sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Portagens das ex-SCUT: consulta on-line dos pagamentos em dívida
Todos os condutores que frequentam as ex-SCUT e não possuem o Dispositivo Eletrónico de Matrícula (DEM) têm de efetuar o pagamento nas estações de correios (CTT). Note-se que a este tipo de pagamento acresce o valor de 0,25 € por viagem, num máximo acumulado de 2 € para «despesas administrativas». Por outro lado, o lançamento da dívida, que terá de ser paga num prazo máximo de cinco duas úteis, acontece somente dois dias após a passagem nos pórticos.
Quem não dispuser ainda do DEM, pode consultar o valor em dívida no sítio dos CTT (clicar para aceder). Para tal, necessita apenas de introduzir a matrícula do veículo e um código de verificação «captcha», ou seja, a cadeia de carateres apresentada.
O senão tem a ver com o facto de qualquer pessoa que conheça a matrícula do «nosso» veículo ter acesso aos nossos dados enquanto viajantes, colocando assim em causa a privacidade de cada um.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Mais quatro barcos hotel a cruzar o rio Douro até 2014
«O Douro deverá contar com mais quatro barcos hotel até 2014, a juntar aos oito que já cruzam o rio desde o Porto até Barca de Alva, disse hoje à Agência Lusa o presidente da Turismo do Douro.
António Martinho referiu que o Douro é cada vez mais procurado por turistas, verificando-se também "um crescimento claro" a nível do cruzeiro fluvial, nomeadamente dos barcos hotel.
Atualmente cruzam a via navegável do Douro oito barcos hotel. Um número que, segundo António Martinho, deverá crescer para os 12 até 2014.»
Os gregos, o «deficit» e a falência
Escravidão |
Na Grécia Antiga, certo ano os atenienses exigiram dinheiro aos habitantes da ilha de Andros e, jocosamente, disseram-lhes que tinham de pagar porque havia dois deuses poderosos em Atenas que os compeliam a tal: «Por favor» e «É melhor pagar».
Havia, porém, um senão: os ilhéus eram muito pobres. Assim, responderam que a sua ilha era tão miserável que os únicos deuses que possuíam eram dois que se recusavam a partir: «Falido» e «Lamento muito».
Por outros palavras, quando não há com que pagar, todas as ameaçasse se revelam inúteis.
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Obras de Almeida Garrett
Poesia
"Hino Patriótico" (1820 - poema)
"Hino Patriótico" (1820 - poema)
"Ao Corpo Académico" (1821 - poema)
"O Retrato de Vénus" (1821 - poema)
Lírica de João Mínimo (1829)
Romanceiro (1843 - volume I)
Flores sem Fruto (1845)
Folhas Caídas (1853)
Flores sem Fruto (1845)
Folhas Caídas (1853)
Lírica I (1853)
Narrativa
Adozinda (1828)
Narrativa
Adozinda (1828)
Viagens na Minha Terra, publicada em folhetins em 1843 e editada na íntegra em 1846
Arco de Sant'Ana (1845 - volume I; 1850 - volume II)
Arco de Sant'Ana (1845 - volume I; 1850 - volume II)
Teatro
Lucrécia (1819)
Mérope (1820)
Catão (1821)
Camões (1825)
D. Branca (1826)
Um Auto de Gil Vicente (1838)
Dona Filipa de Vilhena (1840)
O Alfageme de Santarém (1842)
Frei Luís de Sousa (representado pela primeira vez em 1843 e publicado em 1844)
Catão (1821)
Camões (1825)
D. Branca (1826)
Um Auto de Gil Vicente (1838)
Dona Filipa de Vilhena (1840)
O Alfageme de Santarém (1842)
Frei Luís de Sousa (representado pela primeira vez em 1843 e publicado em 1844)
Tio Simplício (1846)
Falar Verdade a Mentir (1846)
A Sobrinha do Marquês (1848)
A Sobrinha do Marquês (1848)
Discursos
"Oração fúnebre de Manuel Fernandes Tomás" (1823)
"Elogio fúnebre de Carlos Infante de Larcerda, Barão de Sabroso" (1830)
"Da Formação da Segunda Câmara das Cortes" (1837)
"Na Discussão da Lei da Décima" (1841)
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Viagens na Minha Terra
Biografia de Almeida Garrett
1799 A 4 de fevereiro, no seio de uma família burguesa,
nasce no Porto, mais precisamente na rua do Calvário, às Virtudes, numa casa
ainda hoje assinalada com uma lápide municipal, nos números 37, 39 e 41, João
Baptista da Silva Leitão, nome a que, mais tarde, acrescentará os apelidos
Almeida Garrett. De acordo com o seu biógrafo, Gomes de Amorim, o apelido
Baptista foi retirado do nome do seu padrinho, em sua homenagem, enquanto que
Almeida era apelido da avó materna e Garrett da sua avó materna, de ascendência
irlandesa.
Infância O período da infância, vivido até aos 10 anos em Vila Nova de
Gaia, entre a Quinta do Castelo e a Quinta do Sardão (ambas pertencentes à sua
família), foi decisivo no futuro do escritor e na construção do sentimento
poético de Garrett, alimentado pelas tradições populares reveladas nas
histórias e cantilenas/modinhas populares contadas e cantadas pelas duas velhas
criadas da família com quem conviveu: a velha Brígida (lembrada pelas suas
“histórias da carochinha” em Viagens na Minha terra) e a mulata Rosa de
Lima (surge no prefácio de Adozinda como recitadora de “maravilhas e
encantamentos, de lindas princesas, de galantes e esforçados cavaleiros”).
Estas recordações infantis despertarão nele o gosto pelas tradições nacionais
que o levaram desde muito novo a compilar os textos que, posteriormente, usou
na elaboração do Romanceiro e incluiu nalgumas peças de teatro.
1809 Em
consequência das Invasões Francesas, nomeadamente da segunda, comandada por
Soult, que entrou em Portugal por Chaves e se dirigiu, de seguida, para o
Porto, cidade que ocupou, a família viu-se obrigada a fugir, primeiro para
Lisboa e, depois, para os Açores, dado que o seu pai, António Bernardo da
Silva, um funcionário superior da Alfândega do Porto, tinha nascido na ilha do
Faial, o que explica o facto de a família se ter refugiado na Terceira, ilha
onde passou a sua adolescência, onde estudou Latim e Grego, literatura clássica
e filosofia, sob a orientação dos tios D. Frei Alexandre da Sagrada Família
(anterior bispo de Malaca e de Angra e bispo eleito do Congo e de Angola) e
João Carlos Leitão. Sob a influência dos tios e o desejo dos pais, Garrett
pensa abraçar a carreira eclesiástica, mas rapidamente desiste da ideia por
falta de vocação para o sacerdócio.
Ainda nas ilhas, começa a escrever,
sob o pseudónimo de Josino Duriense. Por outro lado, o contacto com a cultura
humanística clássica, nos Açores, através da leitura e do estudo dos grandes
tragediógrafos gregos e latinos, revelou e desenvolveu nele o gosto pelo teatro,
exemplificado pela escrita da tragédia Xerxes.
1816 De
regresso ao continente, matricula-se no curso de Direito na Universidade de
Coimbra, cidade onde funda uma sociedade maçónica com Manuel da Silva Passos e
José Maria Grande. Em Coimbra, funda também um teatro académico e faz
representar o seu drama Xerxes (que se perdeu) e a tragédia Lucrécia.
Na mesma época, inicia a escrita de duas tragédias, Afonso de Albuquerque
e Sofonista, que deixa incompleta.
1818 Em
1818, passou a usar os apelidos Almeida Garrett, à semelhança de toda a sua
família. A introdução desses dois apelidos reflete o esteticismo e o elitismo
social de Garrett.
1820 Concluída
a licenciatura em Direito, parte para Lisboa, onde participa na revolução
liberal, determinada pelos ideais de liberdade proclamados pela Revolução
Francesa, que marcam para sempre o percurso cívico e político de Garrett.
Enquanto dirigente estudantil e orador, defende o vintismo, escrevendo
inclusive um Hino Patriótico recitado no Teatro de S. João.
1821 Estreia
a tragédia Catão, acontecimento literário que lhe possibilita a entrada
na vida pública e o conhecimento de Luísa Midosi, prima de seus primos Luís
Francisco e Paulo Midosi. Neste mesmo ano, após a publicação do seu poema Retrato
de Vénus, é acusado nas páginas da “Gazeta Universal”, pelo padre José
Agostinho de Macedo, de ser “materialista, ateu e imoral”.
Funda a Sociedade dos Jardineiros.
Após nova viagem aos Açores, provavelmente por razões relacionadas com a sua
ligação à Maçonaria, estabelece-se em Lisboa, continuando aí a publicar textos
repletos de fervor patriótico.
Conclui a sua licenciatura.
1822 É
ilibado da acusação de materialismo, ateísmo e abuso de liberdade de imprensa,
resultante da publicação do poema O Retrato de Vénus e das respostas que
deu em sua defesa no periódico “Português Constitucional Regenerado”.
Funda, com o amigo Luís Francisco
Midosi, um jornal dedicado às senhoras portuguesas: “O Toucador”.
Em 11 de novembro, casa-se com Luísa Midosi, após
ter assumido o lugar de chefe de repartição da instrução pública.
1823 Na
sequência da Vilafrancada, o golpe militar chefiado por D. Miguel que teve como
consequência o restabelecimento do Absolutismo, e a instabilidade política que
se lhe segue, Garrett é obrigado a abandonar o seu cargo na Secretaria dos
Negócios do reino, é preso na Cadeia do Limoeiro, em Lisboa, e a exilar-se por
duas vezes: em Inglaterra, de 1823 a 1824, e em França, de 1824 a 1826, onde
contactou com a nova estética – o Romantismo. O exílio acabou por ser decisivo
para a sua vida política e para a notoriedade literária, visto que lhe permitiu
a integração nos círculos de emigrados liberais e o contacto com o Romantismo
europeu, que importaria para Portugal, tornando-se na sua figura central,
juntamente com Alexandre Herculano.
Garrett e a família vivem com muitas dificuldades
durante o exílio, dado que o poeta apenas consegue emprego num banco como
correspondente comercial.
1825 É
publicado, em Paris, o poema Camões.
1826 É
publicado, em Paris, o poema D. Branca, que, juntamente com Camões,
são obras de temática nacionalista, consideradas marcos fundadores do
Romantismo português e cuja escrita é influenciada pelas leituras das obras de
Shakespeare, Byron e Walter Scott durante o primeiro exílio inglês.
Após a morte de D. Afonso VI, Almeida
Garrett é amnistiado e regressa à pátria, após a Outorga da Carta
Constitucional e da abdicação de D. Pedro IV em favor da sua filha D. Maria da
Glória. Em Lisboa, funda com Paulo Midosi o jornal “O Português” e escreve em
“O Cronista”.
1927 Garrett
e os dois irmãos Midosi são presos devido aos seus artigos em defesa do
Liberalismo.
1828 O
regresso de D. Miguel a Portugal força Garrett a novo exílio em Inglaterra, que
se prolonga até finais de 1831. Desta vez, tem como emprego o cargo de
secretário particular do Duque de Palmela, também exilado em Inglaterra, e
fixa-se em Plymouth. Em Londres, publica Adozinda e Bernal Francês
(texto mais tarde inserido no Romanceiro).
1829 Publica,
ainda em Londres, a Lírica de João Mínimo, que reúne poemas escritos
desde a juventude. Redige o jornal “O Chaveco Liberal” e inicia a escrita de Da
Educação, que visa a instrução da nova rainha D. Maria II para o cargo que
ocupa.
1831 Escreve
nas páginas de “O Precursor”. Segue, em dezembro, para França (onde prepara,
com outros exilados, a expedição que visa o fim do Absolutismo) e,
posteriormente, para os Açores, em 1832.
1832 Regressa
a Portugal, desembarcando primeiro nos Açores, integrando com Alexandre
Herculano, como voluntários, o exército liberal de D. Pedro e participando
ativamente no desembarque do Mindelo (em julho) e no cerco e libertação do
Porto, em julho de 1832.
Inicia a escrita do seu primeiro
romance – O Arco de Sant’Ana –, que se teria baseado num antigo
manuscrito encontrado no Convento dos Grilos, onde os expedicionários se aquartelam,
e cujo primeiro volume só é publicado em 1845.
1834 Parte
para a cidade de Bruxelas, na Bélgica, para assumir o cargo de Cônsul-Geral e
Encarregado de Negócios de Portugal. Nessa urbe, entra em contacto com as obras
dos grandes escritores românticos alemães, como Goëthe e Schiller.
1836 Regressa
a Portugal, separa-se de Luísa Midosi e passa a viver com Adelaide Pastor
Deville, com quem terá uma filha. Em simultâneo, afirma-se como um claro
opositor ao regime, ao lado de Passos Manuel, velho amigo dos tempos de Coimbra.
Após a Revolução de Setembro, forma-se novo governo de esquerda liberal, tendo
Garrett sido eleito deputado às cortes constituintes e nomeado por Passos
Manuel Presidente do Conservatório de Arte e incumbido de reformar o teatro
nacional. O projeto para a renovação da Arte em Portugal é descrito no prefácio
de Um Auto de Gil Vicente (1838), um dos primeiros contributos de
Garrett para a criação de um repertório teatral português.
1837 É
nomeado Inspetor-Geral dos Teatros, o que lhe permite fundar o Teatro Nacional
D. Maria II e o Conservatório Nacional, a primeira escola portuguesa de atores.
1838 A
sua ação em prol da dinamização do teatro português prossegue com a publicação
de Um Auto de Gil Vicente (1838), Dona Filipa de Vilhena (1840) e
O Alfageme de Santarém (1842), procurando, assim, dinamizar o quase
inexistente repertório dramático nacional.
1841 O
ministro António José de Ávila propõe a dissolução do Conservatório. O deputado
Almeida Garrett responde-lhe diretamente e, no dia seguinte, é demitido de
todos os seus cargos. Falece Adelaide Pastor, deixando órfã a filha de ambos.
1843 Desencantado
com a evolução da causa liberal durante o governo cabralista, Garrett afasta-se
dos cargos políticos, mas não abdica do seu patriotismo empenhado, como se pode
comprovar em Viagens na Minha Terra, obra escrita neste ano que denuncia
o materialismo excessivo que conduz à degradação física e moral do país e cuja
primeira parte é publicada em folhetins na “Revista Universal Lisbonense” (a
edição só fica concluída em 1846). As Viagens são inspiradas por um
passeio pelo Ribatejo a convite de Passos Manuel, então na oposição ao governo
de Costa Cabral. Ainda neste ano, é publicado o primeiro volume do Romanceiro
e feita a primeira representação de Frei Luís de Sousa, com Garrett a
desempenhar o papel de Telmo Pais, no teatro da Quinta do Pinheiro.
1844 É
publicado Frei Luís de Sousa, três anos após a morte de Adelaide Pastor
Deville, quando o escritor conhece Rosa de Montufar Barreiros, Viscondessa da
Luz, por quem se apaixona e a quem dirige cartas de intensa paixão e que lhe
inspira a escrita dos poemas de Folhas Caídas.
1845 Publica
o romance O Arco de Sant’Ana, iniciado em 1832, durante o cerco do
Porto, mas cujo primeiro volume só sai em 1845, e Flores sem Fruto.
1846 Nos
tempos do Cabralismo e seguintes, afastado da vida política, passa a frequentar
a sociedade elegante e escreve as peças Tio Simplício, Falar Verdade
a Mentir, Um Noivado no Dafundo.
1848 É
representada a peça A Sobrinha do Marquês no Teatro D. Maria II e logo a
seguir publicada.
1851 Com
a Regeneração, Almeida Garrett retoma a vida política, tendo sido nomeado, em
julho, Ministro dos Negócios Estrangeiros, após a nomeação de Visconde e Par do
Reino.
O governo francês concede-lhe o
título de Grande Oficial da Legião de Honra.
São publicados os volumes II e II do Romanceiro.
1852 É
novamente eleito deputado. Escreve e lê, na Câmara, o “Discurso de Resposta ao
Discurso da Coroa”.
1853 Publica
Folhas Caídas, uma coletânea de poemas marcados por um subjetivismo de
cariz confessional em cuja génese está a paixão avassaladora e adúltera por
Rosa de Montufar.
Com a Regeneração, regressa à
administração do Teatro Nacional, mas demite-se a pedido dos atores e autores.
Já muito doente, começa a escrever Helena,
a obra que seria o seu terceiro romance. Apesar de o seu estado de saúde se
agravar de dia para dia, ainda apresenta o “Relatório e Bases para a Reforma
Administrativa”.
1854 Profere,
na Câmara dos Pares, a resposta ao Discurso da Coroa de 1854.
Falece a 9 de dezembro, aos cinquenta
e cincos anos, vitimado por um cancro hepático, após uma vida política e cívica
intensa: estudante revolucionário em Coimbra (1820), jornalista interventivo
perseguido pelas suas ideias liberais (1822-1823), preso e exilado político por
diversas vezes (1823-1827 e 1828-1832), soldado da causa liberal, “bravo do
Mindelo” que combateu no cerco do Porto, secretário da missão diplomática em
Madrid, Paris e Londres, em prol da causa liberal, colaborador ativo de várias
tarefas a nível governativo, cônsul geral na Bélgica (1834-1836), resistente
político durante a ditadura do governo de Costa Cabral (1842-1846 e 1849-1851),
Par do Reino (1851) e Ministro dos Negócios Estrangeiros (1852), durante a
Regeneração. É sepultado no Cemitério dos Prazeres. Os seus restos mortais são
depositados no Mosteiro dos Jerónimos em 1903 e trasladados para Santa Engrácia
em 1966, aquando da inauguração do monumento como Panteão Nacional.
Fontes:
* História da Literatura Portuguesa, de António José Saraiva e Óscar Lopes;
* Coleção Resumos;
* Dicionário da Literatura, de Jacinto do Prado Coelho;
* Leituras - Revista da Biblioteca Nacional (n.º 4, primavera de 1999).
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domingo, 25 de dezembro de 2011
Natal
Devia ser neve humana
A que caía no mundo
Nessa noite de amargura
Que se foi fazendo doce...
Um frio que nos pedia
Calor irmão, nem que fosse
De bichos de estrebaria.
Miguel Torga, Diário IV (1948)
A que caía no mundo
Nessa noite de amargura
Que se foi fazendo doce...
Um frio que nos pedia
Calor irmão, nem que fosse
De bichos de estrebaria.
Miguel Torga, Diário IV (1948)
sábado, 24 de dezembro de 2011
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Profs... a culpa é deles!
Neste momento, é óbvio para todos que a culpa do estado a que chegou o ensino é (sem querer apontar dedos) dos professores. Só pode ser deles, aliás. Os alunos estão lá a contragosto, por isso não contam. O ministério muda quase todos os anos, por isso conta ainda menos. Os únicos que se mantêm tempo suficiente no sistema são os professores. Pelo menos os que vão conseguindo escapar com vida.
É evidente que a culpa é deles. E, ao contrário do que costuma acontecer nesta coluna, esta não é uma acusação gratuita. Há razões objectivas para que os culpados sejam os professores.
Reparem: quando falamos de professores, estamos a falar de pessoas que escolheram uma profissão em que ganham mal, não sabem onde vão ser colocados no ano seguinte e todos os dias arriscam levar um banano de um aluno ou de qualquer um dos seus familiares.
O que é que esta gente pode ensinar às nossas crianças? Se eles possuíssem algum tipo de sabedoria, tê-la-iam usado em proveito próprio. É sensato entregar a educação dos nossos filhos a pessoas com esta capacidade de discernimento? Parece-me claro que não. A menos que não se trate de falta de juízo, mas sim de amor ao sofrimento.
O que não posso dizer que me deixe mais tranquilo. Esta gente opta por passar a vida a andar de terra em terra, a fazer contas ao dinheiro e a ensinar o Teorema de Pitágoras a delinquentes que lhes querem bater. Sem nenhum desprimor para com as depravações sexuais - até porque sofro de quase todas -, não sei se o Ministério da Educação devia incentivar este contacto entre crianças e adultos masoquistas.
Ser professor, hoje, não é uma vocação; é uma perversão.
Antigamente, havia as escolas C+S; hoje, caminhamos para o modelo de escola S/M. Havia os professores sádicos, que espancavam alunos; agora há os professores masoquistas, que são espancados por eles. Tomando sempre novas qualidades, este mundo.
Eu digo-vos que grupo de pessoas produzia excelentes professores: o povo cigano.
Já estão habituados ao nomadismo e têm fama de se desenvencilhar bem das escaramuças. Queria ver quantos papás fanfarrões dos subúrbios iam pedir explicações a estes professores. Um cigano em cada escola é a minha proposta.
Já em relação a estes professores que têm sido agredidos,tenho menos esperança.
Gente que ensina selvagens filhos de selvagens e, depois de ser agredida, não sabe guiar a polícia até à árvore em que os agressores vivem, claramente, não está preparada para o mundo.
Ricardo Araújo Pereira, in Visão
domingo, 18 de dezembro de 2011
Grécia: Alunos desmaiam na escola com fome
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Revisão curricular (ensino secundário)
Revisão curricular (2.º e 3.º ciclos)
sábado, 10 de dezembro de 2011
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Portagens: alternativas à A25
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Desbloqueado
Desde a madrugada de sexta-feira, a conta referente a este blogue estava bloqueada pelo Google. Esclarecido o problema, a mesma foi desbloqueada por volta das dezoito horas de hoje. Afinal, de Portugal aos Estados Unidos, mesmo usando os meios tecnológicos, ainda há uns milhares de quilómetros a superar.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Quem deve o quê e a quem, ou a teia da dívida eurpeia
The circle below shows the gross external, or foreign, debt of some of the main players in the eurozone as well as other big world economies. The arrows show how much money is owed by each country to banks in other nations. The arrows point from the debtor to the creditor and are proportional to the money owed as of the end of June 2011. The colours attributed to countries are a rough guide to how much trouble each economy is in.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Restauração da Independência (II)
Restauração da Independência (I)
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Mark Twain - n. 30/11/1835
Ninguém respondeu.
- Tom!
Nada.
- Sempre gostava de saber onde se meteu aquele rapaz. TOM!
Silêncio absoluto.
A velhota puxou os óculos para baixo e, por cima deles, olhou o quarto em volta; tornou a puxá-los para cima e olhou através deles. Raras vezes ou nunca procurava de óculos uma coisa tão pequena como um rapaz, mas este par era o de luxo, o seu orgulho; eram só para a vista, e não para serviço, pois via tão bem por eles como através das portas do fogão. Durante um momento pareceu indecisa e, por fim, disse, não muito de rijo, mas em voz suficientemente alta para os móveis a ouvirem:
- Garanto-te que, se te apanho, te...
Mark Twain, As Aventuras de Tom Sawyer
Objetivos
O texto argumentativo possui um conjunto de objetivos que confluem em três grandes componentes
. A Intelectual:
- Instrução (docere)
- Argumentação (probare)
- Edificação ética (monere)
. A emocional:
- Deliberação (conciliare)
- Remissão para o próprio texto (delectare)
. A passional:
- fomento de emoções momentâneas (movere, concitare)
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Sebastianismo
A
derrota em Alcácer Quibir e o desaparecimento de D. Sebastião em Alcácer
Quibir, em 1578, deixaram Portugal na orfandade e sob o domínio castelhano.
Esta situação inspirou vários escritores que viram no acontecido o desfazer do
sonho de um grande império. Só uma fé messiânica nos poderia salvar da
degradante situação.
Gonçalo Anes, de alcunha o Bandarra,
sapateiro de Trancoso, inspirado na Bíblia, cantou em trovas um tempo novo
simbolizado pelo rei D. Sebastião, o Encoberto, libertador da opressão e da
miséria do povo e da "erronia" do mundo. Compostas entre 1530 e 1540,
as Trovas de Bandarra resultariam na
expressão mais relevante do messianismo
anterior a D. Sebastião, com base no profetismo hebraico (crença na vinda do
Messias), no mito peninsular do Encoberto e nas reminiscências das lendas do
ciclo arturiano (o rei Artur desapareceu, está guardado numa ilha e
regressará), dando origem a uma doutrina e a um mística: o SEBASTIANISMO, de que D. Sebastião permanecerá como símbolo por
excelência.
A sociedade não se reconhecia a si
própria e nela confluíram antagonismos e projetos, em refletida crise de
identidade nacional potenciada, a partir de meados do século XVI, pelas
oscilações vitais na dinâmica estrutural do Império Português. Assim, sublimou em D. Sebastião a vontade de um povo no reforço e dilatação do Império e na
reafirmação do seu papel de guardião da fé cristã, retratada nas obras de
Camões, Diogo Bernardes e Pêro de Andrade Caminha, que a morte do rei, porém,
tão abruptamente obliterou. Durante o
domínio filipino, sob um pulsar nacionalista, suceder-se-iam os episódios de aventureiros que, fazendo-se passar por
D. Sebastião ou encarnando a esperança no Encoberto, insidiosa e teimosamente
mantiveram vivo e consubstanciaram o desejo de libertação do jugo espanhol em
Portugal.
Alcácer Quibir
No
Norte de África eram constantes as lutas entre várias fações marroquinas. O pretexto
para a intervenção de D. Sebastião surgiu com a deposição, em 1576, do sultão
Mulei Maamede pelo sultão Mulei Moluco, este auxiliado pelos Turcos. Ora, o
auxílio dos Turcos era uma ameaça para a segurança das nossas costas e para o comércio
com a Guiné, Brasil e Oriente. Por isso, D. Sebastião decidiu apoiar Mulei
Maamede, que nos ofereceu Arzila, e procurou apoio de outros reis. Filipe II veio a retirar-se. Da Alemanha, Flandres e Itália vieram soldados mercenários e auxílio
em armas e munições. Fez-se o recrutamento do exército português, mas
verificou-se muita corrupção, o que fez com que o exército expedicionário, constituído por cerca de 15 000 homens, fosse pouco disciplinado, mal preparado, inexperiente
e com pouca coesão.
D. Sebastião partiu de Lisboa a 25 de
Junho de 1578, passou por Tânger, onde estava Mulei Maamede, seguiu para Arzila e
daqui para Larache, por terra, havendo quem preferisse que se fosse por mar,
para permitir maior descanso às tropas. Seguiram depois a caminho de Alcácer
Quibir, onde encontraram o exército de Mulei Moluco, muito superior em número. A
4 de Agosto de 1578, com o exército esgotado pela fome, pelo cansaço e pelo
calor, deu-se a batalha. Nestas condições, o exército português, pesem alguns
atos de grande bravura, foi completamente dizimado, sendo muitos os mortos, um
dos quais o próprio rei D. Sebastião, que preferiu a morte à fuga, enquanto os
sobreviventes foram feitos prisioneiros. Esta batalha é conhecida também pelo
nome de "Batalha dos Três Reis", pois nela vieram a morrer, além de
D. Sebastião, Mulei Maamede e Mulei Moluco.
O
resultado e as consequências desta batalha foram catastróficos para Portugal. Por um lado, morreu o rei, não deixando sucessor, o que levantou uma crise dinástica e ameaçou a
independência de Portugal face a Castela, pois um dos candidatos à sucessão era Filipe II de Espanha. Filipe veio efetivamente a ascender ao trono em 1580,
após a morte do Cardeal D. Henrique. Por outro, a maioria da nobreza portuguesa que
participara na batalha ou morrera ou fora aprisionada. Por último, para apagar os elevados
resgates exigidos pelos marroquinos, o país ficou enormemente endividado e
depauperado nas suas finanças.
D. Sebastião
Filho do príncipe D. João e de D. Joana de Áustria, e neto de D. João III, nasceu em Lisboa em 1554 e morreu em Alcácer Quibir em 1578. Décimo sexto rei de Portugal, ficou conhecido pelo cognome de O Desejado.
D. Sebastião herdou o trono de seu avô, D. João III, porque, apesar de este ter tido vários descendentes, todos eles acabaram por falecer precocemente. Como era menor à data de ocupar o trono, ficou como regente sua avó D. Catarina, apesar de D. João III não ter deixado testamento, mas apenas uns apontamentos em que a indicava como regente. Sua mãe, D. Joana, de acordo com o contrato nupcial, teve de regressar a Castela após a morte do príncipe D. João.
A regente, D. Catarina, por influência do cardeal D. Henrique, começou por pedir ao Papa a fundação da Universidade de Évora, que entregou aos Jesuítas. Continuou a política de D. João III quanto ao Norte de África, querendo abandonar Mazagão, que, entretanto, teve de defender dos ataques mouros. Acusada de sofrer influências da corte espanhola, pediu a demissão de regente nas Cortes de Lisboa de 1562, continuando, no entanto, como tutora de D. Sebastião. Foi eleito como regente, nessa altura, o cardeal D. Henrique, tio de D. Sebastião. Nestas cortes, o povo manifestou a sua apreensão quanto à educação do rei, sobre a questão da sucessão e sobre a inalienabilidade de todo o território nacional, aspetos que D. Henrique vai ter em conta durante a sua regência, até D. Sebastião completar catorze anos.
A regente, D. Catarina, por influência do cardeal D. Henrique, começou por pedir ao Papa a fundação da Universidade de Évora, que entregou aos Jesuítas. Continuou a política de D. João III quanto ao Norte de África, querendo abandonar Mazagão, que, entretanto, teve de defender dos ataques mouros. Acusada de sofrer influências da corte espanhola, pediu a demissão de regente nas Cortes de Lisboa de 1562, continuando, no entanto, como tutora de D. Sebastião. Foi eleito como regente, nessa altura, o cardeal D. Henrique, tio de D. Sebastião. Nestas cortes, o povo manifestou a sua apreensão quanto à educação do rei, sobre a questão da sucessão e sobre a inalienabilidade de todo o território nacional, aspetos que D. Henrique vai ter em conta durante a sua regência, até D. Sebastião completar catorze anos.
Presságios
- A leitura que D. Madalena realiza do episódio de Inês de Castro, incluso n'Os Lusíadas, que motiva a sua reflexão (no início do ato I), o que alia o seu destino ao final trágico de Inês de Castro;
- Os agouros de Telmo, que não acredita na morte de D. João de Portugal, colocando a hipótese do seu regresso, e que afirma que uma situação ocorrerá que deixará claro quem nutre maior amor por Maria naquela casa;
- Os pressentimentos que D. Madalena de que um acontecimento funesto irá atingir a sua família, o que não a deixa viver o seu amor por Manuel de Sousa de uma forma tranquila, motivando a sua insegurança, a sua angústia e impedindo a sua felicidade;
- O facto de Manuel de Sousa, antes de pegar fogo ao próprio palácio, por considerar a resolução dos governantes espanhóis uma afronta, evocar a morte de seu pai, que caíra "sobre a sua própria espada", indicando o destino funesto da sua família: "Quem sabe se eu morrerei nas chamas ateadas por minas mãos?" (I, 11); por outro lado, o seu ato irá motivar a aproximação da família de um espaço que pertencera a D. João de Portugal e que a ele está ligado metonimicamente;
- As flores que Maria transporta consigo murcharam, o que deixa antever a tragédia com que encerra a obra (a morte de Maria);
- Os sonhos estranhos e as visões de Maria (motivados pelo seu temperamento romântico, pela imaginação e aguçados pela tuberculose), dado o seu caráter negativo e o facto de a impedirem de dormir, permitem igualmente antecipar o desenlace trágico;
- A contemplação do retrato do pai remete para a intuição do malogro do casamento dos pais;
- A simbologia da sexta-feira, considerada por D. Madalena como um dia aziago e fatal;
- O sebastianismo de Telmo e de Maria indica a hipótese de regresso de D. João de Portugal, que, tal como D. Sebastião, desaparecera na batalha de Alcácer Quibir;
- Os indícios de tuberculose de Maria: a febre, as mãos que queimam, as rosetas nas faces e o ouvido apuradíssimo (ouvido de tísica);
- A leitura que Maria faz da novela Menina e Moça (obra de Bernardim Ribeiro - "Menina e moça me levaram de casa de meu pai.") indicia a sua separação da família (ato II, cena 2);
- A visita que Maria e seu pai, Manuel, fazem a Soror Joana (ato II), que fora casada com D. Luís de Portugal - o casal decidira, em determinado momento da sua vida, abandonar o mundo e recolher-se num convento;
- As alterações da decoração dos espaços físicos: no ato I, encontramos um ambiente alegre e aberto ao exterior, que será substituído nos segundo e terceiro atos por uma decoração melancólica e soturna;
- A localização dos acontecimentos da peça ao início da noite ou de noite (ato I: "É no fim da tarde"; ato II: "É alta noite");
- Os elementos simbólicos a nível do espaço físico:
- os retratos de Manuel de Sousa, Camões e D. João;
- a substituição do retrato de Manuel pelo de D. João, aliada à substituição de espaço, é um sinal que D. Madalena interpreta como fatal;
- o facto de o retrato de Manuel de Sousa ser consumido pelo fogo durante o incêndio por si ateado;
- a mudança do palácio de Manuel de Sousa para o de D. João.
domingo, 27 de novembro de 2011
Marcas românticas de Frei Luís de Sousa
- A peça não possui unidade de tempo nem unidade de lugar, embora o grande espaço continue a ser o mesmo: Almada.
- O nacionalismo / patriotismo:
- de Maria, visível na sua resistência aos governadores castelhanos, o que traduz outro traço romântico: a ânsia de liberdade;
- o assunto é nacional, eivado de messianismo, que constituía uma força de reação contra o domínio dos espanhóis; uma reação do povo português ao domínio filipino.
- A linguagem, plena de exclamações, interrogações, reticências, frases curtas, procurando adequá-la ao íntimo, ao estado de espírito das personagens.
- Caracterização de Maria:
- a mulher-anjo;
- os ideais de liberdade;
- a exaltação de valores de feição popular;
- a atração pelo mistério;
- a intuição;
- a tuberculose, a doença dos românticos.
- As crenças: os agouros, as superstições, os sonhos, as visões de D. Madalena, Telmo e Maria (cenas II a IV do ato I).
- O mito do escritor romântico: martirizado, sofredor, solitário, marcado pelo Destino, refugia-se no convento, que lhe proporciona o isolamento indispensável à escrita.
- A crença no sebastianismo: logo no início (I, 2), D. Madalena afirma a Telmo: "... mas as tuas palavras misteriosas, as tuas alusões frequentes a esse desgraçado rei D. Sebastião, que o seu mais desgraçado povo ainda não quis acreditar que morresse, por quem ainda espera em sua leal incredulidade!". O sebastianismo, representado por Telmo e Maria, reside na crença no regresso do rei D. Sebastião, que conduzirá a uma época de brilho para Portugal e ao início de uma nova era mundial do direito e da grandeza, que será a última no plano da salvação dos homens.
- A religiosidade: além das constantes referências ao cristianismo e ao culto, a religião surge como refúgio e consolação para o sofrimento trágico, para as almas atormentadas pelo pecado (tomada de hábito de D. Madalena e de Manuel de Sousa). O próprio conflito tem origem, em grande parte, na ética cristã.
- A obra não possui cinco atos, como era de regra na tragédia clássica, mas somente três.
- O tema da morte: a morte é um tema típico do Romantismo por ser a melhor solução para os conflitos (Maria morre fisicamente e os pais morrem espiritualmente, para o mundo). Por outro lado, a morte de uma personagem em cena (Maria) admite-se no Romantismo, mas não no Classicismo.
- A apresentação formal da obra em prosa, porque "repugnava-lhe pôr na boca de Frei Luís de Sousa outro ritmo que não fosse o da elegante prosa portuguesa que ele, mais do que ninguém, deduziu com tanta harmonia e suavidade" (Memória ao Conservatório Real).
- Algumas personagens, sobretudo Madalena e Maria, embora aristocráticas, são verdadeiras heroínas românticas pelo seu comportamento emocional (por exemplo, Maria é uma personagem romântica pela sua sensibilidade doentia e de imaginação aguçada pela tuberculose - sonhos, visões).
- As crenças: agouros, superstições, visões e sonhos, bem evidentes em D. Madalena, Telmo e Maria.
- O individualismo: acentuado pelo confronto entre o indivíduo e a sociedade, entre o código moral estabelecido e o desejo de ser feliz à margem desse mesmo código, entre a fidelidade a um passado que esmaga e o abandono a um presente que abre um sentido para a vida.
- A linguagem e o estilo: a linguagem é adequada às circunstâncias e às personagens:
- linguagem carregada de remorso e amor, inquietação e angústia (reticências) em D. Madalena;
- digna, respeitosa, sem deixar de ser familiar, em Telmo, e ainda paternalista, confessional, agoirenta;
- carinhosa, familiar e respeitosa entre D. Madalena e Telmo;
- nobre e elegante, por vezes de tom didático, em Manuel de Sousa;
- agoirenta, fantasista e amorosa em Maria;
- confidencial, de tom religioso e moralizador, em Frei Jorge;
- fria e espectral, cheia de arrependimento, em D. João;
- digna e culta, na generalidade, como convém a uma obra com caraterísticas de tragédia.
Tempo da ação / diegese
Apesar de, na primeira didascália que antecede o início do ato I, constar a referência à "... caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século dezassete", a ação desenrola-se, efetivamente, em 1599, último ano do sécilo XVI. O próprio Garrett declarou, na Memória ao Conservatório Real, lida a 6 de maio de 1843, que os aspetos cronológicos não o preocuparam aquando da escrita da peça, pois considerou mais importante "o trabalho da imaginação", irreconciliável com os "algarismos das datas".
Com efeito, a ação respeitante ao ato I inicia-se no dia 28 de Julho de 1599, no final da tarde de uma sexta-feira, e terminada na madrugada de 5 de agosto do mesmo ano.
Cronologicamente, os acontecimentos abordados na peça são os seguintes:
- 4 de agosto de 1576: casamento de D. Madalena com D. João de Portugal (II, 10);
- 4 de agosto de 1577: D. Madalena vê pela primeira vez Manuel de Sousa Coutinho (II, 10);
- 4 de agosto de 1578:
- batalha de Alcácer Quibir;
- desaparecimento de D. Sebastião e de D. João;
- de 1578 a 1585: durante este período de 7 anos, ocorrem as buscas infrutíferas de D. João de Portugal - D. Madalena envida todos os esforços no saber notícias do seu marido, sem, contudo, obter qualquer resultado ("... D. João ficou naquela batalha (...) como durante sete anos (...) o fiz procurar..." - 1578 + 7 = 1585);
- 1585: D. Madalena casa com Manuel de Sousa, por quem se apaixonara ainda durante o primeiro casamento;
- 1585 a 1599: 14 anos do segundo casamento ("... vivemos (...) seguros, em paz e felizes... há catorze anos.");
- 1586: nascimento de Maria ("Então! Tem treze anos feitos..." - I, 2);
- 4 de agosto de 1598: libertação de D. João de Portugal;
- 28 de julho de 1599: incêndio do palácio de Manuel de Sousa Coutinho (I, 12);
- 4 de agosto de 1599: chegada do Romeiro (II, 1-14);
- madrugada de 5 de agosto de 1599:
- morte de Maria;
- tomada de hábito de D. Madalena e D. João de Portugal.
Tendo em conta estes dados, conclui-se que o tempo da diegese dramática é de 21 anos: 1578 a 1599.
A ação propriamente dita desenrola-se em cerca de uma semana:
Tendo em conta estes dados, conclui-se que o tempo da diegese dramática é de 21 anos: 1578 a 1599.
A ação propriamente dita desenrola-se em cerca de uma semana:
- Julho:
- 28 ® ato I ("É no fim da tarde.")
(sexta-feira)
- Agosto:
- 1 a 3 ® D. João aproxima-se da sua casa (três dias)
- 4 ® ato II ® 8 dias após o final do ato I e do incêndio
(sexta-feira) ® chegada do Romeiro
- 5 ® ato III ® "alta noite"
® tomada de hábito (morte para o mundo)
® morte de Maria
® partida do Romeiro
- Concentração / afunilamento do tempo
De acordo com os preceitos da tragédia clássica, o tempo de Frei Luís de Sousa sofre uma redução progressiva que contribui para a construção da tensão dramática: 21 anos (1578 a 1599) ® 14 anos (duração do segundo casamento de D. Madalena) ® 7 anos (tempo durante o qual D. Madalena procurou, em vão, D. João) ® 1 ano (tempo que medeia entre a libertação e a chegada do Romeiro a Almada) ® 8 dias (vida da família no palácio de D. João) ® 3 dias (D. João aproxima-se da sua casa) ® 1 dia (4 de agosto - «Hoje» - chegada do Romeiro / D. João) ® 5 horas da madrugada de 5 de agosto (tomada de hábito e morte de Maria).
» primeiro encontro com Manuel de Sousa, por quem se apaixona à primeira
vista,apesar de ainda estar casada com o primeiro marido;
» batalha de Alcácer Quibir;
» desaparecimento de D. João e de D. Sebastião;
» incêndio do próprio palácio por Manuel de Sousa, seguido da mudança, com
a família, para o de D. João;
» regresso de D. João, disfarçado de Romeiro.
» "É noite fechada" (I, 7);
» "É alta noite" (didascália inicial do ato III).
anos, após os quais se casa com Manuel de Sousa;
» o casamento de D. Madalena e Manuel de Sousa durava há catorze anos
(2 X 7);
» D. João regresso vinte e um anos após o seu desaparecimento / a batalha
de Alcácer Quibir (3 X 7).
Ora o 7 é o símbolo da totalidade: 7 foram os dias da criação do Mundo, 7 são os pecados mortais e as virtudes que se lhe opõem, 7 são os dias da semana, 7 são as cores do arco-íris.
Assim, o 7 é o número associado à conclusão de um ciclo e ao início de outro: o final da vida do casal e, consequentemente, com a tragédia; o fim de um ciclo (a destruição da família, a morte de Maria...) e o início de uma nova vida (tomada de hábito).
» acontecimentos trágicos acontecidos durante agosto »»»
- Simbolismo de algumas referências temporais
» primeiro casamento (com D. João);
- Sexta-feira: é um dia considerado aziago, conotado com a tragédia, de acordo com a tradição popular (por exemplo, a sexta-feira 13). Para D. Madalena, é um dia fatal ("Ai que é sexta-feira." - II, 5; "É um dia fatal para mim..." - II, 10) e foi nele que ocorreram os acontecimentos centrais da sua vida:
» primeiro encontro com Manuel de Sousa, por quem se apaixona à primeira
vista,apesar de ainda estar casada com o primeiro marido;
» batalha de Alcácer Quibir;
» desaparecimento de D. João e de D. Sebastião;
» incêndio do próprio palácio por Manuel de Sousa, seguido da mudança, com
a família, para o de D. João;
» regresso de D. João, disfarçado de Romeiro.
» "É no fim da tarde" (didascália inicial do ato I);
- Ambiente crepuscular e / ou noturno, caracteristicamente romântico, está associado à morte que se abaterá sobre a família e sublinha um certo aspeto transgressor que envolve toda a história daquele núcleo familiar:
» "É noite fechada" (I, 7);
» "É alta noite" (didascália inicial do ato III).
» D. Madalena procura saber notícias do seu primeiro marido durante sete
- Número 7 e seus múltiplos:
anos, após os quais se casa com Manuel de Sousa;
» o casamento de D. Madalena e Manuel de Sousa durava há catorze anos
(2 X 7);
» D. João regresso vinte e um anos após o seu desaparecimento / a batalha
de Alcácer Quibir (3 X 7).
Ora o 7 é o símbolo da totalidade: 7 foram os dias da criação do Mundo, 7 são os pecados mortais e as virtudes que se lhe opõem, 7 são os dias da semana, 7 são as cores do arco-íris.
Assim, o 7 é o número associado à conclusão de um ciclo e ao início de outro: o final da vida do casal e, consequentemente, com a tragédia; o fim de um ciclo (a destruição da família, a morte de Maria...) e o início de uma nova vida (tomada de hábito).
- Número 9: este número simboliza também o nascimento de uma nova vida (por exemplo, os 9 meses de gestação de um ser humano), a passagem a outro estádio da existência; daí que a tomada de hábito, marcando a transição do mundo profano para o mundo religioso, tenha lugar ao nono dia.
- Número 3: o número da perfeição, daí que 21 seja o símbolo da tragédia perfeita (21 = 3 X 7).
- Número 13: o número tradicionalmente associado ao azar (Maria tem treze anos).
» simbologia do mês de agosto »»»
- Mês de agosto: mês do desgosto.
» acontecimentos trágicos acontecidos durante agosto »»»
Caráter ominoso
O caráter ominoso remete para o clima carregado de mistério e de fatalismo da peça, conferido pela repetição do número 7 (7, 14, 21) e pela sexta-feira, um dia tido como aziago.
Agon
. De D. Madalena:
* interior, de consciência (I, 1):
- personalidade aparente, feliz, ligada a Manuel de Sousa pelo amor-paixão;
- personalidade real ou oculta, infeliz ou "desgraçada", ligada a D. João pela
memória do passado, pelo remorso do presente;
* contínuo e crescente;
* com Telmo:
- apesar de lhe ter obedecido durante os 7 anos de «viuvez» como a um pai, D.
Madalena não segue o conselho de esperar o regresso de D. João, anunciado na carta
profética, escrita na madrugada da batalha de Alcácer Quibir;
* com D. João:
- nas conversas com Telmo, testemunha da «desobediência» de D. Madalena, conversas
cheias de reticências, de subentendidos, de duplos sentidos, de alusões, de agouros,
de «futuros», de pressentimentos de desgraça iminentes (I, 2);
- a consciência atormentada e o remorso de D. Madalena (I, 1);
- as reações de aflição, sublinhadas pelas lágrimas, sempre que Maria se refere à
crença da sobrevivência e possível regresso de D. Sebastião (I, 3);
- a relutância de voltar a viver no palácio de D. João (I, 7 e 8);
- a reação tida ao chegar ao palácio do primeiro marido (II, 1);
- a "confissão" a Frei Jorge (II, 10);
* com Maria:
- para Maria, há um enigma que nem a mãe, nem o pai, nem Telmo se prontificam a
decifrar; são segredos e mistérios intuitivamente pressentidos que não consegue
desvendar;
- a razão por que nem a mãe nem o pai, apesar do seu patriotismo ("... que ele não
é por D. Filipe, não é, não?") acreditavam no regresso de D. Sebastião;
- a razão por que, quando em tal se falava, o pai mudava de semblante e a mãe se
afligia e até chorava;
* com Manuel de Sousa Coutinho (I, 7 e 8): a necessidade de mudança para o palácio
de D. João após ele ter incendiado o seu próprio lar, mudança a que ela se opõe.
. De Telmo:
* de consciência: começa a ser evidente o conflito / a divisão de consciência entre o desejo
do regresso de D. João e o amor a Maria / a incompatibilidade entre o amor a D. João e
a Maria (III, 4);
* com D. Madalena:
- desaprova o casamento com Manuel de Sousa, baseado nos dizeres da carta profética
de D. João, escrita na madrugada da batalha;
- desaprova igualmente o casamento baseado na superstição de que, se D. João voltasse
e aparecesse a D. Madalena, não se iria embora sem lhe aparecer também;
- daí vieram os «ciúmes», as alusões, os agouros, os «futuros»;
- este conflito de Telmo com D. Madalena fica sempre sem solução;
* com Maria (I, 2):
- a princípio, não a podia ver, por causa do seu nascimento em berço ilegítimo ("Digna
de nascer em melhor estado");
- o conflito com Maria termina, porque ela acabou por o cativar;
- novo conflito (II, 1), no entanto, se pode observar nas evasivas, nas meias-verdades,
nas reticências, na relutância em revelar a identidade da personagem do retrato;
- é Manuel de Sousa quem identifica essa personagem (II, 2);
* com Manuel de Sousa (I, 2):
- apesar das qualidades que lhe reconhece, é, em sua opinião, inferior a D. João;
- por conta deste tem "ciúmes" e alguma aversão por o considerar um intruso;
- o conflito resolve-se quando Manuel de Sousa o cativa pelos atos de resistência aos
governadores, que culminam com o incêndio do próprio palácio (I, 7, 8 e 12),
chegando mesmo a admirá-lo;
* com D. João de Portugal (III, 4 e 5):
- o amor a Maria venceu o amor a D. João;
- por isso, chega a oferecer a sua vida em troca da vida "daquele anjo" e a desejar a
morte de D. João.
. De Maria:
* não tem conflito interior;
* com D. Madalena:
- a propósito da sobrevivência e do regresso de D. Sebastião (cena 3, ato I) - D.
Madalena não acredita, nem lhe convém acreditar nem uma coisa nem outra, enquanto
Maria acredita firmemente;
- desconfia que a mãe oculta alguma coisa muito importante; por isso, está sempre
atenta, a observar os sobressaltos, as reações, a ansiedade da mãe a seu respeito; por
isso, lê nas palavras, nas ações e nos gestos da mãe e do pai, à procura de indícios, de
respostas para a sua curiosidade (cena 4);
- não pode cumprir as esperanças nela depositadas (cena 4, ato I);
- por isso, desejava ter um irmão;
* com Manuel de Sousa:
- duvida do patriotismo do pai (cena 3, ato I), por causa das atitudes que ele toma, ao
ouvir falar de D. Sebastião ("Ó minha mãe, pois ele não é por D. Filipe, não é,
não?");
- a hipótese não tem fundamento.;
* com os governadores de Lisboa (I, 5): a resistência à tirania, concretizada na ideia de
lutar e organizar a defesa, para que aqueles não entrem no seu palácio;
* com Telmo Pais (II, 1), a propósito da identidade da personagem do retrato:
- as meias-verdades, as evasivas de Telmo, que a todo o transe pretende ocultar-lhe o
nome do cavaleiro retratado;
- os indícios observados por Maria, nos momentos que passou ali mesmo com a mãe,
no dia da mudança para este palácio; a intuição do segredo e a persistência em a
manterem na ignorância daquele "mistério";
* com D. João de Portugal:
- antes da mudança de palácio (cena 4, ato I):
. pressente intuitivamente que alguém, fazendo sofrer a mãe, também não a deixa
ser feliz;
. por isso, procura uma resposta, com os meios ao seu dispor: a capacidade de
"ler nas estrelas" e os sonhos e as visões ("... leio... nas estrelas do céu também,.
e sei cousas...");
- depois da mudança (II, 1 e 2):
. fica a saber, a partir da atitude da mãe, que a figura representada no retrato e de
quem ignora a identidade, é esse alguém, causador de todos os sofrimentos;
. daí a curiosidade e a persistência das perguntas a Telmo até à revelação da
identidade do retratado; no entanto, ela já o sabia "de um saber cá de dentro";
- por fim (III, 11 e 12):
. revela que sempre houve alguém a interpor-se entre ela e a mãe, entre ela e o
pai, por intermédio da figura simbólica de um anjo vingador: "Mãe, mãe, eu
bem o sabia... nunca to disse, mas sabia-o; tinha-mo dito aquele anjo que
descia com uma espada de chamas na mão, e a atravessava entre mim e ti,
que me arrancava dos teus braços quando eu adormecia neles... que me fazia
chorar quando meu pai ia beijar-me no teu colo";
- identifica-o: "É aquela voz, é ele, é ele!".
. De Manuel de Sousa Coutinho:
* não possui conflito de consciência;
* não entra em conflito com outras personagens, exceto com os governadores;
* a sua hybris desencadeia e agudiza os conflitos das outras personagens.
. De D. João de Portugal:
* alimenta os conflitos dos outros:
- com D. Madalena: a consciência atormentada pelos remorsos;
- com Telmo:
. a perda do aio por causa de Maria;
. a luta contra a resistência de Telmo à sua ordem de mentir para salvar D.
Madalena;
- com Manuel de Sousa Coutinho:
. pela felicidade de ter uma filha;
. por se sentir espoliado por ele e por D. Madalena: "Tiraram-me tudo";
- com Maria:
. pela felicidade de ter uma filha;
. por o ter expulsado do coração de Telmo.
* interior, de consciência (I, 1):
- personalidade aparente, feliz, ligada a Manuel de Sousa pelo amor-paixão;
- personalidade real ou oculta, infeliz ou "desgraçada", ligada a D. João pela
memória do passado, pelo remorso do presente;
* contínuo e crescente;
* com Telmo:
- apesar de lhe ter obedecido durante os 7 anos de «viuvez» como a um pai, D.
Madalena não segue o conselho de esperar o regresso de D. João, anunciado na carta
profética, escrita na madrugada da batalha de Alcácer Quibir;
* com D. João:
- nas conversas com Telmo, testemunha da «desobediência» de D. Madalena, conversas
cheias de reticências, de subentendidos, de duplos sentidos, de alusões, de agouros,
de «futuros», de pressentimentos de desgraça iminentes (I, 2);
- a consciência atormentada e o remorso de D. Madalena (I, 1);
- as reações de aflição, sublinhadas pelas lágrimas, sempre que Maria se refere à
crença da sobrevivência e possível regresso de D. Sebastião (I, 3);
- a relutância de voltar a viver no palácio de D. João (I, 7 e 8);
- a reação tida ao chegar ao palácio do primeiro marido (II, 1);
- a "confissão" a Frei Jorge (II, 10);
* com Maria:
- para Maria, há um enigma que nem a mãe, nem o pai, nem Telmo se prontificam a
decifrar; são segredos e mistérios intuitivamente pressentidos que não consegue
desvendar;
- a razão por que nem a mãe nem o pai, apesar do seu patriotismo ("... que ele não
é por D. Filipe, não é, não?") acreditavam no regresso de D. Sebastião;
- a razão por que, quando em tal se falava, o pai mudava de semblante e a mãe se
afligia e até chorava;
* com Manuel de Sousa Coutinho (I, 7 e 8): a necessidade de mudança para o palácio
de D. João após ele ter incendiado o seu próprio lar, mudança a que ela se opõe.
. De Telmo:
* de consciência: começa a ser evidente o conflito / a divisão de consciência entre o desejo
do regresso de D. João e o amor a Maria / a incompatibilidade entre o amor a D. João e
a Maria (III, 4);
* com D. Madalena:
- desaprova o casamento com Manuel de Sousa, baseado nos dizeres da carta profética
de D. João, escrita na madrugada da batalha;
- desaprova igualmente o casamento baseado na superstição de que, se D. João voltasse
e aparecesse a D. Madalena, não se iria embora sem lhe aparecer também;
- daí vieram os «ciúmes», as alusões, os agouros, os «futuros»;
- este conflito de Telmo com D. Madalena fica sempre sem solução;
* com Maria (I, 2):
- a princípio, não a podia ver, por causa do seu nascimento em berço ilegítimo ("Digna
de nascer em melhor estado");
- o conflito com Maria termina, porque ela acabou por o cativar;
- novo conflito (II, 1), no entanto, se pode observar nas evasivas, nas meias-verdades,
nas reticências, na relutância em revelar a identidade da personagem do retrato;
- é Manuel de Sousa quem identifica essa personagem (II, 2);
* com Manuel de Sousa (I, 2):
- apesar das qualidades que lhe reconhece, é, em sua opinião, inferior a D. João;
- por conta deste tem "ciúmes" e alguma aversão por o considerar um intruso;
- o conflito resolve-se quando Manuel de Sousa o cativa pelos atos de resistência aos
governadores, que culminam com o incêndio do próprio palácio (I, 7, 8 e 12),
chegando mesmo a admirá-lo;
* com D. João de Portugal (III, 4 e 5):
- o amor a Maria venceu o amor a D. João;
- por isso, chega a oferecer a sua vida em troca da vida "daquele anjo" e a desejar a
morte de D. João.
. De Maria:
* não tem conflito interior;
* com D. Madalena:
- a propósito da sobrevivência e do regresso de D. Sebastião (cena 3, ato I) - D.
Madalena não acredita, nem lhe convém acreditar nem uma coisa nem outra, enquanto
Maria acredita firmemente;
- desconfia que a mãe oculta alguma coisa muito importante; por isso, está sempre
atenta, a observar os sobressaltos, as reações, a ansiedade da mãe a seu respeito; por
isso, lê nas palavras, nas ações e nos gestos da mãe e do pai, à procura de indícios, de
respostas para a sua curiosidade (cena 4);
- não pode cumprir as esperanças nela depositadas (cena 4, ato I);
- por isso, desejava ter um irmão;
* com Manuel de Sousa:
- duvida do patriotismo do pai (cena 3, ato I), por causa das atitudes que ele toma, ao
ouvir falar de D. Sebastião ("Ó minha mãe, pois ele não é por D. Filipe, não é,
não?");
- a hipótese não tem fundamento.;
* com os governadores de Lisboa (I, 5): a resistência à tirania, concretizada na ideia de
lutar e organizar a defesa, para que aqueles não entrem no seu palácio;
* com Telmo Pais (II, 1), a propósito da identidade da personagem do retrato:
- as meias-verdades, as evasivas de Telmo, que a todo o transe pretende ocultar-lhe o
nome do cavaleiro retratado;
- os indícios observados por Maria, nos momentos que passou ali mesmo com a mãe,
no dia da mudança para este palácio; a intuição do segredo e a persistência em a
manterem na ignorância daquele "mistério";
* com D. João de Portugal:
- antes da mudança de palácio (cena 4, ato I):
. pressente intuitivamente que alguém, fazendo sofrer a mãe, também não a deixa
ser feliz;
. por isso, procura uma resposta, com os meios ao seu dispor: a capacidade de
"ler nas estrelas" e os sonhos e as visões ("... leio... nas estrelas do céu também,.
e sei cousas...");
- depois da mudança (II, 1 e 2):
. fica a saber, a partir da atitude da mãe, que a figura representada no retrato e de
quem ignora a identidade, é esse alguém, causador de todos os sofrimentos;
. daí a curiosidade e a persistência das perguntas a Telmo até à revelação da
identidade do retratado; no entanto, ela já o sabia "de um saber cá de dentro";
- por fim (III, 11 e 12):
. revela que sempre houve alguém a interpor-se entre ela e a mãe, entre ela e o
pai, por intermédio da figura simbólica de um anjo vingador: "Mãe, mãe, eu
bem o sabia... nunca to disse, mas sabia-o; tinha-mo dito aquele anjo que
descia com uma espada de chamas na mão, e a atravessava entre mim e ti,
que me arrancava dos teus braços quando eu adormecia neles... que me fazia
chorar quando meu pai ia beijar-me no teu colo";
- identifica-o: "É aquela voz, é ele, é ele!".
. De Manuel de Sousa Coutinho:
* não possui conflito de consciência;
* não entra em conflito com outras personagens, exceto com os governadores;
* a sua hybris desencadeia e agudiza os conflitos das outras personagens.
. De D. João de Portugal:
* alimenta os conflitos dos outros:
- com D. Madalena: a consciência atormentada pelos remorsos;
- com Telmo:
. a perda do aio por causa de Maria;
. a luta contra a resistência de Telmo à sua ordem de mentir para salvar D.
Madalena;
- com Manuel de Sousa Coutinho:
. pela felicidade de ter uma filha;
. por se sentir espoliado por ele e por D. Madalena: "Tiraram-me tudo";
- com Maria:
. pela felicidade de ter uma filha;
. por o ter expulsado do coração de Telmo.
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