A
derrota em Alcácer Quibir e o desaparecimento de D. Sebastião em Alcácer
Quibir, em 1578, deixaram Portugal na orfandade e sob o domínio castelhano.
Esta situação inspirou vários escritores que viram no acontecido o desfazer do
sonho de um grande império. Só uma fé messiânica nos poderia salvar da
degradante situação.
Gonçalo Anes, de alcunha o Bandarra,
sapateiro de Trancoso, inspirado na Bíblia, cantou em trovas um tempo novo
simbolizado pelo rei D. Sebastião, o Encoberto, libertador da opressão e da
miséria do povo e da "erronia" do mundo. Compostas entre 1530 e 1540,
as Trovas de Bandarra resultariam na
expressão mais relevante do messianismo
anterior a D. Sebastião, com base no profetismo hebraico (crença na vinda do
Messias), no mito peninsular do Encoberto e nas reminiscências das lendas do
ciclo arturiano (o rei Artur desapareceu, está guardado numa ilha e
regressará), dando origem a uma doutrina e a um mística: o SEBASTIANISMO, de que D. Sebastião permanecerá como símbolo por
excelência.
A sociedade não se reconhecia a si
própria e nela confluíram antagonismos e projetos, em refletida crise de
identidade nacional potenciada, a partir de meados do século XVI, pelas
oscilações vitais na dinâmica estrutural do Império Português. Assim, sublimou em D. Sebastião a vontade de um povo no reforço e dilatação do Império e na
reafirmação do seu papel de guardião da fé cristã, retratada nas obras de
Camões, Diogo Bernardes e Pêro de Andrade Caminha, que a morte do rei, porém,
tão abruptamente obliterou. Durante o
domínio filipino, sob um pulsar nacionalista, suceder-se-iam os episódios de aventureiros que, fazendo-se passar por
D. Sebastião ou encarnando a esperança no Encoberto, insidiosa e teimosamente
mantiveram vivo e consubstanciaram o desejo de libertação do jugo espanhol em
Portugal.