Apesar de, na primeira didascália que antecede o início do ato I, constar a referência à "... caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século dezassete", a ação desenrola-se, efetivamente, em 1599, último ano do sécilo XVI. O próprio Garrett declarou, na Memória ao Conservatório Real, lida a 6 de maio de 1843, que os aspetos cronológicos não o preocuparam aquando da escrita da peça, pois considerou mais importante "o trabalho da imaginação", irreconciliável com os "algarismos das datas".
Com efeito, a ação respeitante ao ato I inicia-se no dia 28 de Julho de 1599, no final da tarde de uma sexta-feira, e terminada na madrugada de 5 de agosto do mesmo ano.
Cronologicamente, os acontecimentos abordados na peça são os seguintes:
- 4 de agosto de 1576: casamento de D. Madalena com D. João de Portugal (II, 10);
- 4 de agosto de 1577: D. Madalena vê pela primeira vez Manuel de Sousa Coutinho (II, 10);
- 4 de agosto de 1578:
- batalha de Alcácer Quibir;
- desaparecimento de D. Sebastião e de D. João;
- de 1578 a 1585: durante este período de 7 anos, ocorrem as buscas infrutíferas de D. João de Portugal - D. Madalena envida todos os esforços no saber notícias do seu marido, sem, contudo, obter qualquer resultado ("... D. João ficou naquela batalha (...) como durante sete anos (...) o fiz procurar..." - 1578 + 7 = 1585);
- 1585: D. Madalena casa com Manuel de Sousa, por quem se apaixonara ainda durante o primeiro casamento;
- 1585 a 1599: 14 anos do segundo casamento ("... vivemos (...) seguros, em paz e felizes... há catorze anos.");
- 1586: nascimento de Maria ("Então! Tem treze anos feitos..." - I, 2);
- 4 de agosto de 1598: libertação de D. João de Portugal;
- 28 de julho de 1599: incêndio do palácio de Manuel de Sousa Coutinho (I, 12);
- 4 de agosto de 1599: chegada do Romeiro (II, 1-14);
- madrugada de 5 de agosto de 1599:
- morte de Maria;
- tomada de hábito de D. Madalena e D. João de Portugal.
Tendo em conta estes dados, conclui-se que o tempo da diegese dramática é de 21 anos: 1578 a 1599.
A ação propriamente dita desenrola-se em cerca de uma semana:
Tendo em conta estes dados, conclui-se que o tempo da diegese dramática é de 21 anos: 1578 a 1599.
A ação propriamente dita desenrola-se em cerca de uma semana:
- Julho:
- 28 ® ato I ("É no fim da tarde.")
(sexta-feira)
- Agosto:
- 1 a 3 ® D. João aproxima-se da sua casa (três dias)
- 4 ® ato II ® 8 dias após o final do ato I e do incêndio
(sexta-feira) ® chegada do Romeiro
- 5 ® ato III ® "alta noite"
® tomada de hábito (morte para o mundo)
® morte de Maria
® partida do Romeiro
- Concentração / afunilamento do tempo
De acordo com os preceitos da tragédia clássica, o tempo de Frei Luís de Sousa sofre uma redução progressiva que contribui para a construção da tensão dramática: 21 anos (1578 a 1599) ® 14 anos (duração do segundo casamento de D. Madalena) ® 7 anos (tempo durante o qual D. Madalena procurou, em vão, D. João) ® 1 ano (tempo que medeia entre a libertação e a chegada do Romeiro a Almada) ® 8 dias (vida da família no palácio de D. João) ® 3 dias (D. João aproxima-se da sua casa) ® 1 dia (4 de agosto - «Hoje» - chegada do Romeiro / D. João) ® 5 horas da madrugada de 5 de agosto (tomada de hábito e morte de Maria).
» primeiro encontro com Manuel de Sousa, por quem se apaixona à primeira
vista,apesar de ainda estar casada com o primeiro marido;
» batalha de Alcácer Quibir;
» desaparecimento de D. João e de D. Sebastião;
» incêndio do próprio palácio por Manuel de Sousa, seguido da mudança, com
a família, para o de D. João;
» regresso de D. João, disfarçado de Romeiro.
» "É noite fechada" (I, 7);
» "É alta noite" (didascália inicial do ato III).
anos, após os quais se casa com Manuel de Sousa;
» o casamento de D. Madalena e Manuel de Sousa durava há catorze anos
(2 X 7);
» D. João regresso vinte e um anos após o seu desaparecimento / a batalha
de Alcácer Quibir (3 X 7).
Ora o 7 é o símbolo da totalidade: 7 foram os dias da criação do Mundo, 7 são os pecados mortais e as virtudes que se lhe opõem, 7 são os dias da semana, 7 são as cores do arco-íris.
Assim, o 7 é o número associado à conclusão de um ciclo e ao início de outro: o final da vida do casal e, consequentemente, com a tragédia; o fim de um ciclo (a destruição da família, a morte de Maria...) e o início de uma nova vida (tomada de hábito).
» acontecimentos trágicos acontecidos durante agosto »»»
- Simbolismo de algumas referências temporais
» primeiro casamento (com D. João);
- Sexta-feira: é um dia considerado aziago, conotado com a tragédia, de acordo com a tradição popular (por exemplo, a sexta-feira 13). Para D. Madalena, é um dia fatal ("Ai que é sexta-feira." - II, 5; "É um dia fatal para mim..." - II, 10) e foi nele que ocorreram os acontecimentos centrais da sua vida:
» primeiro encontro com Manuel de Sousa, por quem se apaixona à primeira
vista,apesar de ainda estar casada com o primeiro marido;
» batalha de Alcácer Quibir;
» desaparecimento de D. João e de D. Sebastião;
» incêndio do próprio palácio por Manuel de Sousa, seguido da mudança, com
a família, para o de D. João;
» regresso de D. João, disfarçado de Romeiro.
» "É no fim da tarde" (didascália inicial do ato I);
- Ambiente crepuscular e / ou noturno, caracteristicamente romântico, está associado à morte que se abaterá sobre a família e sublinha um certo aspeto transgressor que envolve toda a história daquele núcleo familiar:
» "É noite fechada" (I, 7);
» "É alta noite" (didascália inicial do ato III).
» D. Madalena procura saber notícias do seu primeiro marido durante sete
- Número 7 e seus múltiplos:
anos, após os quais se casa com Manuel de Sousa;
» o casamento de D. Madalena e Manuel de Sousa durava há catorze anos
(2 X 7);
» D. João regresso vinte e um anos após o seu desaparecimento / a batalha
de Alcácer Quibir (3 X 7).
Ora o 7 é o símbolo da totalidade: 7 foram os dias da criação do Mundo, 7 são os pecados mortais e as virtudes que se lhe opõem, 7 são os dias da semana, 7 são as cores do arco-íris.
Assim, o 7 é o número associado à conclusão de um ciclo e ao início de outro: o final da vida do casal e, consequentemente, com a tragédia; o fim de um ciclo (a destruição da família, a morte de Maria...) e o início de uma nova vida (tomada de hábito).
- Número 9: este número simboliza também o nascimento de uma nova vida (por exemplo, os 9 meses de gestação de um ser humano), a passagem a outro estádio da existência; daí que a tomada de hábito, marcando a transição do mundo profano para o mundo religioso, tenha lugar ao nono dia.
- Número 3: o número da perfeição, daí que 21 seja o símbolo da tragédia perfeita (21 = 3 X 7).
- Número 13: o número tradicionalmente associado ao azar (Maria tem treze anos).
» simbologia do mês de agosto »»»
- Mês de agosto: mês do desgosto.
» acontecimentos trágicos acontecidos durante agosto »»»