Português

domingo, 22 de outubro de 2084

Professor

     "Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais." 

Rubem Alves

quarta-feira, 2 de julho de 2025

A origem dos dias da semana

Estrutura interna de O Fantasma de Canterville

    O Fantasma de Canterville é um conto fantástico com elementos e paródias do chamado romance gótico.

    No que diz respeito à sua estrutura interna narrativa, segue o modelo comumente aplicado aos contos tradicionais.


Situação inicial: este é o início da história, da sua contextualização:
• localização no tempo;
• apresentação das personagens;
• localização no espaço;
• apresentação da ação.
A situação é equilibrada, o que significa que não há razão para que mude.
 
● O fantasma de Sir Simon assombra a mansão de Canterville (Canterville Chase) há séculos e é universalmente temido.

Acontecimento perturbador: é um acontecimento / problema que altera a situação inicial e desencadeia a história.

● A família Otis muda-se para Canterville Chase e não se deixa intimidar pelas tentativas de Sir Simon de a assustar. Este aspeto contraria o que é normalmente esperado de uma história de fantasmas.

Peripécias: é o conjunto de acontecimentos causados pelo acontecimento perturbador, que levam o herói a tomar medidas para resolver o problema.

● O fantasma de Sir Simon sofre por causa da indiferença da família e das piadas e travessuras das crianças da família, sem renunciar ao desejo de as assustar, e começa a ficar desesperado. É nesta fase que a dimensão paródica do texto é mais visível.

Resolução: é o evento que põe fim ao problema.

● Sir Simon conquista Virgínia, que o ajuda a encontrar a paz. Com esta resolução, o fantástico triunfa sobre o paródico, uma vez que os sentimentos e o mistério dominam o desfecho da ação.

Situação final: é o desfecho da ação, com o restabelecimento do equilíbrio. A situação é novamente estável, ta como a situação inicial, mas sofreu algumas alterações.

● O fantasma é libertado e agora repousa em paz no cemitério de Canterville. Muitos anos depois, Virgínia, que entretanto casara, continua a honrar a memória do homem que salvou.


segunda-feira, 30 de junho de 2025

Análise de O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos

 I. Vida de José Mauro de Vasconcelos


II. Obras


III. Obra


IV. Época


V. Ação

        1. Resumo

        2. Estrutura

        3. Resumo dos capítulos

                3.1. Primeira parte

                        3.1.1. Primeiro capítulo

                        3.1.2. Segundo capítulo

                        3.1.3. Terceiro capítulo

                        3.1.4. Quarto capítulo

                        3.1.5. Quinto capítulo

                3.2. Segunda parte

                        3.2.1. Primeiro capítulo

                        3.2.2. Segundo capítulo


Resumo do capítulo II - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

                Nos dias seguintes, Zezé toma precauções (por exemplo, sair mais cedo de casa, caminhar pela sombra) para não se encontrar com o Portuga, figura que lhe provocava uma grande raiva, a ponto de desejar matá-lo futuramente, porém, com a passagem do tempo, o medo e a hostilidade diminuem, sobretudo porque o português desaparece por alguns dias, o que lhe traz alívio.

                O tempo vai passando, a vida da rua segue o seu curso normal. A estação muda e o menino afasta-se um pouco de Minguinho, que continua a crescer, assim como a criança, que se aproxima dos seis anos. A cumplicidade entre ambos continua a estreitar-se e as conversas tornam-se sobretudo relevantes após as sovas que Zezé apanha. O narrador detalha o modo como decora a árvore, usando tampinhas de garrafa e pedaços de linha, e admira como o vento as faz baterem umas nas outras, dando uma imagem poética e vívida. Por outro lado, a vida na escola decorre bem: já conhece vários hinos nacionais de cor, destacando o da Liberdade como o seu preferido. Todas as terças-feiras falta às aulas para se encontrar com Ariovaldo e venderem, juntos, os folhetos do músico. Durante os recreios, gosta de jogar bola de gude, jogo que lhe granjeou o epíteto de «rato» por causa da sua boa pontaria, que lhe permitia ganhar muitas bolinhas. A professora vê-o como um menino especial e sente grande carinho por ele. Conhecedora da pobreza em que vive, à hora do lanche, chama-o à parte e dá-lhe dinheiro para ele ir comprar um sonho recheado. Além disso, não acredita que seja travesse ou diga palavrões. Em contrapartida, ele porta-se bem nas aulas (“... eu era um anjo.”), não tem qualquer repreensão e torna-se o oferecido das professoras por ser um dos alunos mais pequenos.

                Certo dia, Manuel Valadares regressa, passa lentamente por ele de carro e buzina-lhe, enquanto sorri. A partir daí, diariamente, a caminho da escola, Zezé continua a cruzar-se com o veículo do Portuga, que continua a buzinar-lhe, porém o menino não quer dar-lhe importância, visto que mantém o desejo de se vingar no futuro. Como é evidente, corre a contar estes eventos ao amigo Minguinho, que continua a crescer, daí que a criança necessite de um caixote para lhe subir.

                Numa tarde, não consegue resistir ao aroma das goiabas que lhe chega da casa da vizinha Ifigénia e decide tentar roubar alguma. No entanto, é surpreendido pela mulher, que lhe grita da janela da cozinha. Ato contínuo, ele foge e salta para dentro do valão, porém magoa-se num pé com gravidade (espeta um pedaço de vidro no pé), mas omite as dores intensas que sente com medo de ser castigado. Astutamente, procura Glória – Godóia – na cozinha, a irmão de quinze anos, que fica muito preocupada não só com a profundidade do corte, mas também com as palavras de desalento do irmão, que chega a referir a possibilidade de se suicidar ao atravessar a Rio – São Paulo. Ao jantar, Glória disfarça a ausência da criança, dizendo que se fora deitar, porque tinha dor de cabeça, em resultado das sovas constantes que apanhava (naquele dia tinham sido três).

                Na manhã seguinte, ao ir para a escola, cruza-se novamente com o português, que se apercebe do ferimento no pé e se oferece para o ajudar. Zezé, inicialmente, ignora-o e procura seguir o seu caminho, mas Manuel Valadares corta-lhe a passagem com o automóvel, desce e fala-lhe docemente, o que deixa o narrador espantado com aquela atitude de alguém que, alguns dias antes, lhe tinha batido. De seguida, oferece-se para o levar à escola, mas Zezé só aceita depois de o Portuga lhe prometer que o deixará antes de chegar à escola, pois a criança sentirá vergonha se os colegas – que sabem da sova que o homem lhe deu – o virem na sua companhia. Esta é a peripécia que irá transformar o curso da ação, na opinião de Miguel Neves Santos (op. cit., p. 20), dado que o português o leva a uma farmácia para tratar a ferida, antes que apanhe tétano, dá-lhe força e coragem para enfrentar as dores e leva-o até perto de casa. Zezé fica tão impressionado com a atitude do antigo inimigo que passa a nutrir um forte apreço e gratidão por ele: “O Português tinha se tornado agora a pessoa que eu queria mais bem no mundo.”

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domingo, 29 de junho de 2025

Resumo do capítulo I - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    As primeiras sequências narrativas desta parte centram-se na vivência quotidiana de Zezé, fazendo sobressair em definitivo o seu caráter e a sua tendência para ser reconhecido por todos como o “danado do menino de seu Paulo”, o principal agitador da rua.

    A criança toma o pequeno-almoço, enquanto Glória o apressa para não chegar atrasado à escola. Zezé e Totoca saem com as suas sacolas, cheias apenas de livros, cadernos e lápis, sem lanche. Aquele leva também as suas bolas de gude e os ténis nas mãos, que calçará apenas quando chegar à escola. Zezé, depois de o irmão o ter deixado para trás, pensa em «morcegar» o carro de Manuel Valadares, o único que lhe faltava apanhar e o mais bonito, embora constasse que o seu dono aplicava castigos severos a quem se aventurasse a apanhar aquele tipo de boleia clandestina. Na verdade, o menino sente-se fascinado pela estrada Rio – São Paulo e pelo «morcegar», uma atividade perigosa. Até então, já tinha conseguido fazê-lo até com o carro de um sujeito conhecido pela sua severidade, o sr. Ladislau, por isso agora está fixado no seu novo desafio, o automóvel do português, um homem temido, de aspeto carrancudo e com fama de agredir quem ousasse aproximar-se do seu veículo. O menino partilha esta informação com Minguinho e revela-lhe o seu plano de se agarrar ao carro de Valadares quando este parar no bar “Miséria e Fome” para comprar cigarros. Apesar do medo que sente, Zezé quer provar que é corajoso.

    No dia em que decide concretizar o seu plano, esconde-se, espera o momento adequado e agarra-se ao carro, todavia fá-lo cedo de mais, antes de o português ligar o motor e é apanhado por Valadares, que o puxa pela orelha, o repreende e lhe dá uma fortíssima palmada, à frente de toda a gente. O menino, apanhado de surpresa, nem consegue reagir, permanecendo calado, tal a humilhação e a raiva que sente naquele momento. Mais do que a dor física, ele sente vergonha por ser castigado diante das pessoas e pela zombaria destas. Nas poucas palavras que dirige a Manuel Valadares, Zezé explica que vai esperar até ficar crescido e, nessa altura, vingar-se-á, matando-o. Quando se afasta, chora e tenta aliviar a dor. O seu maior receio é que os colegas da escola descubram o que aconteceu e façam troça de si.

    Nesse mesmo dia, Totoca pede a Zezé que enfrente um outro rapaz, Bié, mais velho, muito maior e mais forte, que queria apanhá-lo no final das aulas para lhe bater. Apesar de Zezé explicar ao irmão que não terá qualquer hipótese de vencer aquela luta, Totoca convence-o e elogia-o. O menino atende o pedido, transferindo a raiva acumulada que sente pelo português para essa luta. Todavia, durante o confronto, apanha bastante pancada, enquanto Totoca e outros colegas incentivam à distância, e fica bastante magoado. Só não apanha ainda mais, porque o dono da confeitaria e admirador da sua irmã, seu Rozemberg, intervém e os separa. Apesar da sova que apanhou, Zezé sente-se aliviado por ter descarregado parte da sua raiva e frustração.

    Na sequência deste episódio, a criança desabafa com Minguinho e relativiza aquela luta, que resultou num olho roxo. Sente-se envergonhado e é repreendido pelo pai, que bate a Totoca, o que deixa Zezé magoado, pois apercebe-se de que é sempre considerado o culpado de tudo. A árvore ouve tudo atentamente e sente-se revoltado, apelidando seu Paulo de agressor e cobarde. O menino, por sua vez, sonha com a vingança, idealizando um plano que envolve armas e armadilhas, inspirado em filmes do faroeste. No entanto, a raiva acaba por passar e os dois mudam o assunto da conversa.

    De facto, a criança diz-lhe que ganhou um livro como prémio de ser bom aluno (A Rosa Mágica), o qual narra a história de um príncipe e da sua rosa encantada, e expõe ao amigo as suas dúvidas relativamente aos pressupostos muito irrealistas da ação, manifestando algumas reservas acerca da forma como se tentava por vezes impingir às crianças contos de fada que não se coadunavam com a realidade. De facto, ele considera a história infantil e sem graça, visto que prefere aventuras reais e perigosas, como as dos heróis do faroeste (Tom Mix, Buck Jones, Fred Thompson, etc.), e reflete sobre o pormenor de os adultos subestimarem a inteligência das crianças. Esta conversa, todavia, termina após a chegada de Luís para não destruir as fantasias do irmãozinho. Zezé mostra-se protetor e carinhoso para com Luís, afirmando que os sonhos das crianças devem ser preservados.

    Subitamente, com a chegada do vento – elemento que simboliza a fantasia e a liberdade –, o menino mergulha numa brincadeira de faz-de-conta: transforma o ambiente e Minguinho num cavalo de ouro, imaginando-se vestido como um xerife, numa planície cheia de índios apaches, bisões, tiros e galopadas a cavalo. Este faz-de-conta configura um momento de imaginação e fuga à dura realidade que vive. No entanto, Zezé é interrompido por Luís, que, com medo dos índios, lhe pede que mude de brincadeira. O irmão tenta acalmá-lo, afirmando que os Apaches são amigos, mas acata o pedido. Este episódio evidencia a sua sensibilidade em lidar com os sentimentos do irmão, bem como a importância que a imaginação e a fantasia assumem enquanto válvula de escape para a dor e os conflitos familiares.

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sábado, 28 de junho de 2025

O trio tóxico

Putin e más companhias

    O cartune, assinado por Kusto, de seu verdadeiro nome Oleksiy Kustovsky, é uma sátira de cariz geopolítico que expõe as atuais tensões internacionais, envolvendo três nações associadas ao poder repressivo e à ameaça nuclear: Rússia, Irão e Coreia do Norte.

    No centro da imagem, deparamos com três figuras humanas que representam três líderes políticos mundiais e que compartilham um míssil transformado em trenó, que desliza sobre um chão gelado. A figura da frente, um homem com um nariz muito comprido, capacete vermelho com listas brancas, um fato cinzento com uma braçadeira vermelha semelhante à suástica nazi (com o centro redondo e branco registando a letra Z, uma clara referência a Vladimir Zelenski, o líder ucraniano que combate o invasor russo há três anos), de olhos arregalados e olhar assustado, é Vladimir Putin, o atual dirigente da Rússia. A do meio é um homem idoso, de barba grisalha e comprida (símbolo do poder teocrático), usando um turbante preto (outro símbolo do poder teocrático) e óculos, olhar penetrante e astuto, olhando na direção do leitor / observador do cartune, e sorriso aberto, sugerindo frieza e maldade, concretamente o aiatola iraniano Ali Khamenei. Por último, a figura de trás é um homem de rosto redondo, sorriso largo e cabelo característico, com uma expressão relaxada e confiante, sugerindo despreocupação e até escárnio. Trata-se de Kim Jong-Un, líder da Coreia do Norte. A união das três personagens, reunidas no mesmo veículo, sugerem a aliança tácita entre os regimes que lideram e representam, norteados por interesses bélicos e postura desafiadora relativamente à ordem mundial.

    O veículo em que se deslocam é um trenó em forma de míssil que desliza num solo gelado, relembranco a modalidade olímpica conhecida por Bobsled. Na parte da frente da viatura, encontra-se o tradicional símbolo nuclear, o que significa que o míssil é uma bomba atómica. Na lateral esquerda, estão inscritos os nomes, em inglês, das três capitais dos países que as figuras humanas representam pela ordem que elas ocupam no interrior do trenó / míssil: Moscow, Tehran e Pyongyang. Por baixo destas inscrições, encontram-se as bandeiras das três nações, sendo que de cada uma escorre um pouco de tinta vermelha, representando o sangue derramado pelos três regimes opressivos. Por outro lado, os nomes das capitais estão separados entre si por caveiras, reforçando a colagem aos três homens e respetivos países das ideias de perigo iminente, destruição, toxicidade e morte. Além disso, a escolha do míssil como veículo contrasta ironicamente com o formato de trenó, associado a um desporto (que indicia saúde, vida, entretenimento) ou a uma atividade lúdica. O efeito que se atinge com esta representação é profundamente perturbador e inquietante: os três líderes mundiais, possuidores de ogivas nucleares, são retratados como figuras que «brincam» com armas de destruição massiva, de forma irresponsável e insensível.

    Prosseguindo a análise, outro elemento extremamente simbólico é o facto de a base do trenó ser composta por duas foices. Ora, a foice, juntamente com o martelo, é o principal símbolo do comunismo, pelo que a sua presença remete para a ideia de dois dos três países - Rússia e Coreia do Norte - serem os herdeiros do comunismo da antiga União Soviética, enquanto o Irão também se lhe associa, porquanto mantém estreitas relações privilegiadas com a Rússia, como o comprova, por exemplo, o fornecimento de material bélico aos russos durante o conflito com a Ucrânia. Por outro lado, a foice é um instrumento de ceifar e, por extensão, um objeto que pode tirar a vida, reforçando, assim, o tom ameaçador do engenho nuclear: o trenó em forma de míssil não é somente um veículo de destruição, mas uma m´quina de ceifar vidas em massa. Além disso, da parte da frente do trenó sai um fio de fumo negro, que se acumula no ar, formando uma nuvem de tons negros, azuis e amarelo-esverdeados, parecendo possuir ao centro um olho, constituindo, portanto, mais um elemento que representa a ameaça de destruição e morte.

    À direita da imagem, é visível uma árvore antropomorfizada, isto é, os ramos maus pequenos e as folhas são o globo terrestre. Abraçada e escondida atrás da árvore, está a Morte, com a sua túnica negra e a sua foice, dois elementos tradicionais da sua representação icónica. Quer a túnica quer a foice apontam para a destruição e a morte e o facto de a figura da Morte estar escondida e agarrada à árvore sugere que constitui uma ameaça para o planeta e que espera pacientemente o desfecho, ou seja, está pronta para atuar assim que o míssil eclodir e ceifar vidas. Como já foi referido, a árvore contém o globo terrestre no seu topo, o que significa que a ameaça representada no cartune possui uma dimensão planetária.

    As cores predominantes na imagem têm também uma dimensão significativa. Assim, o verde do trenó / míssil está tradicionalmente associado ao militarismo e ao armamento, representando, neste caso, a base da ameaça. Por sua vez, o vermelho, presente no capacete usado por Putin e nas bandeiras dos três países, é a cor do sangue (que escorre dos três estandartes), da guerra e do comunismo, enquanto o amarelo e o preto presentes no símbolo nuclear, situado na parte da frente do míssil, representam o perigo extremo que ameaça a Terra. Por último, o cinzento, o preo e os tons amarelos e verdes visíveis nas roupas e no fumo contribuem para a construção de um ambiente sombrio e ameaçador. Ou seja, as cores selecionadas contribuem para reforçar a atnosfera de tensão e ameaça que paira em toda a imagem.

    Em suma, o cartune configura a crítica à ameaça representada pela colaboração entre regimes autoritários e belicistas, simbolizados pelos seus líderes, tendo como pano de fundo a guerra declarada pela Rússia à Ucrânia, na qual intervêm o Irão através do fornecimento de armas ao regime de Putin e a Coreia do Norte por meio do envio de soldados norte-coreanos para o campo da batalha, para combater a resistência ucraniana, bem como os recentes ataques desferidos por Israel contra o Irão, a pretexto de destruir ou atrasar o programa nuclear iraniano.

Na aula (LIV): Pedro Álvares Cabral é o primeiro rei de Portugal

     Contexto: aula de Português, estudo do episódio de Inês de Castro.

    Professor: face ao desconhecimento generalizado da História de Portugal por parte dos alunos, pergunta: "Quem foi o primeiro rei de Portugal?"

    Alunos: silêncio geral, mas... passados uns segundos...

    Â. Patrício: Pedro Álvares Cabral.

domingo, 22 de junho de 2025

Resumo do capítulo V de O Meu Pé de Laranja Lima

    Zezé decide faltar às aulas, porque é terça-feira, o dia em que um vendedor ambulante de folhetos que é também músico, chamado Ariovaldo, costuma aparecer no bairro. Para passar o tempo, entra na igreja, onde encontra Zacarias, o sacristão, que troca as velas dos castiçais. A criança finge ter ido à escola e mente sobre a sua idade para conseguir os toquinhos de vela, dizendo que são para encerar a linha do seu papagaio, quando, na verdade, os quer para fazer alguém escorregar. Zacarias concorda e, como recompensa, o menino promete começar o catecismo.

    Zezé esfrega a cera no chão da calçada, na esperança de ver alguém escorregar. Após uma longa espera, vê Dona Corinha (amiga da sua mãe) cair e xingar, o que o diverte. No entanto, é descoberto por seu Orlando, que o repreende, mas não denuncia, pedindo-lhe apenas que não volte a repetir a travessura, pois alguém poderá magoar-se a sério.

    Zezé encontra finalmente Ariovaldo, que há já algum tempo o vinha encantando com a sua voz poderosa e com as suas versões de canções populares da época, cujas letras vende em folhetos. O pequeno fica especialmente emocionado com a canção “Fanny”, que o toca profundamente, A criança aproxima-se dele e mostra-se interessada em o acompanhar e vender os folhetos, sem qualquer pagamento em troca. Ariovaldo acha graça ao facto de o menino o abordar com tanta convicção e lucidez, por isso aceita que o acompanhe nas suas vendas e atuações, um dia por semana. Ariovaldo percebe que Zezé é esperto, sensível e educado. Leva-o a lanchar num boteco e divide com ele uma sanduíche e limonada.

    Zezé consegue convencer a irmã glória a deixá-lo faltar às aulas uma vez por semana, argumentando com o seu bom desempenho escolar e a sua dedicação, mostrando os cadernos impecavelmente mantidos, as boas notas e exaltando o facto de ser o melhor na leitura. Além disso, afirma que as aulas são repetitivas e que aprende muito mais a cantar e a ler os folhetos que Tio Edmundo lhe dá. Assim, todas as terças-feiras a criança encontra-se com Ariovaldo na estação de caminho de ferro. Os dois vendem folhetos de músicas pelas ruas. Zezé entusiasma-se com as canções, especialmente a nova, intitulado “Malandrinha”, que acredita ser um sucesso de vendas. Ao almoço, dividem sanduíches e refrigerantes num boteco. O menino, com os seus trocos, paga a refeição, o que deixa Ariovaldo impressionado com a sua honestidade e solidariedade. O vendedor ambulante decide, então, deixar que Zezé fique com o dinheiro que ganhar, considerando que, a partir daquele momento, passarão a formar uma dupla musical. O menino fica orgulhoso, sente-se valorizado e propõe cantar a parte mais sensível da canção “Fanny”. Esse momento acaba por ser interrompido por D. Maria da Penha, uma beata, que os acusa de indecência por Zezé estar a cantar letras que ela considera imorais e ameaça denunciar ao padre, ao juiz de menores e à polícia. Ariovaldo, indignado, defende-se com firmeza e chega a puxar uma faca para a intimidar, afirmando que odeia pessoas que se metem na vida dos outros. A mulher vai embora enfurecida, mas o episódio revela os preconceitos sociais e morais da época.

    De tarde, em conversa com o companheiro, Ariovaldo reconhece a sorte que Zezé lhe trouxe nos negócios. Posteriormente, dialogam sobre Maria da Penha e o homem entrega-lhe um folheto para Glória. A conversa prossegue com humor e cumplicidade, mostrando a amizade sincera e o afeto entre ambos. Quando se despedem, Ariovaldo chama a criança de «anjo», mas este ri, consciente de que não é tão inocente quanto parece.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Resumo do capítulo IV de O Meu Pé de Laranja Lima

    A família muda para a nova casa. O trajeto é simples, mas cheio de pequenos momentos de alegria: a carroça desliza suavemente quando entra na estrada principal, passa por um carro bonito, o de Manuel Valadares, e Zezé reconhece ao longe o apito do Mangaratiba. Quando chegam à casa, a criança oferece ajuda, mas é dispensado com delicadeza para brincar. Assim, vai falar com Minguinho, o pé de laranja lima, e fala-lhe da viagem, promete enfeitá-lo e imagina o «valão» próximo, a que deram o nome Amazonas, cheio de canoas indígenas.
    Nos primeiros tempos após a mudança de casa, Zezé opta por não incomodar a nova vizinhança, mas certa tarde não resiste a construir uma figura semelhante a uma cobra, usando uma meia preta e linha de papagaio, com o objetivo de assustar alguém que passasse na rua. Ele põe o plano em prática e acaba por assustar uma mulher grávida, que entra em pânico e se sente tão mal que receia perder o filho. O alvoroço causado faz com que os vizinhos saiam de casa para procurar a cobra com paus e machados, mas logo descobrem que se trata de uma brincadeira. Ao perceberem que a «cobra» vem do quintal, a família desconfia da criança, que se esconde no cesto de roupa suja. Descoberto, leva uma valente tareia da mãe.
    Na manhã seguinte, vai procurar a «cobra», pois quer reutilizá-la, mas não a encontra, o que o deixa frustrado. De seguida, desloca-se até casa de Dindinha à procura de Tio Edmundo, convicto de que, por ser cedo, ainda não teria saído para as suas atividades quotidianas habituais: bicho e jornais. Encontra-o na sala a fazer paciências. Durante a conversa que entabulam, Zezé tenta explicar que recentemente se apercebeu de que não precisa de verbalizar em voz alta, por exemplo, uma cantiga, para que esta exista dentro de si, e quer saber se o homem é capaz de cantar por dentro, sem emitir som. Zezé acredita que dentro dele vivia um passarinho que cantava. Tio Edmundo compreende a metáfora e explica-lhe que esse passarinho simboliza a infância e a imaginação, acrescentando que, à medida que for crescendo, a ave se vai embora e dá lugar ao pensamento – um processo natural do amadurecimento. Deus, então, recolhe o passarinho e entrega-o a outra criança especial. O tio explica-lhe, assim, que está a desenvolver a sua capacidade para pensar, e a criança percebe, emocionado, que esses «pensamentos» fazem parte do crescimento e anunciam a chegada da “idade da razão”.
    Ao sair da casa de Dindinha, Zezé recorda um episódio triste: o dia em que Totoca se esqueceu do seu coleirinha – um passarinho real – ao sol e, por isso, ele morreu. Desde esse episódio, prometeram mutuamente nunca mais prender passarinhos. Dominado por essa recordação e pela conversa com o tio, a criança decide despedir-se do seu passarinho interior, vai falar com Minguinho e pede-lhe que esperem por uma nuvem que atravessa o céu. Ao avistá-la, abre a camisa como se soltasse o passarinho do seu peito, pedindo que voe até Deus e vá cantar para outra criança. Essa despedida representa a transição de Zezé da infância para o início da maturidade, que o deixa vazio por dentro e com uma grande tristeza com a partida do passarinho – a sua inocência, imaginação e infância.
    Acompanhado pela irmã Glória, Zezé matricula-se na escola, fingindo ter seis anos, e inicia uma nova etapa de descobertas. A irmã do protagonista explica à diretora que a mãe de ambos não pôde comparecer porque estava a trabalhar, e Zezé, orgulhoso, afirma que o nome completo da progenitora inclui «Pinagé», destacando, deste modo, as suas origens indígenas. A diretora apercebe-se da pobreza da família ao reparar nos remendos das roupas da criança e encaminha-o para receber dois uniformes, que o deixam muito feliz. Ele passa a viver com grande entusiasmo os seus dias, mantendo sempre Minguinho a par das novidades. É um bom aluno, atento e respeitador, muito valorizado pela professora, D. Cecília Paim. Certo dia, fica curioso ao ver uma menina a levar flores à docente e descobre que esse é um gesto comum entre alunos aplicados, por isso decide levar-lhe também uma flor. Apesar de não ser bonita, é a única que demonstra carinho por ele, oferecendo-lhe um tostão para comprar doces.
    Em nova conversa com o pé de laranja lima, Zezé conta-lhe uma nova «aventura»: apanhar boleia nos carros, agarrando-se ao pneu traseiro enquanto andam devagar perto da escola, uma brincadeira que ele apelida de “morcego de andar”. Por outro lado, revela igualmente o seu orgulho por ter sido elogiado pela professora, que o considerou o melhor leitor da turma, embora tenha dúvidas sobre a palavra «leitureiro». Na sequência, menciona um veículo especial que ninguém teve coragem de «morcegar»: o de Manuel Valadares.
    Zezé está cada vez mais envolvido com a escola e muito feliz com o carinho da professora, que presenteia com uma flor, o que a leva a chamar-lhe «cavalheiro». Ele tem um bom comportamento durante as aulas. Certo dia, aguarda ansiosamente o regresso da mãe do trabalho, pois tem um segredo para lhe contar. Quando ela chega, a criança pede-lhe para comprar um fato usado de um colega, Nardinho, pois já não lhe serve e Zezé quer ter uma “roupa de poeta”. Apesar das dificuldades financeiras da família, a mãe comove-se e promete-lhe fazer horas extraordinárias para comprar o fato. A criança fica emocionada e, mais tarde, veste a roupa nova (de poeta) com tanto orgulho que o Tio Edmundo o leva a tirar uma fotografia.
    No final do capítulo, Zezé é confrontado pela professora, após um colega, Godofredo, lhe contar que roubava flores do jardim de um vizinho para enfeitar a sala de aula. O menino admite o furto, alegando que queria que D. Cecília Paim tivesse flores como as outras. Como, em sua casa, não há nenhum jardim nem dinheiro para as comprar, teve de as «roubar». Além disso, acrescenta que, sendo as flores de Deus, elas pertencem a todos. A totalidade do diálogo revela a ingenuidade, a generosidade e a sensibilidade da criança: ele recusa receber o lanche da professora diariamente para que outros colegas também tenham a possibilidade – nomeadamente Dorotília, uma menina negra e muito pobre, com quem divide o lanche. Ele aprendeu com a mãe que deve compartilhar a pouca riqueza que possui com quem tem menos ainda. Sensibilizada pelas palavras e gestos de Zezé, a professora fica emocionada, pede-lhe que não volte a levar flores roubadas e garante-lhe que o copo nunca mais voltará a ficar vazio, pois, ao olhar para ele, imaginará sempre a flor mais bonita, dada pelo seu melhor aluno.

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