A imagem é denominada de
"Pastores de Nuvens", é da autoria de Biratan Porto e está incluída
na obra "Água com humor". A ilustração mostra alguns indivíduos,
aparentemente pastores, com compridos cajados, a juntarem nuvens em "rebanhos",
com cada pastor a guardar o seu próprio rebanho; destas nuvens pingam gotas de
águas para barris metálicos, pertencentes aos pastores, tendo cada o seu. O
chão e o céu são incolores e o chão é liso e sem vegetação.
Esta obra é uma crítica à
sociedade contemporânea em vários aspetos, como a ganância das pessoas e os
problemas ambientais. No entanto, o alvo principal da crítica são os problemas
relacionados com a Natureza, como a escassez de água, o trabalho duro pastores
no cuido dos seus rebanhos e etc. A ausência de cores no céu e no solo
transmite-nos uma sensação de melancolia, de uma espécie de vazio. Esta imagem
contrasta com a personalidade e com a maneira de pensar de Alberto Caeiro. Este
é visto como um naturalista ingénuo: ele não se preocupa em pensar muito,
escolhendo a simplicidade e rejeitando a complexidade e prefere
"pensar" com os sentidos, desfrutar da Natureza e da simples beleza
natural das coisas. Ele é como um pastor (daí a correlação com esta imagem).
Porém, a personalidade de Caeiro é contrária à sensação transmitida por esta
imagem: um é feliz, simples, sensacionista, relaxado, e outro apenas transmite tristeza e tédio,
fazendo-nos todos pensar, algo que Caeiro não consegue evitar e que o deixa um
pouco triste.
Em suma, há muitos aspetos
que se podem apontar como comuns ou de contraste entre os pensamentos do
heterónimo de Fernando Pessoa e a ideia que a imagem apresenta. Caeiro gosta de
usufruir da Natureza e a ilustração mostra esta mesma como morta, gasta e
tediosa. Tal como os pastores guardam as suas nuvens, Caeiro é pastor dos seus
pensamentos, sendo estes baseados nos sentidos e na simplicidade do que nos
rodeia a todos. São pontos de vista diferentes aos quais, no fim, nos podemos
relacionar todos.
P.M.
Sem comentários :
Enviar um comentário