1799 A 4 de fevereiro, no seio de uma família burguesa,
nasce no Porto, mais precisamente na rua do Calvário, às Virtudes, numa casa
ainda hoje assinalada com uma lápide municipal, nos números 37, 39 e 41, João
Baptista da Silva Leitão, nome a que, mais tarde, acrescentará os apelidos
Almeida Garrett. De acordo com o seu biógrafo, Gomes de Amorim, o apelido
Baptista foi retirado do nome do seu padrinho, em sua homenagem, enquanto que
Almeida era apelido da avó materna e Garrett da sua avó materna, de ascendência
irlandesa.
Infância O período da infância, vivido até aos 10 anos em Vila Nova de
Gaia, entre a Quinta do Castelo e a Quinta do Sardão (ambas pertencentes à sua
família), foi decisivo no futuro do escritor e na construção do sentimento
poético de Garrett, alimentado pelas tradições populares reveladas nas
histórias e cantilenas/modinhas populares contadas e cantadas pelas duas velhas
criadas da família com quem conviveu: a velha Brígida (lembrada pelas suas
“histórias da carochinha” em Viagens na Minha terra) e a mulata Rosa de
Lima (surge no prefácio de Adozinda como recitadora de “maravilhas e
encantamentos, de lindas princesas, de galantes e esforçados cavaleiros”).
Estas recordações infantis despertarão nele o gosto pelas tradições nacionais
que o levaram desde muito novo a compilar os textos que, posteriormente, usou
na elaboração do Romanceiro e incluiu nalgumas peças de teatro.
1809 Em
consequência das Invasões Francesas, nomeadamente da segunda, comandada por
Soult, que entrou em Portugal por Chaves e se dirigiu, de seguida, para o
Porto, cidade que ocupou, a família viu-se obrigada a fugir, primeiro para
Lisboa e, depois, para os Açores, dado que o seu pai, António Bernardo da
Silva, um funcionário superior da Alfândega do Porto, tinha nascido na ilha do
Faial, o que explica o facto de a família se ter refugiado na Terceira, ilha
onde passou a sua adolescência, onde estudou Latim e Grego, literatura clássica
e filosofia, sob a orientação dos tios D. Frei Alexandre da Sagrada Família
(anterior bispo de Malaca e de Angra e bispo eleito do Congo e de Angola) e
João Carlos Leitão. Sob a influência dos tios e o desejo dos pais, Garrett
pensa abraçar a carreira eclesiástica, mas rapidamente desiste da ideia por
falta de vocação para o sacerdócio.
Ainda nas ilhas, começa a escrever,
sob o pseudónimo de Josino Duriense. Por outro lado, o contacto com a cultura
humanística clássica, nos Açores, através da leitura e do estudo dos grandes
tragediógrafos gregos e latinos, revelou e desenvolveu nele o gosto pelo teatro,
exemplificado pela escrita da tragédia Xerxes.
1816 De
regresso ao continente, matricula-se no curso de Direito na Universidade de
Coimbra, cidade onde funda uma sociedade maçónica com Manuel da Silva Passos e
José Maria Grande. Em Coimbra, funda também um teatro académico e faz
representar o seu drama Xerxes (que se perdeu) e a tragédia Lucrécia.
Na mesma época, inicia a escrita de duas tragédias, Afonso de Albuquerque
e Sofonista, que deixa incompleta.
1818 Em
1818, passou a usar os apelidos Almeida Garrett, à semelhança de toda a sua
família. A introdução desses dois apelidos reflete o esteticismo e o elitismo
social de Garrett.
1820 Concluída
a licenciatura em Direito, parte para Lisboa, onde participa na revolução
liberal, determinada pelos ideais de liberdade proclamados pela Revolução
Francesa, que marcam para sempre o percurso cívico e político de Garrett.
Enquanto dirigente estudantil e orador, defende o vintismo, escrevendo
inclusive um Hino Patriótico recitado no Teatro de S. João.
1821 Estreia
a tragédia Catão, acontecimento literário que lhe possibilita a entrada
na vida pública e o conhecimento de Luísa Midosi, prima de seus primos Luís
Francisco e Paulo Midosi. Neste mesmo ano, após a publicação do seu poema Retrato
de Vénus, é acusado nas páginas da “Gazeta Universal”, pelo padre José
Agostinho de Macedo, de ser “materialista, ateu e imoral”.
Funda a Sociedade dos Jardineiros.
Após nova viagem aos Açores, provavelmente por razões relacionadas com a sua
ligação à Maçonaria, estabelece-se em Lisboa, continuando aí a publicar textos
repletos de fervor patriótico.
Conclui a sua licenciatura.
1822 É
ilibado da acusação de materialismo, ateísmo e abuso de liberdade de imprensa,
resultante da publicação do poema O Retrato de Vénus e das respostas que
deu em sua defesa no periódico “Português Constitucional Regenerado”.
Funda, com o amigo Luís Francisco
Midosi, um jornal dedicado às senhoras portuguesas: “O Toucador”.
Em 11 de novembro, casa-se com Luísa Midosi, após
ter assumido o lugar de chefe de repartição da instrução pública.
1823 Na
sequência da Vilafrancada, o golpe militar chefiado por D. Miguel que teve como
consequência o restabelecimento do Absolutismo, e a instabilidade política que
se lhe segue, Garrett é obrigado a abandonar o seu cargo na Secretaria dos
Negócios do reino, é preso na Cadeia do Limoeiro, em Lisboa, e a exilar-se por
duas vezes: em Inglaterra, de 1823 a 1824, e em França, de 1824 a 1826, onde
contactou com a nova estética – o Romantismo. O exílio acabou por ser decisivo
para a sua vida política e para a notoriedade literária, visto que lhe permitiu
a integração nos círculos de emigrados liberais e o contacto com o Romantismo
europeu, que importaria para Portugal, tornando-se na sua figura central,
juntamente com Alexandre Herculano.
Garrett e a família vivem com muitas dificuldades
durante o exílio, dado que o poeta apenas consegue emprego num banco como
correspondente comercial.
1825 É
publicado, em Paris, o poema Camões.
1826 É
publicado, em Paris, o poema D. Branca, que, juntamente com Camões,
são obras de temática nacionalista, consideradas marcos fundadores do
Romantismo português e cuja escrita é influenciada pelas leituras das obras de
Shakespeare, Byron e Walter Scott durante o primeiro exílio inglês.
Após a morte de D. Afonso VI, Almeida
Garrett é amnistiado e regressa à pátria, após a Outorga da Carta
Constitucional e da abdicação de D. Pedro IV em favor da sua filha D. Maria da
Glória. Em Lisboa, funda com Paulo Midosi o jornal “O Português” e escreve em
“O Cronista”.
1927 Garrett
e os dois irmãos Midosi são presos devido aos seus artigos em defesa do
Liberalismo.
1828 O
regresso de D. Miguel a Portugal força Garrett a novo exílio em Inglaterra, que
se prolonga até finais de 1831. Desta vez, tem como emprego o cargo de
secretário particular do Duque de Palmela, também exilado em Inglaterra, e
fixa-se em Plymouth. Em Londres, publica Adozinda e Bernal Francês
(texto mais tarde inserido no Romanceiro).
1829 Publica,
ainda em Londres, a Lírica de João Mínimo, que reúne poemas escritos
desde a juventude. Redige o jornal “O Chaveco Liberal” e inicia a escrita de Da
Educação, que visa a instrução da nova rainha D. Maria II para o cargo que
ocupa.
1831 Escreve
nas páginas de “O Precursor”. Segue, em dezembro, para França (onde prepara,
com outros exilados, a expedição que visa o fim do Absolutismo) e,
posteriormente, para os Açores, em 1832.
1832 Regressa
a Portugal, desembarcando primeiro nos Açores, integrando com Alexandre
Herculano, como voluntários, o exército liberal de D. Pedro e participando
ativamente no desembarque do Mindelo (em julho) e no cerco e libertação do
Porto, em julho de 1832.
Inicia a escrita do seu primeiro
romance – O Arco de Sant’Ana –, que se teria baseado num antigo
manuscrito encontrado no Convento dos Grilos, onde os expedicionários se aquartelam,
e cujo primeiro volume só é publicado em 1845.
1834 Parte
para a cidade de Bruxelas, na Bélgica, para assumir o cargo de Cônsul-Geral e
Encarregado de Negócios de Portugal. Nessa urbe, entra em contacto com as obras
dos grandes escritores românticos alemães, como Goëthe e Schiller.
1836 Regressa
a Portugal, separa-se de Luísa Midosi e passa a viver com Adelaide Pastor
Deville, com quem terá uma filha. Em simultâneo, afirma-se como um claro
opositor ao regime, ao lado de Passos Manuel, velho amigo dos tempos de Coimbra.
Após a Revolução de Setembro, forma-se novo governo de esquerda liberal, tendo
Garrett sido eleito deputado às cortes constituintes e nomeado por Passos
Manuel Presidente do Conservatório de Arte e incumbido de reformar o teatro
nacional. O projeto para a renovação da Arte em Portugal é descrito no prefácio
de Um Auto de Gil Vicente (1838), um dos primeiros contributos de
Garrett para a criação de um repertório teatral português.
1837 É
nomeado Inspetor-Geral dos Teatros, o que lhe permite fundar o Teatro Nacional
D. Maria II e o Conservatório Nacional, a primeira escola portuguesa de atores.
1838 A
sua ação em prol da dinamização do teatro português prossegue com a publicação
de Um Auto de Gil Vicente (1838), Dona Filipa de Vilhena (1840) e
O Alfageme de Santarém (1842), procurando, assim, dinamizar o quase
inexistente repertório dramático nacional.
1841 O
ministro António José de Ávila propõe a dissolução do Conservatório. O deputado
Almeida Garrett responde-lhe diretamente e, no dia seguinte, é demitido de
todos os seus cargos. Falece Adelaide Pastor, deixando órfã a filha de ambos.
1843 Desencantado
com a evolução da causa liberal durante o governo cabralista, Garrett afasta-se
dos cargos políticos, mas não abdica do seu patriotismo empenhado, como se pode
comprovar em Viagens na Minha Terra, obra escrita neste ano que denuncia
o materialismo excessivo que conduz à degradação física e moral do país e cuja
primeira parte é publicada em folhetins na “Revista Universal Lisbonense” (a
edição só fica concluída em 1846). As Viagens são inspiradas por um
passeio pelo Ribatejo a convite de Passos Manuel, então na oposição ao governo
de Costa Cabral. Ainda neste ano, é publicado o primeiro volume do Romanceiro
e feita a primeira representação de Frei Luís de Sousa, com Garrett a
desempenhar o papel de Telmo Pais, no teatro da Quinta do Pinheiro.
1844 É
publicado Frei Luís de Sousa, três anos após a morte de Adelaide Pastor
Deville, quando o escritor conhece Rosa de Montufar Barreiros, Viscondessa da
Luz, por quem se apaixona e a quem dirige cartas de intensa paixão e que lhe
inspira a escrita dos poemas de Folhas Caídas.
1845 Publica
o romance O Arco de Sant’Ana, iniciado em 1832, durante o cerco do
Porto, mas cujo primeiro volume só sai em 1845, e Flores sem Fruto.
1846 Nos
tempos do Cabralismo e seguintes, afastado da vida política, passa a frequentar
a sociedade elegante e escreve as peças Tio Simplício, Falar Verdade
a Mentir, Um Noivado no Dafundo.
1848 É
representada a peça A Sobrinha do Marquês no Teatro D. Maria II e logo a
seguir publicada.
1851 Com
a Regeneração, Almeida Garrett retoma a vida política, tendo sido nomeado, em
julho, Ministro dos Negócios Estrangeiros, após a nomeação de Visconde e Par do
Reino.
O governo francês concede-lhe o
título de Grande Oficial da Legião de Honra.
São publicados os volumes II e II do Romanceiro.
1852 É
novamente eleito deputado. Escreve e lê, na Câmara, o “Discurso de Resposta ao
Discurso da Coroa”.
1853 Publica
Folhas Caídas, uma coletânea de poemas marcados por um subjetivismo de
cariz confessional em cuja génese está a paixão avassaladora e adúltera por
Rosa de Montufar.
Com a Regeneração, regressa à
administração do Teatro Nacional, mas demite-se a pedido dos atores e autores.
Já muito doente, começa a escrever Helena,
a obra que seria o seu terceiro romance. Apesar de o seu estado de saúde se
agravar de dia para dia, ainda apresenta o “Relatório e Bases para a Reforma
Administrativa”.
1854 Profere,
na Câmara dos Pares, a resposta ao Discurso da Coroa de 1854.
Falece a 9 de dezembro, aos cinquenta
e cincos anos, vitimado por um cancro hepático, após uma vida política e cívica
intensa: estudante revolucionário em Coimbra (1820), jornalista interventivo
perseguido pelas suas ideias liberais (1822-1823), preso e exilado político por
diversas vezes (1823-1827 e 1828-1832), soldado da causa liberal, “bravo do
Mindelo” que combateu no cerco do Porto, secretário da missão diplomática em
Madrid, Paris e Londres, em prol da causa liberal, colaborador ativo de várias
tarefas a nível governativo, cônsul geral na Bélgica (1834-1836), resistente
político durante a ditadura do governo de Costa Cabral (1842-1846 e 1849-1851),
Par do Reino (1851) e Ministro dos Negócios Estrangeiros (1852), durante a
Regeneração. É sepultado no Cemitério dos Prazeres. Os seus restos mortais são
depositados no Mosteiro dos Jerónimos em 1903 e trasladados para Santa Engrácia
em 1966, aquando da inauguração do monumento como Panteão Nacional.