Português

terça-feira, 2 de abril de 2019

A representação do quotidiano na 'Farsa de Inês Pereira'

Na Farsa de Inês Pereira, encontramos diversos aspectos que espelham o modo de vida quotidiano da sociedade da época (final da Idade Média, na transição para o Renascimento).
Dentre eles, destacam-se os seguintes:
     a prática religiosa (ida à missa – a peça inicia-se com o regresso da missa por parte da Mãe);
     o hábito de recorrer a casamenteiros (Lianor Vaz e os Judeus);
     a falta de liberdade da rapariga solteira, confinada à casa da mãe e a viver sob o jugo desta (é o caso de Inês, que, no início da farsa, demonstra toda a sua revolta por estar confinada à casa materna, subjugada à autoridade da mãe e às tarefas domésticas que lhe são atribuídas – bordar, por exemplo);
     a ocupação da mulher solteira em tarefas domésticas (bordar, coser);
     o conflito de gerações (Inês e a Mãe), de interesses e conceções de vida (Inês versus a Mãe e Lianor Vaz);
     o casamento como meio de sobrevivência e de fuga à submissão da mãe;
     a tradição da cerimónia do casamento, seguida de banquete;
     a submissão ao marido da mulher casada e o seu «aprisionamento» em casa (o primeiro casamento de Inês, com o Escudeiro);
     a inércia da nova burguesia que nada fazia para adquirir mais cultura (o Escudeiro);
     a decadência da nobreza que procurava enriquecer através do casamento e buscava o prestígio perdido na luta contra os mouros (o Escudeiro);
     a devassidão do clero (o ataque de que a Mãe e Lianor Vaz foram vítimas por parte de clérigos; o Ermitão apaixonado e que seduz Inês); a corrupção moral de mulheres que se deixavam seduzir por elementos do clero (as cenas finais entre Inês e o Ermitão);
     o adultério (a traição de Inês com o Ermitão).


sexta-feira, 29 de março de 2019

segunda-feira, 25 de março de 2019

Origem de «desejo»

     A origem da palavra «desejo» é incerta, no entanto supõe-se que derive do latim «desidero», constituída por «side, que se relacionará provavelmente com «sidus» (que significava "constalação" ou "estrela"), termo que nos deu, por exemplo, o adjetivo "sideral".

     Uma outra possível explicação relaciona «desejo» com «desidia-», que queria dizer "preguiça" ou "indolência".

Origem de amor

     A palavra «amor» deriva do latim amor, que, por sua vez, parece derivar do proto-indo-europeu *amma, termo que significava mãe (ou tia) em linguagem infantil.
     Trata-se apenas de uma teoria, mas, a ser verdade, significa que a palavra «amor» terá tido origem na relação entre mãe e filho.
     E esta, hein?

Há manhã é feriado


Alunos do profissional entrarão na universidade sem realizar exames nacionais


     A fantochada total ou os favorzinhos da praxe às instituições do superior sem matéria prima?

     A notícia pode ser encontrada aqui [notícia].

Na aula (XXXV): água sólida

Pergunta do professor: «Onde é que há água sólida no planeta?»

Resposta do(a) aluno(a): No congelador.

Na aula (XXXIV): a propósito de Gil Vicente... roca

     A propósito de Gil Vicente, alguém pergunta o que é uma «roca».

     A Manuela P. não se faz rogada e sai-se com esta:

     «Então isso não é aquilo que fura as paredes?»

     Não, não é, pois falta-lhe um «b».

domingo, 24 de março de 2019

Dose para cavalo

     Uma dose para cavalo é algo excessivo, uma quantidade excessiva de qualquer coisa.

     A expressão tem variantes, como, por exemplo, dose para elefante ou dose para leão, com significados semelhantes.
     É possível que o cavalo, por ser forte; o elefante, por ser grande; e o leão, por ser valente, necessitem de doses exageradas de remédio para que este possa produzir o efeito desejado.
     Com a evolução do sentido, a expressão dose para cavalo (e suas variantes) consiste no exagero da ampliação de qualquer coisa desagradável, ou mesmo aquelas que só se tornam desagradáveis com o exagero.

Coração (origem da palavra)

     A palavra coração deriva do termo latino "cor", o qual, em muitas línguas ibéricas, ganhou um sufixo que tem a aparência de aumentativo: "coração".
     Este vocábulo existe no português, no castelhano, no leonês, no asturiano, no mirandês, no aragonês e até no moçárabe, o latim falado na área governada pelos muçulmanos ibéricos, mas já não existe, por exemplo, no basco, língua bem anterior ao uso do latim na Península Ibérica, que utiliza "bihortz". Outra exceção encontra-se no catalão, onde encontramos uma forma mais próxima do latim: "cor".
     O próprio português contém a palavra com a mesma forma na expressão "saber de cor", isto é, "saber de coração".
     Por outro lado, o termo latino "cor" ganhou muitas variações: o "còr" occitano, o "coeur" francês, o "cuore" italiano, o romeno "cord" (note-se, porém, que a palavra romena mais comum para referir "coração" é "inimã", cuja origem radica no latim "anima", isto é, "alma").

Erro crasso

     A expressão «erro crasso» quer dizer "erro grosseiro".

     A sua origem leva-nos até Roma, na época em que possuía como forma de governo o Triunvirato (ou seja, o poder dos generais era dividido por três homens em pé de igualdade: o termo "triunvirato" era constituído por dois radicais latinos: "trium" = três e "vir" = homem).
     O primeiro triunvirato era constituído por Caio Júlio, Pompeu e Marco Licínio Crasso. Este último foi incumbido de atacar os Partos e, confiante no triunfo, dada a desigualdade das forças em confronto, abandonou todas as formações e técnicas romanas e simplesmente atacou. Além disso, escolheu para o ataque um caminho estreito e com pouca visibilidade.
     O resultado desta postura displicente e arrogante de Crasso só poderia ser um: os Partos, mesmo em inferioridade numérica, derrotaram os todo-poderosos romanos, tendo sido aquele um dos primeiros a tombar no campo de batalha.
     Desde então, sempre que alguém possui todas as condições para triunfar, mas comete um erro estúpido, dizemos que se trata de um erro crasso.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Estilo e arte narrativa de Fernão Lopes

. As crónicas de Fernão Lopes enquadram-se numa fase da língua portuguesa normalmente conhecida como português antigo e exibem construções sintáticas, expressões e vocabulário com marcas da língua de um período de amadurecimento. Apesar dos arcaísmos (“talente”, “aadur”, “açalmamento”) e de construções arcaicas (“Ca nenhuu por estonce podia outra cousa cuidar”), é claro que a língua portuguesa já sofreu uma evolução que a distingue dos seus primórdios.

. Na Crónica de D. João I, a narração alterna com a descrição e com o diálogo para incutir vivacidade e energia no relato dos episódios mais relevantes da Crise de 1383-1385. Fernão Lopes cria ritmo e tensão através da forma expressiva de narrar os acontecimentos e da introdução de discurso direto no relato (“– U matom o Meestre?”).

. A vivacidade, o ritmo e a emoção das personagens são também conseguidos através de características do discurso como as marcas de oralidade e a simplicidade da linguagem (registo corrente e vocabulário familiar), os verbos de movimento, os verbos introdutores do discurso (“bradar”), as interjeições e as apóstrofes (“Ó Senhor!”). O dinamismo da ação resulta do uso de tempos, formas e aspetos verbais como o imperfeito do indicativo, o gerúndio e o aspeto durativo. O uso de recursos expressivos é relativamente parco e pouco vai além da comparação, da metáfora e da personificação.

. As descrições são pautadas pelo forte apelo visual, isto é, pelo visualismo. O narrador desempenha o papel da testemunha dos acontecimentos; percorre os espaços e caracteriza os lugares, o ambiente e as figuras (indivíduos ou grupos) que encontra. O uso de verbos associados ao olhar (“oolhae”, “vede”) ajuda a salientar o visualismo das situações descritas. Por vezes, as sensações visuais são associadas às auditivas (cap. XV).

. Numa técnica semelhante à do cinema ou da reportagem, o narrador percorre os espaços, detendo-se em figuras individuais ou em grupos, como sucede na descrição do sofrimento do povo de Lisboa (cap. CXLVIII). Em colaboração com as outras técnicas anteriormente descritas, assim se consegue criar um estilo expressivo que põe em destaque pormenores patéticos (ou seja, de sofrimento) da situação descrita.

. Articulação entre objetividade e subjetividade:
- Objetividade presente no rigor da pormenorização (exs.: descrições pormenorizadas com valor descritivo e informativo);
- Subjetividade presente na apreciação crítica e emotiva dos factos relatados (exs.: interrogação retórica, frase exclamativa).

. Coloquialismo:
- Interpelação do interlocutor (narratário), recorrendo à 2.ª pessoa do plural e à apóstrofe;
- Utilização do verbo ouvir, sugerindo a interação oral;
- Reprodução de cantigas populares;
- Uso de palavras / expressões de sabor popular e / ou arcaizante.

. Visualismo e dinamismo:
- Articulação entre planos gerais (focalização da cidade e dos atores coletivos aque nela intervêm) e planos de pormenor (incidência em grupos de personagens e / ou em situações particulares);
- Recriação dos acontecimentos de forma dinâmica;
- Emprego de vocábulos que marcam o sensorialismo da linguagem (atos de ver e ouvir);
- Emprego de recursos expressivos que conferem visualismo ao relato: comparação, personificação, enumeração, hipérbole.


Significado do nome António

     António será, provavelmente, o antropónimo mais comum da língua portuguesa.

     A sua origem é obscura. De facto, alguns autores atribuem-lhe etimologia etrusca, que originou o latim "antonius", que significava «inestimável», enquanto outros consideram que deriva do grego "anthonomos", que significava "aquele que se alimenta de flores".

     Seja como for, o termo já existia em Roma, designando uma "gens" famosa, da qual a figura mais conhecida é a de Marco António, de acordo com Orlando Neves, no seu Dicionário de Nomes Próprios.

     Assim sendo, «António» significa "inestimável", "aquele que não tem preço", "o que está na vanguarda".

quarta-feira, 20 de março de 2019

Origem de 'primavera'

     Começa hoje uma nova estação do ano: a primavera, que terminará no próximo dia 21 de junho, para dar lugar ao verão.
     Nem sempre, porém, a designação das estações do ano foi a que hoje conhecemos. De facto, na época dos romanos e até ao século XVI, existia o verão, correspondente à nossa primavera, o estio, equivalente ao atual verão, o outono e o inverno.
     O vocábulo «verão» provém do latim "vernum", que significava "tempo primaveril", derivado de "ver, veris", que queria dizer "primavera". A expressão "prima ver", de "primaver" (que deu origem ao nosso "primavera"), aplicava-se apenas ao começo da estação: "primo + ver" = o primeiro verão (atual primavera), ou seja, o princípio do verão (= primavera).
     Assim sendo, antigamente, o termo «verão» designava o período correspondente à atual primavera, como se pode comprovar num texto de Gil Vicente ("Carta de Santarém de 1531): "... como vemos que contra a formosura do verão, o fogo do estio, e contra a vaidade humana, a esperança da morte.".
     Deste modo, no século XVI, em Portugal, havia as seguintes estações: primavera (início da primavera), verão (primavera propriamente dita), estio (o atual verão), outono e inverno.

Frango tipo leitão


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