quarta-feira, 29 de junho de 2011
segunda-feira, 27 de junho de 2011
quinta-feira, 23 de junho de 2011
terça-feira, 21 de junho de 2011
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Exame Nacional 2011 - 1.ª fase - Proposta de correcção
Grupo I
Texto A
1. Sensações do sujeito poético:
- Sensação visual: "Moram ali pessoas que desconheço, que já vi mas não vi." (v. 3);
- Sensação auditiva: "As vozes, que sobem do interior do doméstico..." (v.8).
2. Infância é sinónimo de:
- inocência, felicidade e alegria ("As crianças, que brincam..." - v. 5);
- beleza e fragilidade (os vasos de flores);
- protecção ("... que brincam às sacadas altas..." - v. 5);
- a (aparente) eternidade da alegria e felicidade simbolizadas pela infância, reveladora da inconsciência que as crianças têm da passagem do tempo.
3. Relação entre o sujeito poético e os outros:
- é uma relação de oposição: o sujeito é infeliz e vive desajustado; os outros são felizes e vivem ajustados ao que os rodeia;
- por outro lado, o sujeito é diferente dos outros, de quem vive afastado e que desconhece ("pessoas que desconheço, / que já vi mas não vi.").
4. Na última estrofe, o sujeito revela o seu vazio e a sua dor ("Um nada que dói..." - v. 26) e esse estado de espírito resulta da reflexões que fez nas estrofes anteriores.
Assim, nelas ele questiona-se acerca do sentir dos «outros», concluindo que, no fundo, não há «outros», mas «nós», isto é, só é possível sentir individualmente. Por outro lado, é extremamente difícil ou impossível ter acesso ao sentir do(s) outro(s), dado que há um fechamento, uma falta de comunicação dos seres humanos entre si, que tem a ver com a individualidade de cada ser humano.
Texto B
. Introdução:
- Reis, heterónimo de Pessoa, de formação clássica, cultor de um epicurismo triste;
- Desenvolve o tema da da brevidade, fugacidade e transitoriedade da vida / do tempo.
- A passagem do tempo é inexorável, a vida é breve e a morte uma certeza (imagem do rio que passa, do mar, os símbolos clássicos - a barca, Caronte, o óbolo, etc.) # contraste com a Natureza, que se renova periodicamente;
- A impossibilidade de o Homem lutar contra esses factos;
- Implicações: sofrimento, dor, angústia...;
- Objectivo: evitar o sofrimento;
- Adopção de uma filosofia de vida / princípios de vida:
- ideal do carpe diem: aproveitar o momento, porque a vida é breve;
- viver com moderação, auto-domínio, sem apego às coisas;
- comedimento das paixões, das ambições, evitando assim a dor da morte;
- busca do prazer relativo e da ataraxia;
- ...
. Conclusão:
- Reis procura evitar o sofrimento e a dor motivadas pela efemeridade da vida / passagem do tempo;
- Reis constrói uma filosofia de vida orientada nesse sentido.
Grupo II
Versão 1 Versão 2
1.1. D 1.1. B
1.2. B 1.2. A
1.3. C 1.3. B
1.4. D 1.4. C
1.5. C 1.5. B
1.6. A 1.6. D
1.7. A 1.7. B
2.1. O antecedente dos pronomes possessivos é o grupo nominal "As terras".
2.2. A expressão destacada desempenha a função de sujeito.
2.3. A oração referida é uma oração subordinada adverbial consecutiva.
Grupo III
. Introdução:
- A importância genérica da literatura / da leitura para o ser humano;
- Relacionamento com o texto introdutório.
. Desenvolvimento:
- Argumento 1: a literatura desperta o sonho, a criatividade, a imaginação, dá asas ao
Homem para este voar; é uma forma de evasão;
- Exemplos:
a) a identificação com uma situação, uma personagem...;
b) a construção de uma imagem mental das personagens, dos espaços,
dos cenários, das acções...
- Argumento 2: a literatura é sinónimo de conhecimento, cultura, consciência, espírito
crítico, liberdade...
- Exemplos:
a) a leitura protege o ser humano da ignorância, estupidez, tirania... - con-
frontar a sociedade portuguesa anterior ao Salazarismo e a actual, mais
escolarizada, mais «lente»;
b) os alunos que lêem regularmente, por norma exprimem-se melhor, pen-
sam de forma estruturada e crítica, em comparação com aqueles que
não lêem, que apresentam maiores dificuldades em se expressarem.
- Argumento 3: a literatura possibilita o estreitamento das relações familiares, a partilha
e a afectividade; nela estão retratados os sentimentos humanos e as
formas de relação do Homem com o que vê, sente...
- Exemplos:
a) a leitura em família (os pais que lêem para os filhos em idade pré-esco-
lar; os pais e filhos que lêem em conjunto / partilham a leitura...);
b) os clubes de leitura...
- Argumento 4: a literatura é a transfiguração da realidade, possibilitando assim a fuga
à rotina e à monotonia do quotidiano;
- Exemplo: a fruição da leitura; a literatura / leitura enquanto prazer, ocupação de
tempos livres - função semelhante à desempenhada por outras formas
de arte (a música, o cinema, o teatro...).
e a afectividade; nela estão retratados os sentimentos humanos e as
formas de relação do Homem com o que vê, sente...
- Exemplos:
a) a leitura em família (os pais que lêem para os filhos em idade pré-esco-
lar; os pais e filhos que lêem em conjunto / partilham a leitura...);
b) os clubes de leitura...
- Argumento 4: a literatura é a transfiguração da realidade, possibilitando assim a fuga
à rotina e à monotonia do quotidiano;
- Exemplo: a fruição da leitura; a literatura / leitura enquanto prazer, ocupação de
tempos livres - função semelhante à desempenhada por outras formas
de arte (a música, o cinema, o teatro...).
sábado, 18 de junho de 2011
Gramática nos exames
- Coesão: todos os exames, várias questões;
- Funções sintácticas: 4 exames;
- Relações entre palavras: vários exames;
- Orações: vários exames;
- Pontuação (nomeadamente o uso expressivo da pontuação): vários exames;
- Conectores: vários exames;
- Modos / tempos verbais: 2 exames;
- Actos ilocutórios, aspecto verbal, valor do adjectivo, deícticos, pronomes: 1 exame.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Sinais dos tempos
Futuros magistrados apanhados a copiar tiveram todos dez
Indícios de que 137 auditores que estão no Centro de Estudos Judiciários (CEJ) a formarem-se para serem magistrados copiaram num teste levou à anulação do exame. Face à impossibilidade de encontrar uma data para repetir o teste a direcção da instituição decidiu atribuir nota dez a todos os futuros magistrados.
Respostas «modelares» (VII)
Há um par de meses, foi apresentado (mais) um trabalho aos alunos, correspodente, regra geral, ao grupo B do exame nacional, aquele em que é solicitado ao examinando que escreva um texto (entre 80 e 120 ou 130 palavras) sobre um conteúdo de leitura. Esse trabalho partia do seguinte enunciado:
Tal como Álvaro de Campos, também em Alberto Caeiro as sensações são um elemento relevante.
Fazendo um apelo à sua experiência de leitura, exponha, num texto de sessenta a cento e vinte palavras, a sua opinião sobre a importância das sensações na poesia de Caeiro.Das várias respostas elaboradas, a que a seguir se apresenta foi, de longe, a melhor. Um único senão: excedeu, violentamente, o limite de palavras estipulado.
Alberto Caeiro, o "Mestre", assume-se como o poeta das sensações. Ele próprio diz "Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...". Esta filosofia está expressa, essencialmente, no conjunto de poemas intitulado "O Guardador de Rebanhos", onde se apresenta como um simples "pastor dos seus pensamentos que são todos sensações".
E, nesta busca de sensações, opõe-se radicalmente a Fernando Pessoa ortónimo. Caeiro compõe os seus poemas apenas a partir das sensações, negando mesmo a utilidade do pensamento, enquanto que em Pessoa se passa precisamente o contrário, havendo uma intelectualização do sentir: "O poeta é um fingidor" ("Autopsicografia").
Para Caeiro, "pensar é estar doente dos olhos", a sensação é a única realidade, logo há que substituir o pensamento pela sensação. Ver é conhecer e compreender o mundo, por isso pensa vendo e ouvindo. Os seus poemas são, por isso, a descrição da realidade tal como a entende através dos sentidos, em especial da visão e da audição.
É, pois, um sensacionista a quem só interessa o que capta pelas sensações. Para Caeiro, o que importa é ver de forma objectiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento: "Para além da realidade imediata não há nada".
As sensações são, portanto, o suporte desta poesia livre, inovadora, próxima da prosa e do falar quotidiano e fazem de Caeiro um verdadeiro "Mestre" e o "Poeta da Natureza". É o mestre porque, ao contrário dos demais heterónimos e do ortónimo, consegue submeter o pensar ao sentir, o que lhe permite viver sem dor, envelhecer sem angústia e morrer sem desespero. Ele não procura encontrar um sentido para a vida e para as coisas que o rodeiam; sente sem pensar, o que faz dele um ser uno, não fragmentado, e da sua poesia algo simples e claro que transmite calma e serenidade.PC
terça-feira, 14 de junho de 2011
Respostas «modelares» (VI)
Exame de 2010 - 2.ª Fase
Grupo III
Partindo da perspectiva exposta no excerto abaixo transcrito, apresente uma reflexão acerca das consequências da acção do Homem no planeta Terra.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
Escreva um texto, devidamente estruturado, de duzentas a trezentas palavras.
«Na verdade, não são os avanços científicos e industriais que ameaçam o Homem e a Natureza, mas sim a maneira errada e inconsciente como a Humanidade aplica as suas conquistas tecnológicas.»
Jacques-Yves Costeau, "Segredos do mar..."
Proposta de plano
INTRODUÇÃO - 1 parágrafo
. Ponto de partida: definição de uma «tese» a partir do tema proposto (consequências
acção do Homem na Terra), em conexão com a citação de
Costeau (o uso deficiente e inconsciente do progresso tecnológico),
que remete para os efeitos negativos.
DESENVOLVIMENTO - 2 / 3 / 4 parágrafos (= n.º de argumentos)
» 1.º argumento: a relação entre o (mau) uso das tecnologias e o aumento da poluição.
- 1.º exemplo: o progresso, o uso intensivo dos meios de transporte (o automóvel, o
avião...) e o recurso a fontes de energia não renováveis aumentam as
emissões de dióxido de carbono (efeito de estufa, mudanças climáti-
cas...).
- 2.º exemplo: os despejos de resíduos industriais em cursos de água (as suiniculturas,
a lavagem de tanques dos grandes petroleiros em alto mar...).
» 2.º argumento: a industrialização e a necessidade cada vez maior de recursos naturais
contribuem para o desgaste do planeta e dos seus recursos, para a
destruição do ecossistema...
- 1.º exemplo: o acidente ocorrido com a plataforma petrolífera da BP ao largo da
costa dos EUA e os reflexos que teve na vida (fauna e flora) da área
afectada.
» Contra-argumentos (não solicitados pelo enunciado):
- o aproveitamento da tecnologia para uma melhoria da qualidade da vida do Homem
(exemplos: os sistemas de aquecimento e / ou ar condicionado, a Internet, a video-
conferência, a telemedicina, o e-learning, etc.);
- o desenvolvimento de tecnologias e energias não poluentes (a energia solar, eólica,
marés, biomassa...), MAS
- também com impactos negativos (a nível da paisagem, desflorestação...).
CONCLUSÃO - 1 parágrafo
» Síntese da argumentação / reflexão:
- A acção humana e os progressos tecnológicos resultam em benefício da vida humana
e, em simultâneo, em prejuízo do planeta e do seu equilíbrio ecológico;
» Apresentação de soluções:
- Necessidade de maior investimento nas tecnologias não poluentes e nas energias reno-
váveis / alternativas;
- Desenvolvimento de campanhas de sensibilização (uso dos meios de transporte colec-
tivos em detrimento dos individuais; poupança de energia...);
- ...
Costeau (o uso deficiente e inconsciente do progresso tecnológico),
que remete para os efeitos negativos.
DESENVOLVIMENTO - 2 / 3 / 4 parágrafos (= n.º de argumentos)
» 1.º argumento: a relação entre o (mau) uso das tecnologias e o aumento da poluição.
- 1.º exemplo: o progresso, o uso intensivo dos meios de transporte (o automóvel, o
avião...) e o recurso a fontes de energia não renováveis aumentam as
emissões de dióxido de carbono (efeito de estufa, mudanças climáti-
cas...).
- 2.º exemplo: os despejos de resíduos industriais em cursos de água (as suiniculturas,
a lavagem de tanques dos grandes petroleiros em alto mar...).
» 2.º argumento: a industrialização e a necessidade cada vez maior de recursos naturais
contribuem para o desgaste do planeta e dos seus recursos, para a
destruição do ecossistema...
- 1.º exemplo: o acidente ocorrido com a plataforma petrolífera da BP ao largo da
costa dos EUA e os reflexos que teve na vida (fauna e flora) da área
afectada.
» Contra-argumentos (não solicitados pelo enunciado):
- o aproveitamento da tecnologia para uma melhoria da qualidade da vida do Homem
(exemplos: os sistemas de aquecimento e / ou ar condicionado, a Internet, a video-
conferência, a telemedicina, o e-learning, etc.);
- o desenvolvimento de tecnologias e energias não poluentes (a energia solar, eólica,
marés, biomassa...), MAS
- também com impactos negativos (a nível da paisagem, desflorestação...).
CONCLUSÃO - 1 parágrafo
» Síntese da argumentação / reflexão:
- A acção humana e os progressos tecnológicos resultam em benefício da vida humana
e, em simultâneo, em prejuízo do planeta e do seu equilíbrio ecológico;
» Apresentação de soluções:
- Necessidade de maior investimento nas tecnologias não poluentes e nas energias reno-
váveis / alternativas;
- Desenvolvimento de campanhas de sensibilização (uso dos meios de transporte colec-
tivos em detrimento dos individuais; poupança de energia...);
- ...
segunda-feira, 13 de junho de 2011
domingo, 12 de junho de 2011
Respostas «modelares» (V)
Exame de 2010 - 2.ª Fase
GRUPO II
Comente a importância de Blimunda na consecução do sonho de voar, em Memorial do Convento, de José Saramago, fazendo referências pertinentes à obra.
R -
Introdução (1.º parágrafo):
- O sonho de voar do padre Bartolomeu de Gusmão;
- A concretização do sonho através da construção da passarola.
Desenvolvimento (2.º / 3.º parágrafos) - Acção de Blimunda:
- Recolha das duas mil vontades;
- Dom de ver por dentro as pessoas e os objectos:
» acompanhamento da construção da passarola;
» verificação da (in)existência de falhas / defeitos de construção da
passarola, olhando periodicamente por dentro.
Conclusão (último parágrafo):
- O papel fulcral de Blimunda na construção da passarola;
- A conjugação dos quatro saberes.
Respostas «modelares» (IV)
Exame de 2010 - 2.ª Fase
TEXTO A
3. Indique um efeito expressivo da enumeração presente na estância 147.
R - Na estância 147, o Poeta enumera o conjunto de qualidades dos vassalos portugueses, como se pode verificar no seguinte extracto, em que aqueles são comparados a leões e a touros bravos: "Olhai que ledos vão, por várias vias, / Quais rompentes liões e bravos touros..." (est. 147, vv. 1-2- ss.).
Com a enumeração, o Poeta pretende, por um lado, enfatizar a superior qualidade dos vassalos do Rei, que tudo suportam e vencem (fome, guerras, condições climatéricas adversas, confrontos religiosos, naufrágios...), e, por outro, destacar os inúmeros perigos enfrentados, na guerra e no mar, durante a aventura dos Descobrimentos.
Com a enumeração, o Poeta pretende, por um lado, enfatizar a superior qualidade dos vassalos do Rei, que tudo suportam e vencem (fome, guerras, condições climatéricas adversas, confrontos religiosos, naufrágios...), e, por outro, destacar os inúmeros perigos enfrentados, na guerra e no mar, durante a aventura dos Descobrimentos.
sábado, 11 de junho de 2011
"O Homem que matou Liberty Valance"
"O Homem que matou Liberty Valance", de John Ford
Ransom Stoddard: You're not going to use the story, Mr. Scott?
Maxwell Scott: No, sir. This is the West, sir. When the legend becomes fact, print the legend.
Maxwell Scott: No, sir. This is the West, sir. When the legend becomes fact, print the legend.
A mensagem de Ulisses, de Fernando Pessoa (in Mensagem)...
Respostas «modelares» (III)
Exame de 2010 - 2.ª Fase
TEXTO A
2. Justifique a interpelação ao Rei, relacionando-a com o sentido das estâncias 145 a 148.
R - O Poeta interpela o Rei ("Por isso vós, ó Rei..." - est. 146, v. 5), que o é por desígnio de Deus ("... que por divino / Conselho estais no régio sólio posto..." - est. 146, vv. 5-6), considerando que este deve reconhecer o valor dos seus súbditos, que, como se verificou no passado, reúnem qualidades para o fazerem "vencedor", isto é, para reacenderem na Pátria o orgulho e a coragem ("Olhai que sois (...) / Senhor só de vassalos excelentes." - est. 136, vv. 7-8).
Essa interpelação resulta do facto de o Poeta constatar que a Pátria vive mergulhada no desânimo e na abulia ("Dua austera, apagada e vil tristeza." - est. 145, v. 8), bem como num aviltamento de valores, factores que não permitem uma atitude colectiva, enérgica e optimista.
Por outro lado, o Poeta exalta os heróis valorosos por si cantados (estância 147), por contraste com a inércia e a indignidade ("Não tem um ledo orgulho e geral gosto, / Que os ânimos levanta de contino / A ter pera trabalhos ledo o rosto." - est. 146, vv. 2 a 4) dos seus contemporâneos, perdidos "No gosto da cobiça..." (est. 145, v. 8).
Essa interpelação resulta do facto de o Poeta constatar que a Pátria vive mergulhada no desânimo e na abulia ("Dua austera, apagada e vil tristeza." - est. 145, v. 8), bem como num aviltamento de valores, factores que não permitem uma atitude colectiva, enérgica e optimista.
Por outro lado, o Poeta exalta os heróis valorosos por si cantados (estância 147), por contraste com a inércia e a indignidade ("Não tem um ledo orgulho e geral gosto, / Que os ânimos levanta de contino / A ter pera trabalhos ledo o rosto." - est. 146, vv. 2 a 4) dos seus contemporâneos, perdidos "No gosto da cobiça..." (est. 145, v. 8).
Respostas «modelares» (II)
Exame de 2010 - 2.ª fase
TEXTO A
4. No último parágrafo, o narrador assume uma atitude de comentador.
Transcreva do texto dois excertos exemplificativos de tal atitude e explicite a intenção que pode estar subjacente a estes comentários.
R - Os dois excertos que exemplificam a atitude de comentador assumida pelo narrador são os seguintes: "Sem falar que a Vénus cantariam todos os galos do mundo se tivesse os olhos que Blimunda tem..." (ll. 35 e 36); "... sobre Vulcano também Baltasar ganha, porque se o deus perdeu a deusa, este homem não perderá a mulher." (linhas 37 a 39).
O primeiro excerto destaca os dotes de Blimunda, nomeadamente o poder de ver por dentro as pessoas e as «coisas», dotes esses que a fazem exceder os de Vénus, deusa do amor.
Por seu turno, o segundo excerto afirma a fidelidade e o amor que caracterizam a relação entre Baltasar e Blimunda, através do contraste que estabelece com o deus Vulcano, que "perdeu a deusa".
Respostas «modelares» (I)
Exame de 2010 - 2.ª fase
TEXTO A
1. Considere o primeiro parágrafo do texto.
Descreva o comportamento de Scarlatti imediatamente antes de ser iniciado no "segredo", fundamentando a resposta em três citações do texto.
R. No momento em que vai ser iniciado no "segredo", Scarlatti mostra-se indiferente ("Não parecia curioso..." - linha 1), calmo ("... olhava tranquilo..." - linha 2; "Sem precipitação, tão tranquilamente como antes estivera olhando as andorinhas..." - linhas 10 e 11) e cúmplice ("... disse, sorrindo, e o músico respondeu, em tom igual..." - linha 5).
Descreva o comportamento de Scarlatti imediatamente antes de ser iniciado no "segredo", fundamentando a resposta em três citações do texto.
R. No momento em que vai ser iniciado no "segredo", Scarlatti mostra-se indiferente ("Não parecia curioso..." - linha 1), calmo ("... olhava tranquilo..." - linha 2; "Sem precipitação, tão tranquilamente como antes estivera olhando as andorinhas..." - linhas 10 e 11) e cúmplice ("... disse, sorrindo, e o músico respondeu, em tom igual..." - linha 5).
quinta-feira, 9 de junho de 2011
O final
Porque tudo, na vida, tem um princípio e um FIM!
terça-feira, 7 de junho de 2011
"JOANA"
Trabalho produzido em 2010 pela turma do 7.º C, supervisionada pelo professor Paulo D'Alva e que acabou de vencer o o Grande Prémio do Festival de Cinema de Portel.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Classificação do romance
1. O conceito de romance histórico
De acordo com a «definição actual» de romance histórico, este terá tido início no século XIX, com o Romantismo, período literário que valorizava imenso o passado histórico. Romances anteriores, como o Princess de Clives, da autoria de Madame de Lafayette, não cabem nesta classificação, uma vez que não possuem traços essenciais como a factualidade e o rigor histórico.
Assim, diversos autores consideram que o primeiro romance histórico foi a obra Waverley, saída da pena do escritor britânico Sir Walter Scott (1771 - 1832), natural de Edimburgo, Escócia, escrito em 1814 e que veio definir as características do género. Dentre as suas obras, a mais conhecida será, eventualmente, Ivanhoe, escrito em 1820. A sua obra, considerada globalmente, está associada à afirmação da história e dos interesses da Escócia, cuja sociedade retratou através da acção individual dos seus membros num contexto definido com pormenor. A sua influência espalhou-se pela Europa, chegando naturalmente a Portugal e sendo visível em Alexandre Herculano e Almeida Garrett, particularmente em O Arco de Santana.
1.1. Características do romance histórico
O romance histórico procura a recriação histórica, que passa, entre outras coisas, pela criação de ambientes, traduzidos pela chamada «cor local», obtida através de uma série de recursos:
- evocação, o mais fiel possível, da linguagem da época e dos diferentes grupos sociais;
- descrição pormenorizada do vestuário e da indumentária das personagens;
- reconstituição de espaços (cidades, castelos e monumentos), com especial incidência nos aspectos arquitectónicos;
- recriação de grandes movimentações das personagens (saraus, torneios, manifestações populares), procurando criar a ilusão de fidelidade ao tempo narrado;
- a presença de personagens referenciais, ao lado de personagens ficcionais, frequentemente os heróis dos romances históricos, na medida em que proporcionam ao autor maior / total liberdade criativa.
A procura dessa fidelidade ao real histórico leva os escritores a socorrerem-se de fontes diversas: «documentos antigos», «velhos livros», «memórias», etc. Exemplificativa deste aturado trabalho de pesquisa é a polémica que envolveu, há alguns anos, o jornalista-escritor Miguel de Sousa Tavares e o seu romance Equador, acusado de plagiar obras estrangeiras, ao incluir no seu texto extractos das mesmas.
1.2. O romance histórico português
O primeiro autor português a cultivar uma forma de romance histórico foi Alexandre Herculano (Lendas e Narrativas; O Bobo; Eurico, o Presbítero...), cujos protagonistas eram geralmente personagens medievais profundamente românticas no que diz respeito ao seu comportamento e forma de sentir e estar.
Linguagem e estilo
1. Figuras de estilo
3. Verbo
- Ironia: a visão crítica dos acontecimentos do narrador é, geralmente, suportada pela ironia (relação rei / rainha, determinados actos religiosos, autos-de-fé, etc.);
- Metáfora: "(...) esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga..." (p. 27);
- Hipálage: "(...) a regalar a vista sôfrega nas grandes peças de carne..." (p. 42).
2. Registos de língua
- Língua popular e familiar, geralmente com função crítica e irónica ou como forma de explicitação da classe social das personagens: "emprenhar" (p. 11), "vossemecê" (p. 40);
- Calão: "puta", "merda", etc.
3. Verbo
- Uso do presente do indicativo (p. 39): transporta o leitor para o tempo da narrativa;
- Modo imperativo, relembrando a oratória barroca - Padre António Vieira (p. 308);
- Gerúndio.
4. Construção frásica
- frases longas que, por um lado, aproximam o texto do discurso oral e, por outro, traduzem o monólogo interior e a celeridade do pensamento (pp. 94, 131);
- paralelismo de construção (p. 26);
- ausência de sinais gráficos indicadores de diálogo, sendo a vírgula que separa as falas das personagens;
- ausência dos pontos de exclamação e de interrogação;
- paralelismo de construção (p. 26);
- enumeração (p. 335);
- hibridismo de tipologias discursivas: utilização do discurso directo, indirecto e indirecto livre, sem recurso, porém, aos tradicionais sinais gráficos (dois pontos, seguidos de travessão) e lexicais (verbos introdutores do discurso como “perguntar”, “declarar”, “dizer”, “afirmar”, etc.);
- polissíndeto (pp. 99, 112-113).
5. Oposições sugeridas por vocábulos antónimos para sugerir as diferenças entre ricos e pobres (p. 27).
Tempo histórico
1. Dados históricos:
- o título realça o desejo de recordar, remetendo para um passado que é o da construção do convento;
- os planos da construção do convento e da construção e voo da passarola estão relacionados com a realidade histórica;
- diversos acontecimentos históricos são abordados no romance:
-» as referências ligadas ao convento de Mafra respeitam os anos, os dias e até as horas (por exemplo, a colocação e bênção da primeira pedra, cujas cerimónias tiveram início às 7 horas da manhã do dia 17 de Novembro de 1717, o que corresponde, efectivamente, à verdade);
-» a batalha de Jerez de los Caballeros, que enquadra o aparecimento de Baltasar;
-» a promessa do rei, por volta de 1711, que deu origem à construção do convento;
-» a bênção da primeira pedra do convento;
-» a indecisão do rei acerca do número de frades que o convento albergaria;
-» a procissão do Corpo de Deus;
-» a sagração do convento;
-» a importação de materiais, artistas e obras de arte de vários países da Europa e do Brasil;
-» o desejo do rei que a cerimónia de sagração ocorresse no 41.º aniversário do seu nascimento – 22 de Outubro de 1730;
-» o apressar dos trabalhos para que os prazos fossem efectivamente cumpridos;
-» o recrutamento em larga escala de trabalhadores para a obra;
-» os custos elevados da obra e a dificuldade de os calcular;
-» a origem das pedras de Pêro Pinheiro;
-» as remessas de ouro do Brasil;
-» os conflitos no Brasil;
-» os ataques franceses às embarcações portuguesas;
-» a chegada da nau de Macau;
-» a elevação do inquisidor a cardeal;
Tempo da histórica
As referências cronológicas do romance são escassas ou descortinam-se por dedução.
- 1711 - D. João V promete "construir um convento de franciscanos na vila de Mafra" se a rainha lhe der um herdeiro.
- 1714 - Nasce o infante D. José, futuro rei de Portugal, filho de D. João V e D. Maria Ana.
- 1717 - Início da construção do Convento de Mafra, que decorrerá até 1730.
- 1723 - Surto de febre amarela em Lisboa.
- 1724 - Furacão em Lisboa, em 19 de Novembro.
- 1725 - Preparação dos casamento dos príncipes e das princesas.
- 1728 - D. João V expressa o desejo de inaugurar o convento no dia do seu 41.º aniversário.
- 1729 - Casamento dos príncipes portugueses (D. Jo´se e D. Maria Bárbara) com os príncipes espanhóis (Fernando e D. Maria Vitória de Bourbon).
- 1730 - Sagração da basílica do convento.
- 1730 - Desaparecimento de Baltasar.
- 1739 - Blimunda procura Baltasar durante nove anos.
- 1739 - Auto-de-fé (18 de Outubro), no qual são queimados Baltasar e António José da Silva.
Por outro lado, este romance de Saramago aborda a questão do tempo através da memória e do resgate de lembranças de um período histórico, bem como através de uma (re)visão presentificada desse tempo, consoante o demonstra o quadro seguinte, roubado de Tudo Pro_Exame, das Edições Asa:
domingo, 5 de junho de 2011
Eleições 2011
Acompanhar resultados aqui: http://www.legislativas2011.mj.pt/.
Saída de cena
Hoje, dentre duas figuras (?) da política portuguesa, alguém vai arrumar a trouxa e imitar o Romeiro da peça Frei Luís de Sousa: partir rumo ao oblívio que ajudou a cavar para si.
Recordando os clássicos, nomeadamente o regresso a casa de Ulisses, só reconhecido pelo seu Argus, o moribundo mas sempre fiel amigo de quatro patas, aqui fica um breve poema de Pedro Mexia, ainda quentinho do forno:
«Infeliz quem, ao contrário
de Ulisses, volte a casa
e nem sequer um cão, nem
um cão morto sequer, ladre.»
Pedro Mexia, "Ao contrário de Ulisses", in Menos por Menos (2011)
sábado, 4 de junho de 2011
Espaço físico de 'Memorial do Convento'
A acção de Memorial do Convento desenrola-se em dois grandes espaços: Lisboa e Mafra, a que se acrescenta o Alentejo, em circunstâncias bem específicas.
Lisboa é um macroespaço caracterizado, genericamente, como uma cidade muralhada e com abundância de igrejas ("Lisboa derramava-se para fora das muralhas. Via-se o castelo lá no alto, as torres das igrejas dominando a confusão das casas baixas, a massa indistinta das empenas." - p. 40), o que denuncia o ambiente profundamente religioso e beato que a domina. Por dentro, é descrita como uma cidade suja ["(...) a cidade é imunda, alcatifada de excrementos, de lixo, de cães lazarentos e gatos vadios, e lama mesmo quando não chove." - p. 28].
Enquanto macroespaço integra outros espaços:
- Mercado de peixe, espaço contrastante com a visão imunda da cidade ("Sete-Sóis atravessou o mercado de peixe. (...) Mas no meio da multidão suja, eram miraculosamente asseadas, como se as não tocasse sequer o cheiro do peixe que removiam às mãos cheias..." - pág. 42).
- Paço: trata-se de um espaço de que não há grandes descrições, ressaltando apenas as atitudes das personagens que o habitam e os factos que lá têm lugar.
- Terreiro do Paço: local onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa (p. 71).
- Rossio: local onde decorrem os autos-de-fé.
- S. Sebastião da Pedreira: espaço relacionado com a passarola e o seu carácter mítico (pp. 65-67). Na época, era um espaço rural, onde existiam várias quintas que integravam palacetes. Associado simbolicamente à construção da passarola, é conotado com a ideia de sonho e de concretização.
- Abegoaria: constitui o ninho de amor de Baltasar e Blimunda. Da descrição que o narrador dela faz, podemos inferir a simplicidade da vida e a pobreza do casal ("Num canto da abegoaria desenrolaram a enxerga e a esteira, aos pés dela encostaram o escano, fronteira a arca, como os limites de um novo território, raia traçada no chão e em panos levantada, suspensos estes por um arame para que isto seja de facto uma casa..." - p. 88). Por outro lado, aí se vai construindo a passarola.
O outro espaço é o de Mafra, o segundo macroespaço (pp. 110 - 111), pouco descrito. É aí que milhares de homens, em condições infra-humanas, vão construindo, ao longo de décadas, o convento, muitos deles perdendo lá a própria vida ("... o abençoado há-de ir a Mafra também, trabalhará nas obras do convento real e ali morrerá por cair de parede, ou da peste que o tomou, ou da facada que lhe deram, ou esmagado pela estátua de S. Bruno..." - p. 117). Nesta vila, destaca-se outro espaço: o Alto da Vela, local escolhido por D. João V para edificar o convento e que deu lugar à chamada vila nova, à volta do edifício. Espaço de construção (à semelhança do que sucede com a quinta de S. Sebastião da Pedreira), representa o caráter disfórico dessa construção (do convento), assente na exploração dos trabalhadores e associando-se aos valores negativos do sacrifício e da dor / morte. Nas imediações da obra, surge a Ilha da Madeira, onde começaram por se alojar dez mil trabalhadores, ascendendo, posteriormente, a quarenta mil.
Um terceiro espaço é o Alentejo, um lugar povoado por mendigos e salteadores. Esta zona do reino é percorrida por Baltasar aquando do seu regresso da Guerra da Sucessão e, mais tarde, pelo cortejo real, que vai de Lisboa a Elvas, por ocasião do casamento dos príncipes D. Maria Bárbara e D. José com os príncipes espanhóis. Nestas ocasiões, realçam-se a miséria e a penúria de quem aí habita, bem como os caminhos de lama e de pobreza.
Outros locais a considerar são Pêro Pinheiro, local de onde é originária a pedra, e a Serra do Barregudo, lugar onde a passarola pousou e esteve escondida e donde partiu para a derradeira e fatal viagem de Baltasar.
Narrador - Presença
O narrador de Memorial do Convento é, geralmente, heterodiegético, ou seja, é uma entidade exterior à história que assume a função de relatar os acontecimentos. Surge normalmente na terceira pessoa (visível nos pronomes e verbos na terceira pessoa), ainda que, por vezes, ocorra a primeira pessoa do singular e do plural, identificando-se, então, com as outras personagens: “(…) na grande entrada de onze mil homens que fizemos em Outubro do ano passado e que se terminou com perda de duzentos nossos (…) A Olivença nos recolhemos, com algum saque que tomámos em Barcarrota e pouco gosto para gozar dele (…)” – p. 35. Neste excerto, encontramos um narrador homodiegético, um narrador que é uma personagem da história, que revela as suas próprias vivências, que se insere na diegese e que, em determinada situação, reivindica o relato dos acontecimentos que viveu.
Por vezes, a voz do narrador heterodiegético confunde-se com o pensamento de outra personagem: “Veio andando devagar. Não tem ninguém à sua espera em Lisboa, e em Mafra, donde partiu anos atrás para assentar praça na infantaria de sua majestade, se pai e mãe se lembram dele, julgam-no vivo porque não têm notícias der que esteja morto, ou morto porque as não têm de que seja vivo. Enfim, tudo acabará por saber-se com o tempo.” (p. 36).
Noutros momentos, encontramos a união entre a voz do narrador e a de outra(s) personagem(ns) em substituição do discurso directo: “Num canto da abegoaria desenrolaram a enxerga e a esteira, aos pés delas encostaram o escano, fronteira a arca, como os limites de um novo território, raia traçada no chão e em panos levantada, suspensos estes de um arame, para que isto seja de facto uma casa e nela possamos encontrar-nos sós quando estivermos sozinhos.” (p. 90).
Narrador - Focalização
1. Focalização interna
A predominância da focalização interna significa que, na obra literária, se instaura o ponto de vista de uma das personagens que vive a história.
No Memorial do Convento, existe focalização interna quando, por exemplo, Sebastiana de Jesus nos relata os acontecimentos (pp. 52-53), o mesmo sucedendo com Baltasar (p. 217).
2. Focalização interventiva
Este tipo de focalização funciona como uma espécie de comentário, aliado à adesão ou rejeição de comportamentos ou formas de estar das personagens, apresentando, geralmente, uma função ideológica.
Assim, existe focalização interventiva quando o narrador tece comentários com carácter valorativo a propósito dos eventos narrados (pp. 123-124); quando os comentários do narrador reflectem a voz do povo, assumindo o seu registo de língua (pp. 31, 229); quando recorre a aforismos (pp. 27, 268, 287, 298, 306, 325, 346) e quando as intervenções surgem como prolepses, atecipando acontecimentos futuros (pp. 213-214).
3. Focalização omnisciente
A omnisciência do narrador significa que este tem um conhecimento total dos acontecimentos e fornece, sobre eles, os dados fundamentais para que a intriga possua coerência. No fundo, o narrador instaura-se como um deus que tudo sabe, vê e ouve, tendo acesso, inclusive, aos pensamentos das personagens.
Neste romance, o narrador possui um saber que implica não só a transcendência em relação a todas as personagens como uma perspectiva tridimensional do tempo – presente, passado e futuro – a que está subjacente uma visão integrada dos acontecimentos e a inscrição dos fenómenos narrados numa determinada cultura, transversal a um conhecimento global da História. É este conhecimento que permite ao narrador seguir eventos ocorridos em tempos diferentes, estando presente ao nível do tempo da história (século XVIII) e, simultaneamente, num tempo posterior, o do discurso ou da enunciação.
2. Focalização interventiva
Este tipo de focalização funciona como uma espécie de comentário, aliado à adesão ou rejeição de comportamentos ou formas de estar das personagens, apresentando, geralmente, uma função ideológica.
Assim, existe focalização interventiva quando o narrador tece comentários com carácter valorativo a propósito dos eventos narrados (pp. 123-124); quando os comentários do narrador reflectem a voz do povo, assumindo o seu registo de língua (pp. 31, 229); quando recorre a aforismos (pp. 27, 268, 287, 298, 306, 325, 346) e quando as intervenções surgem como prolepses, atecipando acontecimentos futuros (pp. 213-214).
3. Focalização omnisciente
A omnisciência do narrador significa que este tem um conhecimento total dos acontecimentos e fornece, sobre eles, os dados fundamentais para que a intriga possua coerência. No fundo, o narrador instaura-se como um deus que tudo sabe, vê e ouve, tendo acesso, inclusive, aos pensamentos das personagens.
Neste romance, o narrador possui um saber que implica não só a transcendência em relação a todas as personagens como uma perspectiva tridimensional do tempo – presente, passado e futuro – a que está subjacente uma visão integrada dos acontecimentos e a inscrição dos fenómenos narrados numa determinada cultura, transversal a um conhecimento global da História. É este conhecimento que permite ao narrador seguir eventos ocorridos em tempos diferentes, estando presente ao nível do tempo da história (século XVIII) e, simultaneamente, num tempo posterior, o do discurso ou da enunciação.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Simbolismo
1. Números
3. Outros símbolos
- Sete
Este número surge inúmeras vezes no romance: a data e a hora de sagração do convento (7 da manhã de 17 de Novembro de 1717), os sete anos de permanência de Scarlatti em Portugal, as sete vezes que Blimunda passa por Lisboa à procura de Baltasar, as sete igrejas visitadas por alturas da Páscoa, os sete bispos que baptizaram a infanta Maria Xavier Francisca comparados a sete-sóis de ouro e prata nos degraus do altar-mor, os nomes Sete-Sóis e Sete-Luas.
O sete representa a totalidade do universo em movimento e é o somatório dos quatro pontos cardeais com a trindade divina.
A sua presença nos nomes de Baltasar e de Blimunda liga-se à mudança de um ciclo e à renovação positiva, cujo resultado será a construção da passarola. De facto, o par amoroso simboliza a harmonia cosmogónica (o dia e a noite) e a sua união perfeita representa o acesso a um outro pode, que simboliza a Totalidade.
- Nove
Este número representa a insistência e a determinação de Blimunda em procurar o homem amado (de facto, procurou-o durante nove anos) e a intemporalidade do tempo da busca. A deusa grega Deméter também percorreu o mundo inteiro durante nove dias em busca da filha Perséfone, quando esta foi raptada. O nove está também ligado à gestação, à renovação e ao renascimento. Ele parece ser a medida das gestações, das buscas frutíferas e simboliza o coroamento dos esforços, o concluir de uma criação. De facto, passados os longos nove anos da sua busca, Blimunda reencontra finalmente Baltasar, tratando-se agora não de um encontro físico, mas de uma comunhão mística, e, por isso, total e completa.
2. Personagens
- Baltasar
Baltasar, soldado acabado de regressar da guerra, apresenta uma deformidade física que o torna uma personagem diferente da maioria e une-o a Blimunda, também ela diferente, pela sua capacidade de ver por dentro das pessoas. A perda da mão esquerda associa-o a um universo saturnino (negativo, pela ideia de paralisação) e infernal, do qual só sairá após a conclusão do seu percurso ascensional, conquistando, através do voo da passarola, a assunção da sua identidade. A sua condição de homem simples e pragmático,aliada à incapacidade intrínseca de questionar os dogmas estabelecidos, faz dele aquele que cria a passarola. Neste sentido, Baltasar, qual Ícaro, aproxima-se demasiado do Sol e, por isso, sofre um castigo: a morte na fogueira.
Por outro lado, Baltasar constitui um elo de ligação entre o universo simbólico e o universo judaico-cristão, pois participa na criação da passarola e na construção do convento, e, igualmente, funciona como elemento catalisador da loucura do padre Bartolomeu de Gusmão e da aceitação tácita de Blimunda. A sua relação é baseada no silêncio, no consentimento mútuo e implícito de ambos numa vida em comum, isto é, uma relação de completude que os torna imunes ao meio que os rodeia, defende-os de superstições, fortalece-os contra medos e temores.
Além disso, simbolizam a dualidade cíclica que, harmonicamente, realiza a cosmogonia universal (o dia e a noite) e representam o andrógino original, isto é, a congregação dos opostos, a totalidade e a perfeição espiritual. É o que ressalta dos nomes, a complementaridade Sol/Lua, dia/noite, luz/sombra, que simboliza a alternância do mundo, a união dos opostos, nomeadamente, o universo divino e o universo humano.
O casamento das duas ideias – Sol e Lua – simboliza a união do princípio masculino com o princípio feminino. Por outro lado, estes nomes, associados ao número sete, simbolizam, além da complementaridade, a perfeição.
- A mutilação de Baltasar
A mutilação coloca a personagem fora do tempo, ou seja, num nível de actuação diferente, onde irá lutar para obter a sua reintegração no tempo por uma nova utilização das mãos, o que acaba por acontecer com a construção da passarola e com a colaboração na edificação do convento de Mafra. Por outro lado, este defeito físico coloca-nos perante uma personagem que foge ao conceito tradicional de herói do romance.
Aliás, os mutilados são uma presença forte no Memorial, pois o narrador chega a salientar a quantidade de homens mutilados e aleijados, física e psicologicamente, envolvidos na edificação do convento (pp. 242-243).
- Padre Bartolomeu de Gusmão
O padre Bartolomeu de Gusmão representa, simbolicamente, um ser fragmentário, dividido entre a religião e a alquimia, vivendo um conflito interior motivado pela contínua procura de um saber que o conduzirá à subversão dos dogmas religiosos e, posteriormente, à loucura e à morte.
Esta personagem representa o mito de Prometeu e a passarola, a obra de uma vida, representa o pensamento dialéctico, pois congrega o princípio de um barco e o da ave que voa. A busca incessante do “meio” que fará voar a passarola leva-o a enveredar pelo estudo das antigas teorias medievais da física, unindo-as às novas descobertas científicas que impregnam a Europa.
- Scarlatti
Esta personagem simboliza o transcendente que advém da música e que, ligado aos poderes de Blimunda, instaura o domínio do maravilhoso no romance.
Duplo especular do padre Bartolomeu de Lourenço, Scarlatti simboliza a ascensão do homem através da música, numa clara união entre a acção e o pensamento. Pela sensibilidade criadora e pela técnica de execução, Scarlatti liga-se ao mito de Orfeu e contribui para a criação do universo encantatório que cura Blimunda. Com efeito, ele partilhará o sonho do trio e morrerá. Metaforicamente, após o voo da passarola, uma vez que destrói o cravo que o ligava explicitamente à trindade construtora e, implicitamente, ao interdito, isto é, ao sonho de voar.
3. Outros símbolos
- Sol
O Sol percorre um ciclo celeste diurno de Oriente para Ocidente – assim Baltasar percorrer, no interior da passarola, um ciclo entre Lisboa e Monte Junto; e tal como o sol, para nascer, segundo a antiga mitologia, tem de vencer todos os dias todos os guardiães da noite/morte, assim Baltasar terá que vencer os guardiães da «noite histórica»: a Inquisição, a credulidade popular, as forças espirituais retrógradas da Escolástica. E assim como o sol atravessa o céu, mas nele não se detém nem o conquista definitivamente para si, assim Baltasar atravessa o céu, rompe os céus, rasga a imagem pura de um céu morada de Deus. Neste aspecto, Baltasar, sob as ordens científicas do padre Bartolomeu de Gusmão, assume o estatuto de herói mítico que ousa desafiar a estabilidade aparentemente eterna da ideologia cristã. E para que o simbolismo clássico do herói maravilhoso e trágico que ousa desafiar os deuses seja cumprido na totalidade, Baltasar morre pelo fogo, como herético, o padre Bartolomeu de Gusmão morre louco, em Toledo, e Blimunda vagueia pelo mundo sem destino.
- Lua
A lua, porque não tem luz própria, é o princípio passivo do sol. Porém, no Memorial do Convento, o narrador atribui a Blimunda capacidades intuitivas e ecovisionárias, dependentes das fases da lua, que a tornam, como elemento activo, tão importante quanto Baltasar. Blimunda não se compreende sem Baltasar e vice-versa, constituindo um par antitético mas intimamente complementar de dia-noite, claro-escuro, Sol-Lua. Baltasar e Blimunda têm o mesmo nível de protagonismo no romance, não sendo nenhum deles superior ao outro. Esta subversão do estatuto social feminino no século XVIII, passivo e submisso face ao poder masculino, é subsidiária do modo de vida a dois do casal, sem casamento oficial e com igualdade de mando e obediência entre ambos.
Por outro lado, a lua, devido às suas fases, que condicionam o poder de Blimunda, é também símbolo do ritmo biológico da Terra, é medida do tempo, frutificadora da vida, guardadora da morte, dispensadora de geração.
- Passarola
Concebida como uma “barca voadora”, a passarola simboliza o elo de ligação entre o Céu e a Terra. Ela reúne dois símbolos que se opõem: a barca e a ave. No entanto, como a barca remete para a viagem e a ave para a liberdade, a passarola, pelo seu movimento ascensional, representa metaforicamente a alma humana que ascende aos céus, numa ânsia de realização que a liberta do universo canónico e dogmático dos homens.
Assim, a passarola simboliza o sonho, a libertação do espírito e a passagem a um outro estado de existência.- Voo da passarola
O acto de voar aparece como uma conquista do progresso e da ciência, como prelúdio do que mais tarde se chamará «aviação». O acto de voar sintetiza, assim, a vitória da razão sobre a crença religiosa e, consequentemente, no triunfo de um futuro libertado sobre um passado considerado supersticioso e alienante.
Por outro lado, representa o progresso enquanto enquadramento da eterna luta do homem para, época a época, a si próprio se ultrapassar e atingir uma dimensão divina ou quase divina. Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu de Gusmão repetem o desejo de Faetonte, filho mortal de Apolo, que, querendo imitar o pai, conseguiu deste a promessa de o deixar guiar o carro do sol por um só dia. Porém, Faetonte não conseguiu manobrar os cavalos e sustentar o carro do sol na abóboda celeste e o carro despenhou-se sobre a Terra, incendiando-a e matando o jovem ousado. Do mesmo modo, o padre Bartolomeu de Gusmão e Baltasar morrerão devido ao seu desejo de voar e Blimunda tornar-se-á em mulher errante.
- Vontades recolhidas por Baltasar
As vontades recolhidas por Blimunda, necessárias para fazer erguer a passarola e metaforizadas nas nuvens fechadas que se situam na boca do estômago, são as vontades humanas que, ao longo de séculos, coincidiram e fizeram o progresso do mundo.
- O olhar de Blimunda em jejum
O olhar de Blimunda em jejum permite-lhe conhecer eficazmente a alma, o interior e o invisível. Simbolicamente, o olhar possui um poder mágico e é o instrumento de ordens interiores: mata, fascina, fulmina, seduz do mesmo modo que exprime.
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