Português: Origem e desenvolvimento das tendências pré-românticas europeias

sábado, 22 de novembro de 2025

Origem e desenvolvimento das tendências pré-românticas europeias

    Na literatura europeia, há como que uma cronologia diferenciada das manifestações pré-românticas.
    A difusão do Pré-Romantismo não se faz do mesmo modo nos países europeus.
    Em dois países, Grã-Bretanha e Alemanha, as tendências pré-românticas tendem a afirmar-se mais cedo. No entanto, a Grã-Bretanha tem a primazia. Podemos mesmo dizer que, nos princípios do século XVIII, surgem os primeiros escritores pré-românticos, que apesar de numerosos, não têm intenção de formar escola. A Grã-Bretanha desempenhou um papel primordial da gestação e florescimento do Pré-Romantismo. Alguns dos escritores ingleses mais importantes foram:
. Young (1683-1765): é um dos poetas mais conhecidos com a sua obra Night Thoughts, 1742 (Meditações Noturnas), através da qual começa a difundir-se o gosto pela noite e pela melodia noturna.
. Thomson: distinguiu-se com a obra The Seasons, em que já se troca o espírito neoclássico sobre a natureza por um novo espírito, em que se valoriza o que essa natureza tem de soturno, melancólico e perturbador para o homem.
. Thomas Gray: distinguiu-se com a obra Elegy written in a country churchyard (1771). Estamos perante um ambiente lúgubre e noturno, em que os títulos se tornam sugestivos. Retrata uma natureza humana perecível.. Richardson
. Macpherson: autor de uns célebres poemas que refletem uma sensibilidade da Idade Média. É o retomar de uma época esquecida. Inventa a poesia de um bardo do século III, Ossion, imaginando um passado heroico perdido nas brumas do tempo, eivado de solene melancolia.
    De uma maneira geral, nestas obras encontramos uma poesia cheia de sensibilidade e sombras melancólicas, o gosto por uma natureza propícia ao devaneio e à meditação; um elogio da noite; a prefiguração da morte; uma sensibilidade que se compraz nos espetáculos das ruínas e cemitérios.
    Esta poesia apresenta como vetores fundamentais:
        - a noite;
        - as ruínas;
        - os túmulos.
    Esta sensibilidade é originária da literatura inglesa.
    O professor Aguiar e Silva diz: "A meditação sobre a noite, os sepulcros e a morte inserem-se numa temática pessimista e traduzem a nostalgia do infinito e a funda insatisfação espiritual que já angustia os pré-românticos."
    Quanto à Alemanha, os pré-românticos surgem um pouco mais tarde do que na Grã-Bretanha; são menos numerosos, mas mais homogéneos. Os pré-românticos ganham consciência de que está em formação uma literatura nova e chegam a criar grupos e escolas.
    Merecem especial referência dois grupos:
        Sturm und Drang (fúria e luta), que surge ligado a Goëthe, com o qual explode o Pré-Romantismo alemão.
            Grupo dos Bardos, que se forma em redor de um poeta religioso: Klopstock.
    Além destes, temos ainda outro autor alemão importante: Lessing, um autor fundamentalmente teórico que acaba por derrotar certas teorias do Neoclassicismo.

    A maioria dos poetas pré-românticos veio de zonas montanhosas dos países nórdicos: Escócia, Irlanda e Suíça. Aqui temos que referir Gessner, autor de vários idílios e poemas bucólicos.
    Nos países do sul da Europa, o espírito pré-romântico aparece como que já filtrado pelo espírito do Classicismo francês. Nestes países, não encontramos escolas nem grupos. Verifica-se apenas a existência de um conjunto de características pré-românticas que lentamente se vão difundindo pela Europa do sul.
    Em todo este processo de difusão, a França desempenhou um papel de charneira e chegou a ter nomes de relevo:

        . Diderot, que escreveu obras sobretudo teóricas já de feição pré-romântica. Elabora uma teoria do génio. Aqui mais não faz do que traduzir um princípio difundido pelos poetas do movimento "Sturm und Drang". Defende a criação poética submetida ao génio. O poeta não pode estar sujeito a princípios; é o génio que se manifesta como forma torrencial.
    A teoria do génio criador elimina o modelo clássico de imitação dos antigos e também a teoria dos génios literários propostos pelos neoclássicos. O génio criador era livre de criar o que quisesse sem estar sujeito a princípios ou normas.

        . Rousseau: a ele se ligam obras como Emílio, Contrato Social, Confissões, através das quais se definiu e difundiu uma nova moral. Ao falarmos em moral de Rousseau estamos a referir-nos a uma moral de sensibilidade que sentimos que não assenta em princípios.
    Aparece um conceito novo consigo: a virtude no sentido de delicadeza da sensibilidade e não de princípios.
    A Rousseau se aliaram teorias como a do bom selvagem e a teoria da bondade natural do homem.
    Numa das suas obras (Confissões), reforçam-se algumas tendências da literatura alemã:
        . melancolia;
        . devaneio;
        . sonhar acordado.
    Com Confissões há a valorização do confessionalismo, da literatura centrada no "eu". Dá-se com esta literatura a abertura da alma e sensibilidade pessoal, na qual não há pudor em falar do "eu" e sua intimidade.
    Há um grande contraponto com a literatura neoclássica: o gosto não é universal, é pessoal. Valoriza-se a sensibilidade contrária à racionalidade.
    Surge também a tendência de procurar um ambiente próprio ao estado de alma do poeta, ligada à preferência pela noite e ruínas, o que evoca o passado e nele procurando um espaço e um tempo afastado do atual. Assim surge a preferência pela Idade Média. Ao valorizar-se a sensibilidade individual e subjetiva surge a valorização do que é peculiar em cada país e sua literatura.

    O Pré-Romantismo inicia uma nova experiência estética. Um dos seus traços era a valorização da literatura de cada país, fazendo com que essa literatura correspondesse aos espíritos próprios de cada povo.
    A partir daqui começa a ganhar forma a teoria da relativização do belo artístico e simultaneamente vai-se desmoronando o princípio neoclássico do belo universal. Começam a surgir literaturas de tendências nacionais. Surge o gosto da poesia de tradição e mesmo de caráter oral.
    Macpherson foi um dos que protagonizou esta teoria da relativização do belo.
    Herder (poeta alemão) e Lessing defendem que cada nacionalidade devia identificar o espírito próprio do povo: "volksgeist". Este acabava por se alargar a outros domínios como a língua, a arte, a religião e modos de vida, que não apenas a literatura. Daqui se valorizar um certo tradicionalismo e se depreender que eles defendam que a evolução de cada povo tem que ser feita segundo a tradição, segundo uma certa fidelidade ao "volksgeist" e não deve ter como preocupação o progresso desenfreado.
    Este "volksgeist" verificou-se em todas as nações europeias antes da dominação do império romano. Com a cristianização e a romanização tinha-se abafado o espírito genuíno de cada povo.
    O "volkesgeist" ter-se-ia manifestado na Idade Média, ainda que de forma abafada.
    O Renascimento trouxe um retrocesso com a universalização de princípios e o regresso aos clássicos e à razão universal. Esta ideia começa a refletir-se na produção literária da época. Por exemplo, Schiller, no seu teatro, começa a apresentar como heróis heróis nacionais.
    Também Garrett inicialmente se mostrava influenciado pela estética neoclássica. Mais tarde escreve obras como Camões e Dona Branca.
    Paralelamente à valorização dos heróis nacionais, há um gosto por personagens marginais, o que se vai estender pelo Romantismo.

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