Português

terça-feira, 16 de outubro de 2012

"Não sei quantas almas tenho" - Questionário

& “Não sei quantas almas tenho”























Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
 
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
 
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.

         Selecione a opção que completa de modo correta cada afirmação / pergunta.

1. O verso 1 traduz
a) a dúvida do sujeito lírico acerca da sua alma.
b) a estranheza do sujeito poético relativamente ao seu número de almas.
c) a dúvida e a indefinição do sujeito lírico relativamente à sua identidade.

2. O verso 2 remete para
a) a constante fragmentação e a divisão do sujeito poético.
b) a mudança que se opera momentaneamente no sujeito poético.
c) a criação dos heterónimos, em consequência da tendência do sujeito poético para a despersonalização.

3. O verso 3 é uma “consequência” dos dois anteriores. A alternância presente / passado e o uso do advérbio “continuamente”
a) expressam a oposição entre a vida passada e presente do sujeito poético.
b) exprimem a continuação do estado de espírito do passado no presente, com projeção para o futuro.
c) estão ao serviço da expressão da sensação de estranheza do sujeito poético relativamente a si mesmo, consequência da constante mudança.

4. O verso 4 remete para
a) a tendência para a autoanálise, para a reflexão por parte do sujeito poético e para a incapacidade de se encontrar.
b) a incapacidade de o sujeito poético definir um rumo para a sua vida.
c) as consequências do facto de se considerar um estranho no próprio corpo.

5. O recurso ao vocábulo «Nunca» (v. 4) significa que
a) , apesar da autoanálise, o sujeito poético não é capaz de se encontrar e pacificar.
b) , apesar da autoanálise, o sujeito poético não consegue atingir um momento que seja de conhecimento integral.
c) é um estratagema para despistar a angústia que o sujeito poético sente pela tendência para a despersonalização.

6. O verso 5 significa que
a) o sujeito poético sente não ter vida, mas só alma, dado que a sua vida é (foi) toda racionalizada («sente na alma, mas não no corpo»).
b) a multiplicidade de «eus» conduz o sujeito poético à ausência de ser, limitando a sua existência.
c) o sujeito poético deseja a morte, transformar-se em alma / espírito, pois só assim pode alcançar a calma que a instabilidade da vida lhe nega.

7. «Quem tem alma não tem calma» (v. 6) quer dizer que
a) quem apenas é capaz de sentir e não racionaliza antes de agir vive em permanente instabilidade.
b) o espírito do sujeito poético é incapaz de encontrar a paz e o sossego em qualquer circunstância.
c) a instabilidade domina a vida do sujeito poético, dado que, porque é constituído apenas por alma, vive na ânsia de se encontrar, daí não ter calma, sossego.

8. Os dois versos que encerram a primeira estrofe assentam
a) no pressuposto de que os sentido enganam e limitam a perceção do ser humano acerca do significado da vida.
b) na antítese viver / pensar, isto é, entre os que vivem a vida sem a pensar e os que a pensam.
c) na ideia de que a vida deve ser pensada e só posteriormente vivida de acordo com os ditames da razão.

9. Os versos 9 e 10 confirmam
a) a despersonalização do sujeito poético, que se transforma noutras figuras.
b) a divisão do sujeito poético entre ver e ser, isto é, sentir e pensar.
c) que Pessoa era, de facto, um lunático.

10. Os versos 11 e 12 acentuam o traço do sujeito poético identificado na pergunta anterior, pois
a) “eles” constituem um sinal das suas “visões” e loucura.
b) “eles” sonham e desejam independentemente de si mesmo.
c) “eles” constituem o sinal da sua divisão entre o sentir e o pensar.

11. As metáforas dos versos 13 e 14 sugerem o papel do sujeito poético:
a) observador de paisagens.
b) observador da realidade circundante, ao jeito de Cesário Verde.
c) espetador de si mesmo.

12. A tripla adjetivação do verso 15 sintetiza os traços da personalidade do sujeito poético:
a) múltiplo e fragmentado (“_____”), volúvel e inconstante, causa e agente de outras personalidades (“_____”), e, por isso ou apesar disso, solitário (“_____”).
b) múltiplo e fragmentado (“_____”), causador da sua própria instabilidade (“_____”) e agente da solidão das diferentes personalidades (“_____”).
c) com diversas atitudes face à vida (“_____”), em permanente mobilidade e errância (“_____”) e, por isso, solitário (“_____”).

13. O verso 16 traduz
a) a incapacidade de o sujeito poético sentir.
b) a constante inadaptação do sujeito poético.
c) nenhuma das hipóteses anteriores-

14. O adjetivo «alheio» (v. 17) exprime
a) o sentimento de estranheza e de autodesconhecimento face a si próprio.
b) o modo distraído como o sujeito poético lê.
c) a atitude intelectual do sujeito poético.

15. A metáfora da vida como um livro (vv. 17-18) sugere
a) a despersonalização do sujeito poético, que se distancia para se ver.
b) a cultura livresca do sujeito poético, que se apresenta como um escritor da própria vida.
c) o ensimesmamento do sujeito poético, perdido na leitura metafórica do seu percurso de vida.

16. Na última estrofe, o sujeito poético apresenta-se como
a) um ser material e corpóreo em permanente mutação.
b) um ser semelhante aos demais que procura a unidade na diversidade.
c) um livro com várias páginas escritas pelos diversos «eus» do «eu».

17. Dada a sua despersonalização e tendência para a mudança contínua, o eu lírico
a) é incapaz de prever o futuro e o passado.
b) esquece o passado e é incapaz de prever o futuro.
c) sente a angústia do presente pelas diversas páginas do livro que é a sua vida.

18. O sujeito poético não sabe verdadeiramente quem é ou quem foi que
a) causou a permanente volubilidade que caracteriza a sua existência.
b) o conduziu àquele estado de confusão e à sensação de estranheza face a si mesmo.
c) sentiu o que supõe que sente, pois vê-se como um palco no qual atuam diferentes atores, os seus outros «eus».

19. O verbo final traduz a ideia de que
a) o Deus do catolicismo é, afinal, o responsável pelo drama vivido pelo sujeito poético, ideia que contraria a noção de que é incapaz de sentir.
b) a harmonia que o sujeito poético tanto procura, em razão da sua fragmentação, reside numa figura transcendente, omnisciente e omnipresente.
c) o eu lírico se sente impotente para encontrar uma resposta satisfatória para os seu drama através da inteligência racional.

20. Transcreva os versos que «justificam» as ideias seguintes:
a) Fragmentação do eu: «_____________________________________________________
___________________________________________________________________________
b) A estranheza e o desconhecimento face a si próprio: ____________________________
___________________________________________________________________________
c) Despersonalização: _________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
d) Inadaptação constante: _____________________________________________________
___________________________________________________________________________

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Funções sintáticas I (G 2012 - 1)

& Funções sintáticas

1. Identifique os tipos de sujeito presentes nas frases dadas.
a) O Rui e a Joana namoram.
b) A Tatiana gritou imenso.
c) Disseram-me que compraste um trator, Inês.
d) O Marco foi ao circo, no comboio, com o coelho e o Pai Natal.
e) Trovejou durante mais de duas horas.
f) A Matilde enganou-se no namorado.
g) Américo, chegaste tarde a casa ontem?
h) O Rafael e o microfone agrediram-se.
i) Há coisas que me enfurecem.
j) Dorme-se bem naquele sofá.

2. Sublinhe o predicado de cada uma das frases seguintes.
a) A Ernestina teve um lindo bebé.
b) A Cátia e a Catarina discutiram acerca do TPC.
c) Certamente, o Rui prefere comer açorda.
d) Professor Marcelo, chegue aqui rapidamente.

3. Identifique as funções sintáticas dos elementos sublinhados nas frases.
a) O Silva comprou uma égua.
b) Demonstrei-lhe que 1 + 1 nem sempre equivale a 2.
c) De noite choveu imenso.
d) Precisas de festinhas, minha querida?
e) O professor de Português necessita de férias.
f) O cão mordeu a Vitória no traseiro.
g) O teu irmão telefonou antes do pequeno-almoço.
h) Ofereci um sopapo à tua irmã, mas ela agradeceu e recusou a oferta.

4. Nas frases seguintes, distinga o sujeito do vocativo.
a) Antunes, cala-te!
b) Mãe, a avó telefonou do Além.
c) O Herman José disse uma piada com graça.
d) A televisão avariou, Roberto. Vai comprar outra.
e) Cristiano, não estejas triste, meu filho. A Irina está a chegar.

5. Complete os enunciados com modificadores de frase.
a) __________, o Apolinário faleceu.
b) __________, a febre já baixou.
c) __________, ninguém adoeceu.

6. Associe os elementos da coluna A aos elementos da coluna B.
A

B
1. A Maria saiu de casa.

a) verbo
b) verbo + CD
c) verbo + CD + CI
d) verbo + CO
e) verbo + complementos + modificadores
2. O bebé vomitou.

3. Jesus ofereceu a vitória aos benfiquistas.

4. O bebé bebeu o leite ao pequeno-almoço.

5. A turma fez o teste.

6. O Silva veio de cavalo para a escola.


domingo, 14 de outubro de 2012

Benfica - Banyas on-line

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"Ó sino da minha aldeia" - Questionário

            Assinale a alínea que completa corretamente cada uma das afirmações e / ou responda às perguntas formuladas.

1. O sentido que a evocação do sino desperta no sujeito poético é
a) o tato.
b) a audição.
c) o olfato.
d) a visão.

2. O modificador do nome apositivo usado para qualificar o sino na primeira quadra é
a) “Ó sino da minha aldeia”;
b) “Dolente na tarde calma”;
c) “Cada tua badalada”;
d) “dentro da minha alma”.

3. Esse modificador funciona como
a) hipérbole do estado de espírito do sujeito poético.
b) hipérbole da calma da tarde.
c) hipálage do sujeito poético.
d) metáfora da cadência do sino.

4. Os versos 3 e 4 da primeira estrofe significam que
a) cada badalada do sino ressoa na alma do sujeito poético, perturbando-lhe o sossego.
b) o soar do sino é uma presença efetiva que traz memórias de infância ao sujeito poético e não é comparável a outro toque de uma qualquer igreja.
c) o soar do sino é extremamente perturbador, pela lentidão e caráter repetitivo das badaladas, sempre em tom monocórdico.
d) o sujeito poético recusa a dor de pensar, procurando recuperar os tempos felizes vividos na sua aldeia natal.

5. Com os versos “Soa dentro da minha alma” (v. 4) e “Soas-me na alma distante” (v. 12), o sujeito poético destaca
a) o seu estado de espírito contraditório e a indefinição que caracteriza a sua existência.
b) os efeitos da visão do sino na sua conceção do tempo psicológico.
c) os resultados da audição do sino na sua perceção do tempo cronológico.
d) os efeitos da audição do sino na sua conceção do tempo psicológico.

6. O verso “Tão como triste da vida” (v. 6) apresenta uma construção pouco habitual. A construção correta seria
a) “Tão lento como triste da vida”.
b) “Tão triste como da vida”.
c) “Tão triste como o soar da vida”.
d) “Da vida tão triste como lento”.

7. Na segunda estrofe, o sujeito poético afirma que “(…) a primeira pancada / Tem um som de repetida.” (vv. 7-8), visto que
a) produz eco na sua cabeça.
b) produz eco nas casas vizinhas, confundindo a sua perceção da realidade.
c) desperta as suas memórias, propiciando uma vivência “repetida” pela lembrança.
d) exprime, metaforicamente, a monotonia que pauta a sua vida.

8. O adjetivo “errante” (v. 10) caracteriza o eu lírico como alguém que
a) possui uma natureza inconstante e sem rumo e esperança na vida.
b) caminha pela aldeia sem um rumo concreto e definido.
c) procura uma luz que ilumine a sua existência e lhe dê um rumo.
d) comete sistematicamente os mesmos erros.

9. Os dois últimos versos do poema contêm
a) uma metáfora e a repetição “mais (…) / mais”.
b) uma comparação e um paradoxo.
c) um paradoxo e uma antítese.
d) uma antítese e uma anáfora.

9.1. Esses versos
a) o passado como um tempo longínquo, distante, como se de um sonho se tratasse, despertando no sujeito a saudade esse tempo.
b) contrastam o sentir do sujeito poético em dois momentos confluentes.
c) caracterizam o sujeito poético como um ser em permanente conflito com o seu passado, que o atormenta continuamente.
d) representam o sentir do adepto benfiquista, que assiste, incrédulo, à decadência do seu clube, ficando o passado glorioso como uma ténue lembrança.

10. A presença, nos últimos dois versos do poema, de diversos recursos estilísticos – a antítese, a anáfora, a aliteração do /s/, o quiasmo ‑
a) reflete a influência barroca na poesia de Pessoa, pela acumulação de figuras de estilo.
b) enriquece o texto do ponto de vista retórico.
c) anuncia a feição modernista do poema.
d) traduz a eufonia que caracteriza a poesia de Pessoa.

11. De acordo como sentido do poema, para Pessoa a categoria tempo
a) restringe-se ao sentir ao sentir do presente enquanto continuidade natural do passado e antecipação do futuro.
b) é sempre encarada como algo negativo e perturbador.
c) é constituída por uma série de momentos que não se excluem e surgem em simultâneo na sua memória.
d) não existe no processo de criação poética.

12. O tema do poema é
a) o sino da aldeia do sujeito poético.
b) o estado de alma do sujeito poético, caracterizado pela saudade e nostalgia da sua aldeia natal.
c) a nostalgia de um passado distante e irreversível, que persiste através da memória.
d) a dor, motivada pelo facto de o eu lírico ser incapaz de sentir e intelectualizar os sentimentos e as emoções.

13. O sino simboliza
a) a aldeia do sujeito poético.
b) as tardes calmas vividas na aldeia.
c) a nostalgia de uma felicidade perdida, a da infância, recuperada através da memória.
d) o desconforto e a ausência de sentido para a vida.

13.1. Transcreva os versos do texto que justificam a sua opção.

14. Por sua vez, a aldeia (o sino e a aldeia referem-se, na verdade, ao sino da Igreja dos Mártires, no Chiado, e ao Largo de S. Carlos, zona de Lisboa onde o poeta nasceu)
a) constitui o espaço preferido do eu lírico.
b) é a antítese do espaço citadino.
c) é o espaço que recorda ao eu lírico o som do sino.
d) constitui a metáfora da interioridade do eu lírico, um espaço de intimidade.

15. As formas verbais encontram-se no presente do indicativo e
a) traduzem uma vivência passiva do momento, pela recordação saudosista do passado.
b) situam a aldeia e o sino no presente do sujeito poético.
c) apontam para a noção de que o sujeito poético se encontra preso no presente.
d) fixam o estado de alma do sujeito poético.

16. As aliterações em /t/, /d/ e /p/
a) sugerem o disparar de uma arma.
b) sugerem o soar das badaladas do sino.
c) prenunciam o estado de alma do sujeito poético.
d) são uma característica da poesia de Pessoa.

17. A predominância de sons nasais
a) deve-se ao facto de Pessoa ser fanhoco.
b) está associada ao ritmo do soar do sino.
c) traduz a nostalgia que o sujeito poético sente relativamente à sua aldeia.
            d) confere ao texto um tom de tristeza e dolência.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A rainha Christine vai nua

Por Ferreira Fernandes
     GASTAVA-SE demais. O FMI deu a solução: gastar menos. E explicou-a: gastando menos, a economia caía (até eu percebi: menos investimento, logo menos obras, menos emprego...), mas era poupança que levava a o relançamento (também compreendi: se o Estado emagrece, então precisa de menos impostos, e a economia, como Fénix renascida, logo dançaria com ramos de margaridas). 
     A explicação não foi tão poética, mas foi assim que a ouvimos. O problema é que a Christine Lagarde não é dada a rimas, ela é mais números. Tivesse ela aproveitado a nossa ânsia de música, ainda continuávamos alegremente iludidos. Mas a francesa de perfil seco sacou da calculadora: "Por cada euro de austeridade, a economia cairia 0,50 euros", decretou. 
     O resto da humanidade olhou para a fórmula como um boi para um palácio, fingiu que percebeu e sorriu porque a Lagarde também sorria quando enunciou a fórmula. Um euro de poupado e só meio euro de queda, parecia boa e prometedora aquela relação...
     Ora, agora, ficámos a saber que por cada euro de austeridade, afinal, a economia cai entre 0,9 e 1,7 euros. Mesmo tansos como nós sabem calcular o tamanho do engano: o FMI errou do dobro ao triplo! 
     Mais uma vez ficou demonstrada a vantagem da poesia. Tivesse o FMI ido por ela, ainda hoje podia continuar a iludir-nos, dizendo que o engano era pouco, em vez de ramos de margaridas eram de crisântemos... Mas como insistiu nos números, tramou-se. 
     São uns sábios da treta. 

DN de 12 de outubro de 2012
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