segunda-feira, 30 de setembro de 2019
Método da oratória
No Sermão da Sexagésima, o Padre António
Vieira expôs o método que adotava na construção da sua oratória:
1. Definir a
matéria;
2. Reparti-la;
3. Confirmá-la
com a Escritura;
4. Confirmá-la
com a Razão;
5. Amplificá-la, dando exemplos e respondendo às objeções, aos
“argumentos contrários” (contra-argumentar);
6. Tirar uma conclusão e persuadir, exortar.
Dito de forma
mais simples:
O sermão no século XVII
Durante o século
XVII, o sermão foi o género literário predominante e a base da mais importante
cerimónia social: a pregação.
O púlpito constituía
o último bastião da liberdade de expressão, nomeadamente durante os sessenta
anos de domínio filipino em Portugal. De facto, nesse período apenas alguns
sacerdotes se permitiam falar livremente, por exemplo, contra a opressão
espanhola. Com a dominação filipina e consequente repressão de qualquer tipo de
oposição, o púlpito tornou-se o local a partir do qual alguns padres podiam
falar, criticar e acusar. Com a restauração e D. João IV, o púlpito serviu de
tribuna para o comentário político e crítico ao Poder e à Sociedade; a pregação
chegou a todas as classes sociais e foi ouvida por multidões que não sabiam
ler.
Por outro lado,
enquanto discurso de caráter religioso, o sermão torna-se uma das armas
fundamentais da Contrarreforma. Os seus traços mais significativos na época
eram os seguintes:
▪ a dimensão teatral e espetacular da
oratória religiosa (por exemplo, o púlpito da igreja de S. Roque, em Lisboa, configura
um exemplo da importância deste elemento arquitetónico na igreja seiscentista);
▪ o púlpito constitui um palco e o pregador
um ator (a oratória jesuíta ensinava ao futuro pregador, para além dos
preceitos formais, como deveria dispor as pregas do hábito, os gestos que
deveria fazer, o tom de voz a empregar, a linguagem fácil, etc.);
▪ o sermão tinha uma função lúdica, idêntica
à das demais artes de palco da época, nomeadamente o teatro, a ópera, o ballet,
os enterros, as procissões, as toradas ou os autos de fé);
▪ o seu ritual social torna-o, muitas vezes,
numa prática que visa culpabilizar e admoestar os ouvintes, daí a necessidade
do caráter de deleite intelectual, em que frequentemente se transformou;
▪ a associação de elementos e rituais
inerentes à prática do sermão, como a luz e o incenso.
De facto, embora
já existisse há quase dois mil anos como forma de divulgação do Evangelho,
ganhou preponderância em épocas de confusão doutrinal, como sucede no século XVII,
no contexto da Contrarreforma, quando a Igreja se viu confrontada com a
necessidade de recuperar para a fé aqueles que dela se tinham afastado e de
consolidar a adesão espiritual de quem permanecera fiel a Roma. Deste modo, no Concílio
de Trento elaborou-se um vasto programa de divulgação da doutrina cristã,
baseado sobretudo na formação dos sacerdotes, na pregação e no ensino do
catecismo. Os pregadores deveriam expor os vícios que deveriam evitar e as
verdades que deveriam praticar, para poder escapar ao Inferno e alcançar a
felicidade eterna.
O sermão
constituía, por isso, um grande acontecimento. Instalado no púlpito, diante da
multidão expectante, o pregador desenvolvia as suas ideias num sermão de
estrutura clássica: exórdio, exposição, confirmação e peroração.
Frequentemente, o
orador expunha antecipadamente o assunto do sermão e eventualmente a sua divisão
em partes, de modo a facilitar a participação dos ouvintes. Por outro lado, como
a confirmação poderia conter elementos (conceitos ou comparações de difícil
compreensão, por exemplo) que dificultariam a compreensão e o acompanhamento do
auditório, antecipar o assunto constituiria uma medida indispensável para a sua
perceção e apreensão.
O pregador teria até
a esse momento atingido um duplo objetivo: expor alguns conceitos doutrinais
(desempenhando assim a função didática que cada sermão deve ter), e aqueceu
psicologicamente o ambiente, como convém antes de se dar início às considerações
morais destinadas a comover os presentes e a fazer nascer neles o desejo de se
emendarem. Nesta altura, ganha grande importância a técnica de evidenciar a
enormidade dos bens e dos males mais ou menos deduzíveis do assunto exposto.
Para alcançar o resultado desejado, o pregador, aumentando aos poucos o seu tom
de voz, servir-se-á do arsenal retórico habitual – descrições, comparações,
alegorias – e mesmo de alguns expedientes teatrais.
A confirmação
culminará com alguma consideração ou algum efeito reservado para o final devido
ao seu grande poder emotivo. De seguida, o pregador, sem deixar que sesse
clímax emotivo se extinga, prepara-se para a conclusão do sermão, que consiste
em geral numa enumeração dos seus melhores argumentos, convenientemente
ampliados.
Os seus efeitos,
porém, eram de curta duração, pois, passadas algumas semanas, a situação
retornava ao mesmo.
Nas palavras de
Margarida Vieira Mendes (“Apresentação crítica”, in Sermões do Padre António
Vieira), «O púlpito era um palco e o pregador um ator a tentar exibir do
melhor modo possível a sua palavra, ajustando as modulações da sua voz aos efeitos
visados junto do auditório. […] A pregação era um espetáculo, tanto quanto
possível espetacular. […] Aliás, uma das tradicionais
categorias de funções oratórias era o delectare (deleitar), para além do
docere (ensinar) e do movere (mover ou influenciar o
comportamento do ouvinte) e estava no espírito da Contrarreforma a captação e
catequização das multidões não tanto pela razão, que se estava cada vez mais
revelando perigosa para a religião de então, mas antes pela sensibilidade, pelo
prazer, pelo puro gozo intelectual, e também pelo terror e piedade que moveriam
(movere) os espectadores […].
Para além dos
temas religiosos, tratavam-se as questões sociais, políticas, económicas,
literárias e militares. Daí que as qualidades do pregador fossem essenciais
para o sucesso do sermão: a palavra fácil, a imagem sugestiva, a sonoridade da
voz, o gesto teatral e arrebatado.
Tudo isto se
reflete na arquitetura dos templos barrocos, carregada de ornamentação, de
imagens e palavras fulgurantes, lado a lado com os finos prazeres sensuais de
aromas de incenso, música dos moletes, brilhos de luzes, faulhando de velas,
refletidos de ouros, pratas, pedras preciosas, lhamas e brocados.
Texto adaptado
de:
. MORÁN, Manuel, e ANDRÉS-GALLEGO, José, 1995. “O Pregador”. In
VILLARI, Rosario (Dir.), 1995. O Homem Barroco (tradução de Maria Jorge
Vilar de Figueiredo). Lisboa. Presença (pp. 117-142);
. MENDES, Margarida Vieira, 1992. “Apresentação crítica”. In Sermões
do Padre António Vieira (apresentação crítica, seleção, notas e sugestões
para análise literária de Margarida Vieira Mendes). 4.ª ed. Lisboa: Editorial
Comunicação (pp. 15-17) (1.ª ed.: 1982).
Definição de «sermão»
O sermão
insere-se na arte de pregar, é uma forma de oratória, consistindo num discurso
sagrado sobre alguma verdade da doutrina de Cristo, o que significa que se
destina a ser proferido oralmente.
O vocábulo sermão
deriva, etimologicamente, do latim sermo, onis, que significa conversação.
Posteriormente, sermão acabou por significar, por um lado, repreensão e,
por outro, convencer, persuadir alguém a seguir determinado
caminho moral ou religioso.
A oratória
A oratória, ramo da argumentação, é
a «arte de discursar em público, com o objetivo de persuadir o auditório».
A oratória agrupa os autores que se
empenharam, pela eficácia da palavra, em persuadir os outros da justiça e da
verdade das suas causas. Há várias espécies de oratória:
- forense ou
jurídica: defende os direitos civis dos cidadãos;
- política:
incide sobre as deliberações referentes ao bem comum das sociedades;
- académica:
versa temas culturais;
- sagrada: o
orador fala em nome de Deus e proclama uma mensagem ligada aos valores divinos.
De uma forma mais simplista, podemos
dividir a oratória em dois grandes conjuntos: a profana, cujos maiores representantes foram Demóstenes (384-322
a.C.), na Grécia; Cícero (106-43 a.C.), em Roma; Almeida Garrett (1799-1854) e
José Estêvão (1809-1862), em Portugal.
No século XVII, a oratória adquire
uma enorme importância sob a forma do sermão, perspetivado como arte de palco e
a base da cerimónia social mais significativa: a pregação.
Por outro lado, na segunda metade do
século XVI e na primeira metade do século XVII, a música tornou-se muito
importante no acompanhamento da mensagem sagrada. No século XVIII, a oratória
musical fixou-se entre as grandes formas da história da música. São bem conhecidas
as obras geniais de J. S. Bach (1685-1750), Haendel (1685-1759), Haydn
(1732-1809) e Mozart (1765-1791).
Uma regra que o orador deve ter em
consideração é o bom conhecimento do auditório a quem se dirige. Quanto mais
for esse conhecimento, maiores serão as possibilidades de êxito das
ideias/teses que defende, daí a necessidade de um prévio estudo do perfil do
destinatário. O orador tem que adequar a sua argumentação, a sua linguagem às
características do seu auditório/destinatário.
O método de pregação do Padre António
Vieira, por exemplo, consiste na utilização de lugares-comuns facilmente
reconhecíveis pelo seu auditório, que, seguindo as normas da época, desenvolvia
a argumentação dos seus sermões recorrendo a “conceitos predicáveis”.
Outra regra da argumentação é que
não age sobre evidências, pois o que é evidente não necessita nem de
demonstração nem de apresentação de argumentos a favor ou contra. A
argumentação não pode ser a afirmação da verdade, porque todo o verdadeiro
diálogo nunca esgota a possibilidade de investigação da verdade. A argumentação
não pode partir do pressuposto de que uma conclusão retórica seja, por
definição, a conquista de uma verdade universal. Argumentar é procurar
coerência onde existe dúvida, é descortinar sentido num paradoxo, mas também
pode ser dar sentido a uma absurdidade ou a uma contradição.
A argumentação é sobretudo contestação.
domingo, 29 de setembro de 2019
A prosa de intervenção do Padre António Vieira
O Padre António
Vieira lutou, durante a sua vida, por três causas centrais que considerava
justas:
– a luta contra a escravatura e pela
integração dos cristãos-novos;
– a consolidação da recém recuperada independência;
– a utopia universal, corporizada no mito do
Quinto Império.
No entanto, a sua
veia crítica abateu-se sobre outras questões:
-» a luta contra os colonos
brasileiros, que procuravam recrutar entre os índios mão-de-obra escrava,
oprimindo-os e escravizando-os (defendeu a política colonizadora da Companhia
dos Jesuítas, daí a perseguição de que foi alvo por parte da Inquisição e a
posterior prisão nos cárceres do Santo Ofício);
-» procurou desacreditar, em Roma
e em toda a Europa, o Tribunal do Santo Ofício;
-» criticou a ordem dos
Dominicanos e a Inquisição por viverem à custa da Religião, com os bens
confiscados aos judeus e cristãos-novos que perseguiam, lançando-os nas prisões
e nas fogueiras dos autos-de-fé;
-» denunciou os vícios da nobreza,
que vivia na ociosidade e cuja riqueza era alcançada, com frequência, pela
exploração dos pobres e dos escravos ou à custa de roubos e injustiças;
-» criticou os pregadores
dominicanos, o cultivo de um estilo rebuscado, pretensioso e obscuro, ao gosto
gongórico, o cultismo (ainda que caísse muitas vezes no exagero dos jogos
verbais);
-» cria que a educação e a
cultura poderiam corrigir a própria natureza (o índio primitivo poderia
ascender pela cultura a um certo grau de espiritualidade).
Em suma, o espírito
conflituoso e lutador de Vieira bateu-se, durante toda a vida, pelos nobres
ideais que o nortearam. Por eles lutou e sofreu grandes humilhações e perseguições
às mãos da Inquisição, que o prendeu e proibiu de pregar.
O fracasso da tentativa holandesa
A Holanda,
estabelecida em Pernambuco, não abandona a ideia de conquistar a Baía, cuja
capital – Salvador, que o era também do Estado Geral – era a chave natural de
todo o Estado. E Nassau, o chefe escolhido pela Companhia das Índias Ocidentais
para realizar a conquista, aliando brilhantes qualidades de chefe político a
superiores virtudes de chefe militar, fundeia a 16 de abril de 1638, ao norte
da cidade.
Situação
aflitiva. Salvador, com a sua guarnição reduzida a 1500 homens, a que se somavam
os 1000 que o General Conde de Bagnuolo havia trazido do Recife, rechaçados
pelo inimigo. Impossível qualquer socorro do Sul, porque, vigiando os mares e
batendo as costas, por lá andava a esquadra de Lichthardt.
Felizmente, nem
aos sitiados faltou a coragem, nem aos sitiantes sobrou a perícia estratégica.
Os combates realizaram-se fora da cidade, em trincheiras, uma das quais, junto
da igreja de Santo António, foi a mais intensamente martelada. Os holandeses,
apesar da superioridade numérica, não conseguiram, vencendo a resistência,
entrar na cidade. E a táctica do seu general toda se reduziu a evitar aos seus
homens passar de sitiantes a sitiados, preparando-lhes uma retirada sem aumento
de perdas.
Vieira comemorou
em dois sermões o triunfo português. Fê-lo admiravelmente, numa estranha
aliança de realismo e de profetismo, mas atento à verdade histórica. Lucidamente
a via em todas as circunstâncias, mas, sobreposto a ela e adaptando-se-lhe sempre,
o plano do transcendente bíblico, pelo qual tudo era explicado; porque entre o
natural e o sobrenatural não vê ele apenas uma relação de semelhança, mas de
causalidade, mais de uma vez os ligando como a profecia com a realidade em que
se verifica. Ao seu realismo fantástico, não basta afirmar a assistência de
Deus à defesa, pelos Portugueses, do Seu reinado na terra; é preciso que tudo
seja circunstancialmente explicado por uma divina protecção antecipadamente
inscrita na economia religiosa do Mundo, prefigurada frequentemente na história
do povo hebreu.
O contexto de produção do Sermão de Santo António aos Peixes
São Luís do
Maranhão foi tomado aos franceses em 1615. O seu território estendia-se pelas
duas margens do Amazonas, até às indefinidas fronteiras do Peru. O estado do
Maranhão, independente do do Brasil, foi oficialmente criado em 1621. Integrava
duas grandes capitanias-gerais: a do
Pará, com sede em Belém do Pará, e a de São Luís do Maranhão, que era a capital
de todo o estado.
Ainda em 1662,
depois da partida do Padre Vieira, apenas algumas centenas de portugueses,
menos de um milhar, povoavam essa imensa região. Todos eles viviam do trabalho
dos índios, em grandes fazendas auto-suficientes. Algumas produções, sobretudo
o açúcar e o tabaco, constituíam o grosso das exportações para a metrópole,
que, em troca, enviava artigos manufacturados. O tecido de algodão era a moeda
corrente.
Exploravam-se os
índios como trabalhadores “livres” ou como escravos. No primeiro caso, eles
dependiam das autoridades reais; no segundo, eram, na sua maior parte, propriedade
privada dos colonos ou moradores. Geravam-se conflitos, por vezes sangrentos,
entre os moradores e os funcionários do rei, já que ambos os campos pretendiam
apoderar-se do maior número possível de índios. O rei devia arbitrar esses
conflitos tendo em conta que o auxílio e a boa vontade dos índios eram
indispensáveis à defesa da soberania portuguesa contra os holandeses, que
continuavam a dominar ao norte do Brasil, e ainda à expansão em direcção ao
Peru.
Para esta tarefa,
o rei contava com o precioso apoio das ordens religiosas. Depois de uma breve
experiência dos jesuítas, em 1642 as missões são confiadas, em todo o
território, aos franciscanos. Estes deparam, por volta de 1636, com o seu próprio
fracasso, em boa parte devido ao facto de, não querendo ou não podendo explorar
o trabalho dos índios, terem de se contentar com uma doação real que, além do
mais, não lhes era entregue com a devida regularidade. Defrontavam, ainda, como
adversários, alguns dos jesuítas que se tinham deixado ficar sob a direcção do
Padre Luís Figueira.
Depois do
fracasso dos franciscanos, os jesuítas preparam uma grande investida missionária
e obtêm, em 1643, a exclusividade das missões do Maranhão. Segue de Lisboa uma
missão, dirigida pelo Padre Figueira, mas a maior parte dos seus elementos
perecem num naufrágio na costa da ilha de Morajó.
No que respeita
ao estatuto jurídico dos índios em todo o Brasil, sucediam-se leis
contraditórias, num movimento pendular, desde a de 1570, que havia proibido a escravidão
dos índios. Mais recentemente, a lei de 30 de junho de 1607 estabelecera a
igualdade de direitos entre os índios e os portugueses; mas uma outra, de 10 de
setembro de 1611, estabelecera a escravatura dos índios feitos prisioneiros em
guerra “justa”, assim como a dos índios encontrados em vias de serem mortos por
outros índios (índios de corda), sendo o tempo desta última espécie de
escravatura limitado a dez anos. Inspirada pelos jesuítas, a lei de 1609 punha
todos os índios sob a administração e protecção dos padres. Em contrapartida, a
de 1611 colocava as aldeias de índios “livres” sob o governo de administradores
laicos, chamados capitães, que tinham o encargo de repartir pelos colonos a
mão-de-obra índia. Tal era a lei quando o novo estado foi criado.
A lei promulgada,
regulando a liberdade dos índios e suas restrições, foi sofismada até sua quase
completa inutilidade. O Padre Vieira, reconhecendo-a, ineficaz, enquanto não
fosse evitada a intervenção civil na cristianização e civilização dos selvícolas,
pela entrega do seu governo exclusivamente aos seus párocos, procurou obter a
assinatura de todos os principais da cidade de S. Luís, afetos à Companhia,
para uma representação a dirigir ao rei. Logo que os colonos tiveram do caso
conhecimento, houve celeuma breve, e é em tal momento que a pugnacidade de
Vieira atira do alto do púlpito, contra os inimigos da sua política indígena,
os dardos tão brilhantes como percucientes desta sátira. A causticidade da
ironia, a expressividade dos símbolos, o poder de observação no descritivo, com
trechos de imperecível beleza clássica, o relevo, o brilho, a graça da
linguagem, até a própria orgânica do sermão – primeiro a alegoria da vida
colonial em conjunto, depois as várias alegorias representando em várias
espécies de peixes os vários tipos de colonos mais susceptíveis de caricatura,
tudo na peça é de novidade impressionante.
Em suma, é dentro
do contexto das lutas que opõem os jesuítas e os colonos, por causa da exploração
desumana dos indígenas, que Vieira , defensor dos seus direitos e da abolição
das leis que os tornavam cativos, profere este discurso. Tentou comunicar, por
cartas, a D. João IV a situação que se vivia no Brasil, à qual se seguiram
outras. Foi por não ver sucesso nesta sua empresa que embarcou para Lisboa a 14
de junho de 1654, para colocar o rei ao corrente de tudo. Aproveitando o facto
de 13 de junho ser, no calendário litúrgico, o dia de Santo António, pronunciou
o Sermão de Santo António aos Peixes, que deixou enraivecidos os
colonos.
Em Lisboa, após
uma viagem atribulada, tentou alterar as leis, de forma a limitar o poder dos
colonos sobre a exploração dos índios.
Finalmente, em abril
de 1655, conseguiu que fosse dada a «exclusividade da faina das missões» aos
jesuítas. Daí que uma das temáticas do Sermão de Santo António seja a denúncia
das atrocidades que os índios sofriam às mãos dos colonos portugueses.
Toda a crítica assenta na utilização da alegoria,
pois os símbolos simbolizam os vícios dos homens.
A Contrarreforma e o sermão
A 31 de outubro de 1517, Lutero, «mestre
em Filosofia» (1505) pela Universidade de Erfurt, monge agostiniano, professor
de Filosofia, de Teologia e de Exegese bíblica, apresenta as 95 Teses na
Universidade de Wittenberg sobre e contra a prática das indulgências. Dois anos
depois, em junho, em Leipzig, propugna a autoridade individual (isto é, de cada
indivíduo) na hermenêutica bíblica, destronizando a papal autoridade exclusiva
nesta matéria. É um rombo na infalibilidade do Papa, da Igreja da Roma Católica.
A 10 de dezembro, em Wittenberg, Lutero queima, em plena praça pública, a bula
pela qual o papa Leão X o excomungou. Imediatamente, multiplicam-se os
discípulos à sua volta, mesmo entre homens de Estado, dentro e fora da Alemanha.
Na mesma orientação antipapal surgem outros mentores: Melanchthon, que se torna
o chefe do Luteranismo depois da morte de Lutero em 1546, Zwingli, Calvino,
Henrique VIII, etc. Este movimento não pára. É o movimento da Reforma Protestante. Assiste, assim, o século XVI a
uma revolução religioso-cultural, que retira grande parte da Europa à
obediência ao Papa romano. E, deste modo, nascem as Igrejas Protestantes.
A teoria do livre-arbítrio, proposta
por Lutero, é agora a autoridade basilar na exegese bíblica, os alicerces do
pensamento católico ficaram abalados. Roma tem de reagir. E reage com a Contrarreforma, cujas finalidades principais se podem
detectar no restabelecimento espiritual e na reconquista das almas e dos países
que se tinham separado do papa. Não passe, porém, esquecido o seguinte facto:
quando Lutero chegou, o estado espiritual de Roma já andava muito por baixo,
bem longe da elevação exigida pelos fundamentos bíblicos.
A Contrarreforma estabelece uma
estratégia e uma prática: Paulo III reconstitui a Inquisição em 1542, visando
com esta o ataque às pessoas e o Índex em 1543 na ofensiva às ideias.
É necessário criar uma prática
contra-reformadora mais incisiva. Urge defender e ensinar. A autêntica ofensiva
resulta da convocação de um Concílio: Trento. Este, interrompido várias vezes
por razões de ordem política e religiosa, dura de 1545 a 1563. Daqui Roma
propõe aos seus fiéis o repensar da vida e da doutrina próprias, por meio da
interpretação mais precisa da Tradição e das Escrituras. Fixa o cânone da
Bíblia no primeiro Decretum da quarta
sessão, de 8 de abril de 1546, ano da morte de Lutero. Fixa o texto bíblico
(definitivamente só em 1592) em latim, de que a Vulgata de S. Gerónimo se tornou modelo e aí se prescreve o modo de
interpretação das Escrituras, modo que não pode contrariar o sentido que Roma
definiu, pois só a esta cabe o verdadeiro sentido e interpretação da Bíblia, em
conta se devendo ter o unânime consenso dos padres da Igreja; é o segundo
decreto da mesma sessão. Intensificam-se os instrumentos de luta recorrendo à
confissão auricular, ao ensino e à pregação para reconquistar os reformados.
O sermão é o instrumento mais
directo de ensino da doutrina e da sua defesa. É o instrumento por excelência
da cultura de massas. O púlpito transformou-se verdadeiramente no meio quase
exclusivo de catequese e apologética. Proliferam os pregadores, como Filipe de
Néri (1515-1595), Bernardino Ochino, fundador da ordem reformada dos
Capuchinhos (1564). O sermão será o sismo do cisma da Reforma.
São as Ordens religiosas que vão ter
um papel importante neste combate à Reforma. Os jesuítas, pelo ensino nos seus
Colégios de formação profunda e disciplinada e pela pregação, tornar-se-ão num
sério e temível adversário dos Reformadores.
Relativamente ao culto, o acento
tónico é posto na exteriorização, no sensível; sentir a religião é o que a Contrarreforma quer do crente.
Insiste-se no culto da presença real de Cristo, no da Virgem e dos Santos
materializados numa proliferação maciça e universal de imagens, exactamente
contra o que os reformadores apregoavam e praticavam na sua iconoclastia. O
visível devia predominar no culto: eis a pompa das cerimónias concretizadas na
arquitectura barroca das grandes proporções onde a luz penetra larga e
abundantemente, onde a exuberância sensorial e/ou sensual e a riqueza de
adornos decorativos, multiplicando-se, devem atestar a vitalidade e a
jovialidade da religião. A Igreja de Jesus dos jesuítas, em Roma, serviu de
modelo para a arquitectura e a pintura barrocas, a ponto de o estilo barroco ter
sido designado de «estilo jesuíta». O grande barroco setentrional, Rubens
(1577-1640), amigo dos jesuítas, ilustrou este estilo nas suas pinturas – em
que o triunfo da religião, da fé e do papado são evidentes. De Bernini
(1598-1680), fundador do barroco monumental e decorativo, afamado arquitecto,
escultor e pintor ao serviço de Urbano VIII e de outros papas, ainda hoje
podemos admirar o gosto e a realização de cenografias animadas e de efeitos
monumentais, movimentados e imprevistos. Aqui, de facto, nasce a arte barroca,
que se pode considerar a expressão artística essencial da Contrarreforma.
Daqui, como as ideias de Trento, embarcou o barroco para os países católicos
onde acabou por se impor renovando completamente os temas da iconografia religiosa
e proporcionando um novo e grandioso desenvolvimento da arte sacra que, por sua
vez, marcou a própria arte profana, bem visível por essa Europa fora. Uma
curiosidade: a única vez que Bernini deixou Roma foi a pedido de Luís XIV e de
Colbert para construir a fachada principal do Louvre, cujo projecto o monarca
francês acabou por rejeitar, tendo, porém, Bernini esculpido o busto de Luís
XIV (Museu de Versalhes). A arte profana, influenciada pelo barroco romano,
também proliferou, dando lugar à chamada «arte de Corte» em que, à semelhança
da papal, a pompa dos monarcas, o fausto dos príncipes, a grandiosidade dos
nobres campearam. Era o absolutismo que se manifestava também no exterior,
permitindo-nos verificar que, se a arte também expressar (a) verdade, então é a
arte, em todas as suas manifestações, que mais verdade fala acerca da época em
que o absolutismo triunfou. Ou seja, o barroco é um dado histórico tanto quanto
o é artístico, em todas as suas formas realizadas.
Dentro deste contexto, o sermão acabou
por sobrevalorizar o delectare, isto
é, o provocar o deleite quer no pregador quer nos ouvintes; assim, ficou
prejudicado o docere, isto é, o
ensinar a doutrina cristã. Contra esta pecha se insurgiu Vieira, nem sempre com
êxito.
A literatura traduziu com relevo o
movimento, concedendo o primado à sensação e à emoção sobre a ideia que de todo
não negligencia, evidenciando o gosto do patético violento, a embriaguez e o
arrebatamento do espírito na livre criação das formas, recriando uma retórica
expressiva, feita de imagens entusiasmantes de ênfase, de hipérboles, de
anacolutos, de antíteses, de paradoxos, etc., e alimentada pelo jogo das palavras
e dos conceitos. Mesmo que remotamente, o barroco literário foi fruto da Contrarreforma,
considerada esta não tanto no seu aspecto fundamentalmente religioso, mas nas
consequências prático-artísticas que estão implícitas e explicitadas na busca
da manifestação formal, sensível e esplendorosa, que a arquitectura, como
primeira, materializou em obediência ao imperativo do fausto que o papado lhe
quis imprimir.
O século XVII em Portugal e o sermão
A
situação de instabilidade de um Portugal pós-Restauração (independente mas em
crise, pressionado pela constante ameaça estrangeiro aos nossos domínios ultramarinos),
e a defesa dos direitos humanos, nomeadamente dos índios do Brasil escravizados
pelos colonos, bem como dos Cristãos-Novos perseguidos pela Inquisição, são
preocupações a que Vieira se manteve sempre fiel até ao fim da sua vida.
Ao assumir o poder, D. João IV teve
de enfrentar um país moralmente exausto e financeiramente decadente em
consequência da longa luta travada com Castela. A monarquia encontrava-se
ameaçada e perigosamente vacilante, despojada como estava de órgãos de autoridade
capazes de lhe garantir o poder absoluto.
Os cofres estavam vazios, muito por
culta do deslizamento das receitas portuguesas (representadas principalmente
pelo ouro que nos vinha de África e pelas especiarias originárias do Oriente)
das mãos trémulas de um Portugal periclitante, para as implacáveis presas da
Holanda e da Inglaterra, que reclamavam a sua parte de leão.
Mesmo as minas de ouro descobertas
no Brasil, precisamente quando ocorreu a morte do Padre António Vieira, só
viriam a servir para alimentar a pobreza moral, como o profetizara já o orador
em 1656, no sermão proferido no Grão-Pará, intitulado Sobre as Verdadeiras e
as Falsas Riquezas (Sermão da 1.ª Oitava da Páscoa). Em terras
brasileiras, o trabalhador comum, possesso pela miragem do vil metal, viria a
abandonar as terras, os bens, a família, para enveredar por atalhos, não poucas
vezes do crime e da desonra, em demanda do ilusório pássaro azul que
obstinadamente porfiava em alcançar. Na Metrópole, a nobreza passaria a dar
largas a um fausto desenfreado e efémero, sem cuidar de produzir algo de útil
para o bem comum ao utilizar o «maná» que jorrava então do Brasil.
Recordemos que o século seguinte
assistiu ao arrecadar de um milhão de libras esterlinas nos cofres da rapace
Inglaterra, pago integralmente por Portugal com o ouro proveniente das minas do
Brasil. Deste modo, mais uma vez se veio a verificar a lastimável negligência
lusitana, que desprezou uma ocasião ímpar de valer à pátria debilitada.
Na época de Vieira já Portugal se
debatia em desesperada luta para reconverter a economia e caminhar lado a lado
com os outros países europeus. estes manifestavam-lhe, porém, uma marcada
indiferença, mas opunham-se á sua entrada nos tratados internacionais. Mero peão
num jogo de interesses entre nações omnipotentes, Portugal erra arrastado numa
torrente de ambições e encontrava-se preso nas malhas tecidas por potências
interessadas em lucros rápidos e vantajosos. Por seu lado, a Santa Sé
recusava-se teimosamente a reconhecê-lo como nação independente.
A Restauração só poderia subsistir
se fosse financiada pelos «homens de negócios» que orientavam em Portugal as
grandes transacções. Foi, com efeito, sobre os recursos económicos dos
Cristãos-Novos que o País se apoiou nas horas difíceis do recomeço mediante a
isenção do confisco inquisitorial que lhes foi concedida pelo monarca a
conselho de Vieira.
A causa dos Cristãos-Novos advogada
por Vieira, para além do incontestável carácter humanitário, do patriotismo e
da solidariedade para com a Companhia de Jesus (a qual tomava partido contra a
Inquisição, sua eterna rival), tinha também uma finalidade económica, pois
visava mitigar a miséria nacional através dos largos proventos dos Hebreus. Contudo,
a mentalidade tacanha dos opositores de Vieira, incapaz de assimilar a sede de
Infinito do cosmopolita, habituado a vastos espaços e ideias), não se detinha
na marcha do seu fanatismo impenitente para considerar um eventual interesse
económico. Cuidava somente em velar pela defesa do sangue incorrupto, livre de
qualquer contaminação dos hereges.
Representando uma apreciável parcela
da burguesia nacional e o principal suporte financeiro e mercantil da nação, os
Cristãos-Novos desempenharam um papel decisivo no comércio externo e contribuíram
para uma notável transformação na sociedade portuguesa. Supremo esteio de um
Estado financeiramente dependente, este grupo social viu ser contra si movida
uma feroz perseguição levada a efeito pelo Santo Ofício, mas instigada pela nobreza
em dependência directa da Coroa.
Foram-se, entretanto, implantando
influentes comunidades de cristãos-novos portugueses em Amsterdão, Hamburgo,
Ruão e Veneza, dando origem a uma verdadeira rede internacional de comércio. A
repressão de que foram vítimas e, sobretudo, os processos diabólicos utilizados
pela Inquisição, justificam a incansável defesa dos direitos desta raça segregada
feita por Vieira.
Era, pois, angustioso o clima que se
vivia então em Portugal, tanto no aspecto económico, como político, como social.
A Nação definhava em consequência das perdas sofridas. Os Holandeses haviam-se
apoderado de cinco capitanias do nordeste brasileiro e para as suas mãos
resvalara também Angola e São Tomé. Era urgente reconquistar esses territórios,
mas impunha-se, igualmente, a celebração de uma aliança entre os dois países
para esmagar Castela. Interessava a Portugal a influência da Holanda no xadrez
político para a sua admissão no Tratado de Vestefália, pois tal equivaleria ao
reconhecimento da independência por parte da Europa.
Vieira chegou a Haia em abril de
1646, onde projetava negociar a paz com a Holanda através da entrega de
Pernambuco. Contava o jesuíta, para realizar os seus planos, com o auxílio de
judeus portugueses de Amsterdão. A Inquisição, porém, interveio e prendeu um
importante cristão-novo que conduzia os negócios, lançando o descrédito sobre o
enviado régio.
A ideia de entregar Pernambuco aos
Holandeses, de que Vieira parece ter sido um dos principais promotores,
conheceu pertinaz oposição. Na opinião geral, o «Judas do Brasil» pecava,
sobretudo, por falta de patriotismo. No entanto, como se depreende da leitura
do «Papel Forte» por ele redigido, a velha raposa matreira ocultava, sob
aparente capa de generosidade gratuita, a astuta decisão de se vir a reaver o
que por ora se fingira dar de boa mente: «Desta maneira damos Pernambuco aos Holandeses,
e não dado, senão vendido pelas conveniências da paz, senão a retro aberto,
para a tornarmos a tomar com a mesma facilidade, quando nos virmos em melhor
fortuna; que agora, é querer perder isto e o demais.»
Por atitudes como esta, Vieira tem
sido bastas vezes acusado de ter proposto soluções políticas nem sempre isentas
de duplicidade; porém, há que considerar o próprio comportamento desleal dos outros
países. A Holanda, por exemplo, com quem mantínhamos relações de paz na Europa,
não se esquivava a atacar-nos no Brasil, enquanto que a Espanha estava
secretamente ligada a essa nação que Vieira descrevia como pátria de anfíbios,
composta de «peixe e homem».
De
outras missões diplomáticas se encarregou Vieira. A França foi ajustar o casamento
da filha do Duque de Orleães, a vigorosa «Grande Demoiselle», com o jovem e
frágil D. Teodósio, príncipe herdeiro. Não foi feliz nessa missão porque a ela
se opôs tenazmente o cardeal Mazarino. Provocar em Nápoles um movimento de revolta
contra os Castelhanos e promover o casamento de D. Teodósio com a filha de
Filipe V eram os propósitos que animavam António Vieira na sua viagem a Itália
em janeiro de 1650, numa empresa condenada uma vez mais ao fracasso. Não
obstante, o seu espírito combativo não cessava de vibrar.
Um dos eventos históricos que já
vinha recrudescendo ao longo de toda a dominação filipina foi o Sebastianismo,
forma de louca ânsia messiânica num rei justo e redentor de uma pátria
mergulhada em letargia. As profecias do sapateiro de Trancoso, amálgama insipiente
de citações bíblicas e de lendas populares, traduziam o anseio de liberdade e a
esperança projectada num herói libertador. Ideal cristalizado na memória de um
povo sedento de autonomia, a crença sebastianista no predestinado incitou os
espíritos à luta pela independência nos anos sombrios da repressão castelhana.
À semelhança dos seus contemporâneos, Vieira não se mostrou insensível ao apelo
profético, que ia aliás tão ao encontro do seu marcado pendor, avivado por uma
educação escolar propícia a cogitações visionárias. Do alto do púlpito,
desafiando corajosamente os algozes da Inquisição, o jesuíta modela um Sebastianismo
novo, ajustado ao contexto da Regeneração. É o mito judaico do Quinto Império
transferido para o solo português, berço de um rei eleito de Deus que será o
Imperador da Terra em serena aliança com o Pontífice de Roma, entidade
centralizadora do poder espiritual.
D. João IV torna-se o Messias que,
após sessenta anos de humilhante subordinação a Castela, vem libertar o país e
devolver-lhe o estatuto de nação escolhida para os desígnios do Eterno. O
monarca é o novo Encoberto capaz de redimir o seu povo e conduzi-lo à Salvação.
Resgatada a pátria, urge dilatar a Fé que há-de congregar em torno de si judeus
e indígenas, sem distinção de raça ou credo, unidos na condição comum de filhos
de Cristo e portadores da centelha divina. Mas o visionarismo em Vieira não se
limita a uma mera atitude passiva; antes o conduz de imediato à acção a partir
do momento em que deixa de combater o Sebastianismo para se empenhar com toda a
fé na crença de um novo Encoberto. Sensível ao fascínio dos mistérios da Bíblia
que procura explicar, Vieira consegue, no entanto, conservar intacta a sua
atenção à realidade política e social, pronto a denunciar abusos e a condenar
prepotências. No seu grito de revolta esconde-se a crítica enérgica a uma sociedade
injusta e corrupta.
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Sermão de Santo António aos Peixes
quinta-feira, 26 de setembro de 2019
terça-feira, 24 de setembro de 2019
Coerência textual - Correção (G 58)
1. A
. Ficha
2. D
3. G
4. B
5. E
6. F
7. C
8. H
9. I
2.
a) interveio;
esteve
b) emitem
c) imitem
3.
3.1. “controlar” – contornar; “cumprida” – comprida; “germinadas” –
geminadas; “aderência” – adesão; “cotas” – quotas; “facilidades” - comodidades
4.
4.1.
a) Estava
doente, por isso, não foi para a escola. / Estava doente; no entanto, foi para
a escola.
. Ficha
Dêixis / Deíticos II (G 59)
1. Leia o diálogo seguinte, tendo em consideração o contexto.
(Contexto: na feira; diálogo entre o professor de o vendedor de calçado e o professor de Filosofia)
– Bom dia! Quanto custam as galochas que estão ao lado dos chinelos de praia?
– As galochas custam 35 euros, mas as que estão aqui junto de mim são mais baratas.
– Sim? E quanto custam?
– 25. São quase de graça.
– Sei… de graça… E as que estão lá ao fundo da bancada?
– Bom, essas são carotas: 55 euros, já com desconto.
– Ó sr. Eusébio, isso é um roubo! Assim sendo, vou levar as que estão junto de si.
– Hum! Se é uma questão de dinheiro, de preço, talvez devesse levar as botas que estão aos seus pés. Vai bem servido também e poupa dinheiro.
1.1. Substitua as expressões sublinhadas por determinantes e pronomes demonstrativos adequados.
a. …………………………………………. d. …………………………………………..
b. ………………………………………….. e. …………………………………………..
c. …………………………………………..
2. Leia o texto, tendo em conta o contexto que o rodeia.
(Contexto: transcrição de uma conversa telefónica entre o Ernesto e a Miquelina, que teve lugar no dia 4 de setembro, durante a manhã)
Ernesto – Ontem estive em casa do Eusébio.
Miquelina – O que foste lá fazer?
Ernesto – Fui ver o que se passava. Disseram-me que teve um acidente.
Miquelina – Ah, coitado! Fiquei de falar com ele amanhã por causa do almoço de sábado.
Ernesto – É verdade, temos de acertar isso. Tu estás em casa, hoje?
Miquelina – Não. Agora estou no escritório e só devo regressar ao fim da tarde. Queres passar por lá a essa hora?
Ernesto – Vou verificar a minha agenda e ligo para aí.
Miquelina – Está bem. Fico a aguardar.
2.1. Refira os deíticos que identificam os participantes no discurso.
……………………………………………………………………..
……………………………………………………………………..
2.2. Indique os referentes do deítico «lá» nas duas ocorrências no texto (ll. 2 e 7).
……………………………………………………………………………
……………………………………………………………………………
2.3. Identifique o referente do deítico espacial «aí» (l. 8).
……………………………………………………………………………
2.4. Identifique os referentes dos deíticos «ontem» (l. 1), «amanhã» (l. 4), «hoje» (l. 5) e «agora» (l. 6).
…………………………………………………………………..
…………………………………………………………………..
…………………………………………………………………..
…………………………………………………………………..
2.5. Indica o tipo de dêixis assegurado pelos advérbios indicados em 2.4.
……………………………………………………………………
3. Assinale a alínea que corresponde à afirmação correta.
3.1. No enunciado «Amanhã, almoçarei convosco.», a palavra destacada assegura a dêixis
a. temporal.
b. espacial.
c. textual.
d. pessoal.
3.2. No enunciado «Ainda ontem vos pedi que fossem menos barulhentos.», as palavras sublinhadas asseguram a dêixis
a. espacial e temporal.
b. temporal e pessoal.
c. espacial e pessoal.
d. textual e pessoal.
3.3. Na frase «O estojo está ao lado do livro do Ernesto.», a expressão sublinhada assegura a dêixis
a. pessoal.
b. espacial.
c. temporal.
d. espacial, temporal e pessoal.
3.4. No enunciado «Um rei fez a promessa de edificar um convento que, hoje, é muito visitado pelos alunos portugueses.», a palavra sublinhada assegura a dêixis
a. pessoal.
b. espacial.
c. temporal.
d. textual.
3.5. No enunciado «Já o padre Bartolomeu Lourenço regressou de Coimbra, já é doutor em cânones…», as palavras sublinhadas asseguram, respetivamente, a dêixis
a. espacial e temporal.
b. pessoal e espacial.
c. pessoal e temporal.
d. pessoal, espacial e temporal.
. Correção
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