Nele encontramos todos os elementos
de uma narrativa: tempo, espaço, ação e personagens (ele, ela e o outro). Tudo
começa pelo enamoramento, dominado pela paixão. Há uma partida do «ele» e uma
volta que depara com uma situação diferente que motiva a escrita do texto:
O segundo momento da relação
consiste na concretização do amor do casal através da sugestão do ato sexual. O
hipérbato do verso 2 (“E da alcova saía um cavaleiro”) envolve a figura num
ambiente de mistério, disfarçando, pelo recurso à terceira pessoa, a personagem
que o verso seguinte esclarece ser o próprio «eu», que beija uma mulher sem
véus, isto é, Teresa. Este estratagema desperta, naturalmente, a curiosidade,
mesmo que por breves instantes, relativamente àquela figura. As aliterações em
/d/ e /b/ em “inda beijando” sugerem o ruído do beijo. A despedida, neste
segundo momento, ocorre após um momento de amor tórrido, constituindo uma
separação temporária, em plena vivência da paixão que os une.
O terceiro momento reafirma o
caráter intenso do romance e a partida do sujeito poético, desta vez por um
período de tempo mais longo, sugerindo que os encontros amorosos que decorreram
nesse período foram muitos e intensos: “Passaram-se tempos… séc’los de delírio
/ Prazeres divinais… gozos do Empíreo”. Note-se a presença de várias hipérboles
nesta estrofe: “séc’los de delírio”, “prazeres divinais”, “gozos do Empíreo”,
as quais intensificam a relação amorosa e prolongam a ideia de arrebatamento da
primeira, bem como as aliterações em /p/, /t/ e /d/ (“Passaram tempos…
delírio”; “prazeres divinais… Empíreo…”), que sugerem o ritmo e a sonoridade da
estrofe e o arroubo da paixão. A despedida neste caso dá-se antes de o «eu»
viajar, prometendo voltar, assumindo, assim, uma carga de maior dramatismo, até
porque a figura feminina fica muito chorosa.
O quarto momento corresponde à
rutura amorosa: de acordo com a perspetiva do sujeito poético, Teresa está
apaixonada pelo outro homem (“Foi a última vez que eu vi Teresa!...”). O uso do
pronome pessoal maiusculado (“Ela”) enfatiza a figura feminina, destacando-a no
contexto da festa, demonstrando o espanto do sujeito poético ao deparar com uma
cena inimaginável para si – encontra-la com outro homem – e invertendo a
posição de dominador e presa na relação amorosa. O nome «lares» aponta também
para o espaço geográfico onde o «eu» lírico mora, o que evidencia que ele e
Teresa pertencem a espaços diferentes. A assonância em /a/ e /e/ (“era o
palácio em festa”) sugere a atmosfera festiva e musical que rodeia Teresa. Esta
última despedida ocorre quando o sujeito lírico regressa e a encontra numa
festa acompanhada por outro homem, com o qual canta junto à orquestra.
Por outro lado, as quatro reações de
Teresa às despedidas – “corando” (v. 6), “entre beijos” (v. 12), “em soluços”
(v. 18) e “arquejando” (v. 24) – evidenciam a trajetória da relação, marcada
por uma evolução (de “corando” para “entre beijos”), seguida de um declínio (de
“em soluços” para “arquejando”). Ou seja, a relação amorosa evolui de um amor
repentino para a sua realização sexual e desta para o distanciamento e a
rutura, uma situação característica do Romantismo.
O título do poema aponta,
desde logo, para a despedida, concretamente através do uso do vocábulo “adeus”,
colocado entre aspas e antecedido do determinante artigo definido “o”, e que é
repetido várias vezes ao longo do texto. Por outro lado, o resto do título remete
a responsabilidade da última despedida para afigura de Teresa, quando quem até
aí partia e se despedia era o «eu», o elemento do par amoroso que dominava a
relação, que definia quando os encontros tinham lugar, enquanto ela se limitava
a responder ao adeus, murmurar, chorar e soluçar. Esta ideia é confirmada pelo
recurso ao adjetivo «presa», no verso “Adeus lhe disse conservando-a presa”,
que sugere que ela está amarrada a ele, podendo também ver-se nela o resultado
da caça. Tudo isto corresponde a uma certa tradição literária, que apresenta o
homem como o elemento dominante na relação e a mulher, o dominado e submisso.
No entanto, o título parece contradizer esta ideia, pois aponta Teresa como a
responsável pela separação, bem como a traição final, pois, na época, o poder
de seduzir e de fazer o homem sofrer é sempre da mulher.
No que diz respeito à conceção da
figura feminina, Teresa não corresponde ao modelo tradicional da mulher
apaixonada, recatada e submissa que permanece fiel ao homem amado, que partiu e
está ausente, e que encontramos, por exemplo, nos poemas homéricos, encarnada
na personagem de Penélope, a esposa de Ulisses, que se lhe manteve fiel durante
os vinte anos em que esteve ausente de casa (dez da guerra de Troia e dez do
regresso ao torrão natal). Pelo contrário, Teresa afirma-se como uma mulher
independente e livre que procura satisfazer os seus desejos e prazeres.
Formalmente, o poema é constituído
por versos decassílabos, com rima emparelhada e interpolada, de acordo com o
esquema AABCCB, consoante (“Teresa” / “correnteza”) e rica (“seus” –
determinante – “adeus” – nome).
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