Este esquema mostra que a relação
entre Simão e Teresa é de reciprocidade, ou seja, de modo simples, o
académico ama a filha de Tadeu Albuquerque e esta ama-o também, não obstante o
facto de se tratar de um amor proibido por ódios familiares.
No que diz respeito a Mariana, esta
ama o filho de Domingos Botelho, mas não é correspondida. Apesar disso, e mesmo
sabendo que iria conhecer Teresa, a sua «rival», o que a deixa apreensiva,
desconfortável e até ciumenta, coloca o seu amor e a sua lealdade por Simão em
primeiro lugar e a tudo se presta para o fazer feliz e para a ajudar, mesmo que
isso signifique a sua felicidade ao lado de Teresa e, por consequência, a sua
infelicidade.
3.3.2. Teresa e Mariana
Este é o único passo da obra em que
Teresa e Mariana se encontram e dialogam, de forma contida, emotiva e
reservada. As duas possuem origens sociais diferentes, o que é visível no facto
de Mariana tratar a fidalga com deferência e formalidade (“Sim, minha senhora.”),
no entanto há algo em comum entre ambas e que as une: o amor a Simão e a
preocupação de o proteger de si mesmo e dos outros. A postura das duas
caracteriza-se pela determinação, pela honra e pela abnegação por amor, traços
que as enquadram no campo das heroínas românticas.
• 2.ª parte: Acontecimentos vividos em casa de João da Cruz
1. Diálogo entre Simão, João da Cruz e Mariana
1.1. Caracterização de Mariana – discurso e atitudes
O discurso de Mariana neste
passo da obra está repleto de presságios negativos relativos ao destino de
Simão: “– É a última vez que ponho a mesa ao senhor Simão em minha casa!”; “– Até
ao Juízo Final…”).
Por outro lado, as suas atitudes estão
alinhadas com esse discurso prenhe de presságios, visto que, preocupada, fica
atenta aos passos e movimentos de Simão, apercebendo-se da sua saída.
Mais tarde, chora e reza por ele,
antecipando uma desgraça, que se vem a confirmar posteriormente quando ele
assassina Baltasar: “ajoelhou orando com o fervor das lágrimas”.
1.2. Caracterização de João da Cruz
João da Cruz é um homem inculto, rude
e “rústico”, com uma visão conservadora dos papéis sociais do homem e da
mulher. Estes traços da personagem são confirmados pelo seu discurso, como se
pode comprovar pela linguagem simples e popular que usa (“que o levem trinta
milhões de diabos!”), pelos provérbios e sabedoria popular (“D’hora a hora Deus
melhora.”), pelas imagens (“Mulheres há tantas como a praga, e são como as rãs
do charco, que mergulha uma, e aparecem quatro à tona d’água”) e pelas
metáforas (“quatro homens, que são quatro dragões”). Esta rudeza manifesta-se
ainda na forma como se dirige à filha, mandando-a calar.
Note-se que o discurso desta
personagem corresponde ao modo como Camilo Castelo Branco abordou a questão da
linguagem e do estilo na obra: diálogos espontâneos e vivos.
Essa visão conservadora de João da
Cruz é exemplificada pelo facto de considerar que o amor por uma mulher não
justifica os riscos que Simão está disposto a correr por causa do sentimento
por Teresa. No entanto, mostra-se solidário e bondoso com o filho de Domingos
Botelho e coloca a sua coragem e valentia ao seu dispor, dispondo-se a tudo
para o ajudar, colocando-se em perigo quando, por lealdade, tenta facilitar-lhe
a fuga.
A sua visão do amor e dos
relacionamentos amorosos é igualmente conservadora, visto que considera que o
amor de Simão por Teresa é exagerado e fá-lo perder a razão e o discernimento,
visto que, na sua opinião, a um fidalgo rico como ele não faltarão mulheres
belas e com dote. E acrescenta que, se o destino assim o quiser, Teresa será
sua.
1.3. A carta de Simão
1.3.1. Funções da carta
De acordo com o professor Carlos
Reis (in Leituras Orientadas, Porto Editora), o aluno contemporâneo terá
dificuldade em compreender o significado da carta numa história de amor, dado
que atualmente trocamos mensagens de forma rápida e direta, nomeadamente através
de telemóvel e das redes sociais. Todavia, na época em que Simão e Teresa
viveram não existia sequer telefone e muito menos internet. Por outro lado, os
dois amantes estavam proibidos de contactar entre si, pelo que a carta era a
única forma de contacto entre ambos e, mesmo assim, com grande dificuldade. Por
isso, na comunicação epistolar entre Simão e Teresa verifica-se o seguinte:
• A carta é uma espécie de diálogo
escrito à distância, em que a mensagem chega diferida, ou seja, muito depois de
ter sido escrita. Repare-se no que escreve Simão no final da carta: “À hora em
que leres esta carta…”.
• As cartas entre Simão e Teresa são
cartas de amor, existindo nelas uma subjetividade intensa e um confessionalismo
muito forte; as personagens expressam os seus sentimentos e o estilo mostra o
seu estado de espírito.
• A carta é um objeto material.
Escrever uma exigia papel, tinta e uma certa privacidade (por vezes, no
convento, Teresa é impedida de escrever a Simão; chegam até a roubar-lhe o
tinteiro).
• A carta é um documento que atesta a
relação entre duas pessoas. O narrador apoia-se nas cartas para contar a
história, sublinhando assim a sua suposta veracidade.
• As cartas trocadas entre o par
amoroso revelam o seu mundo interior e a forma como vivem o amor que os une.
Por outro lado, tornam mais presente o drama vivido por eles e, assim, desperta
o leitor para a injustiça contra eles cometida.
1.3.2. Análise da carta
1.º) Através da carta, Simão confessa
emoções intensas e autênticas, como se estivesse a fazer uma confissão final.
2.º) A carta, num tom de despedida, inicia-se
com a frase “Considero-te perdida, Teresa.” De facto, a clausura no convento
ditou a separação dos amantes.
3.º) A carta é dominada pelas ideias de
perda e morte: “O sol de amanhã pode ser que eu o não veja. Tudo, em volta de
mim, tem uma cor de morte. Parece que o frio da minha sepultura me está
passando o sangue e os ossos.” Claramente, Simão parece antecipar a sua morte.
4.º) Inconformado com a possibilidade de viver
sem Teresa, Simão deixa-se arrastar pelo sentido da honra e pelo desejo de
vingança: “Poderia viver com a paixão infeliz; mas este rancor sem vingança é
um inferno.”
5.º) Os ciúmes de Baltasar cegam-no e
anuncia desde já a sua intenção de matar o primo de Teresa: “Ficarás sem mim,
Teresa; mas não haverá aí um infame que te persiga depois da minha morte. Tenho
ciúmes de todas as tuas horas.” É a consciência de que esse ato – o de
assassinar Baltasar – o levará à perdição que faz com que a ideia de morte
perpasse toda a missiva.
6.º) Por outro lado, a morte constitui a
única possibilidade de realização do amor, dado que não é possível na terra: “Hás
de pensar com muita saudade no teu esposo do Céu, e nunca tirarás de mim os
olhos da tua alma…”. Assim sendo, para Simão, o amor supera os limites terrenos
e pode realizar-se num plano espiritual. Deste modo, o sentimento amoroso é
sacralizado, na esteira do Romantismo.
7.º) Simão tem consciência dos efeitos
diferidos da sua carta: ele pensa que Teresa só lerá a carta quando ele tiver
morrido: “Tu verás esta carta quando eu já estiver num outro mundo…”.
8.º) O amor de Simão e Teresa é, pois,
associado ao sofrimento, à dor, ao sacrifício, à desgraça, à perda e à morte. É
uma espécie de religião – a religião do amor –, como se deduz das palavras do próprio
filho de Domingos Botelho: “Tu deras-me com o amor a religião, Teresa”.
9.º) A linguagem da carta está cheia de
imagens de tristeza, de dor e de morte, como se pode confirmar pelos seguintes
exemplos:
. “Uma
cor de morte”;
. “O
frio da minha sepultura”;
. “A
minha paixão não se conforma com a desgraça”;
. “Só
o receio de perder-te me mata”.
10.º) A carta, em suma, é dominada por
dois grandes temas: 1.º) a vivência do amor como proibição, por causa dos ódios
entre as famílias de Teresa e Simão e da consequente separação a que os amantes
são obrigados; 2.º) os efeitos da separação por causa da ausência da pessoa
amada: a perdição – a morte que o fidalgo prevê ao longo de toda a missiva.
11.º) Importância da carta: esta
missiva permite conhecer o estado emocional de Simão antes de se dirigir a
Viseu e antecipa o desenlace trágico da relação amorosa entre o fidalgo e
Teresa, repetindo a ideia de morte (atentar no campo lexical de morte).
1.4. Simão não consegue terminar a carta
por causa da profunda emoção que a inunda (“Não o deixaram continuar as
lágrimas…”) e da entrada de Mariana com a ceia, cujo discurso está prenhe de
presságios negativos, que apontam para a ideia de morte: “– É a última vez que
ponho a mesa ao senhor Simão em minha casa!”; “… parece que não o tornarei a
ver…”; “– Até ao Juízo Final…”. As suas atitudes estão em consonância com esses
presságios, visto que ela fica atenta aos passos de Simão, apercebendo-se da sua
saída: “Saltou, e tinha dado alguns passos, quando a fresta, lateral à porta da
varanda, se abriu, e a voz de Mariana lhe disse…”. Depois da partida do fidalgo,
a filha do ferrador, que antes lhe tinha pedido que não fosse ao encontro de Teresa
(“– Não saia esta noite, nem amanhã.”), chora e reza por ele (“ajoelhou orando
com o fervor das lágrimas”), antecipando a desgraça que se aproxima.
Anteriormente,
desesperada por o não conseguir demover da sua intenção, Mariana vai contar ao
pai as intenções do fidalgo. João da Cruz tenta também dissuadi-lo e oferece-se
para o acompanhar quando não o consegue. Simão diz-lhe, então, que mudou de
ideias e desistiu de se deslocar a Viseu de imediato. O ferrador acredita no
jovem, mas o instinto de Mariana fá-la desconfiar e aconselha o pai a vigiá-lo.
De facto, às onde da noite Simão é surpreendido por Mariana saltar a varanda do
seu quarto.
1.5. No momento em que é surpreendido por
Mariana, Simão reflete sobre a dedicação da filha do ferrador, que considera o
seu “anjo da guarda” e é guiada pelo amor por si. Por outro lado, o fidalgo tem
consciência de que deveria seguir os conselhos de prudência que antes ela lhe
tinha dado.
1.6. Note-se que, no capítulo IV, Simão
considerara Teresa como “o seu bom anjo”, o que mostra a faceta de herói
romântico do jovem. De facto, perceciona tanto Teresa como Mariana como
anjo(s), por causa da influência que ambas têm na sua maneira de ser e de
viver. Assim, idealiza a amada por ela ser capaz de o fazer mudar a sua maneira
de agir e a controlar a sua impulsividade e instinto violento e Mariana por
zelar incondicionalmente pelo seu bem-estar.
• 3.ª parte: Deslocação de Simão a Viseu e Morte de Baltasar
1. Efeito das referências temporais: enquanto Simão espera, junto ao
convento, o narrador dá-nos várias referências temporais – “Era uma hora”, “quatro
horas”, “quatro horas e um quarto”, “quatro horas e meia”, “momentos depois”.
Esta pormenorização e concentração do tempo sugerem o progressivo aumenta da angústia
e da ansiedade de Simão e o aumento da tensão, até ao confronto com Baltasar.
2. Relação entre a alvorada e o estado
de espírito de Simão:
a relação entre estes dois aspetos é, simultaneamente, de semelhança e de
contraste. Assim, inicialmente, a natureza apresenta cores associadas ao fogo (“O
horizonte passara de escarlate…”; “A púrpura, da aurora, como lavareda enorme…”),
que espelham o ódio de Simão por Baltasar e a violência latente em si. Mais
tarde, o dia inicia-se “alvacento”, cheio de “partículas de luz”, exibindo “as
maravilhas do repontar dum dia estivo”, traços que contrastam com o estado de
alma do protagonista.
3. A chegada da comitiva e o encontro
entre Teresa, o seu pai e o seu primo é-nos dada pela perspetiva de Simão.
4. Caracterização de Baltasar: Baltasar é um homem vaidoso e
caprichoso (“… bem-composto de figura e caprichosamente vestido à castelhana…”);
arrogante e prepotente pela forma como repreende o tio, culpando-o pela ousadia
de Teresa, e como encara a figura da mulher, totalmente submissa ao homem (“Se
meu tio a obrigasse, desde menina, a uma obediência cega, tê-la agora submissa,
e ela não se julgaria autorizada a escolher marido.”).
5. Caracterização de Tadeu de
Albuquerque: Tadeu
surge em cena bastante emocionado (“Tadeu enxugou as lágrimas…”), frágil e
debilitada, amparado por Baltasar (“… encostado ao braço de Baltasar Coutinho.”;
“O velho denotava quebranto e desfalecimento a espaços.”). Visado pelo sobrinho
no que diz respeito à educação de Teresa, procura convencê-la a reconsiderar a
relação com Simão (“– Queres ir para tua casa, e esquecer o maldito que nos faz
a todos desgraçados?”).
6. Caracterização de Teresa: Teresa, perante o último apelo do
pai, mantém-se inabalável, digna e decidida a conservar e defender o seu amor
por Simão (“– Não, meu pai. O meu destino é o convento. Esquecê-lo nem por
morte. Serei filha desobediente, mas mentirosa é que nunca.”).
7. Confronto entre Simão e Baltasar
7.1. Diálogo entre Simão e Baltasar
▪ Vivo, tenso, intenso, emotivo e
violento e de poucas linhas, retrata os insultos e ofensas trocados entre
ambos, que culminarão no assassinato deste (“infame”, “assassino”, “parvo”, “vilão”,
“cobarde”, “sem dignidade”).
▪ A linguagem usada pelas personagens
traduz a tensão do momento:
. o campo lexical da área conceptual do insulto (“infame”,
“assassino”, “parvo”, etc.);
. a alternância entre o tratamento por “vós” e “tu” (“sua
senhoria”, “tu podes”), salientando a pretensa superioridade de Baltasar;
. as frases exclamativas e interrogativas.
▪ Funcionalidade do diálogo: fazer
avançar rapidamente a ação.
7.2. Caracterização de Baltasar
▪ Baltasar é o anti-herói,
movido pela mesquinhez, pela vaidade e pela prepotência.
▪ É por isso que é dele, num discurso
agressivo, que partem os insultos, as ameaças dirigidos a Simão, o seu rival.
▪ Ao ser acusado de cobardia por Simão
(“Reputo-o tão cobarde, tão sem dignidade…”), sente a sua honra posta em causa
e, por isso, enfurece-se e ataca o fidalgo, que lhe desfere um tiro mortal na
cabeça (“… Baltasar tinha o alto do crânio aberto por uma bala que lhe entrara
na fronte.”).
▪ Trata Simão por tu, ao contrário
deste, que se mostra digno e superior ao tratá-lo por “Sua Senhoria”.
▪ Em suma, Baltasar é uma figura
arrogante, prepotente (“– Já fora da minha presença!”) e hipócrita; irónica
(quando se dirige a Teresa, por exemplo. “– Fala comigo, prima Teresa? – disse Baltasar,
risonho.”); insultuosa, agressiva e violenta (“– Infame, e infame assassino!”; “Baltasar
Coutinho lançou-se de ímpeto a Simão. Chegou a apertar-lhe a garganta nas mãos…”).
7.3. Simão, o herói romântico
A partir de uma figura real, Camilo
Castelo Branco compõe uma personagem, Simão Botelho, o protagonista da novela,
que preenche os requisitos do chamado herói romântico.
Quais são os principais traços do
herói romântico?
▪ O herói romântico possui um caráter
excecional – apresenta-se como um ser excecional, fora do comum, marcado pela
individualidade.
▪ Rejeita as normas e convenções sociais,
sobretudo quando elas contrariam os seus valores e as suas crenças,
colocando-se à margem e assumindo uma atitude de rebeldia.
▪ Por isso, o herói romântico é
rebelde e enérgico, lutando por ideais em que acredita, sejam eles de amor,
pátria ou religião.
▪ Defende os direitos do indivíduo
associados ao Liberalismo e ao Romantismo: liberdade, igualdade, fraternidade,
justiça, etc.
▪ Frequentemente, o herói romântico
possui uma personalidade instável, dividida entre forças opostas, como, por
exemplo, as normas da sociedade e os impulsos que levam à sua revolta contra
essas normas.
▪ Assim sendo, o herói romântico é uma
figura que tende para o conflito e a rebeldia, o que o conduz à perdição e à
morte diversas vezes.
▪ Vive numa crise interior e torna-se
melancólico e introspetivo.
▪ É atormentado por uma grande insatisfação,
que resulta do facto de não concretizar as suas aspirações, e morre, física ou
espiritualmente.
▪ O herói romântico é vítima do
destino e age motivado por um amor intenso: “o académico ponderou supersticiosamente
os ditamos do coração da moça…”; “O destino há de cumprir-se… Seja o que o céu
quiser.”
Que características possui Simão
que fazem dele um herói romântico?
Os traços do herói romântico, no Amor
de Perdição, estão, sobretudo, concentrados na figura de Simão Botelho.
Convém ter presente, no entanto, que esses traços só fazem sentido quando
observados no contexto da relação com Teresa e, em segundo plano, Mariana:
▪ Nos capítulos I e II, Simão é
caracterizado pela rebeldia e pelo caráter conflituoso e violento, como é
exemplificado pelo episódio de pancadaria na fonte.
▪ Por outro lado, nesse passo da obra revela
também o seu conflito com a família, nomeadamente quando “zomba das genealogias”.
Além disso, coloca-se à margem da sociedade, cujas regras não aceita, e revolta-se
contra as injustiças sociais, as convenções de honra e as “falsas virtudes” dos
pais.
▪ O amor por Teresa fá-lo mudar o seu
comportamento (“maravilhosa mudança nos costumes…”).
▪ É um idealista apaixonado, com veia
poética (cf. carta escrita a Teresa).
▪ A busca de um amor ideal, mas
contrariado pelas famílias de ambos, acentua o caráter conflituoso do herói
romântico. É esse amor exacerbado e o caráter conflituoso que, em última
análise, o levam à perdição.
▪ Simão é movido por valores como a
honra, o amor, a coragem e a retidão: “Eu hei de fazer o que a honra e o
coração me aconselharem.”.
▪ Simão é um ser de exceção, visto que
é dotado de nobreza de caráter e dignidade e de qualidades morais incomuns (por
exemplo, o sentido de justiça e honra). Estes traços são exemplificados pelo
facto de se recusar a fugir após assassinar Baltasar. Em alternativa, assume o
seu crime e é preso.
▪ Rege a sua vida por princípios e
ideais elevados, como a liberdade e a justiça (não aceita que outros determinem
o curso da sua vida nem que contrariem o seu amor) e a igualdade (trata João da
Cruz e Mariana como seus iguais).
▪ Simão é marcado pela fatalidade e
compreende que os seus objetivos de vida foram frustrados, caindo numa profunda
melancolia e acabando por morrer.
▪ Por outro lado, é um homem
determinado que se move por amor, o qual se torna um sentimento absoluto, visto
que se enamora por Teresa e a ama incondicionalmente, e impelido pela força do
destino: “O destino há de cumprir-se… Seja o que o Céu quiser.”. O diálogo
breve com João da Cruz (“– Está perdido! – tornou João da Cruz. / – Já o
estava.”) mostra que Simão compreendeu que não foi o homicídio de Baltasar que
determinou a sua perdição, mas que esta já estava traçada desde que se enamorou
de Teresa, por causa dos ódios familiares. Este desenlace fatal havia sido
antecipado pelo narrador logo no início da novela quando apresentou ao leitor a
frase que sintetiza o percurso do nosso herói: “Amou, perdeu-se, e morreu
amando”.
7.4. Teresa, a heroína romântica
Teresa confirma, neste capítulo, que
exemplifica a heroína romântica, desde logo por se tratar de uma personagem
bonita e de estirpe social elevada (é fidalga), dotada de temperamento forte e
determinado, bem como de uma maturidade invulgar para uma jovem de 15 anos
então. Esses atributos fazem com que estejamos na presença de uma figura que
foge ao modelo das jovens da sua idade e da sua condição social. Mais: ela
desobedece repetidamente à vontade do pai, pondo, assim, em causa o pundonor de
Tadeu de Albuquerque, isto é, o orgulho social que a obrigaria a rejeitar Simão
e o seu amor, por causa do ódio entre as famílias de ambos. Deste modo, Teresa
corresponde perfeitamente à coragem, à energia e à rebeldia da heroína
romântica.
À semelhança do que sucede com
Mariana, Teresa é caracterizada pela impotência e pela fatalidade / pelo
destino. A impotência decorre da sua condição de mulher numa sociedade em que o
machismo impera e os homens se enfrentam e destroem por orgulho e egoísmo. Por
outro lado, o destino e a fatalidade marcam a sua existência e conferem-lhes o
estatuto de heroínas vítimas de um amor infeliz.
Tanto Teresa como Simão dão corpo ao
conflito com as normas sociais e familiares vigentes e à mudança social que ocorreu
no século XIX.
8. Consequências do homicídio de
Baltasar: a
separação definitiva de Teresa e Simão e a perdição de ambos.
● Simbologia dos espaços interiores
• Mosteiro: simboliza a
clausura, o aprisionamento (a janela com grades), causador(es) de sofrimento;
de dentro pode ver-se o espaço exterior, simbolizando a liberdade de que não se
pode usufruir.
• Janela com grades: representa
a separação de Teresa e Simão, causada pelo aprisionamento da fidalga num
convento (cuja “libertação” só será conseguida com a morte).
● Crítica social
O episódio do homicídio de Baltasar
configura uma crítica à Justiça, pois Simão, após a morte do rival, é convidado
a fugir pelo meirinho-geral, por ser filho do corregedor (Domingos Botelho).