Português

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O nome: Ricardo Reis

          Ricardo é um nome de origem germânica e significa «senhor poderoso» ou «homem prático e decidido».

          Reis remete, obviamente, para a realeza, para a nobreza heráldica.

          Assim sendo, o nome Ricardo Reis pode apontar para uma figura que controla o seu destino, que é senhor de si mesmo.

O nome: Alberto Caeiro

          De acordo com o sítio http://www.umfernandopessoa.com, o nome deste heterónimo de Fernando Pessoa seria explicável do modo seguinte...

          Alberto, um nome de origem germânica, significa «calmo» ou «nobre».

          Por seu lado, Caeiro relacionar-se-ia com cal e por isso com branco, remetendo para os versos do heterónimo - brancos por não possuírem rima - e para o facto de ele não crer em nada além do que via. Assim, a sua compreensão da realidade seria, igualmente, branca, sem nada escrito nela. Além disso, em determinadas culturas, o branco é a cor funerária, do esquecimento e da perda de tudo.

          Deste modo, associando o nome e o sobrenome, Alberto Caeiro significaria «a nobreza calma do esquecimento das coisas.

          Há, ainda, quem seja audaz e associe o nome «Caeiro» a «(Sá-)Carneiro», o grande amigo de Pessoa e que desempenhou um papel, simultaneamente, importante e involuntário no surgimento deste heterónimo, pois, segundo a carta sobre a génese dos heterónimos, ele teria surgido para pregar uma partida a Mário de Sá-Carneiro.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Autobiografia

"Nome completo - Fernando António Nogueira Pessoa.

Idade e naturalidade - Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n.º 4 do Largo de S. Carlos (hoje do Directório), em 13 de Junho de 1888.

Filiação - Filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e de D. Dionísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto, e que foi director-geral do Ministério do Reino, e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral - misto de fidalgos e judeus.

Profissão - A designação mais própria será «tradutor», a mais exacta de «correspondente estrangeiro em casas comerciais». O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação.

Funções sociais que tem desempenhado - Se por isso se entende cargos públicos ou funções de destaque, nenhumas.

Obras que tem publicado - A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações. O que, de livros ou folhetos, considera como válido é o seguinte: 35 Sonnets (em inglês), 1918; English Poems I-II e  English Poems III (em inglês também), 1922, e o livro Mensagem, 1934, premiado pelo Secretariado da Propaganda Nacional, na categoria «Poemas».

Educação - Em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali educado. Ganhou o prémio Rainha Vitória de estilo inglês, na Universidade do Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos.

Ideologia política - Considero que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes, votaria, embora com pena, pela República. Conservador de estilo inglês, isto é, liberal dentro do conservantismo e absolutamente anti-reaccionário.

Posição religiosa - Cristão gnóstico, e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos à Tradição secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da maçonaria.

Posição iniciática - .................................................................................................
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Posição patriótica - Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abolida toda a infiltração católica-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: 'Tudo pela Humanidade, nada contra a Nação'.

Posição social - Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.

Resumo destas últimas considerações - Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, grão-mestre dos Templários, e combater, sempre, e em toda a parte, os seus três assassinos - a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania.

Lisboa, 30 de Março de 1935"

Circunstâncias de vida

          Pela cronologia apresentada, facilmente se constata que a vida de Fernando Pessoa ficou marcada por diversos acontecimentos e circunstâncias:
  • a morte do pai, a 13 de Julho de 1893;
  • o segundo casamento da mãe com João Miguel Rosa, que obrigou à mudança da família para a África do Sul;
  • o percurso universitário falhado (Letras e Filosofia, opções académicas abandonadas cedo);
  • as sucessivas crises depressivas;
  • os sucessivos fracassos empresariais;
  • as frustrações amorosas, de que é exemplo o romance epistolar pueril e platónico com Ofélia Queiroz);
  • os projectos não concretizados: o plano para uma reforma ortográfica, o desejo de abrir um consultório de astrologia e grafologia;
  • a inconstância profissional (Pessoa teve mais de vinte empregos, recusando sempre um lugar fixo);
  • as experiências esotéricas, nomeadamente a proximidade com as ciências ocultas, que lhe acarretaram alguns problemas com as entidades policiais,  aquando da visita de Alister Crowlley;
  • a frequência de diversos cafés, espaços predilectos, nos quais Pessoa encontra os amigos e consome álcool;
  • a errância por diversas habitações, nomeadamente por quartos alugados na baixa lisboeta (os últimos quinze anos da vida foram passados num quarto na Rua Coelho da Rocha, edifício onde funciona actualmente a Casa Fernando Pessoa);
  • a existência desregrada, marcada pelo insucesso académico, profissional e empresarial, pelos amores frustrados (existência «entre a irrealidade da vida quotidiana e a realidade das suas ficções»);
  • a permanência da língua inglesa no seu universo: as suas últimas palavras terão sido escritas no leito de morte, num pedaço de papel e em inglês - «I know not what tomorrow will bring», isto é, «Não sei o que [o] amanhã trará.»;
  • a morte de crise hepática, a 30 de Novembro de 1935, com 47 anos;
  • o enterro no cemitério dos Prazeres, no jazigo da sua avó louca, Dionísia, numa cerimónia discreta, à qual compareceram poucos parentes e alguns amigos próximos.
Fontes:

          » Poemas de Fernando Pessoa - Colecção RESUMOS, Porto Editora;
          » Dicionário de Fernando Pessoa.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Cronologia de Fernando Pessoa

  • 1888 - Fernando António Nogueira Pessoa nasce em Lisboa, no número 4, 4.º esquerdo, do Largo de S. Carlos (entre o teatro do mesmo nome e a Igreja dos Mártires), a 13 de Junho.
  •  1893 - Nasce Jorge, seu irmão, em Janeiro. O pai de Fernando Pessoa, Joaquim Seabra Pessoa,  falece em Julho e a família (mãe, filhos, avó Dionísia e duas criadas) muda-se, em Novembro, para uma habitação mais modesta, na Rua de S. Marçal.
  • 1894 - Jorge, o irmão mais novo do poeta, morre.
  • 1895 - João Miguel Rosa, oficial da Marinha de Guerra, futuro padrasto de Pessoa, embarca para a colónia do Natal em virtude de ter sido nomeado cônsul interino em Durban. Em Dezembro desse ano, casa por procuração com Maria Madalena, mãe do poeta. Fernando Pessoa parte com a mãe para a África do Sul, onde viverá nos dez anos seguintes, num bungalow, em Ridge Road, Durban. Estuda no Convento de West Street.
  • 1896 - Nasce Henriqueta Madalena, a primeira filha de sua mãe e do padrasto.
  • 1898 - Nasce Madalena Henriqueta, a segunda filha do casal.
  • 1899 - Fernando Pessoa começa a frequentar a Durban High School. Recebe o Forum Prize. Nasce Luís Miguel, o terceiro filho do casal.
  • 1901 - Morre Henriqueta Madalena. Em Agosto, Pessoa, sua mãe, o padrasto, Henriqueta, Luís Miguel e Madalena (morta) embarcam para Lisboa. À chegada, instalam-se em casa das tias-avós maternas de Pessoa, D. Rita Xavier Pinheiro e D. Maria Xavier Pinheiro da Cunha, em Pedrouços.
  • 1902 - A família regressa a Durban, após passagem pelos Açores. Fernando Pessoa matricula-se na Commercial School, em Durban.
  • 1904 - Pessoa é galardoado com o Queen Victoria Memorial Prize por ter escrito o melhor ensaio em língua inglesa, no exame de admissão à Universidade. Frequenta a High School como aluno universitário, no curso de Letras. Nasce João, o quarto filho do casal Madalena Pessoa - João Miguel.
  • 1905 - Fernando Pessoa regressa, sozinho, a Portugal em Agosto, após um ano a frequentar a Universidade do Cabo da Boa Esperança (de que a High School é uma secção).
  • 1906 - Em Lisboa, matricula-se no Curso Superior de Letras. Vive em casa das tias, na Rua da Bela Vista, à Lapa, n.º 17 - 1.º. Mais tarde muda-se para a Calçada da Estrela, n.º 100 - 1.º, onde vive com a família e o padrasto, que viera de férias.
  • 1907 - Volta a morar na Rua da Bela Vista com as tias. Escreve um diário íntimo, em inglês. Convive com jovens intelectuais n' A Brasileira do Chiado. Morre a avó Dionísia e deixa-lhe uma pequena herança. Aluga um quarto na Rua da Glória, n.º 4 - r/c. Monta uma tipografia - a Íbis -, em Portalegre, na Rua da Conceição da Glória, números 38-40, que funciona, porém, durante um breve período de tempo. Aluga outro quarto, no Largo do Carmo, n.º 18 - 1.º e emprega-se como correspondente estrangeiro em casas comerciais.
  • 1908 - Escreve poemas em inglês.
  • 1909 - Contacta com o Simbolismo enquanto escola (conhecia já Shakespeare, Shelley, Keats, Tennyson, Allan Pöe, Milton, Byron, Pope, Wordsworth, Baudelaire e Cesário Verde). O seu livro preferido, após a infância, foi Pickwick Papers.
  • 1910 - Trabalha na firma Lavado, Pinto & C.ª, no Campo das Cebolas. O poeta Henrique Rosa, irmão do seu padrasto, impressiona-o positivamente enquanto ser solitário e associal. Rejeita a oportunidade de ir para Inglaterra como súbdito britânico. Por volta de 1912, lê La Dégénérescense, obra escrita por Max Nordau, que o vai influenciar fortemente a nível pessoal e da sua maturação literária. Escreve dois artigos sobre a «Nova Poesia Portuguesa», publicados na revista A Águia.
  • 1914 - A 8 de Março, nasce Alberto Caeiro, o primeiro heterónimo, uma criação que, segundo Pessoa, faria parte de uma partida que desejava fazer ao amigo Mário de Sá-Carneiro. É publicada, pela primeira vez, uma composição poética do ortónimo, na revista Renascença, intitulada «Impressões do Crepúsculo», que deu origem a um dos «-ismos» do Modernismo.
  • 1915 - São publicados dois números da revista Orpheu, nos quais Fernando Pessoa participa com alguns poemas. Esta publicação, cumprindo em parte os ideais do grupo, causou grande escândalo. A nível pessoal, por influência da tia Anica, conhece fenómenos de mediunidade. Lê e traduz livros de teosofia. Por esta altura, a tia Ana Luísa de Freitas, com quem morava havia algum tempo, desloca-se para a Suíça, o que força Pessoa a ir morar para o sótão de uma leitaria, na Rua Almirante Barroso, n.º 12. Mais tarde, a sua mãe sobre um AVC que a deixará enferma até ao fim da sua vida. O poeta faz os seus primeiros horóscopos.
  • 1916 - Mário de Sá-Carneiro, o melhor amigo de Pessoa, suicida-se em Paris, no hotel Nice. Frequenta regularmente os cafés Martinho da Arcada e A Brasileira.
  • 1917 - Vive em casa própria, no n.º 11 da Rua Bernardim Ribeiro.
  • 1918 - Trabalha como correspondente em línguas estrangeiras em vários escritórios de Lisboa.
    • 1919 - Conhece Ofélia Queiroz no escritório do Largo do Corpo Santo, com quem inicia um romance e que constituiu a única mulher na sua vida em termos amorosos.
  • 1920 - Vai morar para a Rua Coelho da Rocha, n.º 16 - 1.º dto., a pedido da sua mãe. A família viria a instalar-se aí posteriormente. Abre um escritório na Rua da Assunção, n.º 58 - 2.º, designado Olissipo, Lda., uma editora que é um projecto comum com alguns amigos.
  • 1925 - Morre a mãe de Fernando Pessoa.
  • 1929 - O poeta propõe-se ordenar os seus papéis. Bebe bastante, ainda que não seja visto embriagado.
  • 1930 - Alister Crowlley, astrólogo e mago inglês auto-intitulado a «Besta 666», com quem Pessoa mantinha correspondência, desloca-se a Portugal para o conhecer pessoalmente. A sua estadia em Portugal é exuberante, pelas circunstâncias extravagantes que se lhe associam, havendo referências nos jornais da época a um seu alegado desaparecimento na Boca do Inferno, em Cascais. Fernando Pessoa chega a ser entrevistado e parece ter-se divertido bastante com o episódio.
  • 1932 - Publica a obra Mensagem, premiada com o segundo prémio num concurso literário. Concorre ao lugar de conservador do Museu da Biblioteca Conde de Castro de Guimarães, em Cascais, que lhe é recusado. Continua a manifestar grande interesse pelas ciências ocultas.
  • 1935 - Morre a 30 de Novembro, na sequência de uma cólica hepática, no Hospital de S. Luís dos Franceses. As suas últimas palavras terão sido as seguintes: «Dá-me os óculos.» e «Maman, je suis encore ton petit enfant».
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