Português: Retrato de Frei Dinis

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Retrato de Frei Dinis

Antes de se ter tornado frade, Frei Dinis era simplesmente Dinis de Ataíde, um importante magistrado, representante da vida mundana.

“Católico sincero e frade no coração”, era o “frade mais austero e pregador mais eloquente daquele tempo”.

Tratava-se de um “homem extraordinário que juntava a uma erudição imensa o profundo conhecimento dos homens e do mundo”.

É austero e inflexível: “homem de princípios austeros, de crenças rígidas e de uma lógica inflexível e teimosa”.

“Um ser de mistério e terror”, “o cúmplice e o verdugo de um grande crime”, encarna a ideia cristã da penitência, vive para expiar os seus pecados, sendo objeto de uma cólera divina.

Figura ominosa, agente de um destino inexorável, cuja função na economia da obra é criar uma atmosfera de terror, fazendo prever ao leitor uma fatalidade iminente e um mistério terrível que o cerca.

Atormentado pelo remorso, perseguido pelo mundo na cela do seu convento, abomina as doutrinas liberais e a heresia.

Neste sentido, simboliza as ideias absolutistas (o Portugal Velho), segundo as quais o poder régio é legado por Deus para governar a nação seguindo os preceitos evangélicos.

É uma personagem aparentemente rigorosa e malévola, como era característico do frade romântico, o que, de certa forma, confirma: é o destruidor da família do Vale e o protótipo do mal.

A sua transformação em Frei Dinis representa a rutura com o material e a ligação ao espiritual, traço em que é o oposto de seu filho, Carlos.

Visita a casa do Vale todas as sextas-feiras.

Acaba por entrar em conflito ideológico com Carlos, de quem é pai, que o considera um intruso.

Antes de ser frade, Dinis de Ataíde era materialista, dominado por paixões que levarão ao nascimento de Carlos, à morte de sua mãe e ao assassínio do pai de Joaninha e do marido da mãe de Carlos, crimes que o levarão a professar, abandonando a vida materialista e mundana para se tornar espiritualista.
Em contramão, Carlos segue um percurso inverso: quando jovem, era idealista (daí a adesão ao Liberalismo), desprendido das coisas materialistas (espiritualista), porém, com a instalação do Novo Regime (Liberalismo), a sociedade torna-se profundamente materialista e ele torna-se barão, o símbolo mais perfeito do materialismo burguês.


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