O conto tem como personagem central Bento, um homem magro, de estatura média e aparência frágil, que vive num remoto povoado nas margens do rio Côa. Desde os sete anos, após o falecimento do pai, era pastor, pastoreando cabras na companhia de Lobato, o seu cão. Foi nesse ambiente de carência e solidão que cresceu, nunca tendo frequentado a catequese ou a escola.
A sua comunicação com os outros seres humanos era muito difícil, o que contrastava com o modo fácil como se entendia com os animais. Raramente sorria e tinha um olhar opaco e vazio, como se carregasse o peso do mundo nos olhos. Não obstante a sua forma de ser, Bento era, na realidade, um homem bondoso, sendo procurado por várias pessoas da aldeia e das redondezas, nomeadamente por quem sofria de doenças persistentes ou se sentia vítima de mau-olhado ou feitiçaria.
Este facto reforça a crença popular de que Bento possuía um dom, citando-se o exemplo de um menino que chorou três vezes dentro do ventre da mãe e, após ser curado pelo curandeiro, tal episódio foi percecionado como sinal do seu poder de adivinhação e cura. Alude-se ainda ao pormenor de Bento possuir uma cicatriz em forma de cruz no céu da boca desde bebé, após um episódio de alergia aftosa.
O narrador revela que conheceu o protagonista em 1949, ano em que a sua mãe, já sem saber o que fazer para tratar a doença, decidiu recorrer a Bento, por sugestão de uma prima. O padre Cristóbal, informado da situação, sugeriu que embebesse um ramo de oliveira em água benta e benzesse o filho. Se houvesse uma reação agressiva, era sinónimo de que a criança estava possuída ou sob o efeito de feitiçaria; se não, o problema seria físico, pelo que deveria consultar um médico. Apesar de algum ceticismo, a mãe acabou por o levar a Bento, após o que as febres passaram, mas, na véspera do Dia de Finados, à meia-noite, a criança afirma ter visto a silhueta de uma mulher aos pés da sua cama. Ti Maria do Rosário, uma vizinha, recomenda uma consulta com o curandeiro.
A mãe prepara o jumento e, ao amanhecer de uma terça-feira de 1949, partem rumo à aldeia onde Bento mora. No caminho, param numa igreja para se abastecer de água, prosseguindo depois para Castelo Bom. À sua chegada, encontram uma multidão de pessoas, muitas com galinhas, chouriças, morcelas e farinheiras, uma forma de pagamento ao curandeiro. Bento chega já de noite e começa a atender quem o quer consultar, enquanto a mãe e o filho se abrigam na cozinha. Já é bem tarde quando o casal que os antecedia é chamado. A mulher, exausta, adormece encostada à chaminé. Após a última consulta, o curandeiro declara-se esgotado, aconselha que pernoitem no palheiro e regressem na semana seguinte.
Aquando da segunda visita, Bento aparece novamente ao anoitecer. Quando chega a vez de atender o narrador, este sente uma dor no estômago e o coração começa a bater mais depressa, mostrando todo o seu nervosismo. Todavia, apesar da longa espera, o curandeiro não o chama, pois acaba por dar prioridade a um homem que aparenta estar possuído, retorcendo os olhos e espumando pela boca. O atendimento é muito demorado e, com o passar das horas, o narrador e a mãe adormecem de cansaço, enrolados no xaile junto à chaminé. Acabam por ser despertados por uma mulher que está de saída, porém já é muito tarde e não resta ninguém na cozinha. Bento, mais uma vez exausto, volta a não os atender e sugere de novo que pernoitem no palheiro e regressem na semana seguinte. A mãe do narrador revolta-se, acreditando que o curandeiro está a zombar deles por não levarem qualquer oferta como as outras pessoas.
Em seguida, o narrador relata que, a pedido da Ti Maria do Rosário, resolve finalmente perguntar à mulher que frequentemente vê aos pés da cama se ela é desta mundo ou do outro e o que deseja dele. Assim, na sexta-feira seguinte, o narrador aguarda a aparição para a questionar, contudo adormece sem querer. Quando desperta, sente um frio gélido no rosto e avista a mulher, silenciosa, aos pés da cama. Ele questiona-a, mas ela não responde. No dia seguinte, conta à mãe e à vizinha o episódio. Na noite desse dia, tem uma visão mais nítida: a figura é jovem, apresenta uma das faces em carne viva e um ferimento que se estende até o pescoço. Além disso, tem o ventre dilatado, como se esteja grávida, e tem uma mão sobre ele, enquanto chora silenciosamente.
Ao saber do sucedido, Ti Maria do Rosário diz que se trata de Cremilde, uma jovem do seu tempo que perdeu o primeiro filho, falecido ao nascer com o cordão umbilical enrolado no pescoço, e nunca mais conseguiu engravidar. A partir desse momento, enlouqueceu: passava os dias a lavar-sena ribeira, chorava, colhia ramos de giesta, amarrava-os ao ventre e voltava ao povoado com as mãos coladas à barriga e um sorriso desfigurado e perturbador. Um dia, ao adormecer, foi atacada por um lobo, que a matou, deixando o corpo esfacelado de cima a baixo. Na noite em que esta história é contada, regressa a febre do narrador, que começa a delirar, invocando o nome «Cremilde» repetidamente e descrevendo, em transe, o que aconteceu com o bebé.
Na manhã seguinte, a mãe pede à vizinha uma carroça, onde acomoda o filho com palha e uma manta, e os dois partem em direção à casa de Bento. Este chega ao entardecer, entrega as cabras à ordenha, lava as mãos com sabão de banha de porco como de costume e recebe o narrador e a mãe. No quarto, pede à criança que abra a boca e mostra à progenitora a cruz gravada no céu da boca do filho.
Três dias depois, Ti Maria do Rosário, aflita, pede ajuda à mãe do narrador, pois a sobrinha, Ermelinda, está prestes a dar à luz, mas o parto está complicado. Os dois vão até lá, e o narrador pede que todas as mulheres saiam do quarto e o deixem a sós com a parturiente. De seguida, lava as mãos e coloca-as sobre o ventre de Ermelinda, sem lhe tocar, tal como vira Bento fazer aquando da primeira tentativa de consulta. O rapaz sente o calor concentrar-se na ponta dos dedos e começa a fazer movimentos circulares, no sentido dos ponteiros do relógio. O calor aumenta, e o narrador transpira intensamente, enquanto uma sensação semelhante a um formigueiro toma conta do seu corpo. Ermelinda sente o bebé a rodar dentro do ventre, mudando para a posição de cabeça para baixo, pronto para nascer. As parteiras são chamadas e o parto corre normalmente.
Na noite anterior, Cremilde tinha aparecido ao narrador pela última vez: ela vagava pelo quarto, com as mãos sobre o ventre grávido, chorando em silêncio. Em determinado momento, deteve-se aos pés da cama, fez movimentos circulares com as mãos no sentido dos ponteiros do relógio, sorriu-lhe e desapareceu para sempre. No entanto, começou a ser visitado por outras figuras, que lhe revelam o que está por vir e o que deverá fazer. Uma dessas visitas é a de Bento, que lhe aparece em espírito e o informa de que o tempo do narrador chegou. Além disso, diz-lhe que, dentro de sete dias, será procurado por um jovem, que deverá atender somente quando o visitar pela terceira vez. Então, deverá confirmar se o jovem tem uma cruz no céu da boca, como ele mesmo tivera.
Após a morte de Bento, espalha-se a notícia de que há um novo homem, que mora numa pequena aldeia da raia, que faz bem às pessoas. Deste modo, as pessoas das redondezas começam a procurá-lo por causa das suas maleitas.