Nesta época, surgiu, em Portugal, uma burguesia de caráter rural que aspirava ao poder e a viver ao nível da burguesia já existente. Era uma burguesia de pequenos rurais, cujo poder que possuía advinha sobretudo do dinheiro e que desejava investir na terra, detida pelo clero. Esta classe social era, pois, a que possuía mais imóveis, fonte de poder que se estendia também às letras e ao ensino (poder intelectual).
No entanto, determinados fatores contribuíram para a perda desse poder por parte do clero:
- a ação de Mouzinho da Silveira;
- a ação de Joaquim António de Aguiar ("Mata-Frades").
Ao chegarmos à segunda década do século XIX (vésperas da Revolução Liberal), Portugal vivia uma situação de crise em diversos planos da vida nacional:
-» crise política, que se evidencia pela ausência do rei e da corte no Brasil, tornando-se o Rio de Janeiro a capital portuguesa, onde se sediaram os órgãos de administração. Em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de reino e, em 1821, D. João VI embarcou para Portugal. Porém, o movimento separatista já se tornara muito forte no Brasil e, em 1822, deu-se a independência daquela colónia portuguesa;
-» crise ideológica, sobretudo graças à alteração das ideias políticas, considerando-se a monarquia absoluta como um regime obsoleto, opressivo;
-» crise económica, resultante designadamente da emancipação económica do Brasil que, após a independência, começou a estabelecer contactos económicos com outros países, quando anteriormente eram exclusivamente com Portugal;
-» crise militar, originada pela presença de oficiais ingleses em altos postos do nosso exército. Com essas presenças, os nossos oficiais veem-se preteridos nas promoções, o que causa uma sensação de mal-estar no exército e conduz à instabilidade.
Foi nesta conjuntura que surgiu a Revolução Liberal de 1820, por impulso de um conjunto de burgueses do Porto, homens politicamente doutrinados que frequentavam o Sinédrio, onde se reunia um grupo de intelectuais.
Na tentativa de modificar a situação, este grupo começou por receber a colaboração de militares das guarnições do norte e, mais tarde, de militares do sul e a revolução acabou por não encontrar resistência. Pelo contrário, foi bem aceite.
Surgem então novas classes e estabelecem-se novas relações sociais: a nova burguesia cria medidas protecionistas para os seus negócios. Mas as pessoas pertencentes ao povo rural eram, quase na totalidade, analfabetas, pelo que a revolução não trouxe igualdade cultural.
Estas transformações vinham na sequência da acumulação de novos temas discutidos por intelectuais, que se reuniam em tertúlias literárias. Uma das mais conhecidas foi a da Marquesa de Alorna, na qual participavam figuras como Alexandre Herculano e Filinto Elísio.
A partir daqui, reforça-se a ideia de que a literatura devia ser um instrumento de transformação de uma nação, transformação que carregava consigo um novo estilo, novas aspirações. Simultaneamente, há também um novo acesso das massas burguesas à cultura: passa a ler-se mais e aparecem novos periódicos.
É cerca da terceira década do século XX que surgem os primeiros poemas portugueses considerados como marco do nascimento do Romantismo pátria lusa; são os poemas Camões e D. Branca de Almeida Garrett, que tinha feito a sua formação na Europa, onde estivera exilado.
Mas será que deveremos considerar estes dois poemas acima citados como iniciadores do Romantismo português?
Não propriamente, porque não são obras com cariz totalmente romântico. Surgem isolados num contexto social e estético-literário, não estabelecendo por si uma corrente literária autónoma e sistematizada. Estes poemas não apresentam ainda um corte radical com os modelos arcádicos, sobretudo no campo formal. É mais correto escolher uma data posterior à da publicação destes poemas para marcar a data da verdadeira implantação do Romantismo em Portugal. Essa data é o período que decorre entre 1835 e 1837 e que coincide com a fase seguinte à do regresso dos emigrantes e exilados devido à guerra civil interna.
Em síntese, podemos afirmar que a introdução do Romantismo em Portugal se ficou a dever sobretudo a dois emigrados: Alexandre Herculano e Almeida Garrett.
Síntese – Contextualização
. Finais do século XVIII, início do século XIX:
a) Europa – Revolução Industrial
– Revolução Francesa – Alemanha
– Romantismo europeu – Inglaterra
– França (mais tarde)
b) Portugal – Invasões francesas e fuga da família real para o Brasil;
– Revolução Liberal (1820);
– Decadência dos ideais liberais, devido aos interesses da burguesia (materialismo) – Liberalismo de fachada;
– Afirmação do Romantismo: românticos vintistas (Garrett e Herculano).
c) Autor – Adesão ao Liberalismo;
(Garrett) – Exílios (em França e Inglaterra);
– Adesão ao Romantismo;
– Crise afetiva e moral: desilusão amorosa; desilusão política; desilusão estético-literária.
d) Obra – Génese: 1843 (na revista "Universal Lisbonense", em folhetins);
– Publicação em livro: 1846.
e) Assunto – Viagem de Garrett a Santarém a convite de Passos Manuel.
f) Intenção – Fazer uma crónica sobre a viagem, refletindo sobre a sociedade portuguesa, sobretudo sobre a situação do país na primeira metade do século XIX.
De forma mais simples, na sequência das Invasões Francesas (1807-1810), as ideias liberais começaram a difundir-se e a ganhar adeptos.
A família real, fugindo das tropas napoleónicas, deslocara-se para o Brasil e, expulsos os franceses, o poder ficou nas mãos dos ingleses, que tinham vindo para Portugal para auxiliar no combate àqueles.
Em 1820, deu-se a revolta militar no Porto, a favor do liberalismo.
Ainda em 1820, eclode a Vilafrancada, a favor do Absolutismo.
Inicia-se então uma guerra civil entre liberais e absolutistas.
Em 1851 iniciar-se-á um período designado Regeneração.
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