Esta pintura de Paula Rego foi
pintada em 2004 d constitui um autorretrato da pintora, assente numa espécie de
jogo de espelhos.
O plano central da obra é ocupado
por uma mulher – Paula Rego –, sentada de perfil numa cadeira, com a cabeça
desafiadoramente levantada. Ela veste um colete verde, com bolsos para colocar
granadas, e calções da mesma cor que a cobrem sensivelmente até aos joelhos.
Entre as suas pernas encontram-se as costas da cadeira, no cimo da qual tem as
mãos, que seguram um pano verde em forma de boneco, possível representação de
Víctor Willing, um pintor britânico conhecido pelos seus estudos originais de
nus e ex-marido da pintora, falecido em 1988.
Atrás dessa figura feminina está um
espelho de pé, colocado na diagonal, onde é visível o corpo robusto de Ana, que
sustém nas mãos um espelho onde surge o reflexo de Lila Nunes, que é a
representante de Paula Rego no “teatro de guerra”, a modelo das suas heroínas,
por meio da qual a pintora é todos e todas.
Com este quadro, Paula Rego
apresenta-se através do seu reflexo e neste consta o retrato de outra mulher: Lila
Nunes, o Outro da artista. A missão da pintora é combater os mecanismos negativos
que se impõem à humanidade, levando-a ao ato perverso de deglutir os próprios
filhos, nomeadamente na guerra. Nesta obra, a artista está entrincheirada,
opondo-se com as suas armas aos avanços e recuos de um inimigo que, na
sociedade portuguesa, corresponde ao medo. Deste modo, parece que estamos na
presença de uma verdadeira “operação militar, o patrulhamento das fronteiras do
próprio eu, como que para ilustrar aquela iluminada afirmação de Freud de que o
ego é uma criatura de fronteira. Onde acaba Lila e começa Paula?”
(ROSENGARTHEN, Ruth, in Paula Rego…). Lila é Paula na tela, na qual
projeta a sociedade portuguesa, assumindo-se como a encenadora que coloca no
palco os elementos que a levam a questionar a realidade para fomentar a solidariedade.
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