(1988)
sábado, 23 de fevereiro de 2019
Regência do verbo "preferir"
«O sujeito poético demonstra uma certa revolta. Diz preferir rosas do que a pátria...».
O aluno que escreveu esta pérola desconhece em absoluto que o verbo preferir exige dois complementos, um sem preposição e outro com a preposição «a».
Assim sendo, deveria ter escrito «O sujeito poético diz preferir rosas à pátria.».
Para saber mais, consultar este «post» [regência do verbo «preferir»].
O aluno que escreveu esta pérola desconhece em absoluto que o verbo preferir exige dois complementos, um sem preposição e outro com a preposição «a».
Assim sendo, deveria ter escrito «O sujeito poético diz preferir rosas à pátria.».
Para saber mais, consultar este «post» [regência do verbo «preferir»].
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019
Paulo Guinote e o regresso da censura?
Paulo Guinote, bem conhecido professor e bloguer, viu a sua página de Facebook denunciada e, por isso, está impedido de a usar e nela publicar.
As causas para as denúncias parece ser um conjunto de «posts» que põem a nu a miséria nacional nos mais diversos setores:
- "Que comunidade? Que padrões?";
- "Questões de domingo";
- "Um país de costas largas";
- "A escalada governo/enfermeiros".
Isto não é novidade. Por exemplo, nas últimas eleições autárquicas algumas páginas satíricas da ação política de candidatos às eleições foram denunciadas e, consequentemente, «eliminadas». Alguns iluminadas do Parlamento Europeu têm tentado limitar fortemente o que se pode publicar nas mais diversas plataformas «on-line».
São novas formas de censura e de limitação da expressão do pensamento livre e da opinião. Quando não se concorda, combate-se com argumentação sólida e factual. Quando se passa das marcas da legalidade, convoca-se a lei e o tribunal, se necessário. Regressar a tempos bafientos não é, claramente, solução, porém a tentação é grande.
Há mais de uma dúzia de anos que o Paulo Guinote incomoda muita gente de todas as áreas, assumindo sempre em seu nome os textos que publica, com custos pessoais elevados que só ele poderá quantificar/qualificar. A sua voz calou-se durante algum tempo quando decidiu encerrar o «Umbigo». Regressou pouco depois num registo diferente e de maior abrangência, mas a acutilância regressou em força nos últimos tempos perante a sujeita que é a vida política portuguesa.
A nós resta-nos apenas prestar-lhe o reconhecimento pela sua coragem e frontalidade e a solidariedade distante e fria de um teclado.
Um abraço, colega Paulo Guinote!
Origem e significado do nome Frederico
Frederico provém do nome francês "Frédéric", que, por sua vez, deriva do nome latino "Fredericus".
Este nome formou-se a partir dos elementos de origem germânica "fried", que significa "paz", e "rik", que quer dizer "senhor poderoso".
Diversos santos e bispos tiveram este nome, facto que confirma o significado de "senhor da paz". Também em Portugal foi bastante usado, por influência dos reis prussianos que o usaram.
Este nome formou-se a partir dos elementos de origem germânica "fried", que significa "paz", e "rik", que quer dizer "senhor poderoso".
Diversos santos e bispos tiveram este nome, facto que confirma o significado de "senhor da paz". Também em Portugal foi bastante usado, por influência dos reis prussianos que o usaram.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019
Construção de uma identidade nacional
. A difusão geral da
identidade nacional pela totalidade da população portuguesa dependeu da difusão da escrita e da imprensa, da implantação de um sistema eleitoral, da generalização de práticas administrativas uniformes e da participação ativa da população na vida
pública. Note-se, contudo, que a noção de povo soberano, na realidade, se
refere ao conjunto dos que se apresentavam como seus representantes.
. A noção de espírito do povo (Volksgeist) implica coerência interna, através de comportamentos
comuns a todos os membros de uma comunidade.
. A noção de identidade nacional abarca as noções de
«reino», «fronteiras», «naturalidade» e «território». Inicialmente, para as
classes populares, porém, o reino implicava apenas uma noção territorial, sem
trazer consigo a ideia de uma comunidade constituída por todos os seus
habitantes. Quando adquiriu um sentido territorial, a noção de reino passou a
implicar também a de «fronteiras». De facto, enquanto significou o poder sobre
os vassalos, mais do que o poder sobre o espaço que eles habitavam, a noção de
fronteira era uma realidade humana, mutável, imprecisa; normalmente uma zona de
combate ou uma área deserta. Afetada pela noção de «naturalidade», passou a
considerar-se antes a linha que separava os vassalos de um rei dos do rei
vizinho. Tornou-se então complementar na noção de território, e este, por sua
vez, interpretou-se como suporte físico da diferença para com aqueles que
habitavam para além das respetivas fronteiras. A fronteira sempre separou os
«nossos» dos «outros», ou seja, os nacionais dos estrangeiros.
. O processo de
consciencialização da identidade
nacional foi gradual, pois influenciou primeiro os representantes régios,
depois o clero e, em seguida, as restantes classes, influenciadas nesse
processo de consciencialização nacional pelos símbolos nacionais: o escudo de
armas do rei, a bandeira nacional e a moeda.
Grafia de "obsessão", "obsessivo" e "obcecado"
Obsessão provém do latim «obsessione-», palavra que significava "ato de cercar", "assédio", "cerco", "bloqueio", "ocupação de uma estrada". O significado da palavra evolui e ela adquiriu outros sentidos: "impertinência excessiva", "ação ou efeito de importunar, de vexar alguém com persistência e assiduidade", ou, ainda, "estado de pessoa que se crê atormentada, perseguida pelo espírito maligno, pelo diabo" e, em sentido figurado, "ideia fixa", "preocupação constante", "mania".
Obsessivo é um adjetivo da família de "obsessão", formado por derivação do adjetivo "obsesso", proveniente do latim «obsessu-» (particípio passado de «obsideo», com os significados de "cercado", "sitiado", "bloqueado", "assaltado", "acometido", "atacado", "ocupado", "invadido" - sentido próprio e figurado). Obsessivo significava, pois, "em que há obsessão", "que cerca", "que ocupa a mente de modo persistente".
Obcecado é um adjetivo derivado do particípio passado do verbo "obcecar", proveniente do latim «obcaecare» («obcaecatus»), que significava "cegar", "não deixar ver", "cobrir com terra", "paralisar", e, ainda, em sentido figurado, "tornar obscuro", "ininteligível". Deste modo, obcecado significa, rigorosamente, "que está cego", "paralisado", "que não vê claramente o que se passa", "que tem o espírito ou o entendimento obscurecido", "ofuscado".
Assim, os termos obcecado e obsessivo, provenientes de étimos diferentes, são sentidos atualmente como semanticamente próximos.
Obsessivo é um adjetivo da família de "obsessão", formado por derivação do adjetivo "obsesso", proveniente do latim «obsessu-» (particípio passado de «obsideo», com os significados de "cercado", "sitiado", "bloqueado", "assaltado", "acometido", "atacado", "ocupado", "invadido" - sentido próprio e figurado). Obsessivo significava, pois, "em que há obsessão", "que cerca", "que ocupa a mente de modo persistente".
Obcecado é um adjetivo derivado do particípio passado do verbo "obcecar", proveniente do latim «obcaecare» («obcaecatus»), que significava "cegar", "não deixar ver", "cobrir com terra", "paralisar", e, ainda, em sentido figurado, "tornar obscuro", "ininteligível". Deste modo, obcecado significa, rigorosamente, "que está cego", "paralisado", "que não vê claramente o que se passa", "que tem o espírito ou o entendimento obscurecido", "ofuscado".
Assim, os termos obcecado e obsessivo, provenientes de étimos diferentes, são sentidos atualmente como semanticamente próximos.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
quinta-feira, 31 de janeiro de 2019
quarta-feira, 30 de janeiro de 2019
Atores individuais e coletivos na 'Crónica de D. João I'
. Como afirma António José
Saraiva (1965), a história que Fernão Lopes tinha de contar era bastante
complexa, pela diversidade da natureza de cenas que deveria incluir. No
entanto, o cronista narra os eventos históricos em causa com enorme mestria,
alternando o fio da narrativa com instantâneos intensamente dramáticos,
momentos em que, ao desenvolver situações através do confronto de personagens
(como, por exemplo, no episódio do assassinato do conde Andeiro), mostra ter características
de um verdadeiro dramaturgo.
. Fernão Lopes foi um dos mais
fecundos e poderosos criadores de caracteres tanto individuais como coletivos,
vindo, por este motivo, a influenciar poetas, romancistas e dramaturgos de
épocas posteriores.
1. Atores individuais
. As personagens individuais criadas pelo cronista são variadas e complexas, sendo devassadas na sua intimidade por um olhar incisivo.
. Na Crónica de D. João I, três personagens se destacam pelo seu
protagonismo: D. Leonor Teles, o Mestre de Avis e Nuno Álvares Pereira.
a) Leonor Teles é
caracterizada de forma profundamente negativa,
na medida em que é descrita como objeto de um ódio profundo por parte do povo, sendo, além disso, alvo das
acusações do partido que queria a independência do trono português e suspeita
de ter sido a responsável pela morte do marido, D. Fernando (cf. Cap. XI da Crónica). Apesar disto, Fernão Lopes não
oculta a sua grandeza e força, que lhe permitem manipular figuras masculinas, como D.
Fernando, D. João de Castro (filho ilegítimo de D. Pedro e de D. Inês de
Castro) e o próprio Mestre de Avis, e enfrentar, mesmo após a derrota, o rei de
Castela, recusando-se a ingressar num convento.
b) O Mestre de Avis é caracterizado como um homem vulgar, hesitante
e vulnerável às fraquezas, como é
possível verificar, por exemplo, pelas oscilações do seu comportamento aquando
da conjura contra o conde Andeiro (depois de se mostrar indeciso, adere à
conjura, fugindo em seguida para o Alentejo, de onde regressa quando se
apercebe de que a conspiração será inevitavelmente descoberta). Apesar destes
defeitos – que o tornam uma personagem profundamente realista –, D. João I mostra também ser capaz de atos espontâneos
de solidariedade, o que o converte
numa figura cativante.
c) Nuno Álvares Pereira é
caracterizado como um herói hagiográfico,
isto é, com traços de santidade, e, ao mesmo tempo, como um grande guerreiro.
2. Atores coletivos
. As personagens coletivas
(como, por exemplo, a população de Lisboa) têm um papel ativo e decisivos, determinando
o curso dos acontecimentos.
. Com efeito, sempre que é
narrado um evento importantes, o cronista faz questão de expor o que pensava dele a opinião pública, como sucede aquando do
cerco de Lisboa, momento em que a população da cidade oscila entre a esperança
de que a frota castelhana fosse derrotada e o receio de que os castelhanos
saíssem vitoriosos, exercendo uma vingança cruel sobre os sitiados.
. Esta expressão de
sentimentos da coletividade é, por vezes, resumida através de um dito que sai
de uma multidão – como sucede com as cantigas entoadas durante o cerco de
Lisboa, que mostram a profunda determinação dos habitantes da cidade.
. A importância conferida a uma entidade coletiva nos eventos
históricos (como sucede aquando da derrota dos castelhanos no cerco de Lisboa,
cujo mérito é atribuído à população da cidade) torna Fernão Lopes um cronista único entre os seus congéneres
medievais.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2019
Complemento do adjetivo
1. Definição
Lê as seguintes
frases.
Repara
que:
. os adjetivos sublinhados são seguidos
por expressões que completam o seu sentido;
. essas expressões são introduzidas por
uma preposição simples (por, de, com) ou contraída (dos).
2. Regras
1. O complemento do adjetivo é uma
função sintática interna ao grupo adjetival (grupo de palavras que tem como
núcleo um adjetivo).
. A
música dos A-há é agradável de ouvir.
2. O complemento do adjetivo é selecionado
por um adjetivo. Pode ser:
● obrigatório
(sem ele a frase não tem sentido completo):
. Os
astronautas estavam desejosos de
viajar.
.
*Os astronautas estavam desejosos. (construção agramatical)
● opcional
(a sua presença é facultativa na frase):
. O
treinador estava satisfeito com o
resultado.
.
O treinador estava satisfeito. (o complemento do adjetivo está implícito e
pode ser recuperado pelo contexto)
3. O complemento do adjetivo surge à direita do adjetivo.
4.O complemento do adjetivo pode ser desempenhado por grupos preposicionais, que podem ser:
. constituintes frásicos:
. Bruno Lage está apreensivo com
o jogo.
. Estou convicto da vitória
do Benfica
. orações:
. Os alunos estão ansiosos por
iniciar férias.
. Bruno Lage estava feliz por terem derrotado o Boavista.
5. Alguns dos adjetivos que, dependendo
do contexto frásico em que surgem, podem selecionar complemento do adjetivo são
os seguintes:
aborrecido (com)
atento (a)
capaz (de)
certo (de)
consciente (de)
contente (com)
contrário (a)
convencido (de)
desejoso (de)
desiludido (com)
|
desleal (a)
difícil (de)
digno (de)
doente (por)
estranho (a)
fiel (a)
hábil (em)
hostil (a)
imune (a)
incapaz (de)
|
indeciso (em)
nocivo (a)
orgulhoso (de)
parecido (com)
preocupado (com)
propício (a)
receoso (de)
solícito (com)
surpreendido (com)
útil (a)
|
domingo, 27 de janeiro de 2019
Afirmação da consciência coletiva na 'Crónica de D. João I'
. O sentimento nacional
afirma-se porque, nessa ameaça, se fortalece a noção de comunidade. O povo de Lisboa manifesta-se contra a regente
D. Leonor e contra a influência estrangeira (Cap. XI) e sofre em conjunto a
dureza e as privações do cerco que João de Castela monta à capital (cap.
CXLVIII). Contudo, são também portugueses de várias terras e regiões que se
mobilizam para preparar a resistência a essa invasão e que enfrentam o exército
castelhano nas batalhas de Atoleiros e de Aljubarrota.
. A ideia de ser português está enraizada na «arraia-miúda», isto é, o
povo; porém, dela comungam também a burguesia e a nobreza que se mantém fiel à
causa patriótica. De facto, o povo ganha a consciência coletiva de que tem um
papel mais ativo e quer participar na vida política do reino e na condução dos
destinos da nação: intervém para «salvar» o Mestre, mobiliza-se para enfrentar
os castelhanos e quer decidir quem será o próximo rei de Portugal.
. Em termos narrativos, a
consciência de grupo e o sentimento nacional são representados através da noção
de personagem coletiva, quando se
trata da multidão de Lisboa, que revela uma vontade comum (cap. XI), que se
organiza em conjunto para defender a capital (cap. CXV) e que sofre em conjunto
o cerco imposto pelos castelhanos à capital do reino (cap. CXLVIII). Por outro
lado, a enumeração de grupos sociais e profissionais (soldados) chama a atenção
também para o facto de a unidade nacional se fazer a partir da motivação e do
desempenho dos grupos que a compõem.
. No plano da escrita da
história, a Crónica de D. João I
contribui, ao mesmo tempo, para representar o sentimento coletivo vivido
durante a Crise de 1383-1385 e para afirmar essa consciência nacional. A obra
foi encomendada pelo rei D. Duarte, filho de D. João I. Um dos objetivos de
Fernão Lopes foi demonstrar o patriotismo dos portugueses e valorizar o papel do Mestre de Avis,
fundador da Casa de Avis, na defesa da independência do reino e na construção
do novo Portugal, que nasce na segunda dinastia. Fernão Lopes ajuda a legitimar
(justificar) o direito de D. João I ao trono do reino português.
. Fernão Lopes coloca-nos
perante a existência do povo como sujeito da História, do povo que se sente
senhor da terra onde nasce, vive, trabalha e morre e que ganha consciência
coletiva contra os que querem senhoreá-lo, do povo que é a fonte última do
direito. O povo é aquele que ganha a sua vida quer com o trabalho manual
(mesteirais e lavradores), quer com a «indústria», isto é, a atividade,
habilidade e iniciativa em qualquer ramo produtivo e pacífico. Ou seja, uma das
grandes novidades da crónica de Fernão Lopes é o aparecimento do povo como força que se quer afirmar, saindo da passividade medieval, do direito senhorial.
Crise política de 1383-1385
(período do país sem rei /
período de tomada de consciência de liberdade e responsabilidades)
↓
. papel decisivo na fase de nomeação do Mestre (cap. XI)
.
vivência heroica dos grandes momentos da revolução:
- preparação do cerco, de
forma empenhada e valorosa (cap. CXV)
- vivência da miséria
associada à falta de mantimentos durante o cerco (cap. 148)
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