Este poema é constituído por oito estrofes: uma oitava, três tercetos, duas quadras e dois monósticos, com rima emparelhada e cruzada e métrica irregular.
O seu tema é a arte poética,
dando-nos conta de um sujeito poético que é poeta e discorre sobre o processo
de criação poética, a inspiração para escrever. Se observarmos o título,
bastante extenso para o que é usual em textos poéticos, observamos que se
relaciona inequivocamente com o tema da composição: a criação poética e a inspiração.
O sujeito poético abre o poema
apresentando-nos o poeta – de forma humorística – sozinho (atente-se na
reiteração da ideia) e à espera. De quê? O «eu» espera por “um minuto que seja
de beleza” (v. 7), isto é, aguarda inspiração (para escrever). Essa espera está
associada a uma certa expectativa, como é visível pela sua postura: “em
abstração” (atente-se na alusão ao nariz e ao ato de dele tirar algo), com os
cotovelos apoiados no tampo da mesa, com a cabeça voltada para baixo. A
metáfora do verso 6 (“Onde o poeta é todo cotovelos”) intensifica a expectativa
em que o «eu» poético está imerso e a demora em encontrar inspiração, um motivo
para escrever, demora essa destacada pela referência ao nome “minutos”
(repetido duas vezes). O último verso da primeira estrofe, uma metáfora (“o
poeta é aos novelos”), iniciado pela conjunção coordenativa adversativa «mas»,
que exprime uma ideia de contraste com o que foi afirmado anteriormente,
anuncia a insegurança e a indefinição que o caracterizam. Essa noção é
desenvolvida na segunda estrofe, novamente anunciada pela mesma conjunção: o
sujeito lírico sente-se inseguro e incapaz de dominar a «musa» (v. 10) que
tantas vezes o inspirou de forma avassaladora: “aquela / Que tantas vezes
arrastou pelos cabelos…” (metáfora). Recordemos que a musa era a divindade que,
de acordo com a mitologia, presidia às artes e às letras, sendo a responsável
pela inspiração dos poetas.
A terceira estrofe coloca-nos perante
uma nova figura: a mosca Albertina. Quem ou o que é ela? A mosca Albertina é um
“inseto-insulto” (v. 13), isto é, algo que o atormenta, que compromete a já
fraca inspiração do poeta. Antes, este tinha-a domesticada, ou seja, a
inspiração surgia-lhe habitual e facilmente, porém, no presente, surge por sua
iniciativa, “como um inseto-insulto, / Mas fingindo que o poeta a esperava…”
(vv. 13-14). Recordemos que o nome Albertina, feminino de Alberto, deriva do
vocábulo germânico “Adalbert”, resultado da junção de “adal” (nobre” e “berth”
(ilustre, brilhante),que significava, portanto, “nobre ilustre, brilhante”.
Por outro lado, Albertina possui uma
dupla faceta: é inseto – mosca – e (quase) mulher. Na qualidade de mosca, ela
incomoda o poeta, como os insetos incomodam os humanos, perturba-o, compromete
a sua inspiração. “Albertina quer o poeta para si, / Quer sem versos o poeta.”
(vv. 16-17). Enquanto mulher, ela sedu-lo, o que quer dizer que, em simultâneo,
Albertina o afronta e seduz. E, apesar do apelo do sujeito poético para que ela
o deixe em paz e, assim, permita que ele se inspire e escreva, mesmo que de
forma imperfeita (“Que eu falhe neste papel” – v. 20), no “papel tão branco e
insolente” – personificação, onde o poeta sabe que existe um verso belo que
está, porém e de momento, ausente, pois falta-lhe a inspiração. O papel está “tão
branco” (atente-se na intensificação sugerida pelo advérbio «tão»), porque a
criatividade e a inspiração não surgem, logo o «eu» não cria, não escreve, e é “insolente”
(personificação), ou seja, o papel é atrevido e desafia-o a escrever.
O apelo intensifica-se no monóstico
correspondente ao verso 22: “ – Albertina! eu quero um verso que não há!...”.
No entanto, o inseto fica-lhe indiferente e, em vez de o inspirar, “Conjugal,
provocante, moreno e azulado”, levanta voo, esvoaça por ali e aterra
insultuosamente na folha de papel em branco. Atente-se na expressividade da
quádrupla adjetivação do verso 23, que acentua a atitude provocatória de
Albertina e sugere a existência de uma relação entre ambos marcada pela
conjugalidade.
Como consequência dessa atitude, que
o leva a abstrair-se ainda mais da criação poética, o poeta “sai de chofre” (v.
27), isto é, repentinamente, e sente-se “desalmado”, ou seja, desinspirado, “por
uns tempos” (v. 27).
À semelhança do que sucede com
vários outros poetas contemporâneos, Alexandre O’Neill reflete, neste poema,
sobre a arte poética, só que neste caso estamos na presença de uma arte poética
invulgar, dado que o ato de criação poética é aparentemente banalizado e
vulgarizado, através do recurso a um tom humorístico que percorre todo o poema,
da atitude do poeta e da forma como encara a inspiração.
Deste modo, Alexandre O’Neill
desconstrói humoristicamente, a imagem do poeta inspirado, desprovido das suas
faculdades de criação poética e nega, em simultâneo, a ideia do poeta como um
ser eleito, inspirado por natureza e produtor infindável e incansável de
poesia.
O processo é descrito num poema que
podemos dividir em três momentos. O primeiro situa-se entre os versos 1 e 11,
no qual o «eu» lírico retrata o poeta que reflete sobre o que escrever,
esperando a inspiração, que tarda. O segundo abrange os versos 12 a 26 e neles
é apresentada e caracterizada a mosca Albertina, que perturba o poeta, que a
tenta repelir, em vão. O terceiro momento diz respeito ao último verso e
retrata a “desistência” temporária do poeta, que abandona o espaço em que se
encontra, desmotivado.
Afinal o que é ou quem é essa albertina?
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