Estas
estâncias correspondem aos momentos iniciais do discurso de Vasco da Gama ao
Rei de Melinde, quando lhe situa geograficamente Portugal na Europa:
. «quase cume da cabeça» da Europa;
. situado na região mais ocidental do continente;
. banhado pelo mar (Oceano Atlântico) («Onde a terra se acaba e o mar
começa» ‑ est. 20, v. 3);
. muito próximo do norte de África;
. teve a sua origem em Luso ou Lisa («que de baco antigo / Filhos foram» ‑
est. 21, vv. 6 e 7), uma forma de afirmar a descendência divina, logo superior,
do povo português.
Nessas
estâncias, por outro lado, Camões descreve a nação e a sua missão de modo semelhante
ao feito por Fernando Pessoa em «O dos castelos»:
. a Europa é personificada e apresentada como um corpo humano;
. Portugal é a cabeça desse corpo da Europa: ele é o «rosto» (v. 12) em
«O dos Castelos», e «quasi cume da cabeça / De Europa toda» (est. 20, vv. 1-2)
n’Os Lusíadas;
. o sentimento de patriotismo;
. relativamente à missão de que Portugal foi incumbido, em Mensagem, a nação está investida de uma
missão messiânica centrada na recuperação da Europa decadente; n’Os Lusíadas, a nação assume o espírito
de cruzada como missão definidora e é ditada pelo «Céu».
De
facto, entre os versos 5 a 8 da estância 20, Camões alude à expulsão dos Mouros
do território nacional (vv. 6 e 7) e às campanhas africanas de D. João I, D.
Duarte, D. Afonso V e D. João II que deram origem à ocupação de vários pontos
do norte de África.
Relativamente
ao sentimento de patriotismo, em Mensagem,
destaca-se o nacionalismo profético da referência ao papel que cabe a Portugal
na liderança da Europa; n’Os Lusíadas,
Vasco da Gama confessa o seu amor pela pátria («Esta é a ditosa pátria minha
amada» ‑ est. 21, v. 1), onde deseja morrer depois de concluir a sua missão («À
qual se o Céu me dá, que eu sem perigo / Torne, com esta empresa já acabada, /
Acabe-se esta luz ali comigo.» ‑ est. 21, vv. 2-4).
As
diferenças entre os dois textos situam-se, essencialmente, a nível da estrutura
e do discurso:
. Mensagem:
. o poema é construído do geral para o particular, um percurso
enigmático, gradualmente mais pormenorizado, pleno de mistério e de enigmas a
decifrar: o rosto da Europa é Portugal e o olhar misterioso prenuncia a
importância da nação para o mundo no futuro;
. a linguagem está recheada de profunda simbologia profética;
. o poema centra-se no indefinido, na crença, na esperança estática no
sonho.
. Os Lusíadas:
. o discurso estrutura-se em três momentos:
. a localização geográfica de Portugal;
. a caracterização do povo português, forte e guerreiro, imbuído do ideal
da difusão do Cristianismo e do espírito de cruzada;
. a origem lendária superior dos seus fundadores;
. a linguagem é épica, de estilo grandiloquente;
. o poema evidencia a aventura, o perigo, a memória e a esperança.
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