada, nem a sua transformação tem a mesma qualidade, por isso, esta pode mesmo findar.

4.º Argumento: Quando as transformações da população não conseguirem alcançar o mínimo do que se pode extrair da natureza, o Homem vai-se aperceber que não consegue sobreviver sem a mesma, pois sente-se insustentável. Nesse momento todos irão pedir, exigir e laborar a renovação da natureza que desperdiçaram abusivamente sem pensar no futuro, contudo vai ser tarde demais. - Confuso e incoerente / incompreensível.

1.º Exemplo: O António, que é um grande fumador, foi passear para o mato e, sem pensar, deitou o cigarro para o chão não pensando nas consequências. Assim, ocorreu um grande incêndio no concelho de Algures, pois esse mato estava deveras poluído. Os estragos foram enormes, todo o mato ardeu, ou seja, milhares de árvores queimadas, vários terrenos com gado ardidos… Enfim, toda a natureza que rodeava Algures foi mesmo destruída e quase esgotada.

2.º Exemplo: Várias sondagens feitas verificaram (será esta a forma verbal adequada?) que inúmeras famílias portuguesas compram coisas (que preposição rege o verbo «necessitar»? Ou seja, quem necessita, necessita de alguma coisa, certo?) que na realidade não necessitam, estragam e deitam fora coisas (esta palavra já se encontra na frase) que poderiam voltar a usar. A família Gomes admite que muitas das vezes sobre - exploram (esta «forma verbal» concorda em número com que sujeito?) a natureza comprando e desgastando materiais (que preposição rege o verbo «precisar»?) que não precisam. Assim estas famílias portuguesas não adoptam a política dos 3R’s (reduzir, reutilizar e reciclar) o que poderia ajudar tornando a natureza menos vulnerável e gasta. (algumas vírgulas faziam jeito nesta frase)

3.º Exemplo: As novas tecnologias tentam ressuscitar a natureza mas não o conseguem totalmente. A clonagem, as fito-hormonas que se utilizam para o surgimento e para o crescimento rápido e melhoramento do gado, das árvores, plantas, vegetais, frutas… não conseguem superar a qualidade vinda da própria natureza. O João quando vai às compras ao hipermercado (o que fazemos, em termos de pontuação, com as orações intercaladas?) fica desiludido com todos os alimentos, (aqui, necessitamos de um articulador do discurso ou de outro sinal de pontuação que não a vírgula) “Já não são tão saborosos como antigamente, já nada vem da terra… ou ao natural.”.

4.º Exemplo: O Dr. Hugo Machado, presidente da República do país Acolá, farto de ouvir queixas do seu povo, (o que faz aqui esta vírgula?) sobre a natureza e os produtos que provém (provém ou provêm?) dela, suplicou aos presidentes de todos os países que se unissem para que possam adquirir uma renovação da natureza (???). Todos concordaram, pois todos passavam pelo mesmo. Assim, concordaram que iriam renovar a natureza adoptando várias políticas para o menor desgaste e desperdício da mesma para que esta se volte a criar e não esgotar. - Que políticas?


Comentários:

1.º) Os exemplos deverão ser aplicados imediatamente após o(s) respectivo(s) argumento(s).

2.º) Os exemplos não são mini-textos, ou seja, devem ser apresentados de forma sumária ou topical.

3.º) Qual era o tema propostos? Qual a ligação do plano com a acção humana e as formas de renovação da Natureza?

4.º) Reformular é preciso.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Texto de reflexão: "A Natureza e a sua capacidade de renovação»

Plano da MM

Tese: Na Natureza nada se cria (???), esta sofre transformações. Porém, tratam-se (tratam-se? ou trata-se) de transformações lentas.

1º. (1.º) argumento: Segundo o ciclo da vida, comum a todos os seres vivos, um ser nasce, cresce, vive e, por fim, morre.
1º. exemplo: As plantas nascem, crescem gradualmente, vivem e ao fim de algum tempo morrem, crescendo entretanto outra (s).

2º. argumento: Tudo o que existe no nosso Planeta provém de matéria pré-existente.
2º. exemplo: O petróleo provém de restos fósseis que sofrem grandes transformações.

3º. argumento: A Terra é considerada um sistema quase fechado, ou seja, troca energia mas não materia (troca matéria, mas diminuta) com a vizinhança.
3º. exemplo: A matéria presente na superficie da Terra é finita.

4º. argumento: Há sobre-exploração e pouco cuidado com os recusrsos da Terra (poluição).
4º. exemplo: Desperdício de água potável e poluição desta.

Conclusão: A matéria da Terra não se cria, transforma-se. Porém, não se transforma ao mesmo ritmo com que é utilizada.


Comentários:

1.º) Ai os erros (pontuação, acentuação, ortografia...).

2.º) Qual é o tema proposto? Não haverá aí uma ligação a problemas ambientais derivados da acção humana?

3.º) Uma reformulação destes pontos é conveniente.
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